o SABER IMPOTENTE Canlo~ Zillen Camenie~zki

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o SABER IMPOTENTE Zillen

Transcript of o SABER IMPOTENTE Canlo~ Zillen Camenie~zki

o SABER IMPOTENTE

Canlo~ Zillen Camenie~zki

o SABER IMPOTENTE

Estudo da noçao de ciência

na obra in~antil de Monteiro Lobato

"Canlo~ Zillen Camenie~zki

" Dissertação submetida a aprovaçao como

"requisito parcial para a obtenção" do ,"

>pau, ,de" Mestre em Educação

RIO DE JANEIRO

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

INSTITUTO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM EDUCAÇÁO

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÁO

1988

rr

, .'

A Anmando e Philomena, que de~am Lobato a H~lia.

A H~lJ...a .e Meye~,

que de4am Lobato a Edua~do.

A Edua~do e Simone, que da~ão Lobato a Natália.

A Natália e ...

rrr

PREFÁCIO

Este trabalho, antes de ser um acerto de contas com a

minha pr6priainfincia, ~ 'um e~forço de caracterização de urna

obra de grande importincia no panorama cultural brasileiro do

s~culo xx. A idenfificação de Monteiro Lobato com a figura tí­

pica do intelectual orginico (tal e qual definido por seu con­

temporineo italiano) c6nfigura urna pesada ta~ef~ ji parcialmen­

te realizada em estudos recentes; o Sabe~ i~potente busca apro­

fundar o exame do trabalho deste escritor no sentido de encon­

trar as expressoes literirias de sua condição na sociedade pau­

lista~ E por esta razão que se volta ~ literatura infantil e ~

temit~ca propriamente científica. Neste t~rreno encontram-se

elementos bastante expressivos para a consecuçao destes objeti­

vos, sumariamente expostos acima .

. , Assim, ap6s um resumo biogrifico,o trabalho se divide

em duas partes nitidamente diferenciadas. Na primeira exami-

nam-se as obras infantis, perseguindo as apresentações do ele­

mento científico, procurando compreender o valor a ele atribuí­

do no texto. Expõem~se tr~s momentos diferenciados, nos quais

o autor empresta um significado nítido ao saber científico. Fe

chando essa parte realiza-se uma exploração sumiria acerca da

consci~ncia do autor sobre as tr~s etapas identificadas.

Na segunda parte, busca-se na presença política e cul

tural do "G~upo do E.6tado", um grupo político ao qual Lobato se

IV

vincula, a interpretação dos fatos literiribs registrados napar

te anterior.

Finalmente; considero de suma importincia registrar

que tal trabalho apenas se tornou viivel graças ao concurso do . .

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e

da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior,

do MCT e do MEC respectivamente, que custearam esse estudo des­

de seus primórdios. Também cumprira~ papéis definidores os pro

fessores EI ter Dias Maciel e Zilah.Xavier de Almeida, o primeiro por sua

'orientação inicial do trabalho, fornecendo lndicações metodoló­

gicas essenciais, e a professora pela orientação final e o espi . ~. . . - - .. rito crltlco que marca seu notavel trabalho pedagoglco. Em espe

cla1 agradeçD aos professores Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,

Maria da Conceição Pinto de Góes. e João Carlos Victor Garcia,

que me permitiram uma dedicação quase exclusiva nos ~ltimos mo­

mentos da elaboração desta dissert~ção. Por fim, agradeço espe

cialmente a Isabel Cristina Alencar de Azevedo pela sua precio­

sa colaboração no início deste trabalho, e ao Professor Adriano

da Gama Kury pela revisão dos originais.

V

ABREVIAÇOES DAS REFERENCIAS DOS LIVROS CITADOS DE MONTEIRO LOBATO (*) :

RN Re.inaç.õe..6 de. Nanizinho

S - O Saci

RF - A R e.6 onma da Na:tune.za

PV - O Poç.o do V i.6 co nd e.

VC Viag e.m ao C êu

CT A Chave. do Tamanho

,THl" - 0.6 Voze. Tnaba.tho.6 de. H ê n c u.t e..6 , -19 V o .tum e.

TH2 - 0.6 Voze. Tnaba.tho.6 de. Hêncu.te..6, '2.9 Vo.twn e.

TH3 - 0.6 Voze. T naba.t h 0.6 de. H ê n c u.t e..6 , 39 Vo.tume.

BGl - ~ Baltca de. G.t e. yn e. , 19 V o .tum e.

BG2 A Banca de. G.te.yne., '2.9 Vo.tum e.

t" .'

(*)As referências completas se encontram na bibliografia ao fi­nal deste Volume.

VI

RESUMO

A obra infantil de Monteiro Lobato apresenta a ciên­

cia de forma diferenciada em três fases. Na primeira, a ciência

é inútil e representa um empecilho no desenrolar das aventuras.

Na segunda,ela é o pr6prio motor das hist6rias. Na terceira, ~

vista como ferramenta ma~ utilizada pela civilização. Monteiro

Lobato se vinculou a um grupo ontelectual de São Paulo cuja ação

esti na base da formação do Partido Democritico na d~cada devi~

te. A estrutura das fases identificadas na ob~a infantil cor­

responde ã trajet6ria política do grupo. Num primeiro momento,

ele luta por afirmar-se, por se estabelecer na política regio­

nal contra o conservadorismo do PRP. Num ~egundo momento ele

se faz vitorioso, dirigindo o estado; finalmente ele é derrota­

do p~lo.golpe de 1937, se desagrega. Seus membros são coopta­

dos ou perseguidos. Assim, a obra infantil de Lobato retrata a

saga do liberalismo oligirquico em são Paulo durante a Primeira

República.

VII

A B- S T R A C T

The children r s books of Monteiro Lobato present Science

in three phases. In the first, Science is useless and

represents an'obstacle to the unfolding of the adventures.

In thesecond, it is. the very power which drives the stories.

In the third, it is seen as a tool which is misu·sed by

civilization. Monteiro Lobato joined a group of intellectuals

from São Paulo who were involved in the formation of the

Democratic party ·of the twenties. The structure of the phases

identified in the children's books corresponds to the

political direction followed by the group. -At first, it

struggles to assert itself, to estab1ish itse1f in regional

politics against the conservatism of the P~P. In the second

period it is victorious, governing the state, and fina11y it

is defea ted by the coup of 193.7,. and is disbanded. Its members

areco-opted or persecuted. In this way, the chi1dren's books

of Lobato portray the saga of oligarchic libera1ism in São

Paulo during the First Repub1ic.

- VIII -

5 U M Á R I O

1. INTRODUÇÃO

2. LOBATO

3. O SrTIO DO PICA-PAU ~MRELO E A CIENCIA

3.1 O PitO bl e.ma

3.2 O Sab e.1t Inútil

3.3 O" S a b ''-'1- Otil

3.4 O Sab e.1t Malve.lt.óado

3.5 O Autolt e.m óac.e. do

"4. O GRUPO DO ESTADO

4.1 Um GItUpO Libe.ltal

4.2 Uma ação c.ultultal

Pltoble.ma

5. A TRAJETdRIA CULTURA DE UMA DERROTA

"5.1 SItio e. o Blta.óil

5.2 Palta além da Vi.óão Cie.ntI óic.a

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIOGRAFIA

ANEXO

Pago

1

11

19

19

23

32

40

50

55

55

67

73

73 80

83

92

98

1. INTRODUÇÃO

José Bento Monteiro Lobato nao é um dos grandes nomes

da Literatura Universal, tampouco o é da Litaratura Brasileira.

Não, há especialista ou mesmo leitor dedicado que o inclua na

pl~iade literária nacional. Não se conhecem estudos comparati­

vos de seu trabalho com o de seus contemporineos. Os melhores

manuais de estudos literários dedicam a ele pouco mais que duas

ou tr~s páginas. Os estudos individualizados de seu trabalho

se resumem a uns poucos tft~los, em geral dissertações acad~mi

cas de iniciante~ - co~o esta. Praticamente ninguém incl~i Mog

teiro Lobato, no mesmo elenco que Mário de Andrade, Manuel Ban­

deira, Oswald de Andrade; muito menbs no de Machado de Assis,

José de Alencar, Castro Alves, Olavo Bilac, Lima Barreto.

José Bento também nao é um dos grandes nomes de nossa

ind~stria. Sua~ atividades empresariais nao o situam ao lado de

Mauá e Matarazzo. Na polftica, Lobato nunca contou com a admi­

ração das gerações que o sucederam. Virou, no máximo, nome de

uma pequena praç~ de sub~rbio ou de uma ruela numa ou

grande cidade brasileira.

noutra

Entretanto, todos ou quase todos conhecem Monteiro Lo

bato. Salvo raras exceções, quem fala dele o faz com sincera

admiração. Não há, praticamente, brasileiro letrado que não t~

nha lido ao menos um livro 'de Lobato. A razão dessa popularid~

de certamente não se localiza nas obras de literatura geral.

Não é por UhUp~~, por Cidade~ MOhta~, ou por O E~candalo do Pe­

th6leo. e por conta daquela rrca~inha bhan~a, l~ no SItio do Pi

2

ca-Pau Aman~fo, ond~ mona uma v~fha d~ mai~ d~ ~~~~~nta ano~ "

que Monteiro Lobato ê amado e admirado pelas crianças já há qua

tro gerações .. Sem dúvida, ê, nos textos do "SItio", nas obras

de literatura infantil, que encontraremos as razões da populari­

dade do escri tor'. Esses livros alcançam números incomuns de edi

çoes, em grandes tiragens. :s ele próprio quem diz: "A n~~di;ta­

bi:e.idad~ do~ m~u~ fivno~ pana adufto~ e muito m~non." Atualmen

te, pouco se sabe de suas obras de literatura geral.

:s suficiente pronunciar seu nome para que, imediata-

mente, reapareçam na nossa lembrança as brincadeiras de crian-

ças. Mesmo os mais sisudos intelectuais brasileiros falam de

Monteiro Lobato comum certo carinho.

Seus textos infantis agradam - e muito "-as crianças.

EleS se tornaram paradigmáticos na literatura de ficção infan­

til brasileira. Indiscutivelmente Lobato ê o Andersen brasilei

ro. :s exatamente por isso que qualquer estudo da sua obra in-... fantil possui grande import~ncia.

Por essas razoes, nao ê totalmente desprovido, de sen-

tido afirmar que este autor interferiu na formação de nossa cul

tura. Mesmo ~erifericamente, m~smo sob a forma mais limitada

pel~ qual um escritor possa contribuir para a cultura de um po-..

vo, e justo reconhecer esse. papel a Lobato.

Muito embora seja verdadeira a idéia de que o leitor

recolhe da obra lida aquilo que lhe convém, nio se pode despre­

zar a importância da oferta. Assim, se o que Loba to põe em seus

livros não ê. acolhido pelos leitores do jeito que ele pretendia,

3

. ao menos o fato de ter escrito segundo as opçoes assumidas ~si&

nificativo e, certamente; ~ relevante na leitura que seu púb1i-

co faz.·

Malgrado asapar~ncias, uma obra extensa como os. 1i­

. vros do "sLU .. O" ~ um universo de complexas estruturas nas quais

o,autor apresenta uma enorme profusão de elementos da cultura

brasileira de sua ~poca. Este trabalho não opta por urna visão

de conjunto, escolhe um veio, um elemento singular para perse­

guir, para idehtificar, relacionando-o com os demais traços ca­

racterísticos da obra.

Em mei6 a u~ verdadeiro mar de elementos este traba-

lho persegue a coisa científica. Escolhe a forma peculiar de

Lobato apresentar o saber cientIfico e o s~ber em geral. Tri-

ta-se de um assundo de extrema importincia, pois, como veremos

mais adiante, o autor nunca se desliga dele. A escolha deste

veio condutor da pesquisa foi praticamente forçada por Lobato,

uma vez que nao há, praticament~, obra onde ele não apareça com

face definida. ~onforme registrou Alberto -Conte,

"a c.-iê:nc.-ia que. apa/te.c.e. no.6 l-iv/to.6 de. Lobato

~, po-i.6, uma c.-iê:nc.-ia 6-ilo.606ada, uma c.-iê:n­c.-i.a mote. que. e.le. glo.6a de. uma mane.úia toda

.6ua; c.om uma 6-ilo.606-ia que., .6e. po/t uma pa! te., e: de. .6 e.nt'[d o p.6 -i C. o..e. õ 9 -i c. o, .6.0 c.-ial e. mo­

/tal - numa palav/ta, de. .6e.nt-ido p/to6undame.~

te. humano - po/t out/ta pa/tte. e: to/tnada le.­

ve., ame.~a, pe.dagog-ic.ame.nte. agJtad~ve.l, pe.lo

que. Lobato lhe. ad-ic.-iona de. p-itoJte..6c.ode.l-in . .-

guage.m, c.oloJt-ido tZp-i.c.o b/ta.6-ile.-iJto, humo-·/t-i.6mo (amaJtgo ou jov-ial, .6e.gundo 0.6 c.a.6o~)

e. out/ta)" c.o-i.6lt.6 que. ta-i.6".l

4

Assim, nao é necessário ir muito.longe nesta introdu­

.ção para justificar que, nas aparições da ciência nos textos in

fantis, Lobato colotava-a com uma face que era a de sua esco­

lha, no momento preciso em que escreveu. Desta forma, procu­

rar-se-á neste trabalho perseguir o conteGdo que essa apresent~

çao da ciência revela quando confrontada com os demais elemen­

tos do texto, em sua evolução ao longo do tempo.

A identificação da traj etória da ciência nos textos de

Lobato permitirá o levantamento de questões que não encontram

amparo exclusivamente na coerência interna da obra. Por exem­

pIo: em um momenio preciso, a ciência passa de elemento pertur­

bador das aventuras a elemento impulsionador. A questão cor­

respondente seria: por força de quals fato.s isso ocorreu? Há,

certamente, algo que justifique tal atitude do autor. Afinal,

os p~rsqnagens não têm vida aut6noma. Desta forma, a disserta­

ção tomará o rumo da biografia do autor, radicalizando-a. As­

sim, concebe-se a biografia como um fl..e.C.Ofl..:te. da. v'<'da -6 o c..<.a.l de. um

pe.~Zodo do qual o b.<.ogfl..a6ado pafl..:t.<.c.ipou; não é, não pode ser,

apenas um enumer~do de fatos vividos por um indivíduo. Interes

sa· colher deste meio social elementos .que auxiliem na busca de

respostas a questões como a exp~sta acima.

Ainda com relação a este' exemplo, tem-se por certo que

uma tal insérção não apresentaria valor explicativo suficiente.

S claro, falta~ia um instrumental que pudesse mediar algum fa­

tb significativo da vida social que cercou e mobilizou nosso au

tor e o texto literário. Nada assegura que Lobato tenha mudado

sua forma de apresentar a ciência por força de um choque elétri

5

co tomado em sua casa quando mudou uma l~mpada, em 15 de outu­

. bro de 1933. Contudo, ,pode-se buscar uma resposta satisfatória,

tradicionalmente aceita e cientificamente válida às indagações

em. questão.

Desta forma, proceder-se-á ao trabalho de esclarecer

crit~rios de diferenciação entre os fatos da vida social consi-

deradris substanciais e aqueles acidentais para o tratamento da

questão. Do ponto de vista teórico, isso significa que não po­

de haver generalização, que ~ apenas ad hoc que se trabalha nes

te tipo de estudo.

No caso de Monteir~Lobato,·~ o estudo dos contornos

políticos e culturais amplos que fornecerá os critérios dedis­

tinção exigidos acima. Afinal, a quem ele· se ligou na política

e na cultura de sua ~poca? Qual a trajetória social desses in­

divíduos? Formarão eles um grupo definido? Quais bandeiras d~

fendem? O que ocorre com suas propostas? Estabelecidos esses

elementos, e com o conhecimento dos vínculos (org~nicos ou ins-. táveis) do autor com o grupo social, será possível definir bs

crit~rios de diferenciação acima referidos. Pois

"0.6 indivldu,o.6 pod e.m, .6 e.m dúvida, .6 e.patuvr.

.6e.u, pe.n.6ame.nto e. .6u,a.6 a.6púz.açõe..6 de. .6u,a ati

vidade. cotidiana; o 6dto ~ e.nt~e.tanto e.x­

clu'ldo qu'ando.óe. t~ata de. g~u'pO.6 .6ocial.6.

Pa~a o g~u'po, a conco~dância e.nt~e. o pe.n.6a me.nto e. o compo~tamênto ~ ~igo~o.6a.,,2 -

Assim, se temos um intelectual cujos escritos crista­

lizam parte de um pensamento coletivo, não ~ admissível que um

choque el~trico possa inverter. por anos uma tend~ncia liter5ria

6

amadurecida em uma década de intenso trabalho.

Est~ é, objetivamente, o caso de Lobato. Quem o afir

ma é Edgar Cavalheiro, quase que seu biógrafo oficial:

"A Il..oda que. .6e.mpll..e. 61l..e.ql1e.ntall..a pe.ll..te.nc.ia -a

opo.6ição. Ell..a um pe.que.no ,gll..UpO de. e.lite.,

c.ompo.6to de. inte.le.c.tuai.6 de..6e.jo.60.6 da Il..e.-

60ll..ma da c.ultull..a e. do.6 c.O.6tume..6 bll..a.6ile.i-1l..0.6 ••• ll..e.uniam-.6e. na Il..e.dação' d'O E.6tado de

São Paulo; de.le.~ pall..tiu a id~ia da Funda­ção da Re.vi.6ta do Bll..a.6il, o apoio ao movi­

me.nto nac.ionali.6ta e.mp~e.e.ndido poll.. Olavo

Bilac. e. ã. c.ampanha de. .6ane.ame.nto lançada em

pll..ime.ill..a mão pOIl.. Migue.l Pe.Il..e.ill..a. O c.he.6e.,

Júlio de. Me..6quita, dill..e.toll.. do jOll..nal, pol~

ticame.nte. um Il..~public.ano di.6.6ide.nte., Il..e.u­

nia a I.> e.u Il..e.doll.. 6igull..al.> c.omo -Al61l..e.do Pujol,

PlInio Ball..ll..eto, Ric.all..do S~ve.ne., Luiz Pe.Il..e.i Il..a Ball..ll..e.to, M~Il..c.io Pinto Se.ll..va, ••• , Áll..man­

do de. Sale..6 Olive.ill..a, Amade.u Amall..al, Albe.1l.. , -to Se.abll..a e. tantol.> outll..O.6 mai.6 ••• Entll..e. c

pe.ll..ll..e.pi.6mo de. um lado e. o gll..upo do E.6tado

do ~ut~o, Monte.ill..o Lobato de..6de. o pll..imeill..o mome.nto pe.nde.u pall..a e..6te., e.mboll..a jamai.6 6e.

i~te.gll..e. ou. pall..ticipe. de. c.oncili~bulo.6 polI tico.6. A pll..inc.Zpio, ob.6e.ll..va Ne.l.6on Palma

·Tll..ava.6.6o.6, Lobato pall..e.c.e. tOll..nall..-I.>e., talve.z 'inc.onl.>cie.nte.me.nte., o cll..oni.6ta do gll..upo. Quando do ball..ulho pll..ovoc.ado pOIl.. Je.ca Tatu,

e. pe.lo d..i..l.>c.ull..l.>o de. Rui Banbol.>a, I.>e.u nome. e.~ te.ve. .6e.mpll..e. ligado aol.> que. I.>e. opunham ã. po lZtica dominante.. ,,3

Se Monteiro Lobato de fato se vinculou a este grupo,

as coisas ganham corpo. Há algo além das idiossincrasias do au

tor nos seus escritos. e isto que se procura neste trabalho.

7

Para al~rn.das ambigUidades do pensamento de Lobato, as· coisas

propriamente literárias da obra talvez digam algo acerca deste . .

grupo. Foram'os caminhos para a eliminação deste "ta.,tve.z" que

orientaram a pesquisa.

Neste quadro, o sentido da caracterização que aqui se

pr~tende será 'amplo: será o nexo entre a coer~ncia desvendada

da 6bra e o contexto polftico-cultural no qual Lobato viveu. A~

sim entendida, a carac~eriz~ção de urna obra ganha contornos qUe

ultrapassam as barreiras do estritamente literário, ganha senti

do na vida social brasileira.

Com essas·definições, tanto o objeto quanto o que se

quer com ele.se tornam evidentes. ti objetivo deste trabalho e

urna caracterização da obra infantil de Motiteiro Lobato, que re­

pre~ente urna interpretação plausfvel para a visão da ci~ncia ex

pressa nos textos do "SItio". Seu objeto, ~ a significação atri

bufda ã ci~ncia nesses livros.

Corno será visto, as idéias acerca do papel reservado

ã ci~ncia na sociedade brasileira são a chave para a interpreta

ção da obra infantil de Monteiro Lobato. Por esse caminho, ch~

ga-se a urna imagem expressiva das condições que envolveram o li

ber~lismo brasileiro no infcib deste século.

Embora as tentações de antecipar as conclusões deste

trabalho sejam grandes, existem fortes razões de ordem 16gicapa

ra resistir a elas. e mais adeqtiado que a interpretação a que

se fez refer~ncia apareça corno conseqU~ncia óbvia da análise dos

textos infantis, da biografia do autor e da identificação de um

8

'grupo de intelectuais expressivo na vida social paulista.

