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Verônica de Alvelos Sanson
A Inclusão na Educação Infantil:
as condições da escola e do docente
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação
2008
Verônica de Alvelos Sanson
A Inclusão na Educação Infantil:
as condições da escola e do docente
Trabalho apresentado como requisito para conclusão da Habilitação Educação Infantil à Comissão de professores responsáveis pelo Curso: Profas. Dras. Maria Anita V. Martins, Marisa Del Cioppo Elias, Mônica F.V. Mendes; Neide de Aquino Noffs e Neide Barbosa Saisi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Anita V. Martins.
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Faculdade de Educação
2008
Agradecimentos Agradeço primeiramente à minha tão amada mãe, pelo apoio em todos os
momentos, pela dedicação, pelo companheirismo desde a comemoração nas
vitórias, até as lágrimas compartilhadas nas derrotas.
Ao meu querido pai, por investir e acreditar em mim.
Ao meu menino, Marcelo Salles, pela paciência nos momentos de estresse,
pelos conselhos e pela imensa ajuda.
À minha família, pelo incentivo, pelo carinho e pela torcida.
À minha orientadora, Profª Maria Anita Viviani Martins, pelos ensinamentos,
pelo empenho e por toda dedicação.
Às minhas amigas puquianas, pela amizade cultivada, pelos conhecimentos
divididos e por todos os momentos felizes que passamos juntas.
Às minhas velhas companheiras, por compreenderem minha ausência e por
serem tão especiais e inesquecíveis.
À Eloa Parada, Juliana Nitrini e Mariana Molinari, por compartilharem os
sentimentos de angústia e por acreditarem junto comigo que as coisas podem
melhorar.
Resumo A partir de uma vivência no âmbito da Inclusão, juntamente com inúmeros
questionamentos surgiu o presente trabalho. Como a escola trabalha com o aluno
portador de necessidades educativas especiais, como o professor e a instituição
como um todo o acolhe? No primeiro capítulo trarei uma descrição do caso
acompanhado no decorrer do ano de dois mil e oito, as características do aluno, da
instituição, seu desenvolvimento social, afetivo e acadêmico, algumas atividades
realizadas por ele, assim como uma breve descrição da doença que o afetou, e
como seqüela o deixou paraplégico. No segundo capítulo resgatarei um pouco da
história, como era o acolhimento do “diferente” em diversas épocas e abordarei o
tema Inclusão, quais seus objetivos, o que a diferencia de Integração. Também será
tratada a Tutoria, forma de intervenção que realizei com o aluno. O trabalho conta
também com relatos de professoras que acompanharam o aluno no ano de dois mil
e sete e da professora de dois mil e oito.
Palavras - chave: inclusão, integração, tutoria
Sumário
Introdução ...................................................................................................................6
I. Descrição do caso....................................................................................................8
1.1. A Doença......................................................................................................8
1.1.1. Aspectos Clínicos..............................................................................9
1.1.2. Exames e Testes para Diagnosticar a Doença ...............................10
1.1.3. Tratamento e Prognóstico ...............................................................10
1.2. Relações familiares ....................................................................................11
1.3. Relação família escola ...............................................................................12
1.4. O sujeito e seu convívio com a doença......................................................12
1.5. Organização escolar e o acolhimento da inclusão .....................................14
1.6. Socialização e integração com os colegas.................................................15
1.7. Relação docente no caso de inclusão........................................................15
1.8. Desempenho acadêmico/ aprendizagem escolar.......................................16
II. Inclusão e Tutoria..................................................................................................21
2.1. Inclusão......................................................................................................21
2.1.1. Terminologia....................................................................................26
2.1.2. Documentos Internacionais sobre o assunto...................................26
2.1.3. Documentos Nacionais ...................................................................29
2.1.4. Diferença entre integração e inclusão .............................................31
2.2.Tutoria .........................................................................................................32
III. Considerações Finais ...........................................................................................37
Anexos ......................................................................................................................40
Referências Bibliográficas.........................................................................................49
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Introdução
Este trabalho surgiu a partir de uma vivência iniciada em fevereiro de dois mil
e oito: a inclusão de um aluno que teve o movimento dos membros inferiores
comprometidos e utiliza cadeira de rodas.
Com a preocupação de como seria a melhor maneira de trabalhar tanto com o
aluno como com a classe, decidi estudar mais a fundo este processo.
Pelo acompanhamento que foi realizado até dezembro do ano citado, pode-se
ver sua interação com outras crianças, sua adaptação à escola, seu
desenvolvimento pedagógico e as dificuldades enfrentadas por ele, pelas
professoras e pela instituição.
O aluno tem um tipo de neoplasia que atinge principalmente crianças com
menos de cinco anos de idade. No seu caso, por ter se disseminado na medula
óssea, o aluno teve sua locomoção comprometida e não pode andar.
Com o presente trabalho pretendo observar como foi/ é realizada sua inclusão
na instituição e quais as melhores formas de fazê-la.
Muito se fala sobre esse tema, porém até que ponto as escolas e os
professores estão prontos para realizar este trabalho?
Quais são os maiores problemas enfrentados pelo aluno incluso e por todos
que o acompanham?
Muitas questões surgem quando tratamos deste assunto que ainda pode ser
considerado novidade para todos que se inserem em um ambiente educacional.
O preparo dos professores pode ser considerado “peça chave” para obtermos
um bom desempenho. A forma como este atua, juntamente com a família, define
como serão os resultados.
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Incluir não é igualar, ignorar as diferenças. Todos somos diferentes, e é isso
que deve ser ensinado para as crianças para que possamos alcançar uma
sociedade mais justa, menos preconceituosa. O educador tem o papel de ressaltar e
explorar ao máximo os potenciais particulares de cada indivíduo.
A partir de autores como Maria Teresa Eglér Mantoan, Teresa Lleixà Arribas
entre outros, tratarei o tema inclusão, os seus objetivos, o porque de realizá-la.
Relatos de professoras que trabalharam com o aluno ano passado e da
professora deste ano contribuirão para que possamos aprofundar nossa análise.
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I. Descrição do caso
O caso estudado refere-se ao Pedro*, uma criança de 5 anos, aluno de um
colégio localizado na cidade de São Paulo, portador de um tipo de neoplasia comum
na infância.
Em virtude da peculiaridade da doença e seu prognóstico, adotarei na
descrição do caso um breve destaque às características da patologia para poder
enraizar os argumentos pedagógicos.
1.1. A Doença
O caso em questão de acordo com Papaioannou (2005), está entre os tipos
de câncer com menor potencial de curabilidade, com chance estimada de até 10%.
Aparece geralmente em crianças com menos de cinco anos de idade e a
curabilidade diminui ainda mais em crianças com idade acima de um ano e com a
doença disseminada a esqueleto e medula óssea.
Tem origem nas células da crista neural, responsáveis pela formação das
células do sistema nervoso simpático e da medula da glândula adrenal. As glândulas
adrenais, também conhecidas como supra-renais, estão localizadas sobre cada rim,
na parte de trás do abdômen superior. São responsáveis pela produção de
hormônios como a adrenalina e a noradrenalina; pela reação de defesa contra o
perigo e a tensão emocional; a aldosterona, que regula o sal no corpo; o cortisol,
essencial para o metabolismo de proteínas, gorduras e carboidratos, entre outros.
Pode se desenvolver em determinado tipo de tecido nervoso em qualquer
parte do corpo como pescoço, tórax, abdômen ou pélvis e pode atingir também
fígado, pulmões, ossos e medula óssea.
*nome fictício
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Seu comportamento biológico é muito intrigante, podendo regredir
espontaneamente, sofrer maturação espontânea ou induzida por substâncias, ou
ainda se apresentar de forma agressiva e letal.
É o tumor sólido extracraniano mais comum da infância, representando 7% de
todas as neoplasias malignas nesta faixa etária, com uma incidência duas vezes
maior do que a leucemia (a segunda forma de câncer mais comum nos primeiros
anos de vida). Entre os lactentes corresponde a mais de 50% das neoplasias
malignas.
