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newsletter NÚMERO 171 DEZEMBRO 2015 PARTIS Ópera na Prisão

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newsletter NÚMERO 171DEZEMBRO 2015

PARTISÓpera na Prisão

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A Fundação Calouste Gulbenkian é uma instituição portuguesa de direito privado e utilidade pública, cujos fins estatutários são a Arte, a Beneficência, a Ciência e a Educação. Criada por disposição testamentária de Calouste Sarkis Gulbenkian, os seus estatutos foram aprovados pelo Estado Português a 18 de Julho de 1956.

newsletter Número 171.dezembro.2015 | ISSN 0873‑5980 Esta Newsletter é uma edição do Serviço de Comunicação Design José Teófilo Duarte | Eva Monteiro | João Silva | [DDLX] | Revisão de texto Rita VeigaImagem da Capa Ópera na prisão © Joaquim Dâmaso

Impressão Greca Artes Gráficas | Tiragem 9 000 exemplares Av. de Berna, 45, 1067‑001 Lisboa, tel. 21 782 30 00 | [email protected] | www.gulbenkian.pt

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8Ópera na prisão

A Sociedade Artística e Musical dos Pousos (Leiria) levou jovens reclusos entre os 18 e os 25 anos a entrar no mundo

da ópera. No final de outubro, os espetáculos que realizaram, na antiga fábrica de serração do

Estabelecimento Prisional de Leiria, receberam os maiores elogios e a comprovação de que a arte é um forte

promotor da inserção social. Apoiado pelo PARTIS, este projeto vai continuar, nas palavras do seu diretor musical,

Paulo Lameiro, a “fazer e recriar arte, de forma tão completa como a ópera oferece”.

5Refugiados em palcoAprender a língua, os costumes e as tradições portuguesas com a ajuda do teatro e da expressão dramática é um dos resultados do projeto Refúgio e Teatro: Dormem Mil Gestos nos Meus Dedos. Uma forma de integrar pela arte dezenas de refugiados de diferentes nacionalidades e que resulta do apoio do projeto PARTIS da Fundação Gulbenkian a esta iniciativa do Conselho Português para os Refugiados.

11Ideias de Origem PortuguesaA nova edição do concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa aceita candidaturas até final de fevereiro de 2016. Encontrar projetos de empreendedorismo social que façam a diferença nas áreas do Ambiente e Sustentabilidade, do Diálogo Intercultural, do Envelhecimento e da Inclusão Social é o propósito deste concurso para o qual os participantes têm de constituir uma equipa que integre um cidadão português ou lusodescendente residente no estrangeiro e submeter um vídeo ilustrativo da ideia proposta.

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Ensaio do RefugiActo © Márcia Lessa

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índice

4 primeiro plano – PARTIS

– Refugiados em palco

– Ópera na prisão

notícias

11 Ideias de Origem Portuguesa

12 Dia do Km2

12 Bioinformática ganha

projeto europeu

13 Investigação IGC premiada

14 The Forest & The School

15 Haja Luz

16 Vision Europe Summit

17 Conferência-performance

na Delegação de Paris

18 breves

bolseiros gulbenkian

20 Luzia Vieira

em dezembro

exposições

23 Centro de Arte Moderna

24 Museu Calouste Gulbenkian

25 Os Magos do Oriente

25 Novas visitas orientadas

música

26 A Infância de Cristo

e outros concertos

28 novas edições

uma obra

30 Projeto de Museu de Arte

Contemporânea (1943)

13Investigação IGC premiadaUm trabalho de investigação do Instituto Gulbenkian de Ciência ganhou o PLOS Genetics Research Prize 2015, que distingue o melhor artigo publicado na revista científica PLOS Genetics em 2014. O artigo premiado resulta da colaboração de três grupos de investigação do IGC: os laboratórios de Isabel Gordo, de Karina Xavier e de Jocelyne Demengeot.

23Novas exposições

Seis novas exposições estão patentes no Museu Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna e na Sede da Fundação Gulbenkian. Da coleção privada Wentworth-Fitzwilliam à exposição que reúne obras e cumplicidades de

Robert e Sonia Delaunay, há muitos motivos para nos visitar. Neste período de Natal, e até fevereiro, terá ainda oportunidade de ver no Museu

Gulbenkian uma dezena de livros de horas da sua coleção com representações da Adoração dos Magos, dos séculos xv e xvi, provenientes de

importantes centros de produção europeus, como Paris, Bruges ou Gand.

26A Infância de Cristo e outros concertosHá quase três décadas que a oratória A Infância de Cristo não é tocada no palco do Grande Auditório. Este ano, o concerto de Natal trará a oratória de Hector Berlioz, com direção de Paul McCreesh, nos dias 10 e 11 de dezembro. O período natalício é ainda o mote para o concerto na Igreja de São Roque, protagonizado pelo ensemble coral de música antiga Graindelavoix, marcado para dia 13. O mês de dezembro terá ainda grandes nomes do piano e a bela voz de Estrella Morente, a interpretar canções espanholas antigas, num espetáculo no dia 5.

Aspeto de Hein Semke. Um alemão em Lisboa © Paulo Costa

Marianne Crebassa © Thomas Barte

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O ano passado, a Fundação Calouste Gulbenkian apoiou as primeiras iniciativas no âmbito do projeto PARTIS – Práticas Artísticas para a Inclusão Social. A ideia fundamental do projeto é ajudar a criar pontes entre comunidades que habitualmente não se cruzam, numa perspetiva integradora e usando as práticas artísticas – performativas, audiovisuais e plásticas – na sua concretização. Na 1.ª edição (2014‑2016) foram selecionados 17 projetos que permitem tornar realidade o papel da arte enquanto motor de inclusão social, entre os quais os dois projetos que agora se apresentam, com resultados visíveis e promissores, Refúgio e Teatro: Dormem Mil Gestos nos Meus Dedos e Ópera na Prisão: D. Giovanni 1003 – Leoporello 2015. Este apoio, concedido pelo Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, representou um investimento de cerca de um milhão de euros, o mesmo montante previsto para a 2.ª edição e cujas iniciativas se vão desenvolver entre 2016 e 2018.

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Ibisco‑DE, Há Festa no Campo, O Mundo à Nossa Volta e Mala Mágica – Artes Circenses para a Cidadania são alguns dos projetos PARTIS

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Vieram de países tão diferentes como a Rússia, o Sri Lanka, a China, a Colômbia, o Kosovo ou a Costa do Marfim. Em Portugal, procuram fugir das atrocidades e da repressão das suas nações de origem. O teatro tornou-se também um porto de abrigo, uma nova família que os acolhe e onde podem treinar a língua portuguesa e aprender mais sobre o país que os recebe. O projeto do Conselho Português para os Refugiados tem por título Refúgio e Teatro: Dormem Mil Gestos nos Meus Dedos e é apoiado pelo PARTIS da Fundação Gulbenkian.

Refugiados em palco

M argarita Sharapova vive em Portugal desde 2013. Fugiu da Rússia por ter escrito literatura LGBT, o que

a levou a ser perseguida. Na Rússia, as autoridades conside‑raram este um ato de propaganda homossexual, punível com prisão. Todas as terças‑feiras, depois das aulas de Português no Centro de Acolhimento para Refugiados (CAR), Margarita dirige‑se ao auditório do Centro para par‑ticipar nas sessões de expressão dramática. A seu lado, em palco, estão pessoas de diversas nacionalidades, todas em Lisboa há pouco tempo, todas à procura de uma nova vida. Perto, um jovem jornalista que pediu para não ser identifi‑cado por temer represálias, conta, em português, que fugiu do Sri Lanka há dois meses depois de terem matado o seu pai e o seu colega de trabalho, como consequência do seu trabalho jornalístico. À frente deles, as duas responsáveis pelo projeto preparam o grupo para as atividades que se seguem. O tema do dia é o verão de S. Martinho e a presen‑ça dos vendedores de castanhas nas ruas de Lisboa. Dois chineses, um rapaz e uma rapariga cristãos que fugiram da perseguição religiosa, olham, perplexos, a tentar perceber o que se passa, o que acaba por se resolver com a ajuda de um telemóvel e uma aplicação de tradução. Passado pouco tempo, todos se revezam em palco a interpretar a lenda de S. Martinho, o soldado que oferece metade da sua capa a

um pobre. No final da sessão de expressão dramática, jun‑tam‑se todos ao som de “O Homem das Castanhas”, de Carlos do Carmo, e entoam o refrão no melhor português de que são capazes. Pelo meio, fica a promessa: no dia seguinte será a vez de provar as castanhas. Assim termina mais uma sessão de expressão dramática de Refúgio e Teatro: Dormem Mil Gestos nos Meus Dedos,

Ensaio do RefugiActo © Márcia Lessa

Dora, da Colômbia, Margarita, da Russia, Betty, da Etiopia e Marthe, da Costa do Marfim, são as mais recentes participantes no RefugiActo. © Márcia Lessa