Ant'es disto porém, impõe-se a tarefa de examinar suma

riamente e ao'.menos um, o mais consistente, entre os diversos

trabalhos publicados recentemente sobre Monteiro Lobato. 'Tra-

ta-se do texto A Repúbl~ea do P~eapau Ama~elo de André Luiz Viéi

ra de Campos~ Antes de mais nada é importante que se diga que

este livro em muito auxiliou na delimitação do objeto desta di~

sertação. O autor persegue a posturalobatiana em seus escri­

tos, mostrando a existência de uma identidade substancial entre

a obra.infantil e ~ literatura geral. Ele apresenta um Lobato

pouco discutido pelos autores ji considerados clissicos. e o Lo

bato portador de um modelo para a sociedade brasileira, de uma

proposta' de conjunto para a vida social. .André consegue filtrar

o essencial dentre' o emaranhado complexo de elementos que ... e a

obra, lobatiana. Ele mostra a proposta do liberal fordista nos

textos e atos de Lobato. Um trabalho notivel. Hi, contudo, um

conjunto expressivo de fatores que limitaram um pouco sua anili

se. Tais fatores transparecem do seu pr6prio texto.

Em primeiro lugar a no~ma l~te~ã~~a nao é objeto de

preocupação dIA Repúbl~eado P~eapau Ama~elo. André Luiz,nãode

dica a ela senão poucas piginas ao final do texto. No caso da

. anilise de um projeto para a socieaade defendido por um escri­

tor, mesmo que um escritor-industrial ou um publicista-industrial,

a forma sob a qual os elementos se apresentam na obra não deve

ser subestimada. Ela se confunde com as caiacterfsticas essen-

ciais das pr6prias idéias defendidas explicitamente nos textos

do autor. Esse ~csprezo p~la forma leva Andr6 Luiz a afirmar:

9

"Seu envolvimento ~om o mundo dOJ neg5~ioJ,

Jeu aóaJtamento dOJ mode/tniJtaJ e aJuat/t~

jet5/tia em di/teç~o a lite/tatu/ta inóantil

expli~am, a nOJJO ve/t, o óato de Lobato to/t na/t-Je cada vez maiJ publiciJta e menOJ lf te/tato, no J entido maiJ eJ pecZóico do tVUIIO.

IJJO não Jignióica que o auto/t tinha deix~ do de Je/t um eJc/tito/t pa/ta to/tna/t-Je umin­

tele~tual militante. Lobato ~ontinua Jen­

do ~J duaJ coiJaJ; apenaJ h~ umainóaJe, a 4 pa/tti/t dOJ anOJ vinte, no J eg undo Mpedo."

Por essa defici~ncia, ele nao viu que as crfticas e

proposiçEes de Lobato para a sociedade brasileira evoluem e se

transformam bem mais que ele supõe .. Assim, a conclusão a que

chega é de que a postura de Lobato sempre foi, substancialmen­

te, a do liberalismo fordista; o que nio ~ verdadeiro.

Outro fator que afastou um pouco esse estudo de algu­

mas trilhas abertas por André Luiz foi o tratamento exclusivamen

te individual dado ~s idéias. N'A Rep~blica do Picapau Ama/teto

n~o há refer~ncia expressiva~ organicidade social do pensamen­

to de Lobato. A impressão deixada após a leitura de seu traba­

lho é a de um Lobato pensador/industrial que defende propostas

apenas suas, nao compartilhadas por algum ou alguns grupos so-

ciais.

- . Vale notar que o proprlo autor identifica, ainda que

parcialmente, esses proble~as. No último capftulo de seu traba

lho, André Luiz pondera que Lobato sustenta uma certa ambigUid!

de na sua noção de progresso. Essa ponderação emerge da subes­

timação da forma literária e da exig~ncia de coer~ncia linear na

10

postura d~ Lobato - como s~ a postura, dele em face do progresso

fosse únic~ ao longo dos seus 30 anos de consagração como escri

toro Como se ele não tivesse escrito A Chave do Tamanho.

Quanto, ao segundo problema aqui levantado, o autor d'

A Rep~bllca ensaia diversas alternativas para ri vfnculo social

de, Monteiro Lobato: grandes industriais? Camadas médias urba­

nas? Deixa assim, escapar a chave que, desvenda seu posicionamen­

to. O perfódo que vai' de 1910 a 1940 é cru~ialna pr6pria for­

mação das classes sociais no Brasil. Assim., é de se esperar que

aquilo que parece uma coisa definida em 1917, tenha outros con­

tornos em 1927 e ainda outros em 1937. Essa é a chave que di o

tamanho dos segmentos sociais identificados com o discurso de

LobatQ. A formação do grupo social'ao qual ele se vincula, se­

ri tratada no quarto capftulo deste trabalho.

Essas observações acerca' do livro A Rep~blica do Pica

pau Ama~elo se fizeram necessirias, antes de tudo como um mere­

cido tributo que este trabalho deve prestar a uma obra que,além

de ter indiçado bons caminhos de estudo, é a mais significativa

vista até o momento.

11

2. LOBATO

José Bento Monteiro Lobato nasce na cidade de Taubaté

em 1882. ~ o filho ma~s velho de um dono de fazendas na região.

Neto bastardo do Visconde de Tremembé - José Francisco Montei-

ro, grande p~oprietirio que alforriara seus escravos anos antes

da Lei Áurea; o meníno nasce com um futuro' garantido, ou ao me­

nos quase garantido; seu destino ê a gerência das fazendas do

pai e do Visconde, sucedendo-os como quase todos os contemporâ­

neos em situação sócial semelhante.

Confor'me o costume da época, Lobato recebe as primei-

ras lições em casa, aprendendo a ler, escrever e contar com sua.

av6, a quase esposa do Visconde; Em seguida passa a freqUentar

colégios particulares da região. De importância singular pare­

ce 's~r sua estada no Colégio Paulista:

nl~, 60i aluno do p~o6e~~o~ Mo~ta~dei~o;me!

t~e que JUQa volta a p~oQu~a~, mai~ ta~de,

pa~a Qom ele di~Quti~ a~ nova~ 6ilo~o6ia~

que tanto o 6a~Qinam em são Paulo: Mo~ta~­

dei~o e~a po~itivi~ta, o que o di6e~enQia­va na inteleQtualidade da paQata Taubaté. n5

Essa proximidade ao positivismo na adolescência deixa

ri marcas sensíveis no pensamento de Lobato. Ainda ~o Colégio

Paulista, nosso autor inicia-se na imprensa, produzindo peque-

nos artigos, para um jornal estudantil. Escreve uma crítica ... a

EnQiQlopédia do Ri~o e da Galho6a, livro que mais tarde Vlru'a

cama do Visconde deSabugosa.

12

Em são Paulo, interno no colégio a partir de 1896, L~

bat6 permanece escrevendo para jornais de escola, numa ativida­

de comum ã época.

Filho da aristocracia brasileira, ele acaba por matri

cular-se na Faculdade de Direito do Largo de são Francisco mais

por força do Visconde que por vontade pr6pria. Na vida acad~mi

ca da época era comum a ~xist~ncia de grupos organizados, círcu

los de literatura, poesia e política. Lobato não deixa de inte

grar esses grupos, escrevendo para os respectivos jornais acad~

micos e acaba por fundar o "Ce.nác.ulo" com amigos que levará por

toda.a vida: Godofredo Rangel, Ricardo Gonçalves, Cândido Ne-

grelros, Artur Ramos, Benjamin Pinheiro e outros.

Bacharel, Lobato obtém uma nomeaçao para a promotoria

em Areias em 1907. Mesmo durante o período de sua estada no in

terior, ele· não parou de colaborar' com artigos para a imprensa.

"Po~ oc.a~i~o da Campanha P~e.~ide.nc.ial (de. 1909/10), te.~mina~ia

o a~tigo 'He.~mi~mo' c.om e.~ta~ palav~a~: 'Rui e.xi~te., Rui ~ a vi

tõ~ia da de.c.ê.nc.ia ~ob~e. a inde.c.ê.nc.ia'''. 6 Não é inconveniente afir

mar que Areias é pequena demais para o irrequieto advogado; as-

sim, em 1911, ao virar graride pr~prie~irio: retorna a

com proj etos de modernização das velhas terras do Viscon.de. Seus

·projetos esbarram numa conjuntura adversa e em obstáculos cu1tu

rais pratic~mente insuperáveis com o pessoal da fazenda.

Logo no início da Primeira Guerra Mundial publica nu­

ma coluna do E~tado de. S~o Paulo, dois artigos que vao torná-lo

célebre já desde cedo. O primeiro, "Uma Ve.lha P~aga", no qual

13

protesta contra a pritic~ das queimadas; o segundo, "UlLupê..6·" ,

no qual. ataca diretament~ o campon~s atrasado, retr6grado e re-

sistente aqu~lquer mudança nos hibitos produtivos. Com esses

d9is a!tigos, ele investe violentamente contra o homem do cam­

. po, o Jeca Tatu, visto como responsável pelas dificuldades eco-

nômicas do país.

dimentos.

"Naquele 6-i.m de 1914, ao.6 32 ano.6de -i.dade,

o Jeca, palLa .6eu CIL-i.adolL ê o -i.n-i.m-i.go, e a.6

pá.g-i.na.6 de 'Uma Velha PlLaga' e 'UlLupê..6' lLe­

plLe.ó entam o de:.ó6 Ofl.ÇO, a v-i.ngança ~ a ú.n-i.ca

que pod-i.a tomalL contlLa aquele.6 que julgava

lLe.6pOn.6á.ve-i.~ pelo 6ILaca.6.óo do lavlLadolL.,,7

Seu comportamento incontido o leva a inúmeros empreeg

"Plano.6", como .6emplLe, não lhe fialtam: já. t-i.

nha ~entado um colég-i.o em Taubaté, planej!

lLa um .óanat5~-i.o em são Jo.óê do.ó Campo.ó, e agolLa acalenta a -i.dé-i.a da explolLação comelL c-i.al do v-i.aduto do C há. ..•. " • 8

Lobato positivamente nao cabia e~ sua pr6pria fazen-

·da. Ele a vende em 1917 e muda-se para São Paulo, onde estende

a colaboração em jornais e ~evistas, principalmente com O E.óta­

do de são Paulo e seu "5lLgão de alta cultulLa", a Rev-i..óta do BlLa

.ó-i.l. e neste jornal, ainda no an~ da chegada i ca:pi tal, que

sai seu famoso artigo: "~ plLop5.ó-i.to da ex.po.ó-i.ção Mal6att-i.". Ne

le Lobato faz veemente ataque ao cubismo e ao modernismo em ge­

ral, numa atitude est~tica nem sempre seguida por ele pr6prio.

Neste texto, conhecido. pelo nome de "PalLan5-i.a ou M-i..6-

~-i.6-i.cação?"~ no~so autor afirma, com uma clara inspiração cicn-

14

tificista: "Toda.6 0..6 aJtte.6 .60.0· Jteg"<"da.6 pOJt. pJt..<..nc.I.p..<..o.6 hnuXã.vw,

.te~.6 6undamenta..<...6 que n50 dependem do tempo nem da lat..<..tude.,,9

Essa postura ~ radic~lizada um pouco mais adiante:

" paJta que .6..<..ntamo.6 de mane..<..Jta d..<..veJt.6a,

c.~bl..<..c.a ou 6utuJt"<".6ta~ ~ 6oJtço.60 ou que a

ha~moK..<..a do un..<..veJt.6o .606Jta c.ompleta alteJta

ç50, ou que o no.6.6O c.eJtebJto e.6teja em pa­

ne., .. um aJtt"<".6ta d..<..ante de um gato n50 po­

deJtã. '.6ent..<..Jt' .6en50 um gato, e e 6al.6a o.

..<..nteJtpJtetaç50 que do b..<..c.hano 6..<..zeJt um tot~ um e.6c.aJta~elho ou um amontoado d~ c.~bo.6

tJtan.6p~Jtef1te.6."lO

No ano de 19l8 r inicia-s~ em São Paulo uma vigorosa

campanha de saneamento. Entre os·poucos intelectuais que se -

põem ã frente na empreitada, está Monteiro Lobato, que, das pá-

gina~ da Rev"<".6ta do BJta.6"<"l, defende a higiene como forma de li­

vrar 'o país das pragas que tornam 'os nossos Jecas improdutivos.

No artigo "A.6 nova.6 pO.6.6"<"b"<"l-idade.6 da.6 zona.6 c.â.l"<"da.6", ele afiT-

ma:

"O no.6.6O povo, tJtan.6plante eUJtopeu 6e..<..to em

epoc.a de magJto.6 c.onhec...<..mento.6 c...<..entI. 6"<"c. 0.6 ,

60..<.. ..<..nvad"<"do pela m..<..c.Jtov"<"da tJtop..<..c.al, e ve~

m..<..nando ..<..nten.6amente, .6em que nunc.a peJtc.e­

be.6.6e a ex~en.650 da mazela. s6 agOJta .6e

6az o d..<..agn6.6tlc.o .6eguJto da doença, e .6uJt­ge uma oJt..<..entaç5o c...<..entI.ó..<..c.a paJta a .6olu­ç50 do pJto blema da no.6.6 a nac.lonaLúiade, amea-:

çada 4e de.6baJtato pelo ac.~mulo ex c. e.6.6"<"v o

de male.6 c.uJtã.ve..<...6, ev..<..tâ.ve..<...6, e jamal.6 c.u­Jtado.6 ou ev..<..tado.6 - pOJtque .6empJte ..<..gnoJta­do.6, quando não c.Jt..<..mlno.6amente negado.6."ll

15

A posição de Lobato nesta campanha revela uma mudariça

expres~iva de sua atitude quanto ao campones brasileiro. Agora

o r~u passa a vítima.

A campanha tem grande projeçio, alcançando segm~ntos

expr~ssivos da sociedade.

"A altlte.me.t.-lda de. Lobato contlta 0.6 ba.e.ualtte..6

da pa.6mace..-llta nac.-lona.e., ao .6e.Ite.m e..6tampa­

da.6 ·pe..e.a plt.-lme..-llta ve.z na.6 co.e.una.6 d'O E.6ta

do de sio Paulo, áaze.ndo e.co c~m a.6 do pa­

.e.ad.-lno do .6ane.ame.nto, VIt. Be..e..-l.6ilt.-lo Pe.na,

nOltam 'como que. a.e.avanca.6 que. no.6 de..6.e.oca­

Itam do e.ne.ltvante. e..6tado de. apat.-la e.m que. • -r ",12 jaz-<..amo.6

Pouco tempo depois do início desta campanha, Lobato'

compra a Re.v.-l.6ta do Blta.6.-l.e. de JGlio Mesquita. Na empreitada

ele usa parte do capital obtido na venda das fazendas. Essa ati

tude ~ importantíssiva na definição de sua vida. Ainda no mes­

mo ano de 1918 ele edita UItUp~.6, uma coletinea de contos e tex-

tos capitaneada pelo artigo homônimo de anos antes. o sucesso

.do livro ~ estr~ndoso. A primeira edição esgota com apenas um

m~s de circulação. No início de 1919 Rui Barbosa, que fora pr~

terido em sua Gltima tentativa de alçar-se à presid~nciada re­

pGblica, "plt~áe.lt.-la .6ua .6~gunda ·conáe.lt~nc.-la .6oblte. a que..6tio .60-

c.-la.e. ••• E a cêle.blte. pa.e.e..6tlta que. come.ça com uma lte.áe.lt~nc.-la ao . 13

Je.ca Tatu de. Monte.llto Lobato." A citação tem impacto, "0 . .e..-l-

VItO a.6.6anhou a taba,,14, dirá o autor meses após.

Em pouco tempo Lobato se converte em editor de grande

sucesso, modifica o panorama editorial brasileiro, àquela 6poca

16

frágil c dependente. Suas concepçoes sao arrojadas, buscando a

popularização, a modernização dos processos de fabricação, v~ o

livro como artigo de consumo.

"Me..ltc.adolt'<"a e..le.. d'<"z - que.. .6Ô d'<".6põe.. de.. qu~

Ite..nta ponto.6 de.. ve..nda e...6tã c.onde..nada a nun

c.a te..1t pe...60 noc.om~ltc..<..o de.. uma naç~o. Te..-

mo.6 que.. mudalt, 6aze..ndo uma e..xpe..lt.<..ênc..<..a e..m

gltande.. e...6c.ala, te..ntando a ve..nda do l.<..vlto

no .paZ.6 .<..nte...<..lto, e..m qualque..1t bal~~o e..

ape..na.6 e..m l'<"vltalt'<"a.,,15

-nao

o editor Monteiro Lobato revoluciona o.mercad6 edito-

rial, stia noção primitiva ~ que o livro, antes 'de tudo, ~ uma

mercadoria. Ele dessacraliza o livro, considera-o um produto " i!!.

dustrial. Buscando ampliar o número de postos de venda ele en­

Vla a seguinte carta a donos de pequenos comércios no interior:

"Vo.6.6a Se..l'l.holt.<..a te..m .6e..u ne..gôc..<..o montado, e..

quanto ma.<...6 c.o'<".6a.6 ve..nde..lt, ma.<..olt .6e..ltã o lu

c.lto. Que..1t ve..l'l.de..1t tamb~m uma c.o.<...6a c.hamada

'l.<..vlto'? V~Sa. n~o plte..c.'<".6a '<"l'l.te...<..ltalt-.6e.. ~o -que.. e...6.6a c.o.<...6a e... Tltata-.6e.. de.. um altt'<"go

c.ome..hc..<..al c.omo qu~lque..1t outltO, batata, qU!

ItO.6e..ne.. ou bac.alhau. E c.omo V.Sa. Ite..c.e..be..ltã

e...6.6 e.. altt.<..g o e..m. c,o n.6.<..g naç~o, n~o pe..ltde..Jtã c.o!:

.6a alguma no que..pltopomo.6. Se.. ve..l'l.de..1t 0.6

ta.<...6 'l.<..vlto.6', te..ltã uma c.om.<...6.6~o de.. 30%;.6e..

n~o ve..l'l.dê-lo.6, no-lo.6 de..volve..ltã pe..lo C.OIt­Ite...<..o, c.om o pbltte.. pOIt nO.6.6a c.onta. Re...6pon­da .6e.. topa ou n~o topa.,,16

"0 oU.6ado e..d.<..tolt Ite..voluc..<..onava o c.omeltc..<..o da.

.<..nte..l.<..gêl'l.c..<..a, mO.6tltando, c.om ge..ne..ltal.<..zado

e...6pal'l.to, que.. o l.<..vlto pod.<..a .6e..1t l'<"do pOIt t~

da ge..nte.. e.. v~nd'<"do e..m qualque..1t paltte.., at~ .,,17 me...6mo e..m açougue...6.

17

Com esse espIritq, ap6s alguns ensaios na Revi~ta do

'B~a~il, sai a primeira edição de A ,Menina do Naniz AnnebLtado,

com 50.500 exemplares. ~ também por força desta concepção e da

excelente acolhida do público que Unupê~ chega aos 110.000exem

pIares em dois anos e meio de edição. Lobato era um editor mo­

derno. Sua editora, a Monteiro Lobato e Cia~, acaba falindo em

pleno 1924, ano de revolução, estiagem e problemas graves naeco

nomia paulista. O escritor nao desi~te, abrindo a Cia. Editora

Nacional em 1925.

Durante a presid~ncia de Washington Luis, ele obtem a

função de adido comercial em Nova Iorque, assumindo em 1927. A

viv~ncia nesta cidade, tem profundo impacto em nosso autor, tele

mesmo .quem diz: " ... i~~o aqui ê o rnan do ,peixe Lobato. ,,18 O

que mais o impressiona ,é a mocie'rnização do processo produtivo,

é o fordismo, a metalurgia, o dinaplismo daquela sociedade. Ele

retorna em 1930 bem modificado. Em uma carta ao confidente Ran

gel ele afirma: "O que nao e~a po~~Zvel fiazen aqui ~e houve~~e

rnai~ cornp~een~ão, rnai~ cultuna univen~al, rnai~ ciência,mai~ efi{

ciência. ,,19- A volta de Lobato ao Brasil vem acompanhada de fru~

tação e d~rrotas, ele perdera todo o seu capital na quebra da

bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929. Vende sua parte na

Cia~ Editora Nacional e limita-se is funções de escritor e tra-

dutor.

Na poIItica" Lobato defende a tese de que há petr6leo

no Brasil e de que sua exploração deva ser realizada pela ini-

ciativa privada; e ele, como outros grupos, monta uma companhia.

Como os d~mais empreendimentos nesse campo, a experi~ncia de

18

Lobato é um retumbante fracasso. O escritor responsabiliza a p~

lítica entreguista do Governo no setor. Em 1936 ele lança O E~

eindalo do Pet~6leo, den~nciando a atitude do Governo Vargas.

A política de cooptação dos intelecutais levada a ca­

bo por Getúlio no início do Estado Novo acaba por bater à sua

porta. A ele é oferecido um posto significativo para a propa­

gandado governo. Lobato declina. Em 1941 o escritor é preso,

como ji tinham sido outros intelectuais revoltosos tom relação

à política estado-novista.

Nos anos 40 Lobato ingressa sem maiores envolvimentos

no PCB, colaborando com textos e apoios públicos às campanhas e

atos comunistas. Seu empenho é significativo e sua aproximação

ao PCB e a seus membros o leva a fundar a Editora Brasiliense

juntamente com Caio Prado Júnior. Seus títulos passam da Cia.