A etiologia dessa neoplasia é desconhecida. Existem evidências de que
possa haver uma predisposição genética para a doença, pois existem descrições de
casos familiares englobando irmãos, gêmeos monozigóticos, meio - irmãos, primos.
Outros fatores que também podem estar associados estão sendo estudados, como:
medicamentos usados pela mãe durante a gestação tais como diuréticos,
tranqüilizantes, relaxantes musculares ou medicação para infecção vaginal;
utilização de hormônios, criança com baixo peso ao nascer; consumo de bebidas
alcoólicas durante a gestação e utilização de fumo também durante a gravidez (para
esta última a associação é fraca).
Metade dos casos ocorre em crianças com menos de dois anos de idade. Há
um predomínio do sexo masculino sobre o feminino e a ocorrência em adultos é
rara.
1.1.1. Aspectos Clínicos
O quadro clínico é bastante variado, dependendo das características do
tumor, de sua integridade, do comprometimento de estruturas vizinhas e da
presença de metástases. Essa última tem seus territórios mais freqüentes na medula
óssea e esqueleto. As metástases ósseas mais comuns são as cranianas que
podem determinar grandes deformidades.
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A evidência inicial mais comum é a presença de uma massa dura, de
superfície irregular e indolor. Nos casos avançados, há enorme massa abdominal,
graves repercussões nutricionais, apatia, aumento do volume abdominal,
desnutrição leve, febre, anorexia, forte diarréia, movimentos descontrolados dos
olhos, fraqueza ou paralisia.
Outros efeitos secundários podem ser observados como hipertensão, rubor
cutâneo, sudorese excessiva, taquicardia e cefaléia.
1.1.2. Exames e Testes para Diagnosticar a Doença
- Exame do corpo e um histórico dos hábitos e saúde do paciente, doenças
que já teve.
- Exame de urina para determinar a quantidade de algumas substâncias.
- Análise citogenética que através de uma amostra de sangue do tecido do
tumor verifica se existem alterações nos cromossomos.
- Biópsia da medula óssea para análise e procura de células anormais.
- Biópsia para determinar se o tumor é maligno ou não.
- Raio X para avaliar o estado dos órgãos e ossos
- Tomografia computadorizada que fotografa em diferentes ângulos e com alta
precisão órgãos e tecidos do corpo. Ela determina a exata localização do tumor e é
capaz de determinar seu exato tamanho e extensão para outros órgãos.
- Exame neurológico que determina o estado mental do paciente,
coordenação, reflexos.
- Ultra-sonografia que também consegue identificar que órgão o tumor atinge.
1.1.3. Tratamento e Prognóstico
Quando é possível a remoção completa do tumor localizado, qualquer que
seja a idade da criança, a cirurgia exclusiva é essencialmente um procedimento
curativo. Porém, se resíduos macroscópios persistirem após a cirurgia inicial em
crianças de qualquer idade, sem metástases, torna necessária a adição de outra
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modalidade terapêutica. Nestes casos, o tratamento cirúrgico exclusivo é
insuficiente.
Os pequenos progressos no tratamento das crianças portadoras da neoplasia
em estado avançado devem ser creditados à quimioterapia.
Existe também a possibilidade da radioterapia ou transplante de medula
óssea. Esse último pode ser necessário para substituir o tecido danificado pela
radioterapia ou quimioterapia. A medula óssea utilizada no transplante pode ser do
próprio paciente, que foi retirada anteriormente ao tratamento para posterior
reposição.
Alguns fatores são determinantes no prognóstico como a idade em que o
paciente foi diagnosticado, o estágio do câncer, a sua localização, a histologia
(forma, função e estrutura das células cancerosas), o quão diferente as células do
tumor são das normais, a rapidez com que as células do tumor estão crescendo e o
número de cromossomos nas células do tumor.
As crianças com menos de um ano e as que têm tumores pequenos têm
muito bom prognóstico. Quando disseminado em esqueleto e medula óssea, a
probabilidade de cura diminui.
1.2. Relações familiares
O aluno mora com seu irmão quatro anos mais velho e com sua mãe. Tem
visivelmente todo suporte e dedicação de sua avó e de seu tio. Não tem muito
contato com seu pai, que mudou para o exterior há certo tempo. Raramente fala
dele, porém, mesmo não expondo esse assunto para nós professoras, é notável o
quanto sua ausência o incomoda. Em seus desenhos sempre aparecem sua mãe e
seu irmão, porém, uma vez presenciou-se o seguinte fato:
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Ele desenhou duas pessoas e ao ser questionado quem era, respondeu:
“- É difícil falar.
- Um deles é você?
- Sou!
- E o outro?
Ele não respondeu e uma colega tentou adivinhar:
- Sua mãe!
(Não gesticulado com a cabeça)
- Seu pai?
Silêncio absoluto por parte de Pedro.
Em outro momento, próximo ao dia dos pais, ele foi questionado por uma
funcionária do colégio se seu pai iria ao evento que ia ter. O aluno:
“- Meu pai trabalha muito. Não vai dar pra ele vim.” (sic)
1.3. Relação família escola
Não ocorrem muitos diálogos entre a escola e a família a respeito da doença
de Pedro. A mãe só relata o que é questionado pelas professoras e funcionários. Em
alguns momentos comenta fatos do cotidiano de Pedro tais como: “Hoje ele está
bravo porque brigou com o irmão.”.
1.4. O sujeito e seu convívio com a doença
O aluno é cadeirante, pois seus movimentos dos membros inferiores foram
comprometidos. Também usa fralda por não ter controle dos esfíncteres, um colete
ortopédico, goteiras nos pés e uma válvula na cabeça que não pode sofrer nenhum
tipo de impacto. Além de uma forte alergia a leite e a todos seus derivados.
O aluno fala de seu problema de uma forma muito madura e natural. Explica o
porquê do colete, fala dos medicamentos.
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“- Como vou fazer ano que vem? Vou sentir saudades! – eu falando para
Pedro.
- Quando eu for internado também tia!
- Mas você não vai ser internado...
- Vou quando a válvula entupir.
- Mas não vai entupir.
- Vai sim. Já entupiu uma vez e eu tive que operar. Tomei uma injeção que
me fez dormir... Anestesia né? E aí o médico abriu minha cabeça e desentupiu. ”
“ – Minha medula já tá pressionada!
- Então você vai tirar o colete Pedro?
- Vou... Quando eu tiver 15, 20 anos... E usar andador!
- Que legal!!!
- Eu queria encontrar a menina da cura.
- Menina da cura?
- É. E eu ia pedir pra andar.
- Mas você vai andar quando tiver 15 anos não vai?
- Tô falando sozinho né tia! Sem andador!”
Sua mãe o deixa a par de tudo que acontece com seu corpo e ele seleciona
algumas pessoas para explicar isso. Porém nota-se claramente sua preocupação,
suas perspectivas, suas projeções e um claro entendimento de suas limitações. Lida
com elas racionalmente e explica sua lógica.
Quando questionado por outras crianças sobre seu problema, Pedro somente
responde "eu nasci assim".
No início desse semestre, uma aluna nova entrou na sala e veio perguntar às
professoras o que ele tinha:
“- Um probleminha nas pernas não é Pedro? – eu respondi para aluna
- Não, não é.
- Então o que é? Explica pra sua amiga.
- “Ela nunca ia entender.”
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Há momentos em que se observam respostas muito objetivas e diretas como
“eu nasci assim”. Em outros, nota-se no aluno certa reflexão, uma dificuldade em
expor o que aconteceu com ele de uma forma que o outro compreenda. Como
quando ele diz que a colega “nunca ia entender”. Essa frase mostra sua enorme
maturidade diante da situação. Provavelmente identifica a distinção entre ele e a
amiga, já supondo que como ela não sofre do mesmo problema não saberia
aquilatar o que ele enfrenta.
No decorrer do segundo semestre veio uma novidade: uma cadeira de rodas
nova, maior, bem mais alta, fazendo com que o aluno ficasse da altura dos seus
colegas. Nós professoras o sentimos muito mais seguro, circula pela classe sem
parar, não quer que nós o empurremos. Todas as crianças notaram a mudança no
primeiro dia, o que deixou Pedro muito contente, e certamente com mais liberdade
de movimentação.