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um projeto do Conselho Português para os Refugiados (CPR) apoiado pelo PARTIS (Práticas Artísticas para a Inclusão Social), da Fundação Calouste Gulbenkian. Com este tipo de exercícios, as responsáveis pelo projeto, Isabel Galvão (professora de português) e Sofia Cabrita (atriz e encenadora), ensinam português e integram estes refugia‑dos na nossa cultura. “Quando as pessoas chegam ao CAR a língua é muito importante, decisiva, para a integração”, explica a coordenadora, Isabel Galvão. “Este processo de integração é muito longo, em duas dimensões. Quer da própria pessoa quer da própria sociedade que os está a acolher.” Por isso, Isabel acredita que as sessões de expres‑são dramática são essenciais: “Acredito que este projeto vai ter realmente repercussões no processo de integração por‑que vai dar mais confiança e a autoconfiança é importan‑tíssima.” A professora de Português, há 18 anos a trabalhar no CPR, explica como o teatro é um complemento impor‑tante às aulas de Português: “Muitas vezes, chegavam‑nos às aulas problemas de integração, mal‑entendidos, de não compreensão de códigos que temos.” Foi aqui que entrou o teatro, a preencher um certo vazio deixado pelas aulas, porque “a língua não é só vocabulário e estruturas grama‑ticais, é também os códigos sociais que são muito difíceis de decifrar quando se vem de países muito diferentes e quando tem que se recomeçar uma nova vida.”Sofia Cabrita, responsável artística do Refúgio e Teatro, acredita que o projeto mostra “tudo o que o teatro pode

trazer a alguém que está no processo de aprender uma língua nova, de se sentir incluído, de se sentir parte de uma sociedade com uma cultura diferente”. Para ela, o mais difí‑cil foi conseguir repensar a sua prática artística de forma a servir melhor os objetivos dos refugiados. “Aqui o produto final não é o que mais importa, mas o que posso emprestar da minha prática a estas pessoas.” Toda a abordagem acaba por ter de mudar, o que interessa é o processo e o que é adquirido pelo caminho. Sofia dá um exemplo: “O que estou a fazer agora é tentar criar diálogos em que apare‑çam os conteúdos programáticos da língua portuguesa como: apresentar‑me, fazer uma pergunta, dizer como estou, como me sinto. Ao mesmo tempo quero que isso não seja um roleplay como os dos livros de línguas, quero que realmente aconteça teatro.”

RefugiActo – aprender e ensinar

A segunda vertente do projeto Refúgio e Teatro é o RefugiActo, um grupo de teatro existente desde 2004, for‑mado exclusivamente por refugiados. A diferença em rela‑ção às sessões de expressão dramática está, entre outras coisas, nos participantes. Margarita está de volta ao auditó‑rio do CAR para ensaiar, mas é a única repetente e das pri‑meiras pessoas a fazer a transição das sessões de expressão dramática para o RefugiActo. Os outros membros já estão em Portugal há mais tempo e muitos deles já não frequen‑

Isabel Galvão e Sofia Cabrita orientam uma sessão de expressão dramática no CAR © Márcia Lessa

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tam o centro, mas insistem em continuar a fazer parte do grupo. Aqui estão em família, algo essencial para os que chegaram sozinhos a um país que desconhecem. Ajet Bunjaku, kosovar, em Portugal há 13 anos, 11 dos quais no grupo de teatro, diz que este grupo é uma família. “Apesar das mui‑tas nacionalidades diferentes, temos uma só cultura.” No RefugiActo, o objetivo não é só aprender Português, mas também sensibilizar e dar a conhecer as histórias e o uni‑verso dos refugiados. Por isso, o grupo já teve várias atua‑ções em ações de sensibilização do Conselho Português para os Refugiados, em congressos, nomeadamente na Fundação Calouste Gulbenkian, e mais recentemente no Greenfest, no Estoril. As peças que representam partem das suas próprias histórias. Aqui, Sofia Cabrita diz que também é difícil gerir o lado emocional: “Não estamos a lidar com um texto que alguém escreveu sobre a história de uma personagem. Aqui não há personagens. Eles são eles, mas não fazem realmente deles. Contam as histórias dos pró‑prios e dos outros.” Desde o início do projeto já passaram pelo RefugiActo 31 nacionalidades diferentes. Isabel Galvão acredita que a partilha providenciada pela mistura de diversas origens também afeta positivamente o processo de integração: “Conhecermo‑nos e percebermos que somos todos pai, mãe, sobrinho, irmão, filho… temos gostos parecidos ou diferentes: essa partilha vai ser muito importante para o caminho longo que é a integração."

Yana, bielorrussa, é um exemplo de quem tem feito a sua vida em Portugal de mão dada com o teatro. Vive em Lisboa desde os 14 anos, depois de a sua família ter escapado a ameaças devido às convicções antirregime do seu pai. “O início foi muito difícil”, confessa. Entre as dificuldades na escola e a integração na sociedade, o RefugiActo ofereceu‑‑lhe um espaço de liberdade e confiança, mas também de aprendizagem. Agora, depois de 11 anos no grupo, como Ajet (técnico de instalações para operadoras de telecomu‑nicações), Yana é das pessoas que recebe os novos mem‑bros: “Eu tive muita sorte porque cheguei com a minha família. Aqui, a maior parte das pessoas chegam completa‑mente sozinhas e deixam a família para trás em condições de perigo e de guerra.” Por isso, ela percebe bem a impor‑tância de um grupo como este: “Aqui têm alguém que os pode ouvir e um espaço onde podem esquecer a vida difícil que estão a levar, nem que seja por cinco minutos.” Yana também acredita que quem por aqui passa pertence ao grupo para sempre, mesmo os que vão trabalhar para longe: “Todos os que passaram aqui estão sempre no grupo, mesmo que não possam vir, porque é muito difícil nas nos‑sas vidas encontrar outro espaço onde possamos realmen‑te sentir‑nos pessoas, sem ter que estar sempre a relembrar que somos refugiados, que não falamos bem a língua e que tivemos que fugir.”As sessões de expressão dramática e os ensaios e atuações do RefugiActo vão continuar a decorrer no Centro de Acolhimento para Refugiados, abrindo os braços a quem chega, para ajudar os que entram a sair de lá não como refugiados, mas sim como cidadãos comuns como Margarita, a escritora, Ajet, o técnico , e Yana, a dona de um minimercado. ■

Ajet Bunjaku © Márcia Lessa

Yana © Márcia Lessa

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Que balanço faz das apresentações de Don Giovanni na prisão de Leiria?Foi uma experiência especialmente intensa para todos os que participaram ou assistiram às duas récitas. A primeira, dedicada exclusivamente aos reclusos do estabelecimento prisional que não participavam como intérpretes, teve a particularidade de oferecer momentos de grande tensão emocional e dramatúrgica. Apesar dos reclusos cantores

terem preparado os seus colegas para o tipo de espetáculo a que iriam assistir, era uma enorme incógnita a reação que poderia ter o grupo dos restantes duzentos. A grande surpresa foi conseguir ter num espetáculo de quase duas horas, com uma linguagem radicalmente desconhecida, dois momentos de completa euforia em que toda a plateia se levantou em êxtase (“Viva la Libertá” e o Rap final) e uma atitude quase sagrada em todo o tempo restante. Para

Ópera na prisão

Nos dias 23 e 24 de outubro, na antiga fábrica de serração do Estabelecimento Prisional de Leiria, 27 reclusos entre os 18 e os 25 anos subiram ao palco, acompanhados por uma orquestra e cantores profissionais, para o espetáculo Ópera na Prisão: Don Giovanni 1003, Leoporello 2015 – um projeto da Sociedade Artística e Musical dos Pousos (SAMP), com o apoio do PARTIS da Fundação Calouste Gulbenkian. Agora com tempo suficiente para perceber as primeiras repercussões do evento, Paulo Lameiro, diretor artístico do projeto, fala-nos do passado, do presente e do futuro de Ópera na Prisão.

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quem tivesse dúvidas, ficou claro o poder da ópera e de Mozart em particular. A segunda récita, com público exte‑rior à prisão, foi já de intenso prazer, mais descontraído para todos os intérpretes, instrumentistas e cantores, sem a angústia que a incógnita da primeira récita provocou. Casa completamente cheia, e grandes emoções dentro e fora de palco, antes, durante e depois do espetáculo.

Da parte dos participantes, qual foi a reação? A reação mais intensa aconteceu na última semana de ensaios em que se juntaram a orquestra e muito especial‑mente os solistas profissionais. Ouvir uma orquestra pela primeira vez é sempre uma experiência transformadora. Quando a primeira vez que se ouve é numa prisão, tocado ali ao nosso lado e não num palco, essa experiência é ainda mais radical. Junte‑se agora a condição de se ouvir uma orquestra pela primeira vez quando é para nos acompa‑nhar como solistas. Assistimos a uma revelação quase metafísica para muitos dos participantes, tão longe foi dos seus universos pessoal, social e estético.

E da parte dos outros reclusos, os que não participaram?A primeira grande reação foi lamentar não estarem inte‑grados no projeto, e neste momento quase todos manifes‑tam vontade de iniciar as aulas de canto. Mas a maior sur‑presa que manifestam prende‑se com a descoberta de que a ópera é teatro, conta uma história, e admiram‑se ao dar‑‑se conta de que gostam de ópera. Confessam abertamente nunca imaginar que esta “coisa” pudesse tratar de assuntos que lhes interessavam. Também manifestaram surpresa

por verem alguns dos seus colegas como cantores e bailari‑nos. Conhecendo um pouco o ambiente prisional, e as rela‑ções de poder entre os diferentes grupos e seus líderes, é muito difícil imaginar que na frente de colegas e guardas prisionais alguns reclusos dancem em palco minuetes ao som de Mozart.