Editora Nacional a esta última, q~e ainda hoje reedita,com enor

me sucesso, os inúmeros volumes infantis do escritor.

Embora objeto de feroz crítica cqnservadora desde os

anos 30, que o apontava como comunista, malgrado sua aproxima­

çao ao PCB no fim da vida, Lobato sempre foi um liberal que tra

zia um projeto de modernização para a sociedade brasileira. Tal

programa, inviabilizado hi tempos pelo conservadori~mo oligir­

quico, pelo estado-novis~o e pelo controle econômico dos gran­

des monop6lios internacionais, não foi apenas o projeto do Loba

to. Ele foi a proposta de um grupo social definido que atuóu

de forma orgânica na política paulista, muito embora de organi­

cidade frigi 1 e de consist~ncia social débil, o qual seri anali

sado mais adiante.

19

3. O· stTIO DO PICA-PAU AMARELO E A CI,ENCIA

3.1 O PJLoble.ma.

Em uma primeira'anitise dos textos infantis de Loba­

to, sobressai o cariter unitirio da obra. São'os mesmos perso­

nagens e é o mesmo núcleo dinâmico que conduz aos acontecimen-

tos (salvo algumas exceç6es). Os temas são muito variados: via

gens no tempo e no es~aço, gramitica, aritm~tic~, cultura popu­

lar, fibu1as c1issicas, Peter-Pa~, D. Quixo~e e uma infinidade

de outros. Os personagens possuem as mesmas características bisi

cas, D. Benta, a proprietiria do sítio e av6 de Narizinho e de

Pedrinho, fornece equilíbrio ~s hist6rias. Juíza dos aconteci­

mentos, ela os administra com bom-senso e .cu1tura. Tia Nastácia

é a cozinheira negra que traz ~i hist6rias muitos elementos da

cultura popular, ela é eternamente fustigada pela Emília. Nari-

zinho e Pedrinho sao os principais condutores das aventuras, en . " carnando a femininidade e a masculinidade infantil. Emília, ori

gina1mente uma boneca de Narizinho, ela também condutora de al­

gumas aventuras, faz a personagem autoritiria, egoísta,' irreve-

rente e malcriada. O Visconde de Sabugosa é o sibio do grupo.

Os demais personagens t~m uma participação epis6dica. Rabic6-

o porco comilão -, Quindim - o rinoceronte -, o Burro Falante

se ausentam na maioria dos livros.

Um exame mai~ apurado dos textos, feito em ordem cro­

no16gica, revela uma diversidade e uma evolução sensível na for

ma 1iteriria com que os temas são tratados. Revela também, uma

evolução notive1 no papel desempenhado pelos personagens e até

20

em traços essenciais da personalidade de alguns deles. Nos pri-...

meiros textos, Pedrinho e o menino da cidade, com endereço de fi

nido, que chega de férias ao sítio. Sua participação nas aven­

turas tem começo e fim. Nos últimos livros, ele é o menino do ... .

Sltl0, para quem tudo se limita ao que faz junto a Narizinho e

os outros. Emília,no início, é boneca de macela que não fala

nem se locomove; pouco após, vira "g en.til1ha." sem 'que ninguém pe!.

ceba.

A evolução que importa estudar nQ presente trabalho é

aquela da visão científica.

A cultura, o saber e a ciência participam de forma re

levante no dbsenrolar dos acontecimentos. Ora são temas especí

ficos das estórias, ora são tema,s marginais; contudo, sempre pre

sentes. O que chama atenção é o fato de que o autor sempre di

importância a este gênero de assunto. Assim, provisoriamente, a

visão científica será o conteúdo da valoração, implíci t,a ou ex­

. plícita no texto, feita ao saber. Será a resposta que Monteiro

Lobato dá em seus escritos ~ pergunta: o que a ciência ~ o sa­

ber representam no Sítio? Ou melhor, qual papel está reservado

ã ciência nas aventuras?

A visão científica de Lobato evolui claramente ao lon

go do tempo. Perceber a diferença é muito fácil; basta exami­

nar um dos primeiros textos - Reinaç.õe.6 de Na.ll..izinho - e um dos

últimos - O Poç.o do Vióeonde. A natureza dos temas tratados e

as relações entre os personagens se modifica intensamente.

21

Lobato criou um personagem cuja principal caracterís-

"tita ~ a sapi~ncia, ~ encarnar em si a ci~ncia. O visconde de

Sabugosa circula n"os textos, participa "~e quase todas as aventu

ras; ~ peça integrante e necessária dos acontecimentos.

ao seu destino está, em parte, a valoração que Lobato

Junto

faz da

ci~ncia e do saber em geral. Entretanto o Visconde não concen­

tra em si todas asexpressoes da visão científica de Lobato e de

sua evolução. Ela se e~palhapelos demais personagens,pela tra

ma, chega ao próprio narrador.

Com o intuito de facilitar a exposição, distinguir-se­

ao tr~s momentos do desenvolvimento da "v-tl.;,ão c.-te.n.t1ô-tc.a"." As

fronteiras cronológicas não são bem demarcadas, nem tampouco tais

fases estão isentas de portar alguris elem~ntos em comum.

tal classificação ~ essencial no presente trabalho.

Mas,

Ao primeiro momento denominou-se O "SABER INQTIL, econ

grega os primei~os textos infantis; tanto os publicados na Re.-

v-tl.;,ta do B~al.;,-tl, quanto aqueles publicados em separado entre

1920 e 1931/32. Note-se que este período ~ exatamente aquele

anterior i esta~a de Lobato 'em Nova Iorque, como já foi visto.

Nos livros desta ~poca - Re.-tn.aç5e.1.;, de."Na~-t~-tn.ho e O Sac.-t - o au

tor apresenta a cultura e o saber como dual, conflitante. Em

seu interior se confrontariam o novo e o velho consubstanci~dos

em uma ci~ncia prática, empreendedora contraposta a um saber acu

mulativo, bac~arelesco, retórico e inútil. -O Visconde e, antes

doe tudo, um chô"to, um desmancha-prazeres. O Saci cr i tica veemen

temente a civilização moderna. Os cientistas tradicionais sao

postos como contemplativos e rabujentos.

22

o segundo momento, o do SA~ER UTIL, esti bem caracte­

rizado nos textos publicados entre 1932/33 e 1940, aproximada­

mente. Estes são os· anos em que Lobato se poe na luta pela ex­

ploração do petr6leo, em que ele mais produz seus textos infan­

tis. ~ o grosso dos seus trabalhos, cerca de quinze obras cu­

jos pr6prios títulos ji são significativos: EmZlia no PaZ~ da

G~am~tiea, Hi~t5~ia da~ Invenç5e~, A~itm~tiea da .EmZlia, O Poço

do Vi~eonde, A Re6o~ma da Natu~eza, ~iog~a6ia de V. Benta, en­

tre outros. A visão científica desta fase é diametralmente opo~

·tai anterior. Lobato registra a import~n~ia da engenhosidade

científica. Ele fica euf6rico com as realizações técnicas da

civilização, o sabet é valorizado. Mesmo a erudição tem seu lu'

gar no terreno das realizações humanas. e a redenção da humani

dade pela ciência.

o terceiro momento, o do SABER MALVERSAVO, contém os

textos do fim da vida de Lobato, de 1942 a 1947. E o período

posterior i prisão, ele reúne A Chave do Tamanho, O~ Vo·ze T~aba

. lho~ de H~~eule~ e outros menores. Entretanto, ele é muito siK

nificativo.· Nestes textos o autor registra a distorção da ciên

cia pela.çivilização. Ele se apresenta decepcionado com a huma

nidade. Em parte, principalmente em O~ Voze T~abalho~ de H~~eu

le~i o Visconde volta a assumir algumas de suas características

da primeira fase; ele volta' a ser um avoado e distraído sibio.

Antes de passarmos diretamente i caracterização deta-,

lhada dos três momentos, é impo~tante assinalar que Lobato rear.

rumava seus livros a cada nova edição. Essa pritica introduz

um complic~dor expressivo no presente estudo, ji que a altera-

23

çao do texto original pode subtrair passagens importantes ou

acresce"ntar outras extemporaneamente. Entretanto, considerou­

se qué essas"alteraç6es não modificaram substancialmente ostex

tos. Essa conclusão foi obtida a partir de uma comparaçao en­

treduas ediç6es de O"Saei, a 19!de 1967 e a 4! de 1932 dispo­

nível na Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro.

3."2 O Sab"eJL r néi..til

Nas Reinaçõe~ de NaJLizinho estão recolhidos os primei

ros textos de Loba to. " ~ um conj unto de publicaç6es que remon­

tam ao começo dos anos vinte, no qual o autor testa e ensaia a

forma literária de seus escritos. Nestes" trabalhos podem ser oQ.

servadas passagens célebres adaptadas e estrutura típicas de Ca!.

rolI, Grimm, Perrault e outros. Não contente comisso, Lobato

faz entrar na sua obra algyns personagens deest6rias tradicio­

nais. Aqui começa a aparecer uma contraposição que vai caracte

rizar o primeiro momento que a visão de ci~ncia e de cul tura vai

assumir.

Nos escritos desta fase vai se apresentar uma concep­

çao singular da ci~ncia e dos cientistas. O saber acumulado p~

la humanidade é caracterizado como inútil, intrinsecamente inú-

til.

Logo no primeiro te~to a O. Carochinha invade uma fés

ta procurando o Pequeno Polegar que teria fugido de suas est6-

rias. Ela afirma:

" tenho notado que muLto~ do~ peJL~ onag én~

24

de m'J..nha.6 hJ...6:tôJtJ..a.6 j ã. andam aboJtJtewo.6 de vJ..veJtem ~oda a vida pJte.6O.6 den~Jto dela.6.

QueJtem novJ..dade.6. Falam em cOJtJteJt mundo a 6J..m de .6e me~eJtem em nova.6 aven~uJta.6. Ala­

dJ..no queJ..xa-.6e de que .6ua lâmpada manavJ..­

lho.6a e.6~ã. en6eJtJtujando. A Bela AdoJtm~cJ..-

,d~ ~em vontade de e.6pe~aJt o dedo noutJta 11.0

.6a paJta doJtmJ..Jt outJtO.6 cem ano.6. O Gato de Bo~a.6 bJtJ..gou com o MaJtquê..6 de CaJtabM e queJt J..Jt paJta 0.6 E.6~ado.6 UnJ..do.6 vJ...6J..~aJt o ~ato'

F êlJ..x. BJtanc.a de. N ev e vJ..ve 6 a,lando em tJ..!:!:.

iJ..Jt 0.6 cabelo.6 de pJteto e bo~aJt Jtuge na ca Jta. Andam todo.6 Jtevol~ado.6, dando-me um ~Jtabalhão pa'Jta con~ê.-lo.6.,,20

Mais adiante, em uma briga com' Narizinho a menina afir

ma: "Velha cOJtoca ê vO.6mecê.~ e ~ão J..mplJ..cante que nJ..nquêm maJ...6

queJt .6abeJt de.6ua.6 hJ...6tôJtJ..a.6 emboloJtada.6.,,21 O significado de,?

ta valoração é claro: "e.6tôJtJ..a.6 da, CaJtochJ..nha" ê a denominação ~ .

generlca para a literatura infantil tradicional, originada de

adaptaç6es de contos muito antigos~ de fadas e de príncipes, g~

ralmente de origem medieval. A'revolta dbs personagens apreseg

,ta endereço certo. Querem novidades, querem o Gato Félix, ru­

ge, lutam para se livrar da ferrugem. Querem o novo.

A D. Carochinh~ vem ao leitor como uma barata, um bi-

cho seco e repugnante, que cumpre ·0 papel disciplin8:dor de im­

por aos personagens antigos a velha rotina de suas estórias.

Este caso com a D. Carochinha se estende, e Pedrinho,

recém-chegado ao sítio, 'se mete na briga: "Se PolegalL 6ugJ..u' ê

qUL a hJ...6~ôJtJ..a e.6tã. ~mboloJtada. Se a hJ...6tôJtJ..a e.6tã. emboloJtada,

,temo.6 que bo~ã.-la 60Jta e compal!. outJta. ,,22 A utilização deste

2S

adjetivo embolorado é expressiva; veremos mais adiante suas

,'outras aparições. O bolor,sinal de coisa velha, estampado com

clareza nas e~t6ria~ infantis tradicio~ais, expõe a posiçio do

autor em meio i blpolaridade que ele pr6prio caracterizou. Afi­

nal a coisa velha tem de ser posta fora e substituída por outra,

a coisa nova. Este contraponto - velho x novo - será melhor ca

racterizado com o surgimento e a atuaçio do Visconde de Sabugo-

sa.

O "Ltu.óttr..e. .óabug o" é fei tope las maos de Pedrinho, com

o intuito de pregar urna peça na Emília. Seu ar de distinçio, a

cartola e a resp~itabilidade surgem sem-maiores complica~ões p~

ra levar Emília ao casamento com o repugnante e glutio Rabic6 (o

porco comilio e covarde). Sua singularid~de, porém, constr6i-se

no decorrer das aventuras.

"E.óte. .óe.nhotr.. Vl.óeonde. ~ aetr..e..óee.ntou a me.nl­

na - e..ótâ. mudando de. 9 ê.nlo. Ve.pol.ó que. ealu dttr..â..ó da e..ótante. da Vov6 e. lá. 61~ou e..óque.­

cldo ttr..ê..ó .óe.mana.ó, e.mbolotr..ou e. de.u patr..a .ó~

blo: Patr..e.ee. que. ·o.ó llvtr..o.ó pe.gatr..am elê.nela

ne.le.. Fali dl61eZllmo! E.ó6 6Z.ólea ptr..a-, .., ". 23 qui, qu~mlea ptr..al~."

O bolor, que identifica a coisa que precisa ser joga­

da fora, passa a ser um traço esencial do personagem. Essa ca-

racterização do Visconde se completa com algumas outras passa-

gens nas quais o sabugo " ... limpa o plgatr..tr..o e. de.lta .óabe.dotr..la"

dizendo os nomes científicos dos animais. ~ dito que ele " ê um .óâ.blo, .óO que.tr.. .óabe.tr.. de. llvtr..o-ó. Ba.óta e.n61â.-lo numa e..ótan

te.. ,,24 Aos sábios, os livros; as aventuras nio lhes interessam.

26

Hi ainda outras passagens numerbsas, nas quais as ca­

racterísticas do sibio se apresentam completamente inúteis no

decorrer da aventura', às vezes contrariando a expectativa dos

demais personagens. "Eu ac.ho que. o .6e.nholt Vi.6c.onde. e: um pe.Jt6e.i

~o pale.ltma",25 diz Pedrinho num caso em que o Visconde fica ten

tando descobrir o nome científico de uma barata - "uma Balabetta

ou uma Stylopiga?" - ao inv~s de avisi-Io da chegada das forças

do Príncipe que salvariam Rabicó das mãos de um polvo. Nesta fa

se, a valoração que os demais personagens f~zem do sibio-sabugo

, ~ predominantemente depreciativa: "o no.6.6O 'Vi.6c.onde. já andava

me.io maluc.o c.om .6ua.6 mania.6 de. .6ábio. Fic.ou t~o c.ie.ntZ6ic.o que.

ningue.m mai.6 o e.ntendia. Só 6alava e.m latim, imagine.! ,,26 A ciên

~ia ~aquela coisa incompreensível que não serve para nada.

A Emília, que 6 uma i~placivel fustigadora do sibio,

sugere: "Tia Na.6tác.ia anda plte.c.i.6~ndo de. um pil~ozinho de. .6oc.att

.6al. Boa oc.a.6i~o palta vittaJt o Vi.6c.onde. e.m pil~o! Ao me.no.6 6i­

c.a ~e.Jtvindo palta alguma c.oi.6a.,,27

:r"i pelas tantas ,o sibio tem um ataque. Para salvi-Io

vem o famoso Dr. Caramujo e sentencia: "Sua e.xc.e.lênc.ia e..6tá e.m-28

pan~uJtJtado de.' álge.blt"a e. outlta.6 c.iênc.ia.6 ampal1tultltante..6." O no

tivel ~ que o excesso de ciência faz mal, produz um ataque ca­

paz de fulminar o sibio. ~le opera o Visconde e "c.ome.ça a ti-

1 1- d o -I- •.• -I-~1' ,,29 Italt palta u0lta ~o a aque.~a ~Jtal1que.~Jta c.~e.n~~u~c.a. "E.6tou ti-

Itando .6Ó o que. e: álbeqtta. Álbe.bJta e: piolt que. jabutic.aba c.omc.a

ItOÇO palta e.ntupiJt um 61te.guê.6",30 diz o doutor. Ao término da

operação Narizinho declara: "Eu be.m digo que. e. muito p e.Jtig 0.6 (J

le.Jt c.e.JttO.6. livlto.6. O.6únic.o.6 que. não 6aze.m mal .6ão 06 quetêJ!. cü!i

27

logo.6 e 6iguJta.6engJtaçada.6.,,30 Não çontente com o fato de ter

feito o p~bre sábio sofrer um ataque, Lobato adverte que os li­

vros que não têm diálogos e figuras são perigosos. Ele se refe

re diretamente aos livros da cultura erudita, romances, litera-

tura t~cnica e geral. Assim, a ciência, o sa~er, são nao ape­

nas inúteis mas prejudiciais; fazem mal às crianças.

A operaçao tem efeito breve. O sábio travestido em

palhaço estraga a apresentação do circo de ~scavalhinhos porque

el? "havia cUJtado, ma.6nio havid cuJtado co~pletamente. VeixaJta

em .6ua baJtJtiga alguma.6 letJta.6 paJta .6 emente e 60i o ba.6tante pa­

Jta que a 6e.6ta de PedJtinho acaba.6.6e naquele 6ia.6co.Não há na-o

da mai.6 peJtigo.6o que. . .6emente.6 de ci·ê.ncia ..• ,,31

Há uma passagem na qpal o pobre sábio desempenha um

papel importante. :E o desvendamento da condição de vigarista de . .

um gato vagabundo que se faz pass~r pelo· Gato F~lix. Contudo,

Lobato tenta matá-lo três vezes durante o livro; o Visconde aca

ba voltando cada vez mais sábio e embolorado. Na última tenta-

tiva, ele consegue. O sab~go termina o livro com toda a sua sa

bedoria carregando uma canastra da Emília sem maiores participa

çoes. Morre esquecido, preso à crina do burro falante, comido

pelos peixes.

Em diversas passagens do texto, Lobato faz paródia de

expressões, contos e livros da cultura clássica. "Um .6iJti, meu

Jteino poJt um .6iJti",35 'grita o príncipe escamado. Descrevendo a

casa do Visconde:

"f.,eJtvia de me~a um li~Jto de capa de cou.-Jto· chamado· 'O Banqu.ete', ef., cJtito pOJt um tal.

28

Pla:tão que. vive.u an:tigame.n:te. na GJtécia e. de. via te.Jt ~ido'um gJtande. gulo~o. A cama e.Jta

60Amada pOJt um e.xe.~plaJt da Encic.lopédia do

R~~o.e.da Galho6a; um livJto mui:toan:tigo e. danado paJta daJt ~ono.,,35

Aladim, no circo, comenta sobre o João Faz de Conta:

"E~~e. e. que. é o ca,vale.,,[Jto da :tJti~:te. 6iguJtâ.." Suas criticas .. a

tultura tradicional, ao· saber cientifico sao predominantemente

desta. forma irônica , divertida, saborosa nos escri tos da prime.!.,

ra fase.

o Sac~, o segundo. livro infantil de Lobato, sai edita

do em 1921, um pouco ap6s a apariç~o dos primeiros textos das

Re.inaç~e.~ de. NaJtizinho. Diferentemente deste Gltimo, O Saci ... e

um texto uno e completo. ~ um livro no qual Lobato trata das

crenças populares, dos monstros da mata e das est6rias fantásti

c~s do interior.

o Visconde e a Emi1ia pratiiamente nao participam dos

acontecimentos. As aventuras se" desenvolvem em um ambiente meio

fantástico; começando num clima meio indefinido entre o sonho e

e'arealidade - no mesmo esquema, de trechos das Re.inaçõe.~. No

que diz respeito ã visão científica, têm mais importância osdi~.

logos entre Pedrinho e o Saci, e a ação do pequeno perneta; re­

solvendo os diversos problemas com engenhos idade e com recursos

da pr6pria floresta. g o confronto entre a civilização e a Vl-

da selvagem da mata que conduz ã noção do SABER INGTIL, ...

em ana-

lise.

29

. No inIcio do texto, Labato vai aos poucos mostrando a

imensa admiração de Pedrinho com as coisas da vida no interior.

O espanto com as est6rias do Tio Barnab~, a admiração com a in­

cubação dos futuros sacis, o medo da onça e a ignorincia dos fa

tos mais corriqueiros da selva. fazem de Pedrinho um bobo,um in

defeso naquel~ ambiente fabuloso e ordenado. ~ Aos poucos a crl-

tiça de Lobato se estende, vai do menino da cidade à humanidade

como um todo: "Um men.ino da. c..idade, 'c.omo voc.e, entende ta.nto da

natu~eza c.omo eu entendo de g~ego",36 e poutaslinhas abaixo:

, "Bem c.on-6.ide~ada-6 0..-6 c.oL6a-6, Ped~.inho, pa~~c.e que não há an.imaR.

ma.i-6 e-6t~p.ido e le~do pa~a ap~ende~ do que o homem.,,37

·0 menino responde:'I'Sõ o homem tem .intel.igê.nc..ia~ Só ele

Ao que

-6abe·

c.on~t4u.i~ c.a-6a-6 de todo o je.ito, e m~qu.in~-6, ponte-6, e ae~opla-

• -I- d -I- 'h-" 38 nO-6, e ~U o qual1~o a.