1.5. Organização escolar e o acolhimento da inclusão
A locomoção de Pedro pelas dependências da escola fica prejudicada pelo
fato desta, originalmente em seu projeto, não abrigar a inclusão de cadeirantes. O
colégio conta com aproximadamente cinco mil alunos, é enraizado e bastante
reconhecido na cidade de São Paulo, freqüentado pela classe média e média alta.
Um número considerável de rampas foi adaptado e alguns elevadores estão
sendo construídos. Por enquanto, são necessárias duas pessoas para levantar a
cadeira nas escadas, normalmente eu e mais algum funcionário, que aos poucos
estão habituando-se à situação, compreendendo o significado de acolhimento e
ajudando com maior disposição.
O aluno ingressou no colégio em dois mil e sete, no maternal, e de acordo
com relatos de professoras, no primeiro dia de aula estava extremamente nervoso,
chorava muito e vomitava. Foi se adaptando no decorrer do ano.
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Aos poucos pude perceber a mudança no relacionamento de todos do colégio
com o aluno. Hoje ocorrem mais diálogos, as pessoas propõem-se mais a ajudar,
em geral aproximaram-se mais.
1.6. Socialização e integração com os colegas
Metade da classe desse ano, no jardim, já conhecia o Pedro. Na outra
metade, de início, notava-se um grande estranhamento acompanhado de
curiosidade. Muitas crianças queriam tocá-lo, empurrar a cadeira e perguntavam o
que ele tinha. Outras chegavam perto, mas logo saíam, e tinham ainda as que não
queriam nem se aproximar.
Ele sempre reagiu de uma forma muito natural a essa situação. Nunca
demonstrou desconforto, insegurança nem irritação diante das diferentes reações de
seus colegas.
Atualmente relaciona-se bem com grande parte da sala, é muito querido por
todos e até disputas acontecem para ver quem vai empurrar sua cadeira. Um de
seus maiores amigos foi morar nos Estados Unidos no final do primeiro semestre o
que, para nós, de início, pareceu ser motivo de problemas para Pedro. Porém sua
resposta foi bem diferente da esperada. De início chegou a nos questionar se o
colega voltaria, mas logo se enturmou com outros colegas. Ele não tem apresentado
limitações para construir novos relacionamentos.
1.7. Relação docente no caso de inclusão
No início do ano foi clara a atitude de insegurança por parte da professora da
sala de aula. Não comentou com o restante da sala o problema de Pedro, o porquê
de sua cadeira de rodas e nem os cuidados que deveriam tomar com o colega.
Uma atitude previsível e que não deve ser criticada pelo fato de não ter
ocorrido um preparo antes de começarmos com esse trabalho.
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1.8. Desempenho acadêmico/ aprendizagem escolar
O aluno não apresenta nenhuma dificuldade cognitiva, acompanha a sala
tranquilamente, é extremamente interessado.
Aqui contamos com algumas atividades desenvolvidas no decorrer do ano:
Treino motor realizado em 24/06/2008
Já notava-se no primeiro semestre uma boa coordenação motora, uma certa
firmeza no traçado considerando-se que estes movimentos haviam acabado de ser
introduzidos às crianças.
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Treino motor realizado em 16/10/2008
Nota-se que seu traçado ficou mais firme, sua coordenação motora melhorou
muito, assim como sua noção espacial.
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Atividade realizada em 14/08/2008
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Ditado sondagem realizado em 30/10/2008
O aluno encontra-se no estágio alfabético, bastante adiantado perante a sala.
Muitos colegas ainda estão no processo, no estágio silábico, o que nos deixa clara a
sua condição de aprendizagem, o quanto sua parte cognitiva está intacta e em
perfeito desenvolvimento.
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O nosso auxílio, portanto, só se dá em sua locomoção, pois na parte
acadêmica, ele atua de forma muito independente, com muita autonomia.
No parque normalmente brinca de luta com os colegas, fala muito de vídeo
game, principalmente de jogos violentos. Também joga futebol e tem preferência em
ficar no gol.
Nas aulas de Educação Física, descobrimos uma paixão: o basquete. O
professor o apóia intensamente, indicou uma “escolinha” para mãe de Pedro, e ele
começou a fazer aulas. É impressionante sua habilidade, seu gosto pelo esporte,
sua curiosidade pelas regras, as inúmeras perguntas que ele faz ao professor.
O aluno passa a semana ansioso, todo dia pergunta se é dia de Educação
Física. Esse seu amor pelas aulas e seu apego pelo professor são nítidos, e com
toda certeza conquistados pela forma como este último conduziu a situação. Em
todas as aulas ele sugere exercícios que Pedro é capaz de fazer e, quando não,
sempre tem alternativas criativas para ele poder participar juntamente com os
colegas.
Pode-se notar, assim, uma Educação Física integrada à proposta pedagógica
da escola, portanto, com perspectivas educacionais realmente voltadas para a
formação do cidadão, (...) com um olhar voltado para a inclusão. (Darido, 2001 In:
SANTOS, 2008 p. 75).
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II. Inclusão e Tutoria
Este capítulo tem como objetivo tratar o tema Inclusão, tão discutido e
debatido ultimamente e também a Tutoria, que embora não seja denominado dessa
forma é o tipo de trabalho que desenvolvo com o aluno na instituição.
2.1. Inclusão
A principal característica do ser humano é a pluralidade e não a igualdade de
pensamentos e ações, pois cada indivíduo age e interpreta o mundo em que vive
com manifestações e olhares particulares.
Porém as pessoas, por sua natureza, temem o desconhecido e têm
dificuldade em aceitar aquilo que aparentemente foge da normalidade.
Retrocedendo na história, Ponce (2005) diz que nas sociedades primitivas,
onde existia o nomadismo, os que se mostravam impossibilitados em satisfazer as
necessidades básicas de cada um e de colaborar com o grupo, constituíam um
agravante e determinavam até mesmo o extermínio.
Na Antigüidade Clássica, o indivíduo que apresentasse qualquer
manifestação contrária aos ideais espartanos, era eliminado.
Já na era capitalista, com os avanços e conquistas da ciência e da tecnologia,
pôde-se notar uma melhora na condição de vida e maior possibilidade de superação
das diferenças físicas e sociais das pessoas.
A partir da Revolução Industrial, as guerras, epidemias, deixaram de ser as
causas únicas das deficiências pois o trabalho, com suas condições precárias,
passou a ocasionar acidentes mutiladores, assim como as doenças profissionais, o
que acabou resultando na criação do direito do trabalho e de um sistema de
segurança social, com atividades assistenciais, preventivas e de atendimento à
saúde, e também à reabilitação dos acidentados.
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As duas grandes Guerras Mundiais também impulsionaram o
desenvolvimento da reabilitação pela carência de mão-de-obra surgida no período
de pós-guerra e pela necessidade de propiciar uma atividade remunerada
juntamente com uma vida social digna aos soldados mutilados.
O trabalho pedagógico com a pessoa com deficiência nas instituições
escolares não existiu desde o princípio, mas sim a partir do momento que a
complexidade da sociedade o exigiu.
Surgiu então o paradigma de serviços que tinha como objetivo auxiliar essas
pessoas a ter uma existência o mais próxima possível da normalidade,
disponibilizando condições de convivência na sociedade.
Novos modelos institucionais foram sendo implementados visando a
promoção da autonomia e transferência de responsabilidades para a pessoa com
deficiência.
Estabeleceu-se o movimento da escola inclusiva, que obrigou a sociedade a
reorganizar-se de forma a garantir os direitos de todos os cidadãos a educação,
saúde, lazer, cultura, trabalho...
Observa-se que a educação inclusiva vem para substituir a escola tradicional,
na qual todos os alunos precisavam se adaptar ao mesmo modelo pedagógico e
eram avaliados igualmente. Quem não se enquadrasse, estava fora dos padrões
considerados aceitáveis e era encaminhado para a classe especial, para a escola
especial ou simplesmente acabava desistindo de estudar.
A base da educação inclusiva vem, portanto, para considerar a deficiência de
um aluno como mais uma das muitas características diferentes que os alunos
podem ter.