Como é que a Ópera na Prisão está a influenciar a vida dos reclusos para além da parte artística?Este projeto afeta em múltiplos níveis, para além da arte, todos os envolvidos. E as maiores mudanças não são neces‑sariamente dos reclusos. Os guardas, os familiares, os técni‑cos de reeducação, os psicólogos, a direção do estabeleci‑mento prisional, os cantores profissionais, os instrumentis‑tas da orquestra, os professores que com eles trabalham, os colaboradores pontuais, todos mudamos muito o nosso olhar sobre o “outro”, o eu e a sociedade em geral.Mas no caso concreto dos reclusos, influencia a sua vida antes de mais pelos vínculos nas relações humanas que um projeto artístico oferece e que a maioria dos reclusos desconhece. Alguém que se encontra com eles fora do sis‑tema de justiça, sem o intuito de julgar, integrar, ajudar, reintegrar… e todas as atividades que de alguma forma evocam ou os ligam aos motivos pelos quais estão presos. O projeto Ópera na Prisão oferece somente um espaço de produção artística, onde a música, a dança, o teatro, a ceno‑grafia, os adereços, a história, se trabalham para oferecer um espetáculo final multidisciplinar. Mas na ópera encon‑tramos também muito exposta a temática dos dramas e da natureza humana, oferecendo um amplo campo de refle‑xão para todos, reclusos e artistas que conduzem os traba‑

Á direita, Paulo Lameiro orienta os prisioneiros que participam na Ópera na Prisão © Joaquim Dâmaso

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lhos. Em nada nos importam os crimes ou as histórias individuais de cada um dos jovens cantores. Mas desde o início que o projeto previa o envolvimento das famílias. Como intérpretes também. E esse envolvimento começou com nove familiares e amigos, e terminou com 67 no últi‑mo concerto. Depois de uma mãe, irmão, namorada ou amigo ter visto o seu familiar cantar ópera em palco com profissionais e uma orquestra, e em alguns casos ter com ele contracenado, nunca mais será a mesma pessoa. Mudam as relações muito mais do que poderíamos imagi‑nar, renovando os laços, abrindo novos olhares, oferecendo redescobertas do outro. Depois existem muitos outros impactos nos participantes, como as intensas rotinas de trabalho que a maioria desco‑nhece.

Qual é o objetivo do projeto?Acreditamos que quem experiencia o fazer e recriar arte, de forma tão completa como a ópera oferece, transforma‑se, recria‑se e, acima de tudo, liberta‑se. Já temos a experiência suficiente neste projeto, que se iniciou numa fase experi‑mental em 2003, para saber que há muitos muros a bloque‑ar a liberdade e a transformação destes jovens, bem maio‑res que o tempo de pena ou as grades prisionais. Importa

oferecer novos vínculos pessoais e renovar os poucos exis‑tentes. Importa incendiar a vontade de mudança que tem a totalidade destes jovens, e criar condições para que as experiências positivas vividas intramuros com Mozart pos‑sam continuar fora de muros com outros parceiros artísti‑cos das localidades para onde irão residir.

O projeto tem mais um ano de duração, pelo menos com este apoio do primeiro concurso PARTIS. Quais são os planos para 2016?Criar condições para vincular o interior da prisão ao exte‑rior fora dos esquemas correntes da justiça. Importa prepa‑rar quem vai acolher no exterior os jovens depois de cum‑pridas as penas, e isso não pode ser feito somente nessa altura. Falamos de amigos, famílias, namoradas, e, no caso concreto do projeto, de instituições artísticas. Identificar essas instituições de onde são originários os participantes e para onde voltam depois de cumpridas as penas (bandas filarmónicas, coros, grupos de teatro, escolas de música ou dança, etc.), apresentar‑lhes estes jovens e convidá‑los a participar connosco num espetáculo final de projeto. Envolver mais os amigos, investindo especialmente nas saídas de precária e nos eventos em que podem ser envol‑vidos. ■

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A té 29 de fevereiro do próximo ano, estão abertas as candidaturas para a nova edição do concurso Ideias

de Origem Portuguesa promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian. Encontrar projetos de empreendedorismo social que façam a diferença nas áreas do Ambiente e Sustentabilidade, do Diálogo Intercultural, do Envelhecimento e da Inclusão Social é o propósito deste concurso para o qual os participantes têm de constituir uma equipa que integre um cidadão português ou lusodes‑cendente residente no estrangeiro e submeter um vídeo ilustrativo da ideia proposta. Entre os projetos vencedores de edições passadas, destaca‑‑se a Orquestra XXI que reúne músicos portugueses espa‑lhados pelas melhores orquestras do mundo para tocarem juntos com regularidade. Aplaudida pela qualidade dos seus músicos, do seu repertório e das suas atuações, a 16 de dezembro a Orquestra XXI encerra a 13.ª Mostra Portuguesa, que se desenrola em todo o território espanhol com exposi‑ções de pintura, concertos e ciclos de cinema de autores nacionais.O projeto de combate ao desperdício alimentar Fruta Feia (na foto), que deu origem à criação de uma cooperativa de consumo para distribuição de frutas e legumes, também se

tem destacado: obteve recentemente financiamento da União Europeia para replicar o seu modelo de trabalho a nível nacional, para estar envolvido com a comunidade escolar e para monitorizar o seu impacto socioambiental.Na última edição do concurso venceu o projeto Rio Frio – Território Criativo, que propunha instalar rebanhos comu‑nitários em terrenos baldios como estratégia para minimi‑zar o risco de incêndio no concelho de Arcos de Valdevez. Depois de vários meses de trabalho para a concretização do projeto, este mês um primeiro rebanho de 50 cabras autóc‑tones vai para o terreno, cobrindo 15 hectares.Criado pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2010 para usar a experiência, o talento e o dinamismo dos emigran‑tes portugueses em benefício do seu país de origem, o concurso Ideias de Origem Portuguesa registou grande adesão nas edições anteriores, com cerca de 400 ideias provenientes de mais de 30 países dos cinco continentes. No valor de 50 mil euros, o prémio do concurso de ideias de empreendedorismo social dirigido à diáspora portuguesa é inteiramente destinado ao financiamento dos projetos, sendo 25 mil euros atribuídos ao vencedor, 15 mil euros ao segundo lugar e 10 mil euros ao terceiro. ■www.ideiasdeorigemportuguesa.org

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A 16 de dezembro, a Fundação Calouste Gulbenkian acolhe mais um dia de atividades dedicado ao projeto

de desenvolvimento comunitário O Nosso Km2. Criado em 2013 com a missão de ajudar e mobilizar a comunidade na procura de soluções que melhorem a sua qualidade de vida, O Nosso Km2 abrange o território que corresponde à fre‑guesia das Avenidas Novas, em Lisboa.Durante a manhã, realizar‑se‑ão três sessões de trabalho sobre problemas que preocupam as pessoas que vivem ou trabalham nesta parte da cidade de Lisboa. Durante a parte da tarde, destaca‑se a realização do Marketplace “O Nosso Km2”, uma iniciativa baseada num modelo já aplicado em vários países europeus que pretende incentivar e facilitar a cooperação entre entidades que operam no território desta comunidade, tendo em conta os interesses e recursos de todos os envolvidos. Trata‑se de um mercado social que reúne empresas, autoridades locais, escolas e instituições sem fins lucrativos, de modo informal e numa atmosfera dinâmica onde a “oferta” possa ser combinada com a “pro‑cura” em áreas como o voluntariado, o conhecimento, o acesso a redes, criatividade, serviços e instalações.À semelhança do que acontece um pouco por todo o país, o envelhecimento populacional está identificado como um dos fenómenos mais evidentes na freguesia abrangida

Dia do Km2

pelo projeto O Nosso Km2. É para esta e outras situações sociais complexas que o projeto promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian e a Câmara Municipal de Lisboa pro‑cura respostas, inspirando a criação de redes de vizinhança e de colaboração, facilitando o envolvimento de pessoas, entidades e instituições e a promoção da troca de saberes e experiências, colocando‑os ao serviço da comunidade. ■www.km2.pt

Bioinformática ganha projeto Europeu

O consórcio europeu Elixir, do qual o Instituto Gulbenkian de Ciência faz parte, ganhou um finan‑

ciamento europeu no montante de 19 milhões de euros, num concurso do quadro Horizonte 2020, dedicado às infraestruturas identificadas como essenciais para alargar as fronteiras do conhecimento. Com os avanços tecnológi‑cos existentes, a quantidade de dados biológicos resultan‑tes de experiências na área das ciências da vida é tão eleva‑da que se tornam necessárias ferramentas que facilitem o acesso e interligação de toda essa informação, de modo a que possa vir a ser usada pela comunidade científica em futuras descobertas. O consórcio Elixir foi criado para desenvolver uma infraestrutura bioinformática europeia para orquestrar a recolha, fazer o controlo de qualidade e arquivar a enorme quantidade de dados biológicos gerados

por toda a Europa. Com este financiamento será possível lançar as bases para a criação de uma infraestrutura a nível europeu que faça uma gestão sustentada da informação biológica, ao serviço de toda a comunidade.O projeto agora financiado conta com 41 instituições partici‑pantes oriundas de 17 países europeus. Em Portugal, além do IGC, participam neste projeto o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvimento em Lisboa (INESC‑ID), o Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (iBET) e o Centro de Ciências do Mar (CCMAR). A unidade de Bioinformática do IGC, liderada por Daniel Sobral, recebe 180 mil euros para, durante os próximos qua‑tro anos, ajudar a construir a componente portuguesa da infraestrutura europeia de gestão integrada de dados bio‑lógicos. ■

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Investigação IGC premiada

O artigo premiado resulta da colaboração de três gru‑pos de investigação do IGC – os laboratórios de Isabel

Gordo, de Karina Xavier e de Jocelyne Demengeot – que juntaram esforços para desvendar de que forma a bactéria Escherichia coli (E. coli), uma das primeiras espécies a colo‑nizar o intestino humano à nascença, evolui no intestino de mamíferos. Utilizando como hospedeiro o rato, os inves‑tigadores mostraram que, em apenas uma semana, sur‑gem populações de E. coli com diferentes mutações e que este processo evolutivo é altamente reprodutível, tendo observado o aparecimento das mesmas mutações em populações de E. coli que colonizaram diferentes ratos. Os resultados revelaram um grau de complexidade na microbiota intestinal desconhecido até então, e demons‑traram quão rica é a dinâmica evolutiva de cada bactéria

num animal saudável. Isabel Gordo, a investigadora que liderou a equipa, sublinha que este artigo mostra a possibi‑lidade de “estudar evolução com um nível de precisão quantitativo extraordinário, num dos mais complexos ambientes já explorados”. A investigadora diz que, a partir de agora, “deve ser considerada a ‘guerra competitiva’ que parece ocorrer entre as novas estirpes emergentes de uma dada espécie de bactérias, quando pensamos na composi‑ção da microbiota do intestino em contexto de saúde ou doença”. O prémio foi atribuído pelos editores da revista que esco‑lheram, entre o conjunto de artigos previamente seleciona‑dos pela comunidade científica, aquele que se distinguia pela excelência científica e impacto do trabalho para a comunidade. ■

Um trabalho de investigação do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) ganhou o PLOS Genetics Research Prize 2015, que distingue o melhor artigo publicado na revista científica PLOS Genetics no ano passado.