Neste ponto, o autor passa a tratar explicitamente dos

temas civilizat6rios. são dois capItulos signficativamente cha

mado's de "V.i-6c.u-6-6õe-6" e "Nova-6 V.i-6c.u-6-6õe-6"'. O primeiro começa

com o Saci respondendo ao programa defensivo de Pedrinho ponto

a ponto: "Qu.e gabol.ic.e! Ca-6a-6? Qual ê. o b.ic.h.inho que rUlO c.on-ó-

- . - ,,39 - - -t~o.i -6ua c.a-6a na pe6e-<.ç.ao? "Av.ioe-6! Po.i-6 nao ve que o av.iao

ê a ma.i-6 ~t~a-6ada máqu.ina de voa~ que ex.i-6te? Aqu.i 0-6 b.ic.lún.hc-ó

de a-6a-6 e-6tão de tal modo adlantado-6 que nenhum p~ec..i-6a de mon-6

t~engo-6 c.omo o tal av.ião.,,40 Acuado, o menino responde: "

ma-6 nO-6 -6abemo-6 ~e~ e voc.ê.-6 não -6abem.,,40 O Saci, sem dar fBle­

go ao adversirio, contra-ataca: "Le~? E pa~a que .óe~ve le~?Se

o homem ê. a ma.i-6 boba da-6 c.~.iatu~a.ó, de que ad.ianta .óabe~ le~?

Que ê. le~? Le~ ê. um je.ito de -6abe~ o que '0-6 out~O.6 pen-6a~am.

30

42 Ma.b de .que a.dia.nta. a. um bobo ba.bvi. o que outll.O bobo penbou?"

:0 ~aci-Lobato esmaga o menino-Civilização, argumentando de ma­

neira irrefutivel; ·"Ba.bta. que entll.e VOC~b exibta. ibbO que eleb

cha.ma.m guell.ll.a., pa.ll.a. que beja.m ela.bbi6iea.dob eomo a.b

ma.ib ebtúpida.b que exibtem. ,,43

o debate prossegue. -O Saci argumenta de forma pragm~

tica obtendo o assentim~nto do menino:

"O que digo e que eleb ba.O bell.eb a.tll.a.ba.dlb­

.bimob - t~o ~tll.a.ba.dob que a.inda. pll.eeiba.m

a.pll.endell. ~Oll. bi mebmo. E ~5b bomob bell.eb

~peIl.6eiçoa.dlbbimob, pOll.qu~ j~ n~o pll.eeiba.­mOb a.pitendell. eo,üa.' nenhuma.. J~ na..6eemOb. ba.

bidob •. Que ê. que voe~ pll.e.6ell.ia.: tell.na.bei

do j~ eom to"da. a. ei~neia. da. vida. l~ den..ttLo,

ou tell. de. ill. a.pll.e.ndendo tudo eom o maioll. U . 44

60ll.ço e a. eUbta. de muitob eIl.1l.0b?"

Em realidade, nao apenas o rumo das discussões indica

a correçao das posições do Saci, mas tamb~m o conjunt6 da trama

aponta com clareza a inf~rioriàade dos homens. ~ o Saci quem e~

contra as soluções, que salva Narizinho do encantamento da Cuca.

~ possIvel estender esses exemplos at~ o esgotamento.

Nos primeiros volumes de seu trabalho, a visão científica que L~.

bato registra, expressa-se como um saber que, se não ~ in0til,

atrapalha ~u ~ marginal. Nesses escritos, que são do começo dos

anos vinte, a ciência e o saber são caricaturados como coisas

~em graça, invariavelmente chatas. São ainda vinculadas ao Ve­

lho, is coisas emboloradas, impedem ou limitam a inventividade

e a brincadeira que, no universo ficcional, são a razão de ser

das aventuras. O ba.be.1l. e o vilhosao os desmancha-prazeres. O

31

curioso é que eles sempre se apresentam, e sempre se conflitam

. com o nova e com o alegre ato de se realizar nO sonho e na fan­

tasia.

3.3 O Sabe~ Qtil

Os textos dest~ fase sao o grosso, numericamente fa-.

lando., da produção de Lobato. O próprio conteúdo das obras dá

uma noçao bastante aproxim~da da visão de cultuTa cara~terfsii­

ca desta fase. Aqui o saber é posto numa posição nobre nos tex

tOSi A maioria se compoe de paradiditi~os como Han~ Staden,'Em!

lia no PaZ~ da G~am~tica, Ge6g~a6~a de V. Benta, Se~5e~ de V.

Benta, Hi~tõ~iada~ rnvençõe~.São também textos adaptados co­

mo Pete~- ~an, H.·ütô~ia do Mundo pa~a C~iança~, V. Quixote da~

C~iança.~. .Embora sugestivos, esses tftulos e essas t~máticas

não formarão o fundamento da caracterização desta fase. Esse

trabalho se fará a partir do~ origina{s de Lobato, nos quais ele

exerce plenamente e de forma autêntica sua criatividade.

A Re6o~ma da Natu~eza é, sem dúvida, o texto exemplar.

Ele se desenvolve estruturalmente em duas partes: na primeira

Emflia faz uma reforma nas plantas e bicho~ do sftio. Na segu~

da é o Visconde quem orienta as açoes. A'contraposição é dada,

as reformas da Emflia são todas ou quase todas - defeitas por

força dos argumentos de n".· Benta; as do Visconde, não. Elas vi­

ram objeto de curiosidade de sábios e vão parar em museus e ja~

dins zoológicos. Examinemos mais de perto as caracterfsticas des

sas duas reformas.

32

A obra da Emflia começa a partir da fibula de um cer­

to América Pisca-Pisca. Ele considera que a natureza só fazia

tolices, colocava frutas pequenas numa enorme jabuticabeira e

abóboras em plantas rasteiras. A moral da fibula se apresenta

quando o América dorme' sob um pé de jabuticaba e acorda com a

queda de urna fruta no nariz. Aliis, a troca da jabuticaba pela

abóbora foi urna das reformas que a Emflia fez.

Emília nao faria tudo sozinha. Assim, na chegada de

sua companheira reformadora, a boneca sai afirmando: "Adofl..o vo-

- ,~ - 45 c.e., Rar , pOfl..que. voc.e. nao c.onc.ofl..da."· Com o que esta responde:

"Ah! N~o c.onc.ofl..do me.~mo! - e.xc.lamou a fl..~zinha. Vivo n~o c.onc.ofl..-,

dando. Em n5~, ge.nte. pOfl.. e.xe.mplo, quanta c.oi~a e.fl..fl..ada! POfl.. que.

doi~ olho~ na ólLe.nte. e. ne.nhum na nuc.a? E!1,' ~ e. á o~~ e. ILe.Ó OlLmalL a~ . 46

c.fl..iatufl..a~, punha ~m olho na te~ta e. outlLO na nuc.a.~ As refor

mas são caracterizadas por Lobato como inteiramente arbitririas

ou, no miximo, subordinadas a um objetivo circunscrito.

Emflia atua com inteira liberdade, começa fazendo um

passarinho-ninho: um tico-tico com as cost~s afundadas para le­

var consigo os ovos e assim protegê-los das cobras, dos ventos

e da chuva. Com toda naturalidade, a menina-boneca afirma: "N~o

que.fl..O ~abe.1L de. e.nóe.ite.~ ·na~ minha~ fl..e.6ofl..ma~. Tudo há de. te.fl.. uma

fl..azao c.ie.n:tZ6ic..a.,,47 Ela prossegúe reformando as laranjas, fa-

zendo-as crescerem sem casca; ela ataca também a vaca, pondo o

rabo no meio das costas para que possa espantar as moscas no co!,

po inteiro, pôs torneirinhas no lugar das tetas, etc ... Fez das

borboletas bichos pegiveis para poder completar sua coleção. Ti ra as asas das moscas, pois alai são infiteis a incômodas. Muda

33

o pulo das pulgas para ficar mais fácil apanhá-las.

A primeira parte do livro, como dissemos, se encerra

com a Emília desfazendo tudo sob a argumentação paciente de D.

Benta. A boa velha p-arte do princípio de que "A na:tull.e.za - .6abe.

o qu,e. 6az", 48 falando coisas do tipo: " ... a.6 6Il.u:ta.6 nã.o e.xi.6-

. h- ~ 49 :t-tam pall.a que no.6 a.6 apan a.6.6e.mo.6 e. c..ome..6.6e.mo.6" e leva a pe-

quena reformadora a desfazer suas mudanças.

A segUnda parte é antitética, em quase tudo, ã primei

ra. Ela começa quando o Visconde e o resto das pessoas voltam

da Europa. O sabuguinho vem mais sábio que nunca com as coisas

que aprendeu por lá. Ele volta entusiasmado com a fisiol~gia.

O saber que o Vi~conde adquiriu Vai empolgar também a

Emília e assim, eles montam um pequeno laboratório. O microscó

pi.ovem de um binóculo de D. Bent~ com "um c..a.ldinho de. glândula

50 6az-de.-c..on:ta." O bisturi é uma gilete, o resto são agulhas,

al~inetes, algodão e iodo. As experi~ncias do, Visconde Vão se

sucedendo: "e. de.poi.6 de. de..6c..obe.ll.:ta.6 a.6 glâ,ndula.6, 6ize.ll.am Il.e.me.-

xime.n:to.6 v~ll.io.6, e.mpa.6:te.lavam uma.6, mi.6:tUll.avam ou:tll.a.6, ou e.nxell.

:tavam a.6 glândula.6 de. uma.6 nOll.miga.6 na.6 ou:tll.a.6, pall.a dobll.all. a

60 Il. ç.a • ,,51 g notáve 1 que, nes ta parte, o texto perdoa até os co~

plicados nomes-das ci~ncias. "EndQc..ll.inologi.6:ta e. o nome. do.6 .6~­

bio.6 que. e..6:tudam a.6 glâ.n_dula.6 do c..Oll.po. O nome. ê. 6 e.io, c..ompll.i...,

do e. di{<..c..il, m~6 a c..oi.6a ê. boa." 52 g um sal to brusco com re­

lação ao tratamento que Lobato dá ao saber nos primeiros textos.

são visões da ci~ncia completamente diferentes.

34

Os resultados do trabalho do Visconde logo logo se fi

_ zeram notar. Em diversas parte do país foram vistas coisas pr~

tas enormes, minh6c~s gigantescas, mon~tros irreconhecíveis. »O~

~ãbio~ m06tKanam-~~ intnigadZ~~imo~; não ~ab~m eomo expliean o

~ »53 -~~tnanho 6 enomeno. Uma comissão de sabios, chefiada pelo Dr.

Z nh f » -b' b b d~ . d - o • »54 . . ame o, um ~a «-o an u -<..~~-<..mo e oeu-t-o~ no nan-<..z, V1Sl ta o

sítio. A recepção a este cientista e a reaçao ao que ele v~ -e

completame~te diferente'do q~e ocorre com a outra comissão que

vai ab sítio na Viagem ao céu (ver mais adiante). Agora o Dr.

Zamenhof se integra perfeitamente, mesmo após alguns sustos: "M~

nuto~ depoi~ e~t.ava de bnaç.o dado ao Vi~eonde, pa.6~eando, pela

~alci.. e ab~onvido numa pno6undZ~~ima eonvell..~a ~obne glândulM.r"SS

Concluindo o livro, Lobato faz ~om que o Dr. Zamenhof

reconheça e se assombre com as realizações do Visconde. »Sabe --

di~~e ~le ao Vi~eonde - que o eolega fiez a maion eoi~a que ain­

da 60i 6~ita no~ domZnio~ da ei~neia. Sabe que ne~olveu pnobl~

ma~ tnemendo~ e que daqui pon diante a ei~neia vai ba~ean-~en~

O Dr. se assombra com a

precariedade de. condições com que o sabugo trabalha: "Paneee-me

d~ todo impo~~lvel que eom e~t~~ nudimentanl~~imo~ neeun~o~ o

. d . o d . »57 V-<..~eon e eon~egu-<..~~e o~ ne~u-t-ta o~ que eon~egu-<..u.

Entre os diversos livros desta segunda fase se desta

ca ainda O 'Poç.o do Vi~eonde, no qual Lobato explicita um modelo

social para o. Brasil.

Trata-se de um livro-denúncia da atuação dos trustes

internacionais do petróleo e da subordinação da polItica oficial

a tais interesses. A "me.:tnalhadoJta giJtatõJtia» de Lobato acaba

35

apontando para os bancos~ para os c~ticos, enfim, n'O Poço ·do

Vi~conde ele faz uma de 'suas mais contundentes criticas sociais.

:E exatamente 'por esta razão que a concepção do SABER GTI L se põe

de forma evidente, conforme veremos mais adiante~

A estória começa com o interesse de Pedrinho pelo pe­

tróleo geran,do aulas ministradas pelo Visconde, num clima seme­

lhante ao dos textos paradidáticos. Nestá parte inicial exis-

tem passagen!? que, em si, não são muito significativas, mas são

importantissimas para estabelecer as diferenças com relação ãfa

se conseguinte. Por exemplo, o Visconde em um dado momento afir

ma:

"O 612.1l.f1.0 ê. a. ma.tê.ll.ia.- pll.ima. da. máquina., e o p! tll.õteo ê. a. ma.tê.ll.ia.-pll.ima. da. melholl. enell.gi~

que move a. máquina., E c.omo I.> Õ a. máquina. a~

menta. a. e6ic.i~nc.ia. do homem, o pll.oblema. do

BIl.a.l.>il ê. um hÓ: pll.oduzill. 6ell.Il.o e petll.õleo

pa.~a. c.om ele~ tell. a. máquina. que a.umenta.ll.á a. e6ic.i~nc.ia. do bll.a..6ileill.o,,,S8

Não pode haver dGvidas, Lobato trata com clareza meri

diana a máquina (a t~cnica, a ciência) como elemento positivo

no processo civilizatório, coisa que não aconteceu na fase ante

rior nem acontecerá na seguinte.

Transcorrido o primeiro' terço do livro, a· lógica das

aulas é interrompida. A exigência de todos é ação, e açao ime­

diata em busca do petróleo.' :E importante notar que issso não

ocorre em detrimento do saber ou da ciência, e sim no sent~do

de seu fortalecimento: são aulas práticas de identificação do

perfil geológico do sitio~ Tai~ aulas são ponteadas por afirma

36

59 çoes do tipo: "Que.m não .6abe. ê o me..6mo que. .6Vl. c.e.go", . ou "Que.

b h · N' . .. h ,,60 go,t0.60 e. .6a e.~, e.~n, a~~z~n o?

A caça ao petróleo é uma aventura na qual Lobato con­

centra grandes expectativas, procura-se "o ~oço de. pe.t~5le.o que.

vai:.6alva~ o B~a.6il.,,61 A salvaçio do Brasil seri operada por

um poço encoptrado com a ciência do Visconde e perfurado com té~

nicas sofisticadas. A ciência ocupa, nesta salvaçio, um papel

importantíss~mo: possibilita a redenção do País.

Neste quadro os sibios sao apresentados como os gran-,

des condutores da humanidade. Inquirido pela D. Benta, Mr. Cha~

pignon - um quíinico/geólogo vindo dos Estados Unidos - avalia o

Visconde como um sibio, " ... ma.6 um .6ã.bio de. ve.Jz.dade., de..6.6e.6 que

de..6c.ob~ein c.oi.6a.6 e. mudam 0.6 de.itino.6 da c.i~ilização.,,62

Os incrédulos, aqueles que nao.veem o enorme benefí­

cio que a ciê~cia pode trazer sio duramente punidos por Lobato.

O Coronel Teodorico, um fazendeiro das proximidades, comunica a

D. Benta o grande negócio que fez ao vender sua fazenda a expl~

radores de petróleo logo após a inauguraçio do poço salvador.

Justificando sua atitude, o Coronel afirma:

"Eu, a .6e.~ ve.~dadei~o, c.omad~e., ne.me.ntendo· ne.~ ac.~edito em nada de.6.6a.6 hi.6t5~ia.6. Sou

homem da ~oçd como me.u pai e. me.u av6, c~ia

do~e.6 de pO~CO.6 e. plan.:tadoJz.e..6 de. milho. Ve. c.iênc.ia não pe..6CO um xi.6, ne.m ac.~e.dito. Mi nha 6azenda não valia mai.6 de. .6e.te.nta mil c.~uzei~o.6. Pe.guei po~ e.la um milhão e. ~u­

ze.nto.6 mil c.~uzei~o.6. Que mai.6 podia e.u que.~e.~?" 6 3 .

3 7~

o Coronel vai ao Rio de Janeiro, termina· vaI tando após

.. sofrer muitos golpes, sem um tostão e envergonhado.

acaba por lhe ofereter um empreguinho no sftio.

D. Benta

A aventura se conclui numa festa que os meninos orga-

nizaram para a vizinhança em homenagem a D. Benta. Em meio Lo

a

comilança são feitos discursos por quase todos os personagens.

Do ponto de vista deste. trabalho, dois deles são essenciais: o

do Qu~ndim e o do Visconde. O primeiro afirma: "e.u te.nho um me,io

p/tá:tÃ-c..o de. c..onhe.c..e./t a ve./tdade.Ã-/ta l.>abe.do/tÃ-a: é: me.dÃ-/t OI.> /te.l.>u,t:ta­

doI.> que. e.,ta·d~,,;64 e o segundo:

"me.u pe.hdo/t I.>e.mp/te. 60Ã- c..Ã-e.n:tI6Ã-~0. A c..Ã-~n-c..Ã-a· me. a:t/taÃ- d~ um modo Ã-nc..oe.~c..lve.l.No c..o

me.co de.Ã--me. i 6Ã-lologÃ-a; hoje. dou-me. ~ ge.~

logÃ-a. E I.>abe.m po/t ~ue. mude.Ã-? Po/t uma /ta zio e.c..on5mÃ-c..a. A 6Ã-lologÃ-a nio aume.n:ta a

/tÃ-que.za dum paII.> ••• mal.> a ge.ologÃ-a aume.nta.

E uma c..Ã-inc..Ã-~ que. c..onduz a /te.l.>ul:tadol.> pna­

:tÃ-c..OI.>, pOI.>Ã-:tÃ-VOI.>, de. g/tande.1.> /te.6le.xol.> e.c..o-

n5mÃ-c..ol.>~ Em que. no I.> e.n/tÃ-que.c..e, po/t

plo; I.>abe./t que. a 'palav/ta onte.m ve.m

noite.? Em nada. Mal.> I.>abe./t que. e.m

e.xe.m-de.

tal

-a

ou tal te.~/te.no e.xÃ-I.>:te.m c..ondÃ-C~e.1.> pa/ta o ac..~mu

lo do pe.:t/tôle.o, ,Ã-I.>I.> o .I.>Ã-m, e.nft..Ã-qu e. c.. e. • ,,65

Essa valorização das 'dimensões priticas das ci~ncias,

em detrimento daquilo que Lobato julga inútil, é uma caracterfs

ca muito fórte dos escritos desta fase em estudo. A ci~ncÃ-a 1.>5

i· boa enquanto i /tealÃ-zad~/ta. Essa mixima esti presente, g/tol.>-

hO modo, nos textos escritos entre 1932 e 1941; exceçao feita

ao ji estudado A Re6~/tma da Natulte.za, onde até as coisas inúteis

e as sutilezas da linguagem cientffica sa0 aceitas.

38

E bastante significativo o, exame do livro Viagem ao

Ceu, que, entretanto não será extensivo, pois o que já foi ex-

posto caracteriza muito bem esta fase em estudo.

Logo no começo; D. Benta em um de seus seroes afirma:

"Ol> l>ã.biol>, me.nina~ l>ão Ol>' puxa-óLtal> da. fw.

manidade.. A humanidade. e um Ite.banho ime.n­l>O de. ealtne.iltol> tangidol> pe.lol> pal>tolte.l>,C~

quail> ,me.tem a ehibata nOl> que. não andam c~

mo ele.l> pal>tolte.l> que.lte.m e.tol>am-lhe.l> a lã,

e tiltam-lhe.l> o le.ite., e. ol> vão toeando

Ita onde. eonvem a e.le.l>·pal>tolte.l>. E il>l>o

pa.-. -e.

al>l>im pOIt eaUl>a da e.xtlte.ma ignoltâneia e. e~

tupide.z dOl> ealtneiltol>. Mal> e.ntlte. Ol> ea~­

ne.iltol> lÜ ve.ze.,l> apalte.ee.m algun/~ de. ma,L~ in te.lig~neia, Ol> quail> aplte.nde.m mil eoil>aJ,

-adivinham outltal> , e. ~e.poil> e.nl>inam a ea~-

n e.iltada o que. aplt e.nd e.ltam - e. d e.l> l> e. m,odo véio

botando um poueo de. luz de.ntlto da e.l>eulti~

dão daque.lal>' eabe.çaa. são Ol> l>ã.biOl> ... an

tigame.nte. Ol> pal>tolte.l> tudo óaziam palta m~H

te.1t a, ealtne.iltada na do ee. paz da ig 110ltânÚLl,

e palta il>l>o pe.ltl>e.guiam Ol> l>ã.biol> , matavam-

-nol>,que.imavam-nol> em óogue.iltal> Jl.OIt.,,66

um hOIt-

o texto é ,claro, sao,os sábios que possibilitam o pro

gre~so da humanidade. O saber puro e simples, por ser existen­

te e por se difundir, é capaz de redimir a civilização.