Isso não ocorreu de forma repentina, mas como conseqüência de um
processo, que ainda não foi concluído, de cerca de dois séculos. Esse processo
depende do desenvolvimento social, cultural e econômico de cada comunidade. Por
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isso alguns países atualmente se encontram mais avançados nesse campo, e não
exista um modelo único de organização da intervenção educativa destinada às
crianças envolvidas.
Entre os principais documentos que defendem a inclusão estão a Conferência
Mundial de Educação Para Todos (Tailândia, 1990), a Conferência Mundial Sobre
Necessidades Educativas Especiais (Espanha/ Unesco, 1994), que resultaram na
Declaração de Salamanca, onde são reconhecidas as necessidades básicas e a
defesa do princípio de uma escola para todos, e na Convenção da Guatemala
(Guatemala, 1999), da qual o Brasil é signatário.
A inclusão escolar tem como objetivo minimizar de todas as formas possíveis
o processo de exclusão, valorizando acima de tudo a participação do aluno dentro
do processo educativo e produzir uma educação consciente para todos.
“O novo conceito de educação especial pode ser definido agora como o conjunto de
condições (seja de ordem pessoal, material, metodológica) proporcionadas de
acordo com as necessidades das crianças a fim de propiciar seu máximo
desenvolvimento global possível.” (ARRIBAS, 2004, p. 318)
Os elementos fundamentais no processo de inclusão são primeiramente o
aluno incluído, que nos levará a refletir o que desejamos e o que temos a oferecê-lo;
em segundo lugar entram os professores, que devem ser assessorados e apoiados
na construção dos saberes que envolvem a educação dos portadores de
necessidades especiais, para que assim a educação inclusiva promova de fato a
aprendizagem e o desenvolvimento das potencialidades do discente; e por último a
família, que constitui um elemento indispensável para o sucesso do trabalho.
Na educação inclusiva, é de extrema importância dar oportunidade para que
os alunos com necessidades educativas especiais se manifestem, exijam seus
direitos, busquem saídas para os seus problemas e digam aos educadores o que é
excesso e o que é essencial para sua educação.
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Já com relação aos professores, são suas experiências vividas ao longo de
sua carreira que irão determinar sua forma de atuar. Em diferentes contextos, eles
estão freqüentemente presenciando e sentindo diferentes emoções, resolvendo
conflitos, tomando decisões...
Portanto, suas ações estão relacionadas em parte com sua constituição
histórica e também às características dos diferentes espaços onde suas ações têm
significado e sentido.
Ele deverá planejar novas formas de intervenção pedagógica, criar
estratégias, a fim de garantir a participação de todos independente da situação e
estar o tempo inteiro atento à situações de exclusão. Além de manter-se motivado e
envolvido na rotina da sala de aula, trabalhando com criatividade e persistência, não
deixando valores “não inclusivos” como comodismo, descuido, pessimismo adentrar
em sala de aula.
Sua formação é algo permanente, que vai ocorrer antes, durante e após seus
estudos acadêmicos.
A forma como o professor atua irá influenciar e até mesmo determinar o
alcance dos seus objetivos e de seus ideais de inclusão.
Para Arribas (2004, p.334),
“as necessidades educativas da criança se concretizarão sempre naquilo que os
profissionais com responsabilidade de decidir por ela acreditam que necessita, tanto
no que se refere ao desenvolvimento pessoal e social como nos aspectos
meramente instrutivos.”
Por último, a família que possui um papel decisivo para obtermos bons
resultados com o processo.
A forma como ela se posiciona perante a deficiência pode ser determinante
para o desenvolvimento do filho. Também pode colaborar fornecendo aos
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profissionais todos os tipos de informações do aluno, que irão sem sombra de
dúvidas colaborar com o planejamento das intervenções educacionais.
“A família se constitui, portanto, o fator determinante para a detonação e manutenção
ou, ao contrário, para o impedimento do processo de integração.” (GLAT E DUQUE
In: SANTOS, 2008, p.39)
Na escola que é de todos, as crianças tem o direito de receber aquilo que
precisam. Aprender implica ser capaz de expressar o que sabemos independente da
forma, implica representar o mundo a partir das nossas origens, de nossos valores e
sentimentos, e o espaço educativo deve contribuir para que todas as crianças
desenvolvam ao máximo suas potencialidades, transformem-se em cidadãos
autônomos, críticos, enfim, seres conscientes de seus direitos e de seus deveres.
Educando todos os alunos juntos, as pessoas com deficiência têm
oportunidade de preparar-se para a vida na comunidade, os professores melhoram
suas habilidades profissionais e a sociedade toma a decisão consciente de funcionar
de acordo com o valor social da igualdade para todas as pessoas, com os
conseqüentes resultados de melhoria da paz social.
O intuito não é “camuflar” as diferenças, padronizar, igualar. Mas sim,
valorizar essas diferenças e usá-las como artifício para evoluir. Respeitar a
diversidade significa dar oportunidades para todos aprenderem os mesmos
conteúdos, fazendo as devidas adaptações, promover o desenvolvimento e não
oferecer apenas uma forma de convivência social.
“Em função dessas considerações, como educadores, sabemos e consideramos que
nenhum grupo é homogêneo, que em todos podem distinguir-se “subgrupos” de
crianças ou individualidades a que nos dirigimos de formas diferentes, já que varia o
grau de especificidade de suas respectivas necessidades educativas. Neste sentido,
as crianças com necessidades educativas especiais distinguem-se das demais – ou
só se distinguem das demais – quando essa especificidade é ainda maior em uma ou
várias áreas do currículo e, por esse motivo, é necessário planejar e fazer
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adaptações até o ponto de se sintonizar com suas necessidades atuais.”
(ARRIBAS, 2004, p. 319).
2.1.1. Terminologia
As pessoas com deficiências expressam fortes sentimentos sobre palavras e
expressões utilizadas para descrevê-las. A linguagem reflete mudanças nos
conceitos e nas crenças.
Os termos usados comumente no passado como “criança deficiente” ou
“criança da educação especial” já não são mais aceitáveis. A forma de tratar
atualmente refere-se à criança integral, e não a sua dificuldade específica. Portanto,
fala-se em “criança com necessidades especiais” ou então “criança com paralisia”,
por exemplo.
O conjunto de estratégias, condições, organização da sala de aula,
adequados para que o acesso do aluno seja possível, remete ao conceito de
necessidades educativas especiais, que podem ser definidas como aquelas que,
para que possam ser satisfeitas, precisam do auxílio de meios específicos como
materiais, pessoais, adequação das atividades, entre outros.
2.1.2. Documentos Internacionais sobre o assunto
1948 – Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU) - estabelece que os
direitos humanos são os direitos fundamentais de todos os indivíduos. Todas as
pessoas devem ter respeitados os seus direitos humanos: direito à vida, à
integridade física, à liberdade, à igualdade e à dignidade, à educação.
1971 – Declaração dos Direitos das Pessoas Mentalmente Retardadas (ONU)
– proclama os direitos das pessoas com deficiência intelectual.
1975 – Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU) – estabelece
os direitos de todas as pessoas com deficiência, sem qualquer discriminação.
27
1980 – Carta para a Década de 80 (ONU) – estabelece metas dos países-
membros para garantir igualdade de direitos e oportunidades para as pessoas com
deficiência.
1983-1992 – Década das Nações Unidas para as Pessoas com Deficiência –
para que os países-membros adotassem medidas concretas para garantir direitos
civis e humanos.
1990 – Conferência Mundial sobre Educação para Todos (ONU) – aprova a
Declaração Mundial sobre Educação Para Todos (Conferência de Jomtien,
Tailândia) e o Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de
Aprendizagem; promove a universalização do acesso à educação.
1993 – Normas sobre Equiparação de Oportunidades para Pessoas com
Deficiência (ONU) – estabelece padrões mínimos para promover igualdade de
direitos (direito à educação em todos os níveis para crianças, jovens e adultos com
deficiência, em ambientes inclusivos).
1993 – Declaração de Manágua – Delegados de 39 países das Américas
exigem inclusão curricular da deficiência em todos os níveis da educação, formação
dos profissionais e medidas que assegurem acesso a serviços públicos e privados,
incluindo saúde, educação formal em todos os níveis e trabalho significativo para os
jovens.