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C opublicado pela Archive Books e pela Academia de Artes do Mundo de Colónia, o livro The Forest and The

School / Where to sit at the dinner table? (apenas disponível em inglês) é editado por Pedro Neves Marques. Trata‑se da primeira antologia exaustiva sobre o movimento revolu‑cionário de crítica social e cultural baseado no “Manifesto Antropofágico”, escrito por Oswald de Andrade em 1928. O conceito de Antropofagia no pensamento brasileiro é, porém, apresentado neste livro não apenas como um movimento estético, mas como uma filosofia cosmopolita sul‑americana. No século xvi, a imagem da antropofagia (ou canibalismo) ameríndia estava no centro das discussões em torno do significado da humanidade. No início do século xx, foi redescoberta pela vanguarda brasileira associada à Revista de Antropofagia, onde foi publicado o manifesto literário de Oswald de Andrade que marcaria o arranque do moder‑nismo brasileiro e que viria a influenciar movimentos como o Concretismo, na poesia, o Tropicalismo, na música, ou o Cinema Novo.A partir de uma análise antropológica da Antropofagia, o livro The Forest and The School / Where to sit at the dinner table? atualiza esta tradição brasileira apelando à “digestão transformadora” de paradigmas‑base da modernidade, seja a divisão entre natureza e cultura, animal e humano,

objeto e sujeito, ou mesmo noções como animismo e tecno‑logia, trabalho e ócio.A primeira parte do livro, “The Forest and The School”, reúne crónicas dos missionários do século xvi sobre rituais canibais indígenas, textos seminais do movimento moder‑nista Antropofagia por Oswald de Andrade, Flávio de Carvalho e Raul Bopp, bem como textos de Glauber Rocha e Hélio Oiticica, e ensaios antropológicos de Pierre Clastres, Bruno Latour e Eduardo Viveiros de Castro, entre outros.A segunda parte do livro, “Where to sit at the dinner table?”, reúne textos recentes, alguns deles inéditos, que relacio‑nam a Antropofagia com o perspetivismo multinaturalista, com a promessa ecológica da Declaração dos Direitos da Natureza, ou com a centralidade dos indígenas nos confli‑tos políticos atuais.O autor do livro, Pedro Neves Marques, que foi bolseiro Gulbenkian, é artista, escritor e já expôs em Nova Iorque, São Paulo e Lisboa. A apresentação do livro no CAM, no dia 18 de dezembro, às 17h30, é feita por Isabel Carlos, diretora do CAM, seguindo‑se uma conversa entre o autor e Margarida Mendes, que dirige o espaço de projetos 'The Barber Shop', em Lisboa. Com desenho de Nuno da Luz e capa reversível, The Forest and The School / Where to sit at the dinner table? estará disponível para venda na livraria Almedina no CAM. ■

Primeira antologia dedicada à Antropofagia no Brasil, publicada em inglês, vai ser apresentada em Portugal a 18 de dezembro, no CAM, pelo autor Pedro Neves Marques

The Forest & The School

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Haja Luz: Diálogos à volta da Luz

C oorganizada pela Sociedade Portuguesa de Física e pela Fundação Calouste Gulbenkian, esta conferência

reúne cientistas, educadores, escritores, artistas, médicos, arquitetos e outros profissionais ligados à ciência, à cultura e às artes, num ambiente multidisciplinar.O nobel da Física Roy Glauber será o primeiro orador da conferência, que arranca às 9h00. O professor emérito da Universidade de Harvard foi distinguido pela Real Academia Sueca das Ciências em 2005 pela sua descrição teórica do comportamento das partículas de luz, que con‑tribuiu para a Teoria Quântica da Coerência Ótica. Ao longo do dia 15, haverá sessões dedicadas à luz na ciência e na engenharia, na vida e na medicina, e na ciência e na arte, terminando com uma mesa‑redonda sobre Luz, Arte, Ciência e Tecnologia.Entre os oradores estão Luís Oliveira e Silva (Inst. Sup. Técnico, Universidade de Lisboa, IST‑UL), Paulo André (IST‑UL), Uwe Oelfke (Institute of Cancer Research, Londres), Teresa Paiva (CENC – Centro do Sono), Jorge Calado (IST‑UL),

Discutir a luz, as suas aplicações e o seu impacto na cultura e na sociedade moderna, sublinhando o papel da ciência e da tecnologia como uma base sólida para o desenvolvimento social e humano, é o propósito da conferência Haja Luz: Diálogos à volta da Luz, que se realiza a 15 de dezembro na Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito das comemorações do Ano Internacional da Luz.

Alessandro Farini (Laboratorio di Ergonomia della Visione, Istituto Nazionale di Ottica, Florença), Henrique Leitão (Fac. Ciências, UL), o fotógrafo José Manuel Rodrigues (Univ. de Évora) e ainda o historiador de Arte Pedro Redol (Mosteiro da Batalha).A importância de aumentar a consciência global sobre a forma como as tecnologias baseadas na luz promovem um desenvolvimento sustentável e fornecem soluções para desafios globais foi reconhecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas ao proclamar 2015 como Ano Internacional dedicado às ciências da luz e às suas aplicações. Em Portugal, as comemorações incluem outras iniciativas como a exposição A Luz de Lisboa, que ainda pode ser visi‑tada até 20 de dezembro no Museu de Lisboa (Torreão Poente, Terreiro do Paço). A conferência Haja Luz: Diálogos à volta da Luz é de inscri‑ção gratuita, mas obrigatória, até dia 12 de dezembro. ■

www.eventos.spf.pt/ailuz2015/pt/

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Vision Europe SummitEstado Social e migração

N os dias 17 e 18 de novembro, no rescaldo dos atentados em Paris, realizou‑se em Berlim a 1.ª conferência

anual do Vision Europe Summit (VES), um consórcio de fundações e think tanks europeus que integra a Fundação Calouste Gulbenkian. A missão do VES é promover a inte‑gração europeia refletindo sobre alguns dos desafios mais prementes para as políticas públicas na Europa. O tema para discussão nesta conferência foi “O futuro do Estado social”, a partir de um documento que os grupos de traba‑lho do consórcio produziram ao longo do último ano: Redesigning European welfare states – Ways forward. O documento contém recomendações no que respeita à igualdade social, à convergência e à distribuição transgera‑cional de contribuições e benefícios, e será enviado ao pre‑sidente do Conselho Europeu, ao Parlamento Europeu, à Comissão Europeia e aos 28 Estados‑membros, foi anuncia‑do no decorrer da conferência.Apesar dos diferentes tipos de Estado social instituídos nos 28 Estados‑membros da União Europeia, o que os une é muito mais significativo do que o que os separa. Para muitos cidadãos europeus, o Estado social está no âmago da identi‑dade europeia e os valores em que assenta estão profunda‑mente enraizados nas sociedades europeias. Este sentimen‑to reflete‑se, aliás, nas principais conclusões de um estudo comparativo das opiniões de cidadãos na Alemanha, Bélgica, Finlândia, França, Itália, Polónia, Portugal e Reino Unido, encomendado pelo Vision Europe Summit: os cidadãos europeus estão preocupados com os apoios sociais e com a sustentabilidade do Estado social nos seus países, sendo as pensões e os cuidados com os mais velhos apontados como áreas particularmente preocupantes.

Migração em debate na Fundação

O encerramento do encontro em Berlim coube a Artur Santos Silva, que antecipou o tema da conferência Vision Europe Summit 2016, a decorrer na Fundação Gulbenkian em novembro do próximo ano – Migração.O presidente da Fundação Calouste Gulbenkian apontou os sinais de contradição e de fragmentação social e política que emergem da forma como tem sido gerida a crise dos refugiados na Europa, e outros fatores que contribuem para a difícil situação do velho continente, como a crise económica e demográfica, para justificar a importância de abordar o tema numa perspetiva histórica: “Para mostrar que a Europa e os europeus aprenderam com o passado. Aprender com as experiências passadas é uma grande van‑tagem”, afirmou Artur Santos Silva, que propôs três linhas de reflexão para o futuro: 1) Do conflito ao equilíbrio, cons‑truir uma base comum de consenso político e social sobre a migração; 2) Da reação à proatividade, desenvolver meca‑nismos para uma ação rápida e adequada e uma gestão eficaz das migrações; 3) Da fragmentação à integração, construir um programa europeu com padrões comuns para a gestão da migração com o objetivo final de conseguir uma completa integração de quem a procura.“O que fizermos enquanto europeus vai ditar o nosso futu‑ro comum”, disse o presidente da Fundação Gulbenkian, sublinhando a importância de, tal como aconteceu há 20 anos com as questões ambientais, colocar na agenda mun‑dial os direitos humanos associados aos movimentos em massa de migrantes e refugiados. ■www.vision-europe-summit.eu

Da esquerda para a direita: Artur Santos Silva, Frank Vandenbroucke (Notre Europe – Jacques Delors Institute), Robin Niblett (Chatham House), Aart De Geus (Bertelsmann Stiftung), Izabela Styczynska (CASE — Center for Social and Economic Research), Guntram Wolff (Bruegel), Piero Gastaldo (Compagnia di San Paolo) e Mikko Kosonen (Sitra ‑ The Finnish Innovation Fund). © Thomas Kunsch

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Conferência-performance na Delegação de Paris Dominique Gonzalez‑Foerster

A artista plástica, performer e videasta Dominique Gonzalez‑Foerster, figura maior da arte contemporâ‑

nea que tem atualmente uma exposição retrospetiva no Centro Pompidou em Paris, vai estar a 8 de dezembro na delegação da Fundação Gulbenkian na capital francesa, para uma conferência‑performance.Reconhecida internacionalmente, Dominique Gonzalez‑Foerster (Estrasburgo, 1965) desenvolve uma prática trans‑disciplinar que explora as relações entre cinema, imagem e texto, construindo espaços e ambientes que desafiam a perceção do espetador. Os jardins e as paisagens, mas tam‑bém a arquitetura modernista, estão entre os seus princi‑pais interesses e são centrais na exploração que faz do espaço. Gonzalez‑Foerster é uma leitora ávida cujas obras remetem para os seus autores e livros de referência, da fic‑ção científica de J. G. Ballard a Jean Genet ou Virginia Woolf, passando pela adoração absoluta que tem pelo chi‑leno Roberto Bolaño.