Após inúmeras estrepolias dos meninos do céu, D. Ben­

ta recebe uma comissão de astr6riomos. Lobato faz pouco casodes

te g~nero de sábio: "Ol> homenl> baltbudol> e. eaAtoludol> ' palteeiam

e.' V. Benta pe.lteebe.u a Itazao: a

39

h .,. h h d d ., ,,67 vaca moc a ... ~aman o~ omen~ com me o e vaca, ~mag~nem.

A comi~são p!otesta acerca de "v~~104 t~an6to~no~ obie~vado~ na

ha~mon~a ~nlve~~al.,,68 'Lobato ridiculariza os astr6nomos, mas

Salva "a astronomia por seus cilculos e previsões: "o~ a~l~6no­

mo~:de~cob~em no c~u tudo quanto que~em po~ melo de c~lculo~.

LeinbJta-~e do que vovo contou do tal a~t~6nomo Halley?", 69 diz N~

rizinho.

Nos escritos desta fase, ao contririo da"anterior, a

ciência e o saber são úteis, sao essenciais para0 desenrolar dos

aconte'cimentos. Lobato valoriza isso no interior de seu univer

so ficcional. E ainda, o que se apresenta sibio e exterior ao

-sitio ~ perfeitamente integrivel na est6ria, o valor das reali-

zações do Visconde ~ reconhecido. " - -Esse personagem nao e mais

embolorado, seus termos cientIficos não chateiam nem atrapalham

mais nadai Eles at~ se incorpora~ ao vocabulirio corrente da

Emilía. A redenção do saber operada nesta fase ~ total.

3.4 O Sabe~ Ma"lv e~~ado

A fase final do trabalho de Monteiro Lobato .provoca,

uma certa surpresa nos leitores que acompanham cronologicamente

seus escritos infantis. Ocorre que, no ano que sep~ra a edição

de A Re60~ma da Natu~ezi da edição de A Chave do Tamanho, hi

uma mudança brusca na visão cientIfica. Isto se expressa de for­

ma clara e inequIvoca no último texto e, de forma um tanto di­

~uJda, nos Voze T~~balho~ deH~~cule6, editados posteriormente.

40

Seguindo a rotina dis demais fases, hi um texto exem­

plar dest~ perfodo que vai caracterizi~lo plenamente: A Chavedo

Tamanho. V~-se que ~ um livro notivel"ji no começo, póis .... e o

único no qual o ,autor abre com uma explicação necessiria, onde

os,personagens do sftio são descritos.

o que dispara a aventura ~ a tristeza de D. Benta e a

vontade da'Emflia em acàbar ~om a guerra. Ela pega um ....

superpo'

feito' pelo Visconde e vai ao "nim do mundo" virar a chave dague!.,

ra. Li chegando ela nao cO,nsegue reconhec~-la e, resolve: "A UM­

ca .6otução ê. apt:icaJL o mê.:todo expeJLimen:tat Que o Vi.6conde u.6a em

.6eutaboJLa:t6JLio.,,70 Ocorre que a primeira chave virada ~ aqtie­

la do tamanho. Assim, todas as pessoas do mundo se veem subita

mente diminufdas a uns poUcos centfmetros-. Após isso, o narra-:-

dor afirma:

"A .6i:tuação eJLa :tão nova Que a.6 .6ua.6 vetha.6 Id ê.ia..6 . nã o .6 eJL v iJLam m ai.6 . .. a id ê.ia -ie -teão

eJLa dum :teJLJLZvet e peJLigd.6Z.6.6imo a.nimat;c~ med~JL de gen:te; e a idê.ia de pin:to eJLa. a

dum bichinho in nen.6ivo. AgoJLa. ê. o con:tJLi-• O • - . ,,71

JL~o. peJL~go.6o e o p~n:to.

Emflia, adaptando-se facilmente i nova situação, fica

extasiada com a, inventividade dos bichos: l'Eu .6empJLe achei gJLa­

ça da 'pJLo.6a' do.6 homen.6 com a.6 invençõe.6 ti dete.6. Que .6ão a.6

invençõe.6 do.6 homen.6 peJL:to do.6 mlth~e.6 de inven:to.6 de.6:te.6 bichi

nho.6?" 72 O apequenamento' ,súbi to da humanidade pôs todos despi­

dos, nus, e ~ assim que ela va1 encontrar a primeira famflia ape-

quenada. Era exatamente a famflia do prefeito da cidade, "o

MajoJL ApotiniJLio da Silva, cidadão mui:to impoJLta.n:te ••. e.6:tava

41

agolLa tlLan-ó60lLmado e.m in-óe.tinho de.-óc.a-óc.ado e. mudo.,,73

Emí.lia apavor~-se diante. do aparecimento do Manchinha,

o gato de estimação da família. A reação dos presentes ê notá­

vêl: "Ele. ê. o que. há. de. mai-ó man-óo - di-ó-óe. a boba Fe.blLônia.. VOIL

mia ,na minha c.ama. 74 Fui e.u que. o c.lLie.i." Quanto ao Major,

"e.le. ainda e.htava c.om a'idê.ia-de.-gato', pIL5pILia da-ó ge.nte.-ó que.

po-ó-óulam tamanho. ·Eml1ia te.ntou e.-óc.lalLe.c.ê.-lo. 7S "O MajolL· nao.

e.nt~~de.u! ElLa a bUlLlLic.e. e.m pe.~~oa~ Ac.hou aquilo c.om c.alLa de.

, c.oi-óa de. liv~o~. ,,7·6 O gato reaparece e devora a· todos, exceto

a EmÍ~ia e as duas crianças que ela consegue salvar.

Lobato p6s em seu universo uma verdadeira carnifici-

na, fa.la com certos requintes de sadismo do enorme devorar que . -

a passarada reali~ou sobre'a humanidade apequenada:

"Um ~Le.ê.nc.io que. nunc.a vi. Silê.nc.io de. ge.!!, te., pOlLque. O-ó pa~~a~inho-ó andam mai-óbanu­

lhe.nto~ do que. nunc.a.PalLe.c.e. que. -óe. muda-,lLam todo~ palLa a c.idade.. Emllia lLiu--óe.. Le.mblLou~~~ da que.da de. iç~-ó e. -óilLiIL1~ e.m

outublLO, quando milhôe-ó de. 6olLmiga~ -óae.m

do-ó 60ILmigue.ilLo~ palLa a 6e.~ta anual do ba­nho de.. ~ol. Ne.~~e.~ dia~ o a-ó-óanhame.n.to dM galinha~ e. do-ó pa-ó~alLinho-ó e. e.nOlLme., - e. o~

pap.o-ó ~e. e.nc.he.m de. alLlLe.be.ntalL. O mundo ~n

te.ilLo de.via ~-ótalL agolLa c.he.io ~o a~~anha.me.!!,

to da-ó ave.-ó, diante. da ine.-ópe.nada apalLiç~o

daq-ue.,ta nova e.~pê.c.ie. de. içã~ o~ home.n6."n

Ele reafirma isso diversas vezes no texto: "Hoje. qu~f

que.1L gato vagabundo c.ome. um lLe.i, um ge.ne.na,t, um ~ãbio, um plLe.­

{je.'ito, c.om a. me.~ma '6ac.ilidade. c.om que. antigame.nte. o Manc.hinha

'c.omia balLa.ta-ó.,,78 Em algumas passagens a coisa fica dramati~a-

da, Rabic6, o porco, o glutão, o capad6cio, afirma: "Ac.onte.c.e~

42

que de um momento pCÚLa o outlLO deu ,de apaILec.eIL pOIL toda paIL:te

uma nova ILa.ç.a de m.inhoc.atJ em pé:, uma.6 c.olL-de-lLotJa, ou:tJta.6 c.OJt-

d ' d ' t t t ... . ,,79 - -f e.:..Jtapa uILa, ou ILa.6, pILe a.6, e 90.6 o.6«..6tJ-<.ma.6, e antropo ago o

Rabicó.

, Em melO a isso, o Visconde denuncia:'

"Ve.6de que o mundo é: mundo, 0.6 homen.6, c.em a.6 ma.ioJte.6 d.i ó.ic.uldade.6, óoJtam c.on.6tlLu.inda

e.6ta clv.il.izaç.ão 'óe.ita de c.a.6a.6, m;quinaJ,

~.6tILada.6, veIculo.6, .idi.iai. Tudo. e.6tava em Jtelaç.ão com: a tamanho do.6 homen.6. Ma!.>, agE.. !ta, c.om a de.6tJtu.iç.ão do tamanho, nada ma~j .6e!tve e, pOILtanto, o que 0ac~ óez, EmIl.ia, fia.i 'de.6tJtu.iIL a c..iv.il.izaç.ão. "SO

O~iilogo se estabelece com a Emflia argumentando com

a autode~truição que os homens.promoviam com as guerras. Li pe

las tantas sobra essa p~rola: "Eu até: me adm.iJto de veIL um â~bia ,

comc.alLtolão de.6.6e tamanho de6endeIL um m~ndo de d.itadoJte.6, c.ada

quaL'p.ioJt que o outlLo."SI

o Visconde e a Emflia vao viajar pelo mundo a fim de

observar o estado da humanidade. Acabam encontrando "um veJtdct­

d~.iILo n~cleo de c..iv.il.izaç.ão nova que .6e .ia 60Jtmctndo~S2 em um

balde na Califórnia. Chefiada por um cientista democraticamen­

,te escolhido, o povo do balde é, para Lobato, um modelo de civi

lização. O Dr. Barnes concorda, em certa medida, com a Emília

sobre a nova situação:

"F el.izm ente e.6tam OtJ l.ivJte.6 daquela peIte c.ha mada 60go, que óo.i a veJtdade.iJta, peILdiç.ão'

"EtJtamo.6 l.ivne.6 da 60ga o óeJtILo, e datJ mil Jteina-

, 83 da humanidade."

e do tJeu 6ilho,

43

ç;e~ ~ueo~ doi~ 6aziam no mundo, ermo a~

g~ande~ gue~~a~ em que ~udoe~a 6e~~o e 5~ g~.,,84

Esta cisma com o ferro e o fogo é notável, uma vez que,

na fase anterior, Lobato louva-os pelos bens que trouxeram ã ci

vilização (ve! a Hi~~õ~ia do Mundo pa~a C~iança~ e O Poço do V.i~

.eonde) .

Na Alemanha~ a Emilia e o Visconde deparam-se com mon

tinhos de roupas espalhadas pelas ruas com chapéus em cima. Já

na chegada o sábio declara:

"E~~~ gen~e, que e~a a mai~ ~en~Zvel e beZi

eo~a do mundo e e~~ava empenhada numa gue~

~a pa~a. a eonqui~~a· do plane~a, ainda e:me.~

~almen~e a meima, q~e~o dize~, ainda pen5a e ~en~e da'me~ma manei~a. E ainda ~abe ~u

do quantoapnendeu. O~ quZmieo~ ~~bem 6a~ ·ze~ p~odZgio~ eom a· eombinação do~ átomc~.

O~ 6Z~ieo~ e meeanieo~ ~abem todo~o~ ~e­

g~edo~ da mate:~ia. O~ milita~e~ ~abem to­

~o~ o~ ~eg~edo~ da a~te de ma~a~. MaJ, eo­mo pe~de~am o tamanho) já não podem eoi~a

nenhuma. Sabem ma~ não podem. Que eo~CJ..

te~~Zvel pana ele~.,,85

"Mais claro que issq, impossivel.. O problema nao se

·poe como na primeira fase, o saber não é intrinsecamente ruim.

Nem tão pouco como na segunda, o saber nao é intrinsecamente bom.

Agora Lobato separa o conhecimento de seus usos, valorizando o \

saber e recusando radicalmente o que a civilização faz por seu

intermédio. A ci~ncia pura e neutra ~ usada para fins indevi­

dos por homens burros e belico~os~

44

A t5nica geral deste terceiro momento ~ que a.civili­

zaçao ~,ruim, precisa ser inteiramente reformada. Mas o que há

de singular é 'a transformação fei ta e o que acontece ao fazê-la.

O,apeq~enamento dos homens ~ significativo porque os põe apenas

com sua plena corisciê~~ia, com todo o saber, capazes.de tudore

, construir, como no balde. O nocivo nao é o saber, a ciência, e

sim o seu usd. A Chave do Tamanho é um livroescatol6gico no

qUal tobato faz extenso uso de humor negro, como na passagem do

Rabicó antropofago ou no momento do retorno ao tamanho antigo

(ele fala das milhares de pessoas esmagadas dentro das fresti-

nhas nas quais se esconderam). Contudo ele nao poupa ironias:

, "O p~oblema n~me~o um ~o gove~no ame~lca~o, p~oblema que ~inha

vindo ~ub~~i~ui~ o da lu~a con~~a a Alemanha, e~a 6echa~ a jan!.

o dOI dO·' ,,86 -~a a ~a~a e man~e~ o oogo a ~a~e~~a.

Ap6s A Chave do Tamanha" Lobatoescreve apenas mais

uma obra de vuito: O~ Vaze T~abalho~ de He~cu.e.e~. ~,em sí,sig

'nificativo o fato dele t~r retomado o veio dà antigUidade grega

ap6s diversos escritos sobre a atualidade. ~ sintomático que,

·tende ficado dois anos sem editar, Lobato mude radicalmente sua

referência histórica; ele direciona para o mundo heróico o cená

rio de suas aventuras.

A est6ria se inicia com a viagem de Pedrinho, Emília

e o Visconde i Gr~cia. Antes, porém, há um comentário de Pedr!

nho que lembra muito bem o clima das Reinaç.õe.~ de Na~izlnho: "O~

ve.e.ho~ nio' en~endem o~ novo~ ... que~em no~ gove~na~, que~em no~

ob~iga~ ~ 6aze~ exa~lnho o que ele~ 6azem. E~quecem-~e de que

6e 60~~e a4~lm, o mundo pa~ava, ~io havia nada novo ... ,,87

45

o "tip~o" do her6i, apresentado desde o inicio e repe

tido inúmeras vezes ao longo do texto não poderia deixar deser:

" bu~~~o di na~cença, como todo~ OA 9~ande~ atleta~ . .. "88 O

núcleo temático é, obviamente, a relação entre a esperteza e a

brutalidade; ent"re a inteligência e a força:

~

."Quanto havia ~o6~ido o mundo ali do~ aJtJtc,­do~e~ po~ cau~ a . da a~~ o ciação daque.le~ .tAê~

mon~t~o~! ]~ 6o~tI~~imo~ individualmente,

com a a~~ociaçã~ ~e. haviam. toJtnado inve.ncl vei~. Ma~ l~ e.~tavam pOJt teJtJta, e.xtinto~.

Po~ qu~? POJtque. n~o h~viam contado com c valo~ de H~~cule~, e.m Intima a~~ociaç~ocem a e~pe~teza da EmIlia. O heJt6i e.btava cem p~ee.nde.ndo o valo~ da 'a~~ociaç~o~ ."89

.Todos os obstáculos vão sendo s~perados ora pela for-

ça bruta de Hércules, ora pelas intervenç6ei da Emilia, de Pe­

drinho ou, até mesmo, do Visconde. Com mais freqUência, a soIu

ção aparece peia combinação da força bruta com as sug~st6es dos

"pic.a.pauziriho~".

o que acrescenta elementos importantes na caracteriza

çao desta terceira fase é menos esse núcleo temático que aIgu-

mas inserç6es .aparentemente marginais que, entretanto, apontam

com clarez~ a unidade deste livro com A Chave. do Tamanho - ao-

menos no que diz respei to ã valoração da ciência e de seu uso na

sociedade.

Mal o grupo chega ã Grécia e toma contato com o her6i,

estranhas mudanças começam a se operar no comportamento do Vis­

conde. "Ve.ja o mLe.agJte! O no~~o Vi~coride. e.~a um veJtdadeÁ./te cai

x~o de de6~nto de t~o ~~~io

46

jamai~ b~incou em toda.a ~ua vida. Ago~a e~t~ at~bobo, a 6a-

. . ... d oh ,,90 . d d 1 .ze~ co~~a~. e pa, aço. . Paralelamente a essas nOVl a es, e e

começa a reassumir ~lgumas de stias antigas características. ~i

passagens onde ele se mostra avoado, disperso, complicando ode

senrolar dos acontecimentos. A estranheza do sibio se aprofunda:

" ... o Vi~conde no ~eu começo de loucu~a h~ ~;ica de~a de biinca~·com tal e~petaculo~i dad,e .qu.e. cheg ou a da~ na vi~ta." 91 "Vali ~ pouco e~tavamna ci~anda-ci~andinha,e quem

ci~andava com maio~ 6~~ia e~a ju~tamente o

Vi~con~e de Sabugo~a, o ex-g~ave e ca~tol~ do ~abinho l~ do ~Itio. A.t~ nem ma.i~ de.. ca~tola, andava.Co~ um pontap~ havia j09! do ·a velha ca~tolinha no~ pantano~ de Li~­

na, be~~ando~ - Chega de ca~tola! I~~o não

pd..~~a de um pedaço de,. canudo de charnin~ com aba~. Po~ que ca~tola? e p6~-~e a dança~

6 ,,92 uma ~um a ...

Para Lobato, ,que muitas vezes concentra na cartola a

expressa0 mixima da sapi~ncia, trata-se de uma atitude expressi

va levar o Visconde a istó.

Progressivamente Lobato leva o sibio ã loucura. No

ipice, ele afirma:

" o~abuguinho ti~ou da cabeça a ca~tola e jo~ou-a longe. Vep6i~ deu uma ga~galha­da hi~t~~ica e ~e~mungou: He~a! E~a uma vez uma vaca ama~ela que ent~ou po~ uma po~ ta e ~aiu pela out~a. Quem qui~en que co~ te out~a ... não havia d~vida: o pob~e Vi~-

93 conde de Sabugo~a enlouquece~a."

47

'Aprisionado em uma jaulinha para ser levado ,ao trata­

mento, ""! o pob~~ demente 6ieou de p~, aga~~ado a~ v~~eda~ da

gaiola, g~itando: o bin~mio de Newton! ... 0 quad~ado ha hipote­

nu~a! ' .. . a- eabelei~a de Be~eniee; tudo~eoil,M eienO..6ieM, o~ ve~da-, , .

dei~o~ ~ã.bio~ ~Õ têm uma eo~a de~o de ~i: úê.neia e, m~ éiê.núa." 94

O sibio ~ curado pela Med~ia, grande feiticeira da antigUidade.

Restabelecido, o Visconde retoma sua sabedoria e ~egue normal-

mente as av~nturas do grupo~

O Visconde renovado ~ bem diferente do anterior (da-

quele da fase anterior), ele se apaixona, bebe, se diverte: "O

no~~o Vi~eonde, quee~a tio g~ave e ~i~udo, e~tã. ago~~ um pe~-, 9~

6eito maland~o. At~ bebe ... " - Alam disto, Lobato tenta mati-

10 algumas vezes durante o livro, r~tomando as tentativas homi~

cid'as das Reinaçõe~ de Na~izinho. Al~m disto', o autor volta a

faz~-lo sofrer os maiores abusos da Emflia. Aliis, as refer~n-

cias a este livro, is coisas que nele acontecem, são infimeras:

"O tempo e~tã. voando e aquele e~tupo~ do Vl~eonde nio dá. hina~

de ~i. Com ee~teza nem viu pele nenhuma e e~tã. e~tudando e~en­

ti6ieante alguma ba~atinha g~ega; ,,96 numa refer~ncia cl~lTa i pa~

sagem citada ~ouco atr5s. O sibio retoma a pr5tica de expor o

nome,cientffico dos ãnimais, de' explicar a origem das palavras

de tiso comum. O sabugo cientista volta a ser fi16logo, profis­

são duramente criticada pel~ pr6prio personagem em O Poço do Vi~

conde.

Do alto da antigUidade c15ssica, Lobato avalia a civi

lização moderna. Emflia declara: "Go~to do~ g~ego~ po~que. em

tudo botam .u~a e~to~inha. Pa~a'o Vi~eonde e O~ ~ã.bio~ mode~no~

48

o eco ~ a tal ~e6lexio do~ ~on~. Pa~a o~ g~ego~ ~a voz da n~n

:6a Eco t~an~ 6o~mada em ped~a. Cem' veze.~ mai~' lindo ... ,,97 Mais

adiante, em uma ex~ressão bem ménos po~tic~: "O g~ande b~inqui­

dodo~ no~~o~ tempo~ con~i~te em de~t~ui~, de~t~ui~, de~t~ui~.

Cidade~ intei~a~ de~apa~ecem em ho~a~. Populaçõe~ intei~a~ ~io

e~t~açalhada~. Po~ i~~o é. que nõ~ go~tamo~ t4ntoda G~~CJ..a. ... " 98

Nesta .triste passagem Lobato lamenta o padrão civilizat6rio que

.comporta guerras e bombirdeios. Mais adiante ele investe con-

tra a "j ustiça:

"Ped~i~ho a~~omb~ou-~e com a'6acilidade com que na G~~cia o~ he~õi~ mandavam gente pa~ ~a o outh.o mundo; Rouba~, mata~ - tudo coi

~a~ ·natu~all~~~ma~. Hé.~cule~ matou aquele 6ilho de ~ei'e lã p~o~~eguiu viagem como

~e. nio houve~~e havido coi~a alguma. E na

da de polIcia, inqué.~ito, p~oce~~o, j~~i,

p~omoto~, ~entença, cadeia. Tudo muito ~a

pido e expedi'to.