1994 – Declaração de Salamanca – proclamada na Conferência Mundial de
Educação Especial sobre Necessidades Educacionais Especiais, reafirma o
compromisso para com a Educação para Todos e reconhece a necessidade de
providenciar educação para pessoas com necessidades educacionais especiais
dentro do sistema regular de ensino.
1999 – Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência (Guatemala) – condena
qualquer discriminação, exclusão ou restrição por causa da deficiência que impeça o
exercício dos direitos das pessoas com deficiência, inclusive à educação.
28
1999 – Declaração de Washington – Representantes dos 50 países
participantes do encontro “Perspectivas Globais em Vida Independente para o
Próximo Milênio”, Washington DC, Estados Unidos, reconhecem a responsabilidade
da comunidade no fomento à educação inclusiva e igualitária.
2002 – Declaração de Caracas – constitui a Rede Iberoamericana de
Organizações Não-Governamentais de Pessoas com Deficiência e suas Famílias
como instância para promoção, organização e coordenação de ações para defesa
dos direitos humanos e liberdades fundamentais das pessoas com deficiência e
suas famílias.
2002 – Declaração de Sapporo (Japão) – representando 109 países, 3 mil
pessoas, em sua maioria com deficiência, na 6ª Assembléia Mundial da Disabled
Peoples´ International – DPI, insta os governos em todo o mundo a erradicar e
educação segregada e estabelecer política de educação inclusiva.
2002 – Congresso Europeu de Pessoas com Deficiência – proclama 2003 o
Ano Europeu das Pessoas com Deficiência para conscientizar sobre os direitos de
mais de 50 milhões de europeus com deficiência.
2003 – Ano Europeu das Pessoas com Deficiência – oportunidades iguais e
acesso aos recursos da sociedade (educação inclusiva, novas tecnologias, serviços
sociais e de saúde, atividades esportivas e de lazer, bens e serviços ao
consumidor).
2004 – Ano Iberoamericano da Pessoa com Deficiência – proclamado na
última reunião da Cúpula dos Chefes de Estados dos Países Iberoamericanos,
realizada na Bolívia, da qual o Brasil é membro, define a questão da deficiência
como prioridade, fortalecendo as instituições e as políticas públicas direcionadas à
inclusão das pessoas com deficiência.
29
2.1.3. Documentos Nacionais
1988 – Constituição Federal (Art. 208, III) – estabelece o direito das pessoas
com necessidades especiais de receberem educação, preferencialmente na rede
regular de ensino.
1989 – Lei Nº 7.853 – cria a Coordenadoria Nacional para Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), dispõe sobre o apoio às pessoas com
deficiência, sua integração social, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos
ou difusos das pessoas com deficiência, disciplina a atuação do Ministério Público,
define crimes, e dá outras providências.
1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei nº8.069) – No Art. 53,
assegura a todos o direito à igualdade de condições para o acesso e permanência
na escola e atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede
regular de ensino.
1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº9.394/96) –
assegura aos alunos com necessidades especiais currículos, métodos, recursos
educativos e organização específicos, para atender às suas necessidades
específicas.
1998 – Parâmetros Curriculares Nacionais (Adaptações Curriculares) – do
MEC, fornecem as estratégias para a educação de alunos com necessidades
educacionais especiais.
1999 – Decreto Nº 3.298 – regulamenta a Lei nº 7.853/89 que trata da Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e estabelece a
matrícula compulsória, em cursos regulares de escolas públicas e particulares, de
pessoas com deficiência.
2000 – Lei Nº 10.098 – estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade
30
reduzida, mediante a eliminação de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços
públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de
transporte e de comunicação.
2000 – Lei Nº 10.048 – estabelece a prioridade de atendimento às pessoas
com deficiência e determina que os veículos de transporte coletivo a serem
produzidos devam ser planejados de forma a facilitar o acesso a seu interior das
pessoas com deficiência.
2001 – Plano Nacional de Educação – explicita a responsabilidade da União,
dos Estados e Distrito Federal e Municípios na implementação de sistemas
educacionais que assegurem o acesso e a aprendizagem significativa a todos os
alunos.
2001 – Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica –
endossa a necessidade de que todos os alunos possam aprender juntos, em uma
escola de qualidade.
2001 – Decreto nº 3.956 – da Presidência da República do Brasil, que
reconhece o texto da Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Pessoa Portadora de Deficiência (Convenção da
Guatemala), reafirmando o direito de todas as pessoas com deficiência à educação
inclusiva.
2001 – Parecer CNE (Conselho Nacional de Educação)/ CEB (Câmara de
Educação Básica) nº 17 – aponta os caminhos da mudança para os sistemas de
ensino nas creches e nas escolas de educação infantil, fundamental, médio e
profissional.
2004 – Decreto nº 5296 de 2 de dezembro – regulamenta as Leis nºs 10.048,
de 8 de novembro de 2000 e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelecem
normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade em vários
âmbitos.
31
A partir desses estudos e documentos, chegou-se à conclusão de que a
melhor resposta para o aluno com deficiência e para todos os demais alunos é uma
educação que respeite as características de cada estudante, que ofereça
alternativas pedagógicas que atendam às necessidades educacionais de cada
aluno: uma escola que ofereça tudo isso em um ambiente inclusivo e acolhedor,
onde todos possam conviver e aprender com as diferenças.
2.1.4. Diferença entre integração e inclusão
Os vocábulos integração e inclusão, embora tenham significados
semelhantes, são empregados para expressar situações de inserção diferentes.
A integração
“(...) refere-se mais especificamente à inserção de alunos com deficiência nas
escolas comuns, mas seu emprego dá-se também para designar alunos agrupados
em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes
especiais, grupos de lazer ou residências para deficientes.” (MANTOAN, 2003
p.22).
Pela integração escolar, o aluno tem acesso às escolas por meio de um leque
de possibilidades educacionais, que vai da inserção às salas de aula do ensino
regular ao ensino em escolas especiais.
Esse processo oferece ao aluno a oportunidade de transitar no sistema
escolar (da classe regular ao ensino especial) em todos os seus tipos de
atendimento: escolas especiais, classes especiais em escolas comuns, classes
hospitalares...
A inclusão prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática
além da participação na vida comunitária, por meio de suportes físicos, psicológicos
e sociais. Implica o redimensionamento de estruturas físicas da escola, de atitudes e
percepção dos educadores e adaptações curriculares além de
32
“(...) uma mudança de perspectiva educacional, pois não atinge apenas alunos com
deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais,
para que obtenham sucesso na corrente educativa geral.” (MANTOAN, 2003 p.24)
Em termos gerais,
“(...) o objetivo da integração é inserir um aluno, ou um grupo de alunos, que já foi
anteriormente excluído, e o mote da inclusão, ao contrário, é o de não deixar
ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo da vida escolar. As escolas
inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que considera
as necessidades de todos os alunos e que é estruturado em função dessas
necessidades.” (Id, p.24)
2.2.Tutoria
A tutoria deve ser um compromisso de todos os professores, independente de
terem ou não esse cargo.
Existem muitas definições, de diferentes autores, para “tutoria” e “tutor”.
Dentre elas: um conselheiro ou guia de outro a quem serve de apoio; um professor
que se encarrega de atender diversos aspectos que não são suficientemente
tratados nas aulas; pessoa que aconselha em tudo o que se refere à educação, uma
atividade inerente à função do professor, que se realiza individual e coletivamente
com os alunos de uma sala de aula, a fim de facilitar a integração pessoal nos
processos de aprendizagem.
A construção de cada ser humano, professor, aluno, requer um grande
esforço e dedicação e se constitui em um trabalho interativo entre todos.
De acordo com Arnaiz (In:ARGÜIS, 2002, p.17), as qualidades que um tutor
precisa ter são:
“- Qualidades humanas (o ser do tutor). A empatia, a maturidade intelectual-volitiva e
afetiva, a sociabilidade, a responsabilidade e a capacidade de aceitação.
33
- Qualidades científicas (o saber). Conhecimento da maneira de ser do aluno,
conhecimento dos elementos pedagógicos para conhecer e ajudar o aluno.