A artista francesa vive entre Paris e o Rio de Janeiro e já expôs no Musée d'Art Moderne de la Ville de Paris (2007), na Tate Modern em Londres (2008), no Guggenheim de Nova Iorque (2011), no Museu Reina Sofia em Madrid (2014) e no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2015), entre muitas outras galerias e museus, tendo sido galardoada em 2002 com o Prémio Marcel Duchamp. No centro Pompidou, a sua exposição “retrospetiva e prospetiva” [Dominique Gonzalez-Foerster, 1887‑2058] pode ser vista até 1 de fevereiro de 2016.A conferência‑performance de Dominique Gonzalez‑Foerster é organizada por Sarina Basta, “Curadora Gulbenkian” na École nationale supérieure des beaux‑arts de Paris, uma iniciativa que em 2015 resultou da colabora‑ção entre a instituição cultural francesa e a Fundação Calouste Gulbenkian. ■

www.gulbenkian-paris.org

Dominique Gonzalez‑Foerster, «Sans Titre (mm)». Fotografia preparatória, 2015. © Giasco Bertoli e Dominique Gonzalez‑Foerster © ADAGP, Paris 2015

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Dá Voz à Letra

N o dia 5 de dezembro, na Biblioteca Municipal Almeida Garrett no Porto, vão ser escolhidos os 10 finalistas de entre os 20 jovens apurados para o concurso Dá Voz à Letra. Esta é a segunda edição do concurso que pretende encontrar o melhor

leitor em voz alta, dentro do universo de alunos das escolas secundárias do ensino público e privado da Área Metropolitana do Porto. Ao todo, o Dá Voz à Letra recebeu 326 candidaturas em vídeo, enviadas por jovens entre os 13 e os 17 anos.O concurso, organizado pelo Programa Gulbenkian de Língua e Cultura Portuguesas em parceria com a Câmara Municipal do Porto e a Porto Editora, procura estimular o interesse dos jovens pelos melhores textos da literatura portuguesa; incentivar o desejo de melhor compreenderem os textos que leem, aperfeiçoar, de forma lúdica, a leitura em voz alta, como forma de comunicar com os outros e encontrar, na leitura, uma fonte de satisfação e de realização pessoal. ■

Cooperação para o Desenvolvimento

E ntre 15 de dezembro e 28 de fevereiro, no Edifício Sede, Museu Gulbenkian e Centro de Arte Moderna, são expostos os projetos desenvolvidos e apoiados pelo Programa Gulbenkian Parcerias para o Desenvolvimento. Com o título “15 anos de

cooperação para o desenvolvimento – um percurso sobre o contributo da Fundação Calouste Gulbenkian para os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio”, esta iniciativa mostra dados estatísticos e geográficos com imagens, vídeos e os projetos apoiados pela Fundação Gulbenkian nos últimos 15 anos, nos PALOP e em Timor‑Leste, nas diferentes áreas de atuação (Saúde, Educação, Artes) através de seis instalações dispostas em igual número de espaços da Fundação. As instalações são compostas por cubos irregulares, onde, à face, poderão ser vistos dados e imagens relativos a cada país. ■

Cerimónia de posse do novo administrador

Guilherme d’Oliveira Martins iniciou funções como administra‑dor executivo da Fundação Calouste Gulbenkian no dia 16 de

novembro, após a cerimónia de posse que contou com a presença do presidente e dos restantes membros do Conselho de Administração, a que se juntaram inúmeros colaboradores. Na ocasião, o presidente da Fundação sublinhou a “sólida formação jurídica e dedicação à causa pública” do novo administrador, que deixou o cargo de presidente do Tribunal de Contas para integrar a Fundação Gulbenkian. Artur Santos Silva destacou ainda os vários atributos do novo administrador reconhecido pelas “marcas que deixou no seu caminho coerente, sereno e firme”.Artur Santos Silva aproveitou o momento para prestar uma pública homenagem a Eduardo Marçal Grilo – que cessou funções como administrador executivo por ter atingido o limite de idade – pela sua “muito esclarecida, competente e empenhada ação” que desenvolveu na Fundação ao longo de mais de trinta anos, enaltecendo, ainda, a sua “dimensão humana, o contagiante humor e a firme lealdade”. O presidente terminou a sua intervenção alertando para os tempos complexos e altamente desafiantes que se vivem, defendendo que a ação da Fundação deve procurar ser “inovadora, antecipando novas respostas aos problemas da sociedade”, defendendo um modelo organizacional mais ágil e flexível para que possa “continuar a prosseguir a sua nobre missão da forma mais relevante para a sociedade”.Por seu lado, Guilherme d’Oliveira Martins agradeceu a confiança e exprimiu a honra de fazer parte de uma instituição como a Fundação Calouste Gulbenkian, “uma casa de civilização”, que tanto deve à “generosidade, saber e conhecimen‑to” de Calouste Sarkis Gulbenkian. Elogiou os anteriores presidentes, sublinhando o papel de cada um deles para o sucesso de uma instituição de prestígio que, num tempo marcado por grande incerteza, apela à “responsabilidade de um caminho de renovação” que possa garantir “a continuação da missão para a qual foi criada”. Referindo‑se aos “hori‑zontes sombrios” que ameaçam o mundo, terminou sublinhando a necessidade de permanecermos fiéis ao espírito de Calouste Gulbenkian, enaltecendo a “criação de uma cultura de paz”, que foi desde sempre apanágio da Fundação e onde ancora um “grande sentido da esperança” para o futuro. ■

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Meninos Especiais

A Associação Pais em Rede acaba de lançar a 3.ª coleção da sua biblio‑teca infantil “Meninos Especiais”, com o apoio da Fundação Calouste

Gulbenkian. Nesta coletânea, de três livros, são apresentadas as histórias de crianças com síndromes raros, com o propósito de desmistificar estas doenças, expondo a perspetiva de quem as experiencia – pais e filhos. Assim, ficamos a conhecer o Miguel, com Síndrome de Morsier, no livro Cinco Dedos de Uma Mão; a história da Matilde, que sofre da doença rara de Pitt‑Hopkins, em Que aventura ser Matilde; e a vida de Eduardo, com Síndrome de Asperger, em O Fácil que é Difícil e o Difícil que é Fácil. Participam neste projeto literário os escritores Rita Ferro, Rui Zink e Isabel Minhós Martins.Desde a sua formação, em 2009, que a Associação Pais em Rede tem vindo a apoiar famílias cujos filhos são portadores de uma deficiência física ou psicológica, pretendendo simultaneamente lutar contra a discri‑minação destas crianças na sociedade. A Associação tem vindo a crescer muito nos últimos anos, criando mais de 15 polos por todo o país e conta ainda com o apoio de várias organizações. ■

Festa dos Livros Gulbenkian

A Festa dos Livros Gulbenkian está de volta com várias publicações da Fundação a preços especiais e com muitas propos‑tas sugestivas de presentes para este Natal. Entre as peças já existentes e as muitas novidades, poderá encontrar jarras,

taças, copos, chávenas, velas, lenços, leques, entre muitos outros objetos associados à coleção do Museu Gulbenkian e ao Centro de Arte Moderna, bem como às exposições temporárias que atualmente estes apresentam, respetivamente, Wentworth-Fitzwilliam. Uma Coleção Inglesa e O Círculo Delaunay. Tal como nas anteriores edições, haverá um livro do dia, vendido a um preço ainda mais convidativo e que será divulgado em www.gulbenkian.pt.A Festa dos Livros Gulbenkian pode ser visitada até ao dia 23 de dezembro, das 10h às 20h, no edifício do Museu, de quarta a segunda, e todos os dias na loja do edifício Sede. ■

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O Fácil que é Difícil e o Difícil que é Fácil. Texto de Isabel Minhós Martins, Ilustrações de Vasco Gargalo

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O que a levou a escolher a música e, mais concretamente, o contrabaixo? Posso dizer que foi o acaso. Entrei para a Escola de Música da minha terra e aos 11 anos o professor Arménio Pinto, que durante dois anos me ensinou solfejo e flauta de bisel, sugeriu que escolhesse um instrumento para poder ingres‑sar na Orquestra Ligeira do Clube Cultural e Desportivo de Veiros. Na altura, identifiquei‑me com o baixo elétrico. Um ano depois, decidi ingressar no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, em Aveiro, na classe de contrabaixo do prof. Sérgio Barbosa. Participei também em Orquestras de Jovens que foram marcantes para mim como a Oj.com e a Momentum Perpetuum e, a partir daí, decidi que iria apostar na Música em termos profissionais. Em 2009, entrei para a Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), na classe do prof. Manuel Rêgo, e desde o ano passado estou na Hochschule für Musik und Theater Hamburg, na classe do prof. Michael Rieber.