O Vi~conde ob~e~vou que no~ tempd~ mode.~­

no~ havia 'ju~tiça o~ganizada', ma~ ali a ju~tlça e.~am o~ hé~õi~. Ele.~ andavam ã ea

ça do~ mau~, como lã no mundo mode.~no 6az a pOlIdia. E pe.gava-o~ e. liquidava-o~ com

a maio~ ~im'plicidade. . . Que. e.~a H~cul~1 a6:f. nal de. conta~, ~e.nio a ju~tiça em pe.~~oa?

Ã~ veze~ e~~ava e. matava inoce.nte~ ma~

que ju~tiça ne.~te. mundo nio e~~a,,?99

são infimeras as manifestações de Lobato com este sen·

tido,is vezes veladas. M~s em todo confronto com a civiliza­

ção moderna, a antigUidade ganha com larga margem. "No~~o ~~cu-

lo tem muita máquina,' tem até. máquina de. voa~; ma~ e.m

de poe~ia n~o che.ga ao~ pé.~ di~to aqui."IDO

49

Nesta última fase, a visão científica orienta-se no

. sentido da valorização do saber puro, à grega, separado dos atuais

padrões civilizatórios.' A ciência e a técnica seriam desvirtua

das por homens belicosos, egoístas, etc.

~ certo que às passagens expostas poder-se-iam acres­

ceptar inúmeris outras que viriam assentar melhor a noção apre

sentada por Lobato. Entretanto, é maisrazoivel deter néstepon

to a justificativa de uma caracterização que ji se encontra em

condições de ser manipulada.

3.5 O Au~o~ em 6aee do P~oblema,

Há, ainda, uma questão, relacionada a esta parte do tra

balho que, se não é essencial, ao menos tradicionalmente tem

alguma importincia nesse gênero di estudo'. A muitos

estranho que não tenha sido feita referêncta alguma à

-parecera .. presuml-

vel consciência de Lobato relativamente ao fato literário aqui

identificado.

, .No estudo que pretende tratar a evolução de longo pr~

zo das id~ias acerca da ciência' no interior de uma obra literá-

ria;' a intencional idade é algo que desempenha um papel periféri

co. ~ claro, não é possívei confrontar a concepção de ciência

eXpressa num texto de hoje, com outra, a ~er escrita daqui avin

te anos. Obviamente todos os textos em seus mínimos detalhes

foram escritos intencionalmente. Lobato não é um celerado. En

tretanto, supor que o Visconde fosse criado em 1922 tendo seu

50

destino já traçado pelo autor é algo que supera todas as medi­

·das.

Se nao faz sentido pensar na intencionalidade de Loba

to ao tecer o conjunto da obra, ela se impõe no tratamento de

um livro isolado. Afinal, apenas entra no livro o que o autor

intencionalmente quer que entre naquele momento em que escreve.

Depois de escrito o fundamental da obra, a questão pa5sa a ser

a sua consciência ou não relativamente ao significado que o con

junto do trabalho possui. Em uma carta de 1943 a seu amigo de

longa data, Godofredo Rangel, Lobato aborda parcialmente o pro­

blemapor intermédio d~ seus personagens~

"O Vi~conde tentou v~~ia~ evoluç~e~ e ~em­

p~e '~eg~ediu' ao que ~ub~tancialmente e:

um ~~bio. Um ~~bio ~ coi~a c5moda, e~pe-.

cie de mic~o6one: n~o tem, n~o p~eci~a te~

pe~~onalidade muito bem de6inida. Todo~ o~

e~6o~ço~ que ~ Vi~conde 6ez pa~a muda~ de

~i~~onalidade 6alha~am - e hoje ~e~igno-me a vê-lo como começou: um '~abinho' que ~a­be tudo."lOl

o que demonstra com clareza que ele tinha alguma cons

ciência da evoluçaõ de seu trabalho.

A correspondência de Lobato serla, segurament~, um e~

celente meio pelo qual se poderia chegar a uma evidência da cons

ciência do autor relativamente i valoração da ciência e do sa~

ber.Embora ~ correspondêrtcia já recolhida seja bem completa,

fica-se restrito aos dois volumes de A Ba~ca de Gley~e,nos quais

existem elementos que reforçam o modelo das três fases já expo~

to, e ajudam a resolver o problema da consciência ou não de Lobato·

BIBLIOTECA I=\JNDAÇÃO GETúLIO VARGAS

51

acerca da evolução caracterizada.

Em plena, atividade de editor e esctitor com futuropr~

missor, na cidade de sã~ P~ulo em 1919, Lobato tece comentirios

ao seu confessot'epistolar que põem a ridfculo a atividade de

escritor, bem como os rituais da corte literiria da ~poca:

".,. vou vi~ando uma e~p~eie de miet6~io .ti

te~ã.~io. Quando 'homem de .tetfl..as' pa.6.6a

po~ são Pau.to .6e ju.tga no deve~ de vifl.. dafl..

.6ua mijada de id~ia.6 em mim, .tã. no e.6efl..it6

Aio. E 6a.ta no.6 U~Up~.6. Mija-me em cima aque.te~ eonto.6 e diz eomo ab.6o.tuta.6 novida

de~ eoi~a.6 que ja ouvi eem veze.6 - a, eo.t-h d t o h 'Q . ,,10 2 "N' ' -e a e fl..e ao{.. 0.6. ue m-<..mo". -<..nguem

eompfl..eende que eu me fl..e~na toda.6 a.6 nóite.6

ae.6.6a fl..oda, diante de ehope.6 lã no Gua~a-

ni, em vez de e.6tafl.. no~ ~a.tõe.6 e.tegante.6 da haute eonvefl...6ando .6obfl..e 0.6 .6oneto.6 do

Bi.tae. Ma.6 eu, que pa.6.6O o dia no e~efl..it6

~io expo.6to a toda.6 a.6 mijada.6 .tite~ãfl..ia.6

eom que hajam po~ bem mijafl..-me, .!, ei que ai1:,

vio,que de.6odo~ante, que ~epou.6ante, ~ a '~od~ do Lo~ato!.~103

Na sua correspond~ncia com Rangel, a literatura pro­

priamente dita ~ sempre desclassificada. São comuns as afirma­

ções do tipo: "não .60U .tite~ato~" Quando ele comunica ao seu

amigo, em 1921, suas intenções em publicar uma série de livros

clissicos p~ra crianças, adverte que: ", ',' a de.6g~aça da maio~

pa~te do.6 .tiv~o.6 ~ .6empfl..e 'Q exee~.6O de .tite~atu~a,,,104

Em uma carta de 1924, Lobato assim se refere aos li­

vros didi ticos: "s6 euidamo.6 ag OILa de eafl..tLeha.6, gfl..amã.tic.a.6, 4t{,Á..;!;

52

mét~ea~- todo~ o~ ~n~t~umento~ de to~tu~a~ e~~an~a~.,,105 Essas

~onderaç6es estão em perfeita consonincia com os escritos dapr!

meira fase, onde o contraponto velho x novo e a desvalorização

do· saber em geral eram a tônica. A presença destes elementos, mes-

mo que esparsos e nem tão cristalinos como nos livros, atesta a

realidade desta primeira fase da visão cientifica.

Como já foi di.to, a· correspondência edi tadade Monte!

ro Lobato não cobre completamente o período de maturidade do e~

critor. Entretanto, ~ possivel verificar, em uma ou outra car-

ta da d~cada de trinta, o seu entusiasmo civilizat6ri6. "Que

aventu~a t~emenda, Rangel! Va~ pet~õleo ao B~a~~l eomo quem dá

eoeada ã uma e~~ança~ Se o gove~no não me at~apalha~, dou6e~-

~o e pet~õleo ao B~a~~l em quant~dade~ Roek6elle~~ana~. A~ pe~

- - h 106 6u~a~oe~ e~tao em ma~e a."

Já n~s cartas do final d~ d~cada de trinta e naspos­

teriores, Lobatú fala insistentemente da morte. O tom predomi-

nante ~ aquele da tristez~, ele faz balanços, examina seu -pro-

prio passado, sua produção literária. Em um destes balansos, de

1943, ele afirma:

"Comoé:~amo~ l~v~e~eo~ e l~te~ã.~~o~! Vepoi~ que me pu~·a adqu~~~~um poueo de eultu~a

e~entI6~ea, mude~ mu~to, e hoje eon~~de~o

o b~eho exelu~~vamente l~te~á~~o, e vaz~o

de eultu~a e~entI6~ea, eomo um an~mal ~em

po~~~vel ela~~~6~eação zoolõg~ea e ~em d~~ . 107

~e~to a um luga~ no mundo mode~no."

Como se pode ver, Lobatb critica veementemente a cul­

tura bacharelesca, típica de sua pr6pria formação, característi

53

ca 'dos intelectuais da su~ geraçao. Ele reconhece uma outra di

mensao ~o saber - a culttira científica, aquela que

zoologicamente.

classifica

Ao que tudo .indica, Lobato tinha alguma consciência

. das transformações operadas em sua própria visão da cultura. A

extensão deste conhecimento de si, do ocorrido com suas próprias

formas elementares de intelecção, é algo de que não se pode ter

conhecimento pleno. Não hi, também, qualquer indicação de que

tal reconheci~ento fosse algo que pudesse fazer alguma diferen­

ça no ~umo dos acohtecimentos. Afinal, o que importa é dirigir

esse exame para a vid~ social, para as complexas relações entre

a produção intelectual e as transformaç~es sociais mais signifi

cativas.

Saber em qual m'edida a estrutura psíquica do autor de

terminou o rumo da obra é, sem dfivida, saber algo relevante. En

tretanto tal conhecimento fala pouco da maio! parte do mundo, s~

br~ a sociedade; ou então' fala muito indiretamente dela. E o es

tudo que pretende incidir na formação e desenvolvimento de um

grupo intelectual na vida social, realmente não pode relevar a

extensão da consciência d6 autor sobre uma determinada caracte­

rística presente no conjunto de sua obra. Ou mesmo relevar ain

, terpretação manifestada de forma nio literiria, que ·ele

de seu trabalho ou de sua própria vida.

tenha

Trata-se, conforme foi dito no começo deste trabalho,

de procurar uma interpretação aceitável do desenvolvimento des­

ta.característica marcante na obra infantil de Lobato: o Saber,

a Ciência.

S4

4. O GRUPO DO ESTADO

4.1 Um G~upo Libe~al

Desde n inIcio da re~fiblica, entre as forças que asu~

tentaram havia um poderoso grupo paulista que dividia a rireçio

dd processo polItico com a componente milit~r, chefiada por Deo

doro e Floriano ~eixoto - e com a componente mineira. Era oPar

tido Republicano Paulista de Campos Sales e Prudente de Morais.

;Esse partido tinha sua base de sustentaçio nos oligarcas do ca­

fé que, para além da bandeira republicana, exigiam uma maior au

tonomia iegional.

Entre diversas facções em que se dividia o PRP,uma se

destaca pelo vigor, pela insist~ncia, pela iigidez maior na de­

fesa dos princIpios do liberalismo. e a fraçio que virã, mai~

tarde, a serd~nominada de "O Gnupo do E~~ado."

r .'

No império, um grupo de polIticos e intelectuais trans­

formara o jornal A PnovZnQla de S~o Paulo em tribuna republica­

na. Seus principais articuladores eram Joio Alberto Sales,Frag

cisco Rangel ~estana.e Jfilio Mesquita. Com a repfiblica, a Pno­

vZnQla virá E~tado e'Jfilio Mesquita assume plenamente a direçio

do jornal.

Deste per Iodo em diante, o "gnupo do E~tado" se afir­

ma, cresce e tem seu ~ontorno polItico mais claramente definido.

O contefido de um liberalismo vigoroso e as poucas concessões po

IIticas tornam este grupo uma refer~ncia do pensamento polItico

paulista.

55 r

o golpe militar de Deodoro em 1891, contra aconsti­

tuição federalista, consiste numa primeira prova a que se subme

te o liberalismo do grupo. J~lio Mesquisa e outros deputados

protestam contra o adesismo do presidente paulist~: Am~ric6 Bra

sili~nse - republicano hist6rico. Ap6s a solução nacional neg~

ciéida por Floriano Peixoto, o E.6tado de são Paulo estimula acam

panha pela deposição do presidente. "O E.6t.ado ,[n,[c.,[a a.6 e.tr..,[e de

ttr..emendo.6 ed,[totr..,[ai~ .6ub~tr..d,[nado.6 ,ao tZtulo 'Vetr..gonha' .,,108 Já

no final de 18,91 ,"São Paulo e.6tâ. em tr..evoluç.ão... ,[nev,[tâ.vel' a

queda de Ame.tr..,[c.o.,,109 Ap6s a queda, reassumem a ~ireção do PRP

os republ icanoshist6ricos: Prudente de Morais, Rodrigues Alves,

J~lio Mesquita, Francisco Glicério entre outros. O governo es­

tadual ,vai para as mãos deCerqueira César (sogro de Jfilio Mes­

quista) , vice-pres,idente, membro do grupo de Prudente de Morais.

Contudo, é apenas em 190J que o' "Gtr..upo do E.6tado" se

individualiza, isolando-se na política paulista. Neste período,

ele forma uma dissid~ncia doPRP.

Na vi~ada do século a produção cafeeira aumenta bas­

tante. Dificuldades no mercado internacional impossibilitam a

absorção normal da produção brasileira, ampliada nestas safras.

Como conseqUencia há uma 'queda nos preços e uma tremenda crise

política. aberta pelos oligarcas contra o governo Ca'mpos Sales,

que nao consegue gerir uma política de amortecimento dos efei­

tos da crise. Os fazendeiros ,do café partem para a organização

de um partido independente do PRP, eternamente situacionista.·

Por outro lado; o P~P "c.ontava c.qm o ,[nc.ond,[c.,[onal apo,[o do go­

yetr..no, de .6~gmen~o.6 da lavoufta de c.aóe. meno.6 at,[ng,[do.6 pela c./t,[

S6

he, ~ep~e~entada~ no cong~e~40 E4tadual po~ F~anci~co Malta e,

:nag~ande imp~en~a, pelo E~tado de são Paulo. ,,110

o periódico acima citado atacava com insistência:

"lav~ado~ na p~e~id~ncia da ~ep~blica, ou­

t~o na do E4tado, lav~ado~ ê. o vice-p~e~i

dente do E4tado, lav~ado~e~ ~ão o~ p~e~i­

dente~ do Senado e da Cãma~a, o~ 4ec~et;­

~~04 da. nazenda e da ag~icultu~a, lav~ad~ ~e4 4ão, pelo men04, metade d04 memb~o~ do

cong~e440 legi~lativo do E4tado. Que mai4 que~ a lavou~a? Aca~o igno~a que 4emp~e

noi a~~im."lll "Cla~o que a c~i~e na la­

'vou~a .e~a aguda e ~omava de.4conte.nte~, ma~

a pa~ti~ de. 1899 a linha de. no~ça e.~a a bu~ca de 40luç5e~ com o gove.~no e. o ~eu

pa~tido.,,112

Assim, ao que tudo indica há uma recomposição entre

os oligarcas e. o governo. Nesta pacificação fica de fora·o ex­

presidente Prudente de'Morais e seu grupo: Cerqueira César, F.er

raz Sales, Jfilio Mesquita entre outros.

No pri~eiro ano do novo século, O E~tado de. são Paulo

inicia uma polêmica pfiblica acerca da moral política, do inter­

vencionismo do Executivo no Poder Legislativo, da política dos

governadores e do presidencialismo.

"E um manda~inato polltico. O P~e.~idente.da Re.p~blica naz o~ gove.~nado~e4 do~ E.6tadM,

0.6 g.~ve.~nado~e.4 nazem a.6 eleiç.5u, e M ele.!::. ç5e~ naze.m o P~e~ide.l1te. da Rep~blica . .. ~ o mo.6 poi.6 ob~igado.6 a ~e.conhece.~ que. o ~e.g:!: me. p~e~iden~ial, e.m ~ua 60~ma pu~a e. e.~p!

57

c.'1.6ic.a. e. uma. pa.ia.vJta.exõtic.a. que ,tem .6 eu

ha.bita.t na. Ame.Jtic.a. do NOJtte e que, tJta.n.6-

pOJtta.da. pa.Jta. a. no.6.6a. pãtJtia., degeneJta. e de! ..,. ,,113 6iguJta.-.6e em 6Jta.nc.a. dita.duJta. pol~t~c.a.. _

Com esse discurso, eles propoem o parlamentarismo, de

sejam por 1imi~es na intervenção do Presidente da República e

dos Estados no congresso e nas câmaras 1egis1ativ<;ls. "O que .6e

.6a.be e. que o no.6.6O Jtegime pJt,e.6idenc.ia.l' e. ta.lvez a. c.a.U.6a. pJtinc.i-

pa.i do e.6ta.do em que no.6 a.c.ha.mo.6. A libeJtda.de de vota.Jt e impo.6

.6'1.vel nele.,,114

. ~ durante os debates sobre a constituição do Estado -

de são Paulo que "J~lio Me.6quita. e m~i.6 20 deputddo.6 nega.Jta.m-.6e , ~

a. c.on;tinua.Jt exa.mina.ndo a. Re6oJtma. Con.6tituc.iona.l, c.oloc.a.ndo-.6e c.on

tJta. a. intJtomi.6.6ão do PodeJt Exec.utivo: E.6ta.va. a.beJtta. a. c.i.6ão no

no .6eio do Pa.Jttido Republic.a.no Pa.uli.6ta..,,115 Para as e1eiç6es,'

Júlio Mesquita propusera Prudente de Morais para a presid~ncia

da R~~úb1ica e Cerqueira C~sar para o Estado, obviamente prete-

-ridos. Forma-se a dissid~ncia. O grupo apresenta candidatos

às eleições' municipais .que são derrotados pelo oficialismo em

qu~se todo o Estado de São Paulo.

Com a eleição de Jo~geTibiricá à presid~ncia do Esta

do, a dissid~ncia ~ acalmada pela polItica de reconciliação cog

duzida pelo novo líder. A calmaria ~ relativa, pois ainda per­

sistem diversos conflitos perif~ricos.

Um outro momento crItico na formação do "GJtupo do E.6-

ta.do" ocorrerá quando da campanha civilista de Rui Barbosa. Nos

embates pe1~ sucessão de Afonso '~ena, no inIcio de 1909,

58.

"oquad~o da dl~puta ~uQe6~;~ia ~e 6o~mava.

Ve um lado, a~ polltiQa~ ~ituaQioni6ta6 m~ nei~a e gaúQhd, ~ol{dã~ia6 Qom o Ma~eQhal

He~me6; de out~o, D p~e6idente A6on6o Pena

e, eventualmente, a ~ep~e6entação pauli6-ta."116 "Rui Ba~bo6a (que Qomandava a po­

tltiQa báiana) ... havia-6e ap~oximado do

·gove~no da União antevendo pO~6ibilldade6 ~ : o : - ,,117 de 6u~gi~ Qomo o Qand.i..da.to. de Qonl:AÁÁ..açao.

Neste quadro, a morte do Presidente Afonso Pena prec~

pita os acontecimentos, dado que Nilo Peçanha, alinhado comPi­

nheiro Machado, confere ã candidatura Hermes da Fonseca um cará

ter oficial. No extremo opo~to ficaram os grupos oligárquiços

majoritários de são Paulo, Rui, alguns pequenos estados e fac­

ções minoritárias dos grandes estados.·"Ve6enQadeoU-6e violenta

Qampanha Qiviti6ta que p~oQu~ava 6e~i~ a Qandidatu~a He~me6 em

. 6 ,,- -bl' - :0:-1- ,,118 .6eu pon:(:o ~aQO pe~ante a op..tn..tao pu ..tQa:6eu QMat~ m~M ..

O candidato oposicionista se lança numa peregrinação naciónal,

gerando um vigoroso movimento social cuja base de massas era a

classe média, já numerosa'e infl~ente. '''Sua Qampanha Qe~tamente

tentou at~ai~ o apoio da6 populaçõe6 u~bana6, at~avé6 da de6e6a

de p~inQlpio6 demoQ~ãtiQo~, do voto 6eQ~etQ, da6 t~adiçõe6 libe

~al~ e da Qultu~a.,,119 O civilismo será, antes da Aliança Libe ~ ral, o mais expressivo movimento de massas que envolveu o p~lS.

O-ano político de 1909 é profu~damente marcado pelo

conflito que, nas bocas do~ partidários de Rui, ganha contornos

d~ luta pelo liberalismo civil ameaçado pelo Marechal herdei­

ro político do grupo militar que empolgou o Estado nos primei­

ros anos da república. Em São. Paulo, Júlio Mesquita combate a

59

candidatura Hermes. Obviamente o civilismo' paulista é muito maior

que o hG~upo do EAtado", entretanto seu peso era significativo.