- Qualidades técnicas (o saber fazer). Trabalhar com eficácia e em equipe,
participando de projetos e programas definidos em comum acordo para a formação
dos alunos.”
Carl Rogers (In:ARGÜIS, 2002 p.18) explica o processo de mudança ocorrido
no aluno:
“Se posso criar uma relação que, de minha parte, caracteriza-se por autenticidade e
transparência e na qual eu possa viver meus próprios sentimentos, uma calorosa
aceitação e valorização da outra pessoa como um indivíduo diferente e uma sensível
capacidade de ver meu aluno como ele se vê e se percebe com seus próprios olhos,
então, o outro indivíduo experimentará e compreenderá aspectos de si mesmo antes
reprimidos; conseguirá uma integração pessoal cada vez maior e será capaz de
funcionar com eficácia irá parecer-se cada vez mais com a pessoa que queria ser irá
tornar-se mais pessoal, original e expressivo; poderá aceitar melhor os outros e
poderá enfrentar os problemas da vida de uma maneira mais fácil e adequada.”
Existem diferentes tipos de tutorias como:
A tutoria individual
É a ação do professor-tutor com o aluno, considerando neste último suas
qualidades, seus êxitos e fracassos, sua maneira de ser e agir. O professor deve
conhecer a situação de cada aluno, ajudá-lo, orientá-lo, fazendo assim, com que o
aluno sinta-se mais seguro, mais confiante e mais entusiasmado para enfrentar
novos desafios.
A tutoria de grupo
É a atuação do tutor em um grupo de alunos, geralmente a sala de aula. Ele
ajudará os alunos na participação ativa na vida da escola, e favorecerá a
participação dos pais nos processos de decisão do aluno.
34
A tutoria da diversidade
Nesse tipo de tutoria, o professor tem que levar em conta que não existe uma
forma padronizada de aluno, nem de aprendizagem, cada um tem sua capacidade e
ritmo de aprendizagem peculiares.
Em todo trabalho educativo um dos aspectos que mais se destaca é a relação
humana que se estabelece entre o professor e seus alunos.
A ação tutorial comporta uma atenção individual e pessoal a cada aluno; o
trabalho realizado é baseado nas características de cada um, atendendo assim a
diversidade. Ela é vista como um trabalho paralelo e simultâneo ao trabalho
docente. Tem como finalidade máxima zelar pela otimização do processo educativo
seguido pela criança e pelo grupo de alunos.
De acordo com Dório (In: ARGÜIS, 2002, p. 59), a ação tutorial pode ter
diferentes finalidades como:
“- preventiva: quando se trabalha sobre aspectos que podem, com o tempo, causar
problemas no processo educativo.
- de diagnóstico: quando se trata de detectar e identificar as necessidades individuais
ou grupais que as crianças apresentem e a intervenção se torna necessária.
- de acompanhamento: quando se pretende observar a evolução de um fato
mediante a ação tutorial.
- “compensatória: quando se trata de trabalhar a diversidade.”
Uma forma de realizar todo trabalho citado acima, de uma forma democrática,
pode desenvolver-se através das “assembléias”. Elas estabelecem um procedimento
baseado no diálogo para considerar as questões escolares que são expostas de
modo franco e aberto.
Constituem um espaço de educação moral, onde estão introjetados valores
como respeito, colaboração, solidariedade, justiça, compreensão e a valorização do
diálogo.
35
São momentos destinados pela escola para promover a participação por meio
da palavra. A turma reúne-se para refletir sobre si mesma, o educador expõe aquilo
que lhes parece pertinente, enfim, fala-se de tudo aquilo que diz respeito à vida
coletiva.
A assembléia tem como objetivo:
- cumprir um papel informativo, tanto por parte dos alunos como dos
professores, que a usarão para falar sobre tudo o que considerarem relevantes.
- analisar as situações vivenciadas, os problemas diários e as dificuldades
que atrapalham as tarefas escolares.
- decidir e organizar o que se vai fazer; neste momento, o professor também
pode esclarecer o porquê de alguns trabalhos já previstos, suas funções e
contribuições.
Elas podem também solucionar conflitos que surgem freqüentemente entre as
crianças, e estabelecer, de comum acordo, normas de conduta para evitar tais
situações.
Puig (In: ARGÜIS, 2002, p.32), supõe que a aprendizagem da cidadania pelos
alunos alcance diferentes objetivos:
“1. Que adquiram um vivo reconhecimento da coletividade e que se sintam parte do
grupo no qual estão imersos. (...)
2. Que aceitem e construam normas. (...)
3. Que desenvolvam uma forte autonomia da vontade que os impeça de se
esconderem no grupo e que, ao contrário, os impulsione a participar de acordo com
seus critérios pessoais no bom andamento da sala de aula e da escola.
4. Que desenvolvam o conjunto de capacidades necessárias para dialogar de modo
correto e para serem capazes de manter uma atitude reflexiva a respeito de si
mesmos e da comunidade a qual pertencem.
5. Que adquiram uma predisposição a se comportar de acordo com valores como o
espírito de iniciativa, a responsabilidade, a cooperação, a solidariedade, a tolerância
e a busca de acordos.”
36
Assim, através de recursos como as assembléias, podemos debater assuntos
polêmicos, como no caso um aluno com dificuldades e limitações diferentes das do
grupo, e concluir juntamente com as crianças as melhores formas de ajudar, mostrar
o quanto as diferenças são comuns e importantes e principalmente destacar a
beleza que isso tudo tem.
37
III. Considerações Finais Diante das observações feitas na prática e das teorias que tomei como
embasamento, o tema Inclusão ainda pode ser considerado para os educadores
motivo de muita insegurança, de sentimento de despreparo e de grandes
questionamentos e “inquietamentos”, e isso ocorre devido a muitos fatores. O
primeiro deles é a falta de uma formação adequada no Ensino Superior, fator este
essencial para, ao menos, entender os alunos dentro de suas dificuldades.
Outra questão a ser discutida é a relação entre escola e pais. Observei neste
caso como a falta de um diálogo honesto e claro trouxe dificuldades ao cotidiano
escolar, pois a inclusão resumia-se apenas à presença de Pedro na sala de aula.
Verifica-se assim que tanto a família, falando agora de forma ampla, quanto a
escola estão focadas nas questões pedagógicas, como conteúdos, avaliações,
resultados esquecendo a importância que deve ser dada à formação subjetiva da
criança que está além de qualquer estrutura escolar. Não basta inserir a criança
numa escola que já possui uma estrutura solidificada, mas buscar formas de orientar
todos os alunos a entender as diferenças tanto físicas quanto emocionais, diferenças
presentes em qualquer pessoa.
Por isso a necessidade de uma mudança no currículo que valorize as
diferenças, a pluralidade cultural, as diversas etnias que compõem nossa sociedade,
a fim de que as próprias crianças questionem o que está colocado como um padrão,
como um modelo. Os alunos, portanto, são vistos como sujeitos construtores do
currículo, e não como objetos do mesmo. Talvez este seja o fator que mais se
destaca quando se fala em Inclusão.
A seguir, uma fábula que retrata de forma fidedigna o modelo de educação
utilizado em nossa cultura escolar e nos convida a refletir se, de fato, essa forma de
agir contempla nossos propósitos.
38
“Certa vez os animais resolveram preparar seus filhos para enfrentar as
dificuldades do mundo atual e, por isso, organizaram uma escola. Adotaram um
currículo prático que constava de corrida, escalada, natação e vôo. Para facilitar o
ensino, todos os alunos deveriam aprender todas as matérias.
O pato, exímio em natação (melhor mesmo que o professor) conseguiu notas
regulares em vôo, mas era aluno fraco em corridas e escalada. Para compensar
esta fraqueza, ficava retido na escola todo dia, fazendo exercícios extras. De tanto
treinar corrida ficou com os pés terrivelmente esfolados e, por isso, não conseguia
mais nadar como antes. Entretanto, com o sistema de média aritmética das notas
nos vários cursos, ele conseguiu ser um aluno sofrível, e ninguém se preocupou
com o caso do pobre pato.