Música sem rotinas

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Luzia Vieira | 24 anos *

Enquanto estudava em Portugal, lecionava música ao mesmo tempo. Foi difícil conciliar as duas atividades? Dei aulas durante os dois anos em que realizei o Mestrado em Ensino da Música na ESML. Tive de conciliar o estudo do instrumento para realização de provas na Alemanha com alguns projetos de orquestra que iam surgindo – escrita do relatório de Estágio e mais de 20 horas semanais de aulas de contrabaixo. Hoje vejo que foram dois anos bastante duros! No entanto, consegui conciliar todas estas ativida‑des e penso que aprendi a gerir muito bem o meu tempo de estudo, e a ser eficaz na preparação de provas.

Lembra-se de algum momento especial que tenha vivido num concerto?Foram vários os concertos que me marcaram, mas poderei salientar os mais recentes com a Orquestra de Jovens da União Europeia, este verão. Tocámos duas das minhas sin‑

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Hamburgo

fonias favoritas (Schostakovich e Mahler n.°5) em locais fantásticos como a Konzerthaus, em Berlim, e The Royal Concertgebouw, em Amesterdão.

Como é o seu dia a dia em Hamburgo?Uma das coisas de que mais gosto é a ausência de rotinas na Música. Não posso falar e definir um dia a dia típico porque são todos diferentes. A semana pode ser bastante ocupada com ensaios de Orquestra ou da minha banda de Jazz/Pop. Ou pode ser bastante livre e, quando isso aconte‑ce, aproveito para estudar e fazer desporto.

Onde se imagina daqui a 10 anos?Não gosto de criar expectativas, mas gosto de ter sonhos. O meu sonho é estar a trabalhar numa orquestra de renome, daqui a 10 anos, sentindo sempre imenso prazer em fazer música. Paralelamente, gostaria de manter os meus proje‑tos com grupos de Jazz e Pop‑Rock pois a combinação des‑tas duas vertentes faz‑me realmente feliz. ■

*Bolsa de Mestrado em Ensino da Música na Hochschule für Musik und Theater, em Hamburgo

"Uma das coisas de que mais gosto é a ausência de rotinas na Música. Não posso falar e definir um 'dia-a-dia' típico porque são todos diferentes."

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Sonia Delaunay (1885 – 1979). Cantores de Flamenco (Grande Flamenco), 1915‑1916. Col. CAM – Fundação Calouste Gulbenkian. © Paulo Costa – Arquivo Fotográfico CAM

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ExposiçõesCentro de Arte ModernaO Círculo Delaunay Até 22 Fev 2016

Esta exposição explora os encontros e cumplicidades artís‑ticas em torno do casal Delaunay durante o seu curto exílio em Portugal, entre maio de 1915 e janeiro de 1917, envolven‑do artistas como Amadeo de Souza‑Cardoso, António Viana, José Pacheco, Almada Negreiros ou Samuel Halpert. Profundamente tocados pela beleza da luz, da natureza e do folclore, o período português dos Delaunay constituiu um avanço nas pesquisas cromáticas, pelo que a maior parte das obras apresentadas se destacam pela exaltação da cor. Curadoria de Ana Vasconcelos

Hein Semke. Um Alemão em Lisboa Até 22 Fev 2016

A exposição apresenta um importante conjunto de obras do artista alemão Hein Semke (1899‑1995) doado ao CAM e à Biblioteca de Arte da Fundação, mas também trabalhos provenientes de coleções públicas e coleções particulares. Serão revelados aspetos pouco conhecidos da produção artística deste artista alemão que viveu a maior parte da sua vida em Portugal e cuja vasta atividade artística abar‑cou várias linguagens, da escultura à gravura, pintura, colagens e livros de artista. Curadoria de Ana Vasconcelos

Sonia Delaunay (1885 – 1979). Auto‑Retrato (para o Catálogo da Exposição de Estocolmo,) 1916. Col. V. Tsarenkov

Willie Doherty. Uma e Outra Vez Até 22 Fev 2016

Duas vezes selecionado para o Prémio Turner (1994 e 2003), Willie Doherty (Derry,1959) é um dos mais destacados artistas da contemporaneidade. Trabalhando sobretudo com vídeo e fotografia, o seu universo é singular, dominado pela tensão entre indivíduo e sociedade e entre natureza e espaço urbano, remetendo para uma reflexão sobre geo‑grafia política irlandesa e, em última análise, sobre a condi‑ção humana. Curadoria de Isabel Carlos

As casas na Coleção do CAM Até 31 Out 2016

Partindo da coleção do CAM, esta exposição reúne obras que relacionam arte e arquitetura, o corpo e a casa. A expo‑sição percorre o século xx, com trabalhos de escultura, pintura, vídeo, fotografia e instalação de artistas como Ana Vieira, Rachel Whiteread ou José Pedro Croft, incluindo também um considerável número de obras produzidas recentemente de Heimo Zobernig, Thomas Weinberger, Gil Heitor Cortesão ou Leonor Antunes, entre outros. Curadoria de Isabel Carlos e Patrícia Rosas Prior

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Sonia Delaunay (1885 – 1979). Cantores de Flamenco (Grande Flamenco), 1915‑1916. Col. CAM – Fundação Calouste Gulbenkian. © Paulo Costa – Arquivo Fotográfico CAM

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ExposiçõesMuseu Calouste Gulbenkian

Wentworth-Fitzwilliam. Uma Coleção InglesaAté 28 mar 2016

C inquenta e seis obras de mestres como Anton van Dyck, Canaletto, Claude Lorrain, Sir Joshua Reynolds,

Sir Thomas Lawrence, Claude Joseph Vernet, William van de Velde II, Jan van Goyen, Hans Memling, Salomon van Ruysdael ou George Stubbs, pertencentes a uma das mais prestigiadas coleções privadas de arte do Reino Unido, podem ser vistas na exposição Wentworth-Fitzwilliam. Uma Coleção Inglesa. Oportunidade única para admirar o melhor de uma coleção reunida ao longo de 400 anos e que testemunha alguns momentos cruciais da história de Inglaterra. À semelhança da coleção de pintura reunida por Calouste Gulbenkian, o retrato e a paisagem são os géneros dominantes.Esta coleção foi exibida pela última vez em 2006 no Chrysler Museum of Art, em Norfolk, Virgínia, EUA. Com curadoria de Luísa Sampaio, a exposição está patente de quarta a segunda, na Galeria de Exposições Temporárias do Edifício Sede. ■

Calouste S. Gulbenkian e o Gosto InglêsAté 28 mar 2016

A par da exposição Wentworth-Fitzwilliam. Uma Coleção Inglesa e em diálogo com ela, é apresentada uma mostra com peças da coleção do Museu Gulbenkian, de produção inglesa ou ao «gosto inglês», muitas delas correspondendo aos anos

em que Calouste Gulbenkian viveu em Londres e à génese da sua coleção. Oportunidade para admirar obras que se encontram habitualmente em reserva, algumas delas nunca mostradas, e também o Retrato de William Keppel, de Sir Joshua Reynolds, pintura oferecida por Calouste Gulbenkian ao Museu Nacional de Arte Antiga, em 1949, e agora cedida para esta exposição. Serão apresentadas obras de pintura, escultura, gravura, bem como livros e alguma documentação relevante guardada nos Arquivos e na Biblioteca de Arte da Fundação. Com curadoria de João Carvalho Dias, a exposição pode ser vista na Sala de Exposições Temporárias do Museu Gulbenkian. ■

Sir Anton van Dyck (1599‑1641). Thomas, Visconde Wentworth, Futuro 1.º Conde de Strafford, Inglaterra, c. 1635‑1636. © Trustees of the Rt. Hone Olive, Countess Fitzwilliam's Chattels Settlement By Permission of Lady Juliet Tadgell

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N este período de Natal, o Museu Gulbenkian vai apre‑sentar uma dezena de livros de horas da sua coleção

com representações da Adoração dos Magos dos séculos xv e xvi, provenientes de importantes centros de produção europeus, como Paris, Bruges ou Gand. A coleção de livros manuscritos reunida por Calouste Gulbenkian integra exemplares que são verdadeiros mar‑cos na história da arte do livro, apesar de alguns destes exemplares terem sido afetados pelas inundações de 1967 ocorridas na região de Lisboa, em particular em Oeiras, no

Os Magos do Oriente: Iluminuras da Coleção Calouste Gulbenkian

período em que a coleção ainda se encontrava depositada no Palácio do Marquês de Pombal. Destaca‑se a qualidade da iluminura e o cuidadoso exercício de construção dos fólios, cuja harmonia resulta do perfeito entendimento da relação formal e iconográfica que se estabelece entre a imagem e o texto. ■

Museu Calouste GulbenkianSala de Arte Europeia: marfins e iluminuras, séculos x-xviAté 1 Fev 2016

U ma nova visita orientada ao Museu Gulbenkian, que em 90 minutos percorre uma das mais importantes coleções privadas da primeira metade do século xx, passa agora a estar disponível aos fins de semana. No primeiro sábado

de cada mês, a equipa educativa do Museu leva os seus visitantes numa viagem que começa no Egito faraónico e termi‑na em França, nos anos 30, através da coleção de Calouste Gulbenkian, um homem de negócios que foi também um colecionador visionário. Esta visita orientada por monitores do Museu passa a estar disponível também em inglês todas as segundas‑feiras de manhã. ■

Novas visitas ao Museu, também em inglês

Livro de Horas da família Ayala‑ Pinturas do Mestre do Ciclo de David no Breviário Grimani e oficina. Flandres, Bruges ou Gand, c. 1495‑1505. Manuscrito sobre pergaminho, 223 fls. Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa, inv. LA 128 © Fundação Calouste Gulbenkian/Foto: Catarina Gomes Ferreira