"Jú.LLo Me..6quLta, ne..6.6e. te.mpo, e.xe.~c.-La a.6 6unçõe..6 de.R.1dve..dama-Lo

~-La na c.ama~a E.6tadual do.6 Ve.putado.6.,,120

A campanha civilista empolga o estado, polarizando as

fo!ças polIti~as mai~ expressivas, dado que o PRP quase inteiro

se tinira em torno de Rui. "A d-L.6t~nc.-La e.nt~e. 0.6 90.000 votOJ

d R ' 3 O O O O d H . .,. " d ' . : o: • .. o: • .,.~ ,,121 e. u-<- e... e. e.Jl.me..6 mO.6-t..~a o v-<-g o~ o uv~mo pal.V\A/.).u!.. .

O "Gnupo do E.6tado" se vincula ao liberal Rui Barbosa de forma

radical. Não haverá embate polItico no futuro que o envolva que

JGlio Mesquita não ap6ie a "Xgu-La de. Ha-La." A postura liberal

do diretor do E.6tado de. são Paulo estaria mais firmemente marca

da pe16 demo~ratismo civtl ap6s esta campanha de 1909/10.

Poucos meses depois do inIcio da primeira guerra mun­

dial, JGlio Mesquita já se posiciona francamente favorável aos

aliados. Diria ele: t .'

"0 no.6.6O pe.n.6ame.nto e. o no.6.6O .6e.nt-Lme.nto ne. voltam-.6e. c.ontna o m-Ll-Ltan-L.6mo ale.mão c.omo

.6e. ~e.voltavam c.ontna o m-Ll-Ltan-L.6mo. bna6-L­le.-Lno. Na Eunopaou na Am~n-Lc.a do Sul,num .pode.no.6o -Lmp~n-Lo ou numa mode..6ta ne.públ-L­·c.a, o m-Ll-Llan-L.6mo ~ .6e.mpne. o. mon.6tno nepu-gnante. c.ontna o qual toda a c.-Lv-Ll-Lzação de. ve. e.~gue.n-.6e.e lutan at~ o .6e.u total an-L-

. . 122 qu-Llam e.nto • " .

Tal postura se desenvolve e radicaliza numa época em

que o governo brasileiro se fazia de neutro e a colônia alemã

no Brasil em muito pressionava os membrds do governo e até con­

duzia um boicote sistemático ao··E.6tado de. são Paulo.

60

A campanha pelo posicionamento brasileiro ganha ímpe­

:tocom a entrada de Rui Barbosa: "EntJte. o c.Jt.tme. e. o V.tJte..tto, não

pode. "have.Jt ne.~tJtal~dade.", ele afirma. 9 "GJtupo d~ E~tado" aco­

lhe com entusiasmo o posicionamento do "gJtande. lZde.Jt."

Na mesma época em que "Jte.vo 9 a-~ e. a ne.utlLal.tdad e. do BlLa

h.tl ••• e.htoUJta e.m são Paulo uma ~~IL.te. c.Jt.t~e. ~oc..tal, c.om gJte.ve.

ge.Jtal do ope.JtaJt.tado ac.o~~ado pe.la m.t~~~.ta a qual ~e.mo~tJtavam

"ind.t6 e.1Le.nte.~ o~ pode.Jte.~ pú.blic.o~. "123 O" E~tado se opõe ã vio­

l~ncia da política que persegue arbitriria e traiçoeiramente os

grevistas.

O "GlLupo do E~tado" di outra manifestação de seu de­

mocratismo quando do confronto ga~cho entre as candidaturas do

v~lho Borges de Medeiros - hi mais de duas décadas na presidên­

cia do Rio Grande - e de Assis Brasil, antigo companheiro polí­

tido "do "diretor do jornal. Ao eclodir a revolução no Rio Gran­

de do Sul, "volta Jú.l.t~ Me.~qu.tta, no d.ta 28 de. jane..tJto de. 1923,

c.om outJta nota de.mon~tJtando o d.tILe..tto que. o~ povo~ opJt.tm.tdo~ têm

de. .tJt a lLe.volução.,,124

Em fins de 1925, o PRP nao malS ~onseguia contornar

seus conflitos e coricentrar com exclusividade toda a complexa

vida política e ~ultural paulista. Assim,oriundo de diversas

facções da política regional, funda-se em 1926 o Partido Demo­

critico, ao qual se integra o "GJtupo do E~tado", embora Júlio

Mesquita, o "c.he.6e." do grupo, não o faça formalmente. Ele

" ••• não 4e. l.tg4Jti ao PalLt.tdo Ve.mOc.IL~t.tC.O; " "

ac.hava que. o" ~e.u jOJtnal de.ve.Jt.ta c.on~e.lLvaJt

a tJtadição. Apoiou pOJte.m o Con~e.lhe..tlLo

61 ,',

Ant5nio P4ado com todo a4do4, ab4indo in­tei4amente o ~eu' j04nal ao novo e l~gItimo

pa4tido 4epublicano, ji que o p4imei4o 6a­lha·4a." 125

JfilioMesquita morre no começo de março de 1927, num

"momento em que o libe4ali~mo pu40 do~ ve4dadei4o~ p4opagandi~­

t~~ 4epublicano~ de~apa4ecia p04 ab~im dize4 do B4a~il"/126 di-

ria Paulo Duarte, jovem redator do jornal, que nos forneceu uma

biografia apolog;tica do líder miximo do "G4upo do ~~tado". Com

a morte do ';único 4ealmente g4ande j04nali~ta libenal que o Bna

°l ..,. . ,,127 . d . 1 ~ - d ~~ ~eoe o grupo se esartlcU a, porem nao per e o folego,

dado que já havia o Partido Democrático, escoadouro de sua .poli

tica e novos líderes que, mais tarde, expressarão mal ou bem,

com fidelidade ou não, os p.rincípios liberais, democráticos e m~

dernizadores que orientavam a ação do grupo político desde seu

nascedouro. 128

"Vecento o novo pantido ~tnaiu elemento~ j~ ven~ que, de~de o~ banc~~ acad~mico~, e~ta

vam a pan da~ clivagen~ ideolõgica~ e ~o­

ciai~ de que ~e nutnid a conconn~ncia en­tne o ~ituacioni~mo pennepi~ta e o~ movi­

rnento~ di~~idente~. E~tavam 6arnilianiza­

do~ com a~ bandeina~ 'libenai~' de que ena ponta-voz a 6acç~o Me~quita.,,129

Entre os políticos e intelectuais mais expressivos do

PD estão Mário de Andrade, Armando de Sales Oliveira e Paulo Duar

te os dois fil timos membros destacados do "Gnupo do E~.tado", se!!,

do o penfiltimo genro de Jfilio Mesquita. Os pontos do programa

partidário correspondiam, gno~~o:modo, aos clamores hist~ricos

62

, do grupo: moralização eleitoral, modernização, reforma no ensi-

no, etc~ Embora de base"social semelhante - os grandes fazen­

deiros "do caf~, ou segmentos a eles subordinados - o partido se

diferenciava pelas propostas de condução da política.

"Ó "Pa~tido Vemoc~itico c~e~ceu e ~e 6i~mou

na denúncia do~ de~mando~ do PRP (~bLóúo,

inju~tiça e 6~aude~ eleito~ai~, clienteli~

mo de~en6~eado, ~eleç~o da~ 6o~ma~ ~ep~e~­

~iva~ pa~a o t~atamento da~ que~tõe~ ~o­

ciai~, etc.l, na cont~apo~ição" da democ~a­c"ia" ã oliga~quia. "130 "Voltava-~e ~ wna

cla~~e média nacional, com um p~oghama li­

beJr.al democ~itico, tempe~ado pOh alguma~

~inta~ vagamente he6ohmi~ta~. Tendo pOh ob . +' o 1 o"" ,,131 -je~~vo centha~ a heuohma po~~t~ca.

Esses contornos permitem uma assoclaçao imediata do

PD ao liberalismo oligirq~ico do "Ghupo do E~tado" das d~cadas

ante~iores. Agora, os dissidentes', a facção Mesquita, se apre-

senta com organicidade, de forma mais articulada, efetivando sua

ação em todo o estado, co~ preocupação de continuidade. Apenas

um ano após sua .fundação, o partido contava com 17 diretórios na

capital e 70 no interior, congregando mais de 50.000 democratas

em todo o estado. 132 Esse vigor lhe valera alguns mandatospa~

lamentares nas eleições de 1928.

Na sucessao de Washington Luís em 1929, o PRP, unido

e fortalecido em São Paulo graças à derrota imposta à oposição

local, julga-se em condições de realizar o velho sonho de man­

ter definitivamente o poder federal. Assim, o Presidente apon­

ta·como sucessor Júlio Prestes -"Presidente do Estado. Tal ati-

63

tude empurra Antônio Carlos a uma coligação com o Presidente ga~

ch~, GetGlio Vargas, bastante prestigiado pela pacificação re­

gional por el~ operada. O situacionismo, como de hibito, pol~­

rizava a esmagadora maioria dos pequenos estados. O enfrentamen

to entre o bloco· sob a liderança da 01 igarquia paul is ta e a Alian

ça Liberal, formalmente reproduzia os velhos esquemas da enge­

nharia política da RepGblica. Ocorre que a vida social brasi­

leira se tdrnara de tal ~rido ~omplexa e vigorosa que, desde o

início da década, pequenas crises locais se avolumavam, compon­

do um quadro em que a fal~nçia do sistema político republi~ano

se fazia patente~

"A Aliança Libenal ~on~tituiu-~e como ama

6nente negio~al, abnangendo a ampla maio­nia do~ nepne~~ntante~ polltico~ do Rio

Gnande do Sul e de Mina~ Genai~,a que veio juntan-~e o Pantido Vemocnático de são Pa~

lo". "pnopun~a alguma~ medida~ de pnote­ç~o ao~ tnabalhadone~... Sua in~i~t~ncia maion e~a ade6e~a da~ libendadei indivi­

duai~, a ani~tia (com o que ~e acenava pa­na o~ tenen~e~) e a ne60nma polltica."13~

Embora alinhado, o PD ficou ã margem das articulações

revolucionirias. No perí6do imidiatamente posterior ã revolu­

ção, os democriticos foram francamente postos de lado, desloca-

·dos pelo tenentismo e um certo sentimento de "vingança" da Alian

ça para com"a oligarquia patilista - principal sustenticulo da

Primeira RepGblica. Assim,

"o de~6echo da Revoluç~o de 30 e,~obnetudo,

o 6ato de a pnõpnia di~~idência 'democnáti ." . -

ca' que apoiava a coalizão de 60nça~ vito­nio~a ten ~ido alijada. do mando polltico no

64

I ..,

pla.no (ud.a.dua.l, toltna.lta.m -iltlte.ve.It.6-<..ve.1 a. de.1t . .. 134

Itota. poIZt-ica. da. ol-iga.ltqu-ia. pa.ul-i.6ta.."

Esses fatos levam a uma recomposição política em são

Paulo .. Dois anos sao necessários para que o PD se componha com

seu eterno rival, já velho e politicamente caduco PRP. Fazem o

levante de 32, derrotado. Apresentam-se i eleição de 1933, em

chapa única, obtendo uma vitória fácil.

"Altmcwdo de. Sa.le..6 Ol-ive.-ilta. a..6.6ume. a. -inte.lt­

ve.n:tolt-ia. e.m sio Pa.ulo e.m a.gO.6to de. 1933.

V e..6.6 e. m om e.nto a.t ê. o 9 o lp e. de. 37,. o 9 e.nlto de. J~l-io Me..6qu-ita. e., poltta.nto, o he.ltde.-ilto po­

IZt-ico da. 6a.cçio 'l-ibe.lta.l' da. ol-iga.ltqu-ia. ~a.ul-i.6ta.,' pltOCUlta. junta.1t 0.6 d-ive.lt.6o.6 .6e.to-

1te..6 d-ilt-ige.nte..6 com v-i.6ta..6 ã Ite.tomada. do p~

de.1t a. nZve.1 6 e.de.lta.l. Em 6 e.v e.1t e.-ilt o de. 1934,

clt-ia.-ie. o Pa.ltt-ido Con.6t-ituc-iona.I-i.6ta., 'pa.~

t-idd de. todo.6 0.6 pa.ul-i.6ta..6', conglte.ga.ndo

a..6 a.nt-iga..6 6~ltça..6 de.mocltã.t-ica..6 e. Ou.tJtM ,agite. m-ia.ç.õe..6 me.nolte..6. . Na..6 e.le.-içõe..6 de. 1934, a.m­

bo.6. 0.6 pa.ltt-ido.6 (PRP e. .PC) concoMe.me.mlta..ia. .6e.pa.Jz.a.da. e., como e.lta. de. .6e. e..6pe.lta.lt, o Pa.It­

t-idoCon.6t-ituc-iona.I-i.6~a. le.va. a. me.lholt, con 6-iltma.ndo Altma.ndo de. Sa.le..6 Ol-iv e.-ilta. , no ca.1t go de. gove.ltna.dolt."135

Como se v~ claramente, com a vitória, o "GltUpO do E.6-

ta.do" , a dissid~ncia, a facção Mes.qui ta, o liberalismo oligár­

quico finalmente é poder. Consegue derrotar o conservadorismo

que,. fora do poder e da composição de forças a nível federal,

já não mais consegue se estabelecer na política. Morreu, caiu por

obso1esc~ncia política; nao tem mais vigor. Outro grupo de ori

gem oligárquica é vigoroso, é e1~ que se faz porta-voz das no-

65

vas aspirações que emergem de !-Im São Paulo 'industrioso, que se

formou como o pr6prio grupo - surgiu da mesma oligarquia do ca-

fé.

A festa dura pouco. , Embora portador de uma proposta

liberal-democrática para a sociedade brasileira, embora de um

liberalismo módernizante, Armando de Sales Oliveira é derrotado.

Seti governo é m~rcado por uma intensa ação no sentido de assu­

mir a liderança dos grupos oligárquicos em franca desagregação.

Ataca tamb~m, a frente cultural,' da qual se falará mais adian­

te. "POIL 6im, o go.tpe. de. 1937 inlltaulLou um lLe.gime. ditatolLia..t e.

.tiquidou, all e.llpe.lLa.nçall d~ o.tigalLquia de. lLe.eupe.lLalL o eontlLole. do

pode.~ ee.ntlLa.t.,,136 ,

Nos quadros da luta política, o golpe de 1937 enterra

definitivamente as esperanças do grupo liberal em estudo, ele se

desagrega, se desarticula. Em grande pa~te seus membros são mar

ginalizados oucooptados pelo Estado Novo. O ressurgimento da , "

democracia em 1945 vai vive'r um outro tipo de liberalismo, com

um contorno que nao é o caso de caracterizar neste trabalho. Pa

ra o que se quer, a trajetória deste matiz liberal em São Paulo,

da reação' contra o golpe de Deodoro, da dissidência, da campa­

hha civili~ta, da luta pelo posicionamento diante da guerra, da

defesa de uma legislação trabalhista, do PD, do PC,de Júlio Mes

quita a Armando de Sales Oliveira, é mais que suficiente.

66

-4.2 Uma açao eul~u~al

No'que diz respeito especificamente ã política cultu­

ral, as preocupaçeos com a literatura, a intençio de manter in-

telectuais deexpressio assinando colunas no jornal, sempre foi "

desejo explícito de J~lio Mesquita. Euclides da Cunha, intelec

tual vinculado ao grupo,

"~'nomeado memb~o do e~tado-maio~ do MLni~­

t~o da Gue~~à que ~e p~epa~a pa~a di~igi~

,~e~~oalmente a luta em Canudo~. No dia 30

de Julho (de 19871 o E~tado de Sã.o Paulo p~ blica: po~ cont~ato 6i~mado com e~ta emp~!

~ a, o s~. Euclid e~ da Cunha no~ enviMâ co~

~e~pondência do teat~o de ope~açõe~ e, al~m di~~o, toma~â nota~ e 6anâ e~tudo~ pa~a e~

c~eve~ um ~~abalho de ~5lego ~ob~e Canudo~ e Ant5nio Con~elhei~o. E~te t~abalho ~e~â

po~ n~~ publicado em volume. O v~. Eucli­de~da Cunha .~, como todo~ o~ no~~o~ Leit~

~e~ ~abem, um e~c~ito~ b~ilhante e pe~~ei­~a~ente ve~~ado no~ a~iunto~ que vai de~~~ volve~. O'~eu t~abalho, po~ con~eguinte,

~e~â inte~e~~ante e cón~titui~â um valio~o

d h · -. . (J ,,137 ocumento pa~a a ~~to~~a nac~ona~.

Além do autor de O~ Se~tõe~, uma parte expressiva da

intelectualidade escreve· nas colunas do E~tado. Olavo Bilac, é

um dos que colabora com assiduidade, com ele José Veríssimo Coe

lho Neto, Oliveira Lima, Artur Azevedo e outros.

Contudo, seri apenas na segunda década deste sécuio

que o "G~upo do E~tado" dari organicidade ã sua açao cultural.

E~'meados de 1915, J~lio Mesquita lança uma ediçio vespertina

de O E4tado de são Paulo, a iniciativa ficou conhecida pelo no-

( .

67

, me de "E.6:tadinho". Logo 'no principio o E.6:tadinho se apresentou -p~

larizando a nova geração' de intelectuais. Seu principal orien­

tador era Vicente Ancona, ainda bacharelando na Faculdade de Di

r.ei to. Re'úne colaborações expressivas de Júlio Mesquita Filho,

Moacir Pisa, Antônio Mendonça, Pinheiro Júnior, Monteiro Loba-'

to. 'A1íás, foi o E.6:tadinho a porta de entrada do nosso escr1-.

tor no grupo.

"O :tom ge~al do jo~nal ~ leve, gaia:to, ale­g~e ... en~iquecido de ve~.6o.6, ~on:to.6 e pO.6-

:te~io~men:te, de uma .6eção li:te~ã.~ia e ou:t~a

6eminina .•. O E.6:tadinho :to~nou-.6e de .6aIda um jo~nal vivo, i~~equie:to, mui:ta.6 veze.6 i~

~eve~en:te, capaz de dize~ a:t~av~.6 de uma g~ -\

lho6a e.6pi~i:tuo.6a o que não pe~mi:tiam a .6i-.6udez e a .6eve~idade da.6 coluna.6 doE.6:ta­do.,,13~

Assim, "a mocid~de.in:teligen:te de são Paulo 6ez do E.6

:t d · h .. - 6" l ,,139 a ~n o o .6eu o~gao o ~c~a .

"A pO.6ição de ,o~ça ~ela~iva de que 6 G~upo do E.6:tado

di.6punha enquanto balua~:te do Ilibe~ali.6mo·oligã.~quico' ~, po~­

:tan:to, indi.6.6ociã.vel de .6ua condição de emp~e.6ã.~io.6 c.u.l:tu.ttai.6.,,140

Desta forma, a ação intelectual que marca a própria con$titui-

ção do grupo desde sua fundação, ganha força e impulso pelos

anos de 1915/16. A publicação da ~evi.6:ta do B~a.6ili que se se­

guiu ã do E.6:tadinho, consagrou defini ti vamen te a po1 i tica do gr~

po na inte1ectualidade.

"A Revi.6:ta do 8~a.6il .6e p~opunha a .6u.6ci:ta~ uma :toma­

da·de con.6ci~ncia po~ pa~:te da nova ge~ação de in:telec:tuai.6 ep~

~Z:tico.6 da ~liga~quia.,,141 Com dois anos de circulação, a re-

68

vista, que i um p610 de articulação do "G~upo do E~tado", passa

a ser propriedade de Monteiro Lobato, destacado intelectual que

se introduzir~ nos m~ios cultos por interm~dio do E~tadode S~o

Paulo.

"N~o ~endo pubLi..c.ado de c.a~ã.te~ populan,po~

~uZa c.ontudo lnten~a pe~etnaç~o no~ meio~

lntelec.tual~, e apanec.en em ~ua~ pã.gina~,

c.on~tLtulu, po~ muito~ ano~,· o ~onho de tE.. do e~tneante, de todo c.andldato ã. gló!r.la. no

~aZ~ da~ Letna~ ... O p~ogn~ma da Re.v,ü;c'a

ena muito c.tano e. ~lmple.~; 60nman uma c.an~­c.lênc.la nac.lonali~ta.:. Tudo que. a dlne.ç~o

da nevl~ta apne.goa vai ao e.nc.ontno do modo de. pe.n~an e. ~entln de Monte.lno tobato."142

Com Lobato, a revista não muda de orientação.

"O c.o~mopo..e..lti~mo lnte.le.c.tual, a c.oe.xl~tên­

c.la de. autone.~ pnove.nle.~te.~ de. c.onjuntuna~

dl~tlnta~ do ,c.ampo inte.le.c.tual, a dive.Jz.~l­

dade. de. áne.a~ e. gene.no~, o e.mpe.nho em daJz.

c.obentuna ao~ pnlnc.lp~i~ t5plc.o~ e.m tonno do~ q~ai~ ~e. antlc.ulava o de.bate. polZtic.o e lnte.le.c.tual da époc.a, e.vlde.nc.iam o~ al­vo~ c.ome.nc.lal~ que. pe.nme.avam a polZtic.a e.dl

tonlal ~e.gulda pon Lobato."143

Tal política ~ a marca distintiva daquela que será a edi­

toiao rilaTs importante da Primeira República, a Monteiro Loba to e eia.