O coelho era o melhor aluno do curso de corrida, mas sofreu tremendamente
e acabou com esgotamento nervoso, de tanto tentar natação.
O esquilo subia tremendamente, conseguindo belas notas no curso de
escalada, mas ficou frustrado no vôo, pois o professor o obrigava a voar de baixo
para cima e ele insistia em usar os seus métodos, isto é, em subir nas árvores e voar
de lá para o chão. Ele teve que se esforçar tanto em natação que acabou por passar
com nota mínima em escalada, saindo-se mediocremente em corrida.
A águia foi uma criança problema, severamente castigada desde o princípio
do curso, porque usava métodos exclusivos dela, fosse para atravessar o rio ou
subir nas árvores. No fim do ano, uma águia anormal, que tinha nadadeiras,
conseguiu a melhor média em todos os cursos e foi a oradora da turma.
Os ratos e os cães de caça não entraram na escola porque a administração
se recusou a incluir duas matérias que eles julgavam importantes, como escavar
tocas e escolher esconderijos. Acabaram por abrir uma escola particular junto com
as marmotas e, desde o princípio, conseguiram grande sucesso.
(Autoria sem identificação)
A fábula nos retrata como as escolas vêm se organizando em torno da
homogeneidade dos sujeitos e também da universalização dos saberes,
desconsiderando questões de grande importância como as diferenças de classe,
etnia, gênero e cultura, estando despreparada para receber adequadamente os
alunos reais.
39
O que ocorreu na instituição que acompanhei no decorrer do ano foram
variações entre inclusão e integração. A escola ainda está adaptando-se a essa
nova realidade, prova disso a implementação de rampas, de trocador, de elevadores
e de uma funcionária em sala de aula para acompanhar o aluno exclusivamente.
Porém a integração aparece em alguns momentos como em aulas
especializadas onde os professores nem sempre possuem uma alternativa para o
aluno realizar determinada atividade, e este último quem procura uma solução,
assim como sua dependência para locomover-se pelo colégio por conta das
escadas.
A inclusão educacional, portanto, é um processo ainda a ser construído, há
necessidade de formulação e execução de políticas públicas inclusivas que
envolvam principalmente o apoio à família e ao professor, desde a sua formação.
40
Anexos
Entrevista com as professoras que acompanharam o aluno em 2007
Professora A 1. Como foi dada a noticia de que você receberia um aluno com necessidades
educativas especiais? Como se sentiu diante do desafio?
1. Bom, eu fiquei sabendo que haveria um menino com necessidades especiais
antes de saber que iria ficar com ele. Fiquei sabendo que ia ficar com ele no primeiro
dia de aula. Não sabia que iria ter que trocá-lo, pois a orientadora havia nos falado
que ele usava uma “cueca” e não fralda. Na verdade, não houve uma conversa
comigo antes para saber se eu queria, como seria, nada. Simplesmente, descobri as
coisas na prática. Quando eu fiquei sabendo que haveria um aluno de cadeira de
rodas fiquei muito tentada a ficar com ele. Eu realmente queria este desafio. O
problema foi a maneira que o processo aconteceu. Um desafio maior do que eu
esperava, pois eu só tinha apoio das professoras e das inspetoras do corredor que
me ajudaram imensamente durante o ano inteiro. Mas em momento algum durante o
ano alguém da direção conversou comigo sobre como eu estava me sentindo, se
estava tudo bem...
2. Você recebeu algum preparo profissional para a inclusão?
2. Fiz no segundo ano da faculdade uma disciplina sobre inclusão. Li muitos textos,
e mil teorias acerca do tema. Mas, a teoria não substitui a prática, principalmente
quando se fala em inclusão. Meu preparo foi a prática. Meu preparo foi a convivência
diária com o aluno, pois como já disse anteriormente ninguém me disse como seria,
não tive orientações. Acho que teria somente se algo desse errado. Quem mais me
ajudou foi a criança. Ele me ajudou muito, ensinou-me muito. Agradeço por ele ser
uma pessoa tão especial. Um menino sensível que ultrapassa os limites de sua
pequena cadeira de rodas. Seu olhar que penetra na alma de todos. Ele realmente é
incrível. E foi esse preparo que eu tive. Um preparo e tanto. Não poderia ser melhor.
41
Mesmo diante de tantas adversidades, a experiência que tive foi no meu
crescimento pessoal, mais do que profissional.
3. Como foi o acolhimento do sujeito portador de doença permanente?
3. No início, não havia o trocador. Eu o trocava no colo mesmo. Segurava enquanto
uma das meninas tirava a fralda e colocava a outra. Ou uma segurava e eu tirava a
fralda, pois ficávamos cansadas em segura-lo por muito tempo. Acho que foi assim
por mais ou menos um mês. Depois com o trocador melhorou muito.
Em relação ao trajeto que percorríamos na escola, em todas as escadas
precisávamos de duas pessoas para levar a cadeirinha. E em uma escada em
especial, o tirávamos da cadeira e uma levava a cadeira e outra o levava. O
problema é que no Maternal também precisávamos olhar as outras crianças e
ficávamos bastante sobrecarregadas. A sala era bastante agitada. Foi um ano bem
cansativo.
4. Qual sentido você dá ao apelo para inclusão?
4. A inclusão, na minha opinião, vai muito além do que aconteceu comigo e do que
acontece nas escolas. Acredito que para existir de fato uma inclusão é preciso que
toda a escola se mobilize em prol de um novo projeto que valorize a diversidade e
que mostre para os alunos que as dificuldades existem para qualquer pessoa.
Entretanto, o problema reside na questão dos padrões e da homogeneização que
propõe a escola. Assim, como incluir se existe um certo padrão de “normalidade”?
Se a escola valoriza somente um tipo de criança, a inclusão não existirá. Por isso, é
necessária a existência no currículo escolar das inúmeras linguagens que
constituem o ser humano para que toda e qualquer criança tenha a possibilidade de
se ver na realidade e de fazer parte dela de fato. Enquanto a escola não der a
possibilidade para que cada aluno possa “ser” e possa descobrir qual o seu
caminho, a inclusão não acontecerá, até porque os excluídos do sistema
ultrapassam o limite daqueles com necessidades especiais, são muitos os que ficam
excluídos deste sistema. Melhorar também os cursos de Pedagogia seria um grande
passo, pois não temos uma boa formação nessa área. Como já afirmei, fiz apenas
uma disciplina que infelizmente não ajudou em minha prática. Claro, que não se
deve simplificar a questão da inclusão, pois a solução é muito mais complexa e
42
mexe com outras instâncias além da escola. Mas, acho que isso seria,
provavelmente, uma das saídas.
5. Como você conduziu essa situação com relação a:
- aspectos gerais
- aspectos emocionais
- aspectos cognitivos
- aprendizagem escolar
5. a) a relação com os colegas no início era um pouco complicada, pois alguns não
entendiam o motivo pelo qual ele estava na cadeira de rodas, o que é de fato difícil
de entender. E assim, o excluíam de algumas brincadeiras. Muitas crianças até o
final de ano continuavam não querendo brincar com ele. Em compensação ele fez
amizades preciosas com alguns alunos que brigavam para empurrar a cadeira e
ajuda-lo nas atividades. Algumas situações eram difíceis de ser conduzidas pois os
movimentos são fundamentais na Educação Infantil, tanto que o tempo inteiro o
aluno se mexe com o tronco, os braços, a cabeça. E nessas situações nós tínhamos
que conversar com as crianças para que adaptassem as brincadeiras para ele poder
entrar. Mas isso durante o ano ocorreu de maneira natural.
b) esse foi um aspecto importante, pois eu sentia que ele guardava muito seus
sentimentos. Lembro-me que os momentos mais difíceis eram quando ele ficava
com um olhar um pouco triste vendo as outras crianças brincarem. Isso aconteceu
muitas vezes. Eu sempre tentava deixa-lo alegre e contente, mas em alguns
momentos também sabia que ele queria ficar sem falar nada e ficar um pouco só.