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O concerto de Natal da Gulbenkian Música vai dar a ouvir, este ano, a oratória A Infância de Cristo de

Hector Berlioz (10/12, 21h00 e 11/12, 19h00), uma obra que não era tocada no palco do Grande Auditório há quase três décadas. Trata‑se de uma peça menos conhecida da produ‑ção do compositor francês, apesar do enorme sucesso que obteve na sua estreia, em 1854, na cidade de Paris. Na oca‑sião, o poeta alemão Heinrich Heine, que tinha criticado obras anteriores do compositor, como o seu Requiem, escreveu‑lhe, dando‑lhe conta das reações positivas à obra A Infância de Cristo, descrevendo‑a como um “perfeito ramo de doces rosas de melodia”. Obra de grande beleza vocal e instrumental, esta “trilogia sagrada”, nas palavras do compositor, centra‑se na fuga da Sagrada Família para o Egito, e será interpretada, no Grande Auditório da Fundação, pela Orquestra e Coro Gulbenkian dirigidos por Paul McCreesh, com os cantores Thomas Walker (narrador), Marianne Crebassa (Maria), Marcus Farnsworth (José), Neal Davies (Herodes e Pater Familias), Pedro Cachado (centurião) e Leandro César (Polidoro). Para todos os que queiram conhecer melhor o contexto da criação

A Infância de Cristo e outros concertos

desta obra e o lugar que ocupa na história da música, haverá uma pequena conferência, proferida por Rui Vieira Nery, no dia 11, pelas 18h, no Auditório 3 da Fundação.

Corais de Natal

O reportório coral alusivo à quadra de Natal estará presente em mais dois concertos da Gulbenkian Música durante este mês. O primeiro tem lugar na Igreja de São Roque e é protagonizado pelo ensemble coral de música antiga Graindelavoix, criado em 1999 por Björn Schmelzer. O con‑certo, dirigido pelo seu fundador, é dedicado às Vésperas Cipriotas de Natal, cruzando diferentes culturas do univer‑so musical sacro do Mediterrâneo (13/12, 19h).Tal como na temporada anterior, os Concertos de Domingo serão dedicados aos Natais do Mundo: o Coro e a Orquestra Gulbenkian, dirigidos por Jorge Matta, interpretam algu‑mas das mais belas e emblemáticas canções de Natal de várias regiões (20/12, 11h e 16h), apresentando um reportó‑rio variado que cruza canções tradicionais com versões orquestrais de Hollywood.

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Coro e Orquestra Gulbenkian na Igreja de São Roque © Márcia Lessa

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Três pianistas de exceção

O reportório para piano estará também em foco, este mês, com a presença de três destacados intérpretes que atuam a solo ou acompanhados. O pianista israelo‑americano Yefim Bronfman é o primeiro a subir ao palco do Grande Auditório com a Orquestra Gulbenkian para dois concertos dirigidos por Susanna Malkki (3/12, 21h00 e 4/12, 19h). Depois de ter atuado em 2013 na Gulbenkian Música, Bronfman regressa agora para interpretar o Concerto para piano n.º 1, op. 23 de Tchaikovsky, num programa que vai ainda incluir a obra Rituel, composta por Pierre Boulez, em memória do compo‑sitor Bruno Maderna. O pianista volta a atuar, desta vez a solo, interpretando um trio de sonatas de Sergei Prokofiev (14/12, 19h).Já o pianista andaluz Javier Perianes, que se estreou na Gulbenkian Música em 2012, tocará, nesta temporada, no quadro do Ciclo Músicas do Mundo, acompanhando a can‑tora Estrella Morente num recital com um reportório que junta canções de Manuel de Falla e canções populares reco‑lhidas pelo poeta e dramaturgo Federico Garcia Lorca (5/12, 21h). Outro regresso a saudar é o do pianista norueguês Leif Ove Andsnes (6/12, 19h), que atuou em março de 2013, com

Graindelavoix © Koen Broos Estrella Morente © Bernardo Doral by ELLE

a Orquestra Juvenil Gustav Mahler. Na altura interpretou o Concerto n.º4 para piano e orquestra de Beethoven, sob a direção de Herbert Blomstedt, tendo o jornal Público desta‑cado "a clareza de articulação, a agilidade fluente e o senti‑do dos contrastes” do pianista, bem como “a sua sensibili‑dade” colocada “ao serviço da genialidade de Beethoven”. Desta vez, Andsnes tocará um conjunto de obras de Jean Sibelius (assinalando o 150.º aniversário do nascimento do compositor finlandês) e ainda peças de Ludwig van Beethoven, Claude Debussy e Fryderyk Chopin. Andsnes foi um dos finalistas do prémio Gramophone 2015 (que aca‑bou por ser atribuído a Maria João Pires), pela sua presta‑ção na gravação dos concertos para piano n.º 2 e n.º 4 de Beethoven com a Orquestra de Câmara Gustav Mahler.Uma palavra ainda para a atuação do Quarteto Jerusalém (16/12, 19h), com obras de Joseph Haydn, Béla Bartók e Antonín Dvorák e para o último concerto do ano na Igreja de São Roque (31/12, 17h). Este ano será tocado o Te Deum em Ré maior de Zelenka e o Dettingen Te Deum, em Ré maior de Handel. O maestro Jorge Matta dirige a Orquestra Divino Sospiro e o Coro Gulbenkian com a participação dos solistas Filipa Passos, Maria José Conceição, Cátia Moreso, Joana Nascimento, Pedro Cachado e André Baleiro. ■

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O Círculo DelaunayCatálogo da exposição

E m maio de 1915, o casal de artistas Sonia e Robert Delaunay chega a Lisboa, instalando‑se no mês seguin‑

te em Vila do Conde, onde permanece até janeiro de 1917. À sua volta, durante o curto exílio no nosso país, foram‑se juntando vários artistas, alguns deles também empurrados pela guerra como Amadeo de Souza‑Cardoso, António Viana, José Pacheco ou Samuel Halpert. Almada Negreiros associa‑se igualmente a este círculo em torno dos Delaunay, caracterizado por um grande dinamismo criativo e que, sem se traduzir num movimento artístico, se destacou pela exaltação da cor e pela relação criativa entre as várias artes.O contexto e a produção que resultou destes encontros e cumplicidades artísticas em torno do casal Delaunay é aprofundado na exposição que o CAM apresenta até dia 22 de fevereiro de 2016.O catálogo publicado a pretexto desta mostra reúne textos de vários especialistas que aprofundam os principais temas relacionados com este período de criação fervilhan‑te. Em versão bilingue, o volume, com 272 páginas e profu‑samente ilustrado, é um documento precioso para melhor conhecer este momento criativo made in Portugal. Esse é precisamente o título do texto da curadora da exposição, Ana Vasconcelos, que enquadra a exposição. A Corporation Nouvelle, um projeto coletivo de união entre os artistas, surgido no seio deste grupo e que previa expo‑sições itinerantes acompanhadas da edição de álbuns ori‑

ginais, é objeto de estudo aprofundado. Joana Cunha Leal aborda o projeto de uma destas exposições em Barcelona e Annika Ohmer estuda as relações de Sonia e Robert Delaunay com Arturo Ciacelli, galerista futurista italiano radicado em Estocolmo e que apresentou a única exposição que se pode inscrever no quadro da Corporation Nouvelle.A relação criativa de Almada Negreiros com os Delaunay é aprofundada no texto assinado por Sara Afonso Ferreira e Mariana Pinto dos Santos, publicado neste catálogo.O volume destaca ainda as relações dos Delaunay com Amadeo e com Eduardo Viana, a influência da pintura simultaneísta desenvolvida pelo casal de artistas na poéti‑ca literária e visual de Almada, e ainda a encomenda da Santa Casa da Misericórdia de Valença do Minho a Sonia Delaunay de uma pintura mural para a fachada de um edifício, que não chegou a ser concretizada, mas de que subsistem o projeto e estudos. Esta encomenda e o período passado pelos Delaunay no Alto Minho são tratados num texto da autoria de Margarida Mafra.Profundamente tocados pela beleza da luz, da natureza, e do folclore, Sonia considerou o período português um “avanço” no percurso artístico do casal. A qualidade da luz, sobretudo, permitiu avançar as suas pesquisas sobre a cor. A estadia dos Delaunay no nosso país é, nesta medida, jus‑tamente celebrada nesta exposição e no catálogo agora editado. ■

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Catálogos de Exposições naBiblioteca de Arte U ma parte substancial da obra do artista britânico Jeremy Deller (n. 1966)

– vencedor do Turner Prize de 2004 e representante do Reino Unido na Bienal de Veneza de 2013 –, pode ser apreciada atualmente no Museo Universitario de Arte Contemporaneo (MUAC) da Universidade Autónoma do México (até 7 de fevereiro de 2016). A exposição Jeremy Deller: El ideal infinita-mente variable de lo popular, que foi inaugurada em fevereiro passado no Centro de Arte Dos de Maio (CA2M, Madrid) e que durante o ano de 2016 ainda viajará para a Fundación Proa (Buenos Aires), é a primeira dedicada a este artista em países hispânicos e procura trazer aos visitantes uma revisão da obra de Jeremy Deller, mostrando quer peças mais antigas quer algumas das suas criações mais recentes.Os curadores responsáveis – Amanda de la Garza pelo CA2M e Cuauhtémoc Medina pelo MUAC – selecionaram um conjunto de obras que incluem foto‑grafias, instalações, vídeos e cartazes, organizando‑o em três núcleos temáti‑cos, através dos quais se apresentam as linhas de pensamento e operativas do trabalho de Deller: exploração de aspetos da cultura britânica nas suas espe‑cificidades e contradições históricas e políticas, misturando a dita ”alta” cultu‑ra com a cultura popular e mostrando as contaminações que ambas demons‑tram em termos de circulação e de estética. Bilingue – espanhol e inglês –, o catálogo desta exposição tem edição conjunta do CA2M e do MUAC e apresenta quatros ensaios: dois escritos por Cuauhtémoc Medina, um da autoria de Dawn Ades, professora emérita e historiadora de arte ingle‑sa, e outro escrito pelo crítico e historiador de arte americano Hal Foster; profusamente ilustrado, completam‑no a transcrição de uma conversa entre Jeremy Deller e o curador argentino Ferran Barenblit, uma breve nota biográfica do artista e a lista de obras expostas. Este catálogo tem igualmente uma versão digital em: http://www.madrid.org/bvirtual/BVCM019173.pdf ■