Acho que minhas palavras não eram suficientes para que ele ficasse feliz. Ele sabe
de seu desafio, e entende muito bem o que passa. Por isso, eu não subestimava os
seus sentimentos achando que ele era pequeno demais para compreender seu
problema. Ele entendia sim. E ficava triste por isso. E na rotina turbulenta do
cotidiano vivido na escola, eu ficava triste vendo que não existe essa atenção
necessária aos sentimentos tanto dele quanto das outras crianças. Eu dava essa
atenção e vi como é importante.
c) Não houve nenhuma dificuldade para conduzir sua aprendizagem escolar. Isso se
deu de maneira bem tranqüila.
43
6. Quais as reações do aluno diante das diferentes situações?
6. Como já disse anteriormente em alguns momentos ele ficava com olhar parado e
triste. Mas na maioria das situações perguntava se podia sair da cadeira para
brincar, ficar no chão da sala, ele participava de tudo. O problema é que a escola
não ajudava na sua independência, ou seja, sem rampas nas escadas ele sempre
dependia de alguém para carregá-lo, e era bastante claro como isso o irritava. Com
toda a razão. Enquanto as outras crianças saiam na frente para brincar ele tinha que
esperar e ser carregado nas escadas. E ainda hoje é assim. E eu como estagiária
não queria privá-lo de nenhuma situação e o ajudava sempre. Entretanto, depender
o tempo inteiro de alguém é muito ruim. E eu ficava bem cansada, com dor nas
costas, nos braços. Era um esgotamento físico. Ainda mais com uma sala inteira
extremamente agitada.
7. Como você pode avaliar o trabalho desenvolvido?
7. Eu acho que dentro destas condições descritas, eu e as professoras fizemos um
bom trabalho. Eu aprendi demais e mesmo com a revolta que tenho dentro de mim,
e que ficou encubada durante o ano passado inteiro, pois não tinha abertura para
que pudesse falar das dificuldades vividas, amei ter tido essa experiência. Se fiquei
mais crítica em relação a minha prática e à educação de forma mais ampla, então
valeu muito o esforço. Se isso me fez crescer como ser humano, então valeu o
esforço. Se eu ajudei alguém de todas as maneiras que pude, então valeu o esforço.
Espero que se algum dia eu for diretora, coordenadora, ou ser dona de uma escola
que não repita os mesmos erros que vi no meu cotidiano...
44
Professora B
1. Como foi dada a noticia de que você receberia um aluno com necessidades
educativas especiais? Como se sentiu diante do desafio?
1. De maneira bastante rápida, prática e superficial: “A criança será seu aluno, ele se
locomove com cadeira de rodas e parece que é por causa de câncer”.
2. Você recebeu algum preparo profissional para a inclusão?
2. Nenhum preparo foi oferecido; somente após a reunião de pais é que ficamos um
tempo a mais com a mãe para sabermos exatamente o que a criança tinha, porque
também desconhecíamos.
3. Como foi o acolhimento do sujeito portador de doença permanente?
3.No início, a maior dificuldade encontrada foi o fato de não termos o trocador
necessário para que durante as trocas de fralda a criança tivesse conforto, uma vez
que ele fazia uso de colete, o que também dificultava a situação. Após um mês o
trocador fpi implementado. Outra dificuldade enfrentada foi a falta de rampas de
acesso em determinados locais de uso cotidiano, o que causava desconforto para a
criança e para os profissionais que tinham que carregar a cadeira diversas vezes por
dia.
4. Qual sentido você dá ao apelo para inclusão?
(sem resposta)
5. Como você conduziu essa situação com relação a:
- aspectos gerais
- aspectos emocionais
- aspectos cognitivos
- aprendizagem escolar
45
5. Aspectos Gerais: Como as crianças eram muito pequenas, houve pouco
estranhamento. Em algumas ocasiões nas quais víamos a necessidade de
intervirmos, conversávamos com a turma toda sobre a questão. Houve também o
auxílio de alguns livros infantis que ilustravam a problematização da nova situação
pela qual todos nós estávamos passando.
Aspectos cognitivos e de aprendizagem escolar: Não houve problemas em relação a
aprendizagem do educando.
6. Quais as reações do aluno diante das diferentes situações?
(sem resposta)
7. Como você pode avaliar o trabalho desenvolvido?
7. Avalio de maneira positiva, uma vez que os profissionais envolvidos fizeram o
melhor que podiam pela criança.
Porém, acredito que por parte da instituição houve omissão em relação a
adaptabilidade necessária para o bem estar do aluno.
46
Professora que acompanhou o aluno em 2008
1. Como foi dada a noticia de que você receberia um aluno com necessidades
educativas especiais? Como se sentiu diante do desafio?
1. Uma semana antes de iniciarmos o ano (nas atividades de planejamento) recebi a
notícia de que trabalharia com um aluno com necessidades educativas especiais.
Soube por uma colega, a professora do ano anterior dessa criança, que já
aproveitou e tirou algumas dúvidas. Mesmo assim, me senti insegura, com medo de
não agir naturalmente com ele, de não dar conta do recado.
2. Você recebeu algum preparo profissional para a inclusão?
2. Não recebi nenhum preparo profissional por parte da escola para trabalhar com a
inclusão.
3. Como foi o acolhimento do sujeito portador de doença permanente?
3. Com relação ao trabalho desenvolvido em sala de aula, o acolhimento e os
cuidados específicos se dão de forma positiva: estamos sempre atentas e
procuramos fazer o máximo para ele se sentir do grupo e participar de todas as
atividades como todas as crianças. Quanto ao preparo da instituição, não acredito
que tenha tido. Não houve atenção às suas necessidades, como rampas de acesso,
trocador adequado no banheiro e até mesmo brinquedos apropriados no parque.
4. Qual sentido você dá ao apelo para inclusão?
4. Acredito que o tema “Inclusão” se torna cada vez mais urgente e necessário. Não
só para a escola, mas para a sociedade como um todo. Vivemos numa sociedade
mergulhada em esteriótipos e clichês, na qual, apenas os indivíduos capazes de
produzir são aceitos. Desta forma, idosos, deficientes e até mesmo crianças se
tornam descartáveis (é o império da juventude). Neste sentido, a escola como
principal instituição que possibilita a transição da vida familiar para a vida “social”,
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precisa combater essa lógica respeitando as potencialidades, capacidades e
limitações de cada um. Concordo com uma autora chamada Rosângela Machado ao
afirmar que “A inclusão é um convite à recriação da realidade.”
5. Como você conduziu essa situação com relação a:
- aspectos gerais
- aspectos emocionais
- aspectos cognitivos
- aprendizagem escolar
5. No que se refere aos aspectos gerais, como a relação com colegas e a reação
das crianças, não houve nenhuma preocupação ou um trabalho específico para lidar
com essa “nova” realidade. Isso não significa que não teve a necessidade desse
trabalho, pelo contrário. Metade da sala havia estudado com Pedro no ano anterior
(para estes já não era uma situação, já estavam acostumados com um amigo em
cadeira de rodas). Mas, para a outra metade foi algo extremamente inusitado, eles
perguntavam frequentemente porque o amigo não andava, ou porque não podia
comer nada que tivesse leite etc. As dúvidas das crianças nunca foram esclarecidas
de fato, e Pedro nunca teve a oportunidade de falar sobre si, sobre suas
necessidades. Quanto aos aspectos cognitivos e de aprendizagem nada precisou
ser feito, pois o aluno acompanha o trabalho com muita tranqüilidade.
6. Quais as reações do aluno diante das diferentes situações?
6. Na maioria das situações percebo que ele reage bem, participa tranqüilamente, às
vezes com entusiasmo e às vezes sem, como todo ser humano. Em outros
momentos, sinto sua angústia e a vontade em poder fazer o que as outras crianças
fazem, principalmente em atividades que desconsideram sua condição, impedindo
sua participação.
7. Como você pode avaliar o trabalho desenvolvido?
7. Não acredito que fiz o melhor que pude, principalmente no que se refere ao grupo.
Poderíamos ter discutido e conversado mais com as crianças sobre as diferenças e
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necessidades de cada um; porque o Pedro precisa da cadeira de rodas, porque
precisamos ajudá-lo em alguns momentos, etc. Além de elaborar atividades e
situações para essa percepção das crianças.
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