T he art of assemblage foi uma das exposições que o Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque apresentou no final do ano de 1961, tendo no ano

seguinte sido apresentada, respetivamente, no Dallas Museum of Contemporary Art e no San Francisco Museum of Art. A seleção de cerca de 250 obras de 130 artistas ficou a cargo de William C. Seitz, na altura curador associado para as exposições de pintura e escultura do MoMA. Pretendeu‑se mostrar a “arte da assemblage” expondo‑se obras de arte criadas a partir da utilização de materiais diversos como recortes de jornais e revistas, fotografias, pedaços de tecidos, frag‑mentos de madeira, espelho e vidro, pedras, objetos da vida quotidiana… ou seja, materiais que à partida não seriam considerados “artísticos”. As colagens cubis‑tas de Picasso, George Braque e Juan Gris, realizadas na segunda década do século XX iniciavam a exposição, que incluiu igualmente trabalhos de futuristas italianos, colagens dadaístas de Max Ernst, obras de Marcel Duchamp, de Kurt Scwitters, até obras realizadas depois de 1945, por então jovens artistas como Robert Motherwell e William de Kooning.

Publicado paralelamente à exposição pelo MoMA, o livro com o mesmo título teve a autoria do curador William C. Seitz. Para além de conter o catálogo propriamente dito, com as fichas de cada uma das peças expostas, este livro tem duas grandes partes: uma, intitulada “The liberation of words” (a libertação das palavras), sobre S. Mallarmé, G. Appolinaire, F. Marinetti e A. Gide; e uma outra, “The liberation of objects” (a libertação dos objetos), onde se abordam Picasso, Braque e Gris, o Futurismo, Dada e o Neodadaísmo e o Surrealismo. Completam‑no ainda outros ensaios sobre a “assemblage” e uma bibliografia de tra‑balho sobre o tema. As ilustrações – maioritariamente a preto e branco – estão espalhadas ao longo da obra. ■

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E starão ainda presentes, na opinião pública, as contro‑vérsias suscitadas pelo projeto arquitetónico do novo

Museu dos Coches – da autoria do arquiteto brasileiro Paulo Mendes da Rocha, com o português Ricardo Bak Gordon. E agora, que junto ao oitocentista edifício da Central Tejo cresce aceleradamente o futuro Centro de Artes e Tecnologia da FEDP – da arquiteta britânica Amanda Levete –, fará sentido recordar o projeto que no início da década de 1940 contemplava, para o “eixo Belém‑Ajuda”, a construção de um outro edifício museológico: o Museu de Arte Contemporânea (MAC). Desde 1911 que este museu se encontrava instalado no anti‑go convento de S. Francisco, partilhado com a Escola de Belas‑Artes, a Biblioteca Nacional, a Academia de Belas‑Artes e ainda o Governo Civil. O exíguo espaço de que dis‑punha e as precárias condições do edifício para as funções museais foram sucessivamente denunciadas pelos seus diretores logo desde cedo. Em 1934, respondendo‑lhes e dando‑lhes razão, o então ministro das Obras Públicas e Comunicações, o engenheiro Duarte Pacheco (1900‑1943), fez publicar uma portaria* onde, para além de as reconhe‑cer, nomeava uma comissão para estudar e elaborar o anteprojeto de um novo edifício para albergar o museu e as suas coleções, em terrenos do antigo convento das Francesinhas, a S. Bento. Composta pelo diretor do museu, o pintor Adriano Sousa Lopes, pelo arquiteto Cottinelli Telmo e pelo engenheiro Teófilo Leal de Faria, esta comis‑são redigiu no ano seguinte o programa para a construção do novo edifício. Todavia, questões relacionadas com os terrenos fizeram com que, finda a década de 1930, nada se tivesse ainda avançado.Em 1941, com o encerramento da Exposição dos Centenários ficaram desocupados os terrenos circunjacentes do mostei‑ro do Jerónimos e da nova praça da cidade. Em setembro desse ano, o ministro Duarte Pacheco decretou a criação da Comissão Administrativa do Plano de Obras da Praça do Império e zona marginal de Belém (CAPOPI), cuja gestão foi entregue a Cottinelli Telmo e ao engenheiro Sá e Neto. Nos seus estudos incluía‑se uma área para diversos equipa‑mentos museológicos, tais como o Museu das Comemoração dos Centenários, o Museu de Arte Popular e o Museu de Arte Contemporânea. Para elaborar o ante-projecto do nôvo edifício do museu de Arte contemporânea, a construir em

Biblioteca de ArteProjeto do Museu de Arte Contemporânea Anteprojeto do novo edifício a construir na Praça do Império, em Belém (1943)um

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Belém, foi escolhido o arquiteto Luís Cristino da Silva (1896‑1975), autor do Pavilhão de Honra e da cidade de Lisboa na exposição de 1940 e um dos arquitetos mais relevantes deste período.A memória descritiva enuncia as linhas programáticas do projeto, transcritas graficamente nas peças desenhadas – plantas e alçados. O novo MAC localizar‑se‑á no lado nascen‑te da magestosa e vastíssima praça, aberta no sentido do Tejo, cujas características impõem um enquadramento compatí-vel com a sua grandiosidade, devendo, por isso os edifícios que a ladearem, apresentar proporções monumentais… Por outro lado, o arquiteto tem presente que a vizinhança do histórico e imponente mosteiro dos Jerónimos o obriga a condicionar a composição do nôvo edifício, de forma a integrá-la no espírito dessa enorme e bela massa constructiva, sem, contudo, cair numa réplica arqueológica. Assim, o edifício que Cristino da Silva submete à aprovação baseia‑se, nas suas palavras, num partido de composição nitidamente assimétrico, apresentan-do em planta a configuração de um “E”, com os dois braços orientados a nascente; terá um corpo principal dividido em 28 módulos iguais e rematado, do lado sul, por um corpo avançado onde se situarão os serviços administrativos e culturais, a biblioteca, a sala de conferência e o gabinete do diretor; adossada à fachada lateral sul uma torre elevada remata a composição. As galerias para a exposição da cole‑ção permanente ficarão no 1.º piso, o rés do chão é reservado à realização de exposições temporárias e o piso intermédio destina‑se a serviços internos.Tendo como documentos orientadores o programa da comissão de 1934 e a obra Muséographie architecture et aménagement des musées d’art – publicada em 1935 pela Sociedade das Nações –, Cristino da Silva contou ainda com a colaboração do escultor Diogo Macedo (diretor do MNAC entre 1944 e 1959): uma vez que o novo edifício do MAC deixava livre um lote de terreno, o arquiteto apresentou para esse espaço, na mesma memória, a criação do Museu de Escultura Comparada. Finalmente, a consulta deste pro‑jeto, que não passou do papel, deixa no ar uma questão: se o ministro Duarte Pacheco não tivesse falecido trágica e prematuramente um mês após ter assinado a sua aprova‑ção, seria a fisionomia da praça do império a que hoje conhecemos? ■ Ana Barata* Portaria n.º 755, de 5 de novembro.

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TÍTULO/ RESP Projecto do Museu de Arte Contemporânea, ante‑projecto do nôvo edifício a construir na Praça do Império em Belém, Lisboa [Projectos de arquitectura ] / Luís Cristino da SilvaPRODUÇÃO 1943DESCR. FÍSICA 31 desenhos de arquitetura, 1 apontamento, memória descritiva, correspondência, orçamentosPARTE DE Espólio Luís Cristino da Silva 1921‑1976NOTAS Edifício não construídoCOTA LCS 28

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FESTA DOS LIVROS GULBENKIAN

GULBENKIAN.PTAv. de Berna, 45 A 1067-001 Lisboa

TODOS OS DIAS / 10h00 — 20h00

30 NOV. —

QUANDO PORTUGAL FALAVA FRANCÊS Apresentado por Rui Ramos e João Caraça 03 DEZ. —

CALOUSTE S. GULBENKIAN E O GOSTO INGLÊSApresentado por João Carvalho Dias

WENTWORTH FITZWILLIAM. UMA COLEÇÃO INGLESA Apresentado por Luísa Sampaio

07 DEZ. —MARFINS GÓTICOS NA COLEÇÃO GULBENKIAN Apresentado por Sarah Guérin e Maria Rosa Figueiredo

10 DEZ. —ESPECIARIAS E PLANTAS CONDIMENTARES — ORIGEM, COMPOSIÇÃO E UTILIZAÇÕES Apresentado por A. Proença da Cunha Lígia Salgueiro e Manuel Carmelo Rosa

14 DEZ. —

O CÍRCULO DELAUNAY Apresentado por Joana Cunha Leal Isabel Carlos e Ana Vasconcelos

17 DEZ. —REFLEXÕES SOBRE A REVOLUÇÃO EM FRANÇA Apresentado por João Carlos Espada Ivone Moreira e Manuel Carmelo Rosa

CAFETARIA DO MUSEU / 18h30 — ENTRADA LIVRE

PROGRAMAÇÃO