Pouco tempo ap6s a compra do peri6dico por Monteiro

Lobato, Lourenço Fi1h~ integra a direção da revista. Sua orien­

tação se mantim. A título de exemplo, o editorial do exemplar

de setembro de 1919, cujo tít~10 ~ "O Pe.Jz.i~o Yankee.", afirma:

"Nio ~, pol~, motivo de e~panto que., levan-

( ,

69:

tada. a d-Lhc.u.6.6ão em toltno da.6 nova.6 man'-L-6 e.6.taço e.6 -Lmpelt-L'aR..,ü:ta.6 do.6 E.6tad 0.6' Urúdo.6,

o Blta.6-LR.. .6e ponha na .6ua at-Ltudeplted-LR..e­ta_ .6em plteoc.upalt-.6e .6equelt c.om a e.6c.oR..ha do moR..ho c.om que plte6-L-ia .6 elt' c.om-Ldo. ,,144

Ao que tudo indica, aaçao do grupo no terreno da cul

tura mantém 9S traços de agilidade e modernização que caracteri

zam sva política.

"A de.6c.obelt:ta'de uma nova pltag~ do c.a6~ •••

. di ~omo c.on.6eqa~nc.-La a 6undação de. um d~.6

ma-L.6 notive.i.6 c.entlto.6 c.-Le.ntl~-Lc.o.6 de. São

PauR..o, o ln.6t-L:tuto B-LoR..õg-Lc.o. E.6.6e. a.6.6u.n­

to empolgou todo o lte.6to do plt-Lme.-Llto .6eme! tlt e d'e 1 924 • Ve. ó dto, ó o -L ] úR..-Lo M e..6 q u-Lta

F-LR..ho~uem tomou a -Ln-Lc.-Lat-Lva da óundação do ln.td-Ltuto B-LoR..õg-Lc.o'. ,,145

Esse modelo de intervenção intelectual será adotado ,

pelo ~erdeiro mais expressivo do grupo, após, a conquista defini:.

tiva da liderança da política paulista. e durante a intervento

ria e, mais tarde, governo Aimarido ~e Sales Oliveira, que oli-

o beralismo oligárquico expõe plenamente sua política cultural.'

"A ,Fac.uR..dade. de F-LR..o.6oó-La, C-L~nc.-La.6 e. L~tlta.6 e a Un-Lve.It.6-Ldade

de São PauR..o, óoltam c.1t-Lada.6 em 1934 c.om apo-Lo do gltupo Muqulia,

dwta.n:te a gu.tã.o Áltmando de SaR..u OUvUlta no gove.Jtno do E.6:tado. ,,146

Além das ações_do governador liberal,

"o Vepalttamen:to Mun-Lc.-LpaR.. de. CuR..tulta 60-L ~m

pR..antadodultante. a ge.6tão Fib-Lo Pitado ,ã 6ltente. da Plte.óe.-Lt~lta de. são PauR..o, no ano

,de 1935. Re..6uR..tou de. um pltoje.to e.R..aboltado

pOIt um gltupo de. -Lnte.R..e.c.tua-L.6 que. e.ltam c.om­panhe-Lio.6 de..6de 0.6 plt-Lme-Llto.6 te.mpo.6 da Op!

70

~,(.çao democ.Jtâ..t.<.c.a, .606 a l'<'deJtança. de Pau":'

lo Vuan.te e Mâ.n'<'6 de Andnade."147

Os elementos aqui recolhidos acerca da intervenção do

liberalismo oligárquico na política e na cultura Já possipili-

. tam a passagem para a etapa final e conclusiva desta disserta­

ç~o. Como vem sendo dito desde a introdução, este trabalho não

visa um tra tamento exaustivo da traj etória. do "GJtupo do E.6.tado",

tampouco um exame detido de sua política. Buscou-se a confirma

ção de sua existência ·na· sociedade paulista durante a Primeira

Repfiblica e a sua desagregação no Estado Novo, e isso foi obti­

do. Buscou-se também o vínculo intelectual de Lobato à esteg~

po social. O resultado de tal tarefa ap~esentado parcialmente

no início deste trabalho se completa neste ~apítulo. Lobato li

gou-se ao Gru~o do Estado, não foi uma de suas figuras de proa,

não foi um de seus porta-vozes na .política, nem mesmo o seu in­

teiectual mais' destacado. Porém s'ua ação empresarial, política

e intelectual expressam com clareza meridiana a pauta do grupo.

Antes de passar às conclusões finais, cumpre ressal­

tar algumas questões referentes à ausência, neste trabalho, do

mais importante movimento ctilt~ral da Primeira Repfiblica - o Mo

dernismo. Apesar de todo seu vigor, ele não foi relevado. Isto

se justifica pela relativa dispersio política de seus membros

mais destacados. Eles s~ espalharam por diversos grupos dos pa!.

tidos da ~poca, não atuaram conjuntamente de forma orginica se­

nao epsodicamente.

Além desses problemas,. cujo exame demandaria estudos

.individualizados., há o que diz respeito·exclusivamenteà.Monteiro Lob.ato,

71

, que nao se ligou ao movimento. Desde o artigo sobre a exposi-

çao Ma1tatti em 1917, predomina um afastamento entre Lobato e o

modernismo. Assim, afastados por padr6es est~ticos diferencia­

dos e por incompatibilidades explícitas, Lobato e os mode.rnis­

tas nao dialogaram expressivamente. Por isso nao foi dedicada

atenção a influências recíprocas esperáveis.

72·

s.A TRAJETORIA CULTURAL DE UMA DERROTA

5.1 O sZt~o e o B4~~ll

A alternativa de buscar uma interpretação da evolução

da visão 'científica de Lobato baseado exclusivamente em sua bio

g~afia ~ tent~dora. Afinal, o período de transição entre o que

chamamos o SABER INGrIL e o SABER GrIL ~ marcado ~ela e~tada de

Monteiro Lobaio em Nova Ior~ue como adido cultural. Li ele tofua

ra contatos com a moderna produção fabril, se identificara com

Henry Ford. Foi uma ~poca de entusiasmo com a ind~stria, com a

nova org~nização de trab~lho. Na volta ao Brasil, Lobato tra­

duz um livro do industrial que tanto o impressionara nos Esta­

dos Unidos. Há marcas substantivas. dessa influência na fase do

SABER GriL. O papel de propulsores da civiiização reservado ao

ferro e ao petr6leo atestam a presença de um industrialismo vi~

ril no pensamento de Lobato nesta fase.

Por outro lado, a passagem do SABER GrIL ao SABER MAL

VERSAVO ocorre no período em que Lobato é definitivamente derro

tado em suas aspirações na busca do petr6leo brasileiro. Ele é

preso pouco tempo ap6s a elaboração do livro A Re6o~ma da Natu­

~eza e pou~o antes da prepara~ão do A Chave do rdmanho.

Talvez bastasse o' conhecimento destes fatos para en­

contrar-se uma irit~rpretação não apenas plausível, mas candida­

ta fortíssima ao consenso dos interessados na obra infantil de

Monteiro Lobato. Não seria necessário nenhum esforço adicional

para cumprir essa tarefa. O vigor dos fatos, a estrita coinci­

dência das'datas são indicativos precisos que alicerçam esse ca

73

I

miriho para a ~onclusão d~sta caracterização.

Con~udo, tomar fatos particulares da v-ida do autor pa

ra buscar um ent·endimento de sua obra é uma atitude temerária.

E' isso' mesmo quando os fatos a que se referé são tão evidente-

. mente vinculados aos rumos da obra quanto aqueles aqui listados.

Ora, essa maneira de proceder deixa lacunas seríssimas na inter

pretação dos textos~ ela não respbnde, nem pode responder, a i~

dagações do t,ipo: por que Loba to viaj ou à Nova Yorq.ue exa tamen­

te naquela.épóca? Por que Lobato foi preso? E não se diga que

essas Jndagações são irre~evantes, trata-se de uma questão ant~

rior à interpretação. , Além disto, nas caracterizações que se

alicerçam neste método falta uma estrutúra conceitual capaz de

mediar'o fato da vida do autor e a estrutura literária em ques-

tão. Por exemplo: não é óbvio que a prisão de Lobato em

resultasse num profundo derrotismo civilizatório, como

1941

aquele

identificado na Chave do Tamanho e nos Voze T~abalho~de H~4CU-

le~ .

Talvez um estudo detalhado do caráter do escritor pu­

desse trazer à tona o significado da prisão para Lobato. Porém

tal tarefa é simplesmente· impossível, dado que não é cabível a

psicanálise ou um estudo. profundo da personalidade do autor,ele

simplesmente es·tá morto, e mortos -estão quase todos .os seus ami

gos e confidentes mais próximos.

"Sem dú.vida, ~e ti\i~~~emo~ um conhecimento exau~tivó da e~t~utu~a p~icolõgica do au­to~' e~tudado e da hi.6tõ~ia de ~ua.6 ~elaç.õu

·cotidiana.6 com ~eu meio ~ocial e natu~al,

pode~Zamo~ ~omp~eende~, ~e nao intei~amen­

te, pelo meno~ em g~ande pa~te, ~ua ob~a

74

a~~av~~ de ~ua biog~a6ia. Um ~al eonheei­men~o 'eontudo e~~ã.., no momen~o e p~ovavel­men~e,pa~a.~e~p~e, no domZnio da u~opia. 'Me~mo quando ~e ~~a~a de indivZduo~ eontem

, ,-p~~ineo~, que o p~ie6logo pode e~tuda~ no labohat6Kio, pode ~ubmete~ a toda e~pêeie

de expe~iineia~ ete~te~,'inte~~oga~ ~ob~e vida.

pa~~ada, obte~Zamo~ daZ, qu~ndo muito, al­

gQ ~emelhan~e a. uma vi~ã.o mai~ ou meno~ 6~~

men~ã..~~a do indivZduo e~tudado .. "148

Embora reconhecendo algum valor a'o método acima, este

trabalho nao aprofundará sua análise neste caminho. Tal orien­

tação ocorre por força dos limites que ele impõe ã continuidade', , "

dos estudos ~e caract~rização da obra infántil de Lobato. O ca-

minho' "p.6ieol6gieo" não aprese~t,a valor heurístico. Por outro la

do, o caminho "~oeiol6gieo" para esta caracte'rização permite usá~

la na compreensão de uma determinaqaatitude social que, em gran

de parte, é compartilhada. Desta forma, este trabalho toma oca

minho da reflexão acerca do destino do "G~upo do E.btado" e do li

beralismo por ele proposto, buscando um paralelo com a ,evolução

d~~visão"científica de Lobato.

Neste sentido, Lucien Goldmann nos fornece indicações

importantes:

"Ah di6ieuldadeh que ap~e~en~ava a in~e~çã.o da &b~a na biogna6ia de ~eu auto~,longe de ,nOh inei~a~em ã ~etomada do~ mêtodo~ ~ilo-

\

l;gieo~ e a nOh limita~em ao texto imedia-~o, dev e~iam no~ leva~, ao eon.tfl.áJúo, a avan - '

ça~na p~imei~a di~eç~o indo, nã.o apena6 do ~exto ao irz,d.lvZduo, ma~ ~ambêm de.f.e ao~ g~u

75

po~ ~oc~a~~ do~ qua~~, 6az pa~te. Po~~, ã luz da ~e6lex.'ã.o, a~ d~6~culdade~ do e~tu­do 6~lol5g~co ~eve{am ~e~ da, mt~ma o~deme te.~ m,e.6mo,6undame.n:to 'ep~~temolõg~co. Sendo ~ne~got~ve~.6 a mult~pl~c~dade e a va~~eda­

de do~ 6ato~ ~nd~v~dua~.6, .6eu e.6tudo c~en­

t16~co e pO.6~ti.vo p~e.6.6upõe a .6epMaç.ã.o do~

ele~ento.6 e.6.6enc~a~.6 ~ ac~denta~.6, que .6ã.o ~nt~mamente l~gado.6 ã ~eal~dade ~med~ata

tal c.omo' ela .6e o6e~ece ã no~~a ~~ç.ã.o .6e.~ ~lvel. .. na.6 c~ênc~~.6 humana.6, a .6 epa~aç.ã.o ,ent~e, o e.6.6e~c~al e o ac~dental .6õ pode .6e 6aze~ pela ~nteg~aç.ã.o do.6 elemento.6 ao con junto, da.6 pa~te.6 ao t~do;"149

Desta maneira, 'partindo da bicigrafia de Lobato, ,che­

ga-se ao "G~upo do E.6tado", com contornos claramente definidos,

com meios e formas de expressão já observadas. Lobato e um in­

telectual do grupo cujos escritos infantis 'expressam uma homolo ,

gia clara com b desempenho político do grupo. Há uma coerência

rigorosa entre ~ visão científica que o autor expressa e o des­

tino do grupo social ao q~al ele se vincula.

G~O~.6if modo, o "G~upo do E.6tado" - que representava o

li'beralismo oligárquico - apresenta uma traj etória na política

brasileira que se distingue pela presença efetiva, porem subor-

,dina'na Primeira República. ~ um liberalismo que nao se compl~

ta, nao chega ao poder federal efetivamente. Nos raros momen­

tos de confronto com o co~servadorismorepublicano, freqUente~

mente aliado às forças militaristas - de inspiração na filoso­

fia política autoritária do positivismo clássico - o liberalis­

mo perde inexoravelmente. A sucessão de derrotas se alterna com

momentos de partilha do poder local e até de pequenas parcelas

76

do poder federal, nos momentos de pacificação da "di~~id~ncia"

~om o conservadorismo do PRP.

Na década de .vinte,o "GJt.u.podo E.6:tado" se estrutura,

se individualiza. de modo relativamente estivel. O Partido Demo

critico vem dar vazão às suas necessidades de organização polí­

tica.

O que importa 'desse'período, é a perspectiva de comb~

te, de realização de ativismo de que se reveste a ação do'grupo.

Ela encontra um correlato na crítica ao saber tradiconai, elabo

rada por Lobato na fase do SABER INGTIL. A questão é combater

as formas arcaixas da política, e da cultura brasileira. Esse

também é o tom com que o partido Democritico se justifica. Esse

é o discurso tradicional e característico da "di.6.6id~ncia". Ele.

é curiosamente adaptado para se encaixar na boca de Pedrinho,

Narizinho e' Emília. B a denfincia ,de ineficicia das relações p~

líticas e sociais estagnadas da Velha Repfiblica. B um protesto

veemente que ecoado pequeno sítio do Pica-Pau Amarelo. A crí­

tica à cultura arcaica vem sem nenhuma indicação de novos cam'i­

nhos. B um protesto que, de imediato, encontra forte amparo na

intelectualidade. Os elementos ,essenciais" da fase do SABER ING

TIL correspondem aos reclamos que faz o PD. A desvalorização do '

'Velho em confronto com o Novo, expõe a pr6pria natureza dos" em­

bates do "GJt.u.po do E~:tado".

O sUcesso que Lobato conseguiu com seus primeiros li­

vros infantis talvez não se localize na originalidade nacional

no gênero. Tampouco na presença dos elementos da vida rural que

seduziam os intelectuais recentemente urbanizados. Provavelmen-

77

te o determinante ~ o elemento de crítica i tradiçio cultural,e

por ~xtensio, ~ tradiçio política brasileira que transbordava

em complexas crises !egionais quase insolúveis e em grandes cri

ses nacionais.

No período posterior a 30, o que salta aos olhos

exist~ncia de"propostas objetivas de transformaçio política

~

e a

em

viabilizaçio. e a "di66id~ncia" no poder, realizando seus in-

tentos. Ela, que apoiara a Aliança Liberal e que conseguira,fi

nalmente, liderar os grupos oligirquicos, assume o poder local.

Esse g~nero de liberalismo se torna facilmente hegem6nico no im

bito das classes dominantes e na intelectualidade, enfim propõe

e realiza. As propostas deste grup~ contemplam um industrialis

mo,nio mai~ se alicerç~m exclusiva~ente no caf~. Sua açio con

substancia uma proposta de modernizaçio democrática das estrutu

ras políticas e sociais da república.

Neste segundo momento, enquanto Armando de Sales Oli-'r ._

veira assume a liderança d~s facções oligárquicas, qua~do o li­

beralismo se sobrepõe ao conservadorismo, quando se funda aUSP,

o Visconde de Sabugosa dá o tom no Sítio. Suas realizações são

boas, úteis e.divertem a todos. A opçio ~ a modernização capi­

talista, o'democratismo em nomedb qual a revoluçio de 30 pola-

riz6u grandes massas. No sítio, ~ o extremado racionalismo que

manda, ~ a ci~ncia moderna todo-poderosa que rege os aconteci­

mentos. e o SABER GrIL. Por outro lado, "neste período, esta ~

a opçao do industrial pelo libe~ali6mo 6o~di6ta, racionalizando

o processo produtivo. A descoberta e valorizaçio da razio cien

tífica por L.obato em seus livros se associa ã possibilidade de

78

realizá-la materialmente na vida social. Seu modelo social bem

exposto no livro O Poço do Vi~eonde traz consigo a

de quem tem o que pr~por e condições de realizar.

maturidade

Por fim, temos o últ,imo período, após o golpe de 1937 ,

no qual sao enterradas definitivamente as esperanças do libera­

lismo. g a fase da cooptação dos intelectuais reminiscentes do

"GILupo do E~:tado", é a desagregação final do que 'haviasobredo

da "di~~iditleia". Após est~ data, desaparecem as possibilida­

des de realização de qualquer política aut6noma. O Estado Novo

~nterra o sonho de Armando de Sales Oliveira e dos demais gru­

pos que se articularam em torno dele em São Paulo. Desta forma

o Liberalismo difícil da Primeira R~pública sai do cenário polí

tico. Ao que tudo indica, também np campo da economia o espaço

está mais exíguo, o Estado intervém, dirige com muito mais vi­

gor que antes. A trincheira da autonomia estadual, que serviú

de refúgio outrora, nao é sequer possibilidade pensável. A re­

voltição, téntada em 32, não contaria nem mesmo com o appio da

. antiga e tradicional base política - a oligarquia. A .derrota em

37 inviabilizou esses grupos sociais; nem mesmo sua componente

modernizadora, liberal, tem alternativa. g a derrota final.

o sentimento de derrota na luta política assume, no

sítfo, a expressão do SABER MALVERSAVO. A ci~ncia "boa", efi­

caz é massacrada pela "e~:tupidez humana" que não permite que

seus frutos apareçam.. A refer~ncia de uso significativo da ci~n

cia é aquela desvinculada da sociedade real, é o balde, é aci~n

cia grega. O poder que desvirtua o saber no sítio é o mesmo que

derrota o criador da Universidade 'de são Paulo. A importância

79

.-do cientista bom e justo e a mesma do ~ersonagem social derrota

do pela Estado Novo. O ~sconderijo literário do liberalismo da

Primeira República expressa claramente seu destino real - a der

rota, ~ cooptação, a descaracterização.

A idéia aqui defendida é que a obra infantil de Loba­

to expressa ~ saga do liberalismo desde o regime oligárquico da

Primeira República ~té o Estado Novo. O veio que demonstra sua

traj etória é .a visão científica, a ·forma de expressão literária

da ci;ncia, o 'valor a ela atribuído.

Assim; a existência desta homologia entre a visãocien

tlfica de Lobató e a irajetória política e cultural do "GltUpO

do E.t,;t~do", permitiu caracterizar a sua obra infantil. Para além

da defesa de um modelo específico de sociedade, ela expõe a tra

jetória da derrota de um grupo liberal significativo na políti-

ca· hrasileira ..

. 5.2 Palta além da V.i,,·ã.o C.ien:t1.6.ic.a

Se a análise feita até aqui permitiu uma caracteriza­

çao da obra infantil de Lobato, situando a evolução da idéia de

ciência em relação ã saga do liber.alismo durante as .décadas de

20 e 30, ela não consegue abarcar a totalidade da obra. Fez-ie

um recorte de um determinado elemento expressivo da obra infan­

til. No confronto desta caracterlstica com a trajetória políti

ca do autor e do grupo intelectual ao qual ele se vinculou, ve­

rificou-se uma homologia que reflete a relevância cultural da

8Q

desagregação do liberalismo oligirquico da 'Primeira Re~Gblica .

.. Ocorre que a obra infantil nao se restringe apenas a

visão científíca. Existem inúmeros outros elementos típicos de

Lobatoque foram relegados neste trabalho. Muito embora não o

seja em parte expressiva da literatura especializada. A guisa

de exemplo, toma-se a irrever~ncia da Emília. Desde os primei-

ros trabalhos a personagem ~ mandona, inventa palavras e expre~

soes, não tQlera ordens nem respeita os mais velhos, não se can

sa de fustigar os demais personagens, ~ egoísta e "Menceni~ia",

'tirando proveitos pessoais nas situações mais aflitivas. "

'Essetraço de personalidade ~ constante ao longo dos

t,extos, ele nao se modifica substancialmente durante:quase. 25, anos.

Outro elemento bastant-e importante em qualquer obra

infantil ~ o tratamento dado i separação realidade/fantasia. Em ,

Lobato, essa característica evolui de modo expressivo: nos pri-

meiros textos hi um momento de torpor, de sonol~ncia qu~ intro­

- duz a aventura propriamente dita. Nos livros da maturidade is-

to nao ocorre, o real proposto e a fantasi~ se misturam de for­

ma inseparável.

Assim, est~ trabalho ~ão pode ter intenções definiti-

vas, seu ponto de partida foi apenas um entre inúmeros elemen-

tos. Seu ponto de chegada foi a interpretação da variância des

te elemento ao longo dos anos i luz da tr~jet6ria do "Gnupo do

E.6t.ado" •

Mesmo com esta limitação, defendeu-se a condição cen­

tral da visã~ científica no conjunto da obra. Ela cumpre um pa

81

pel organizador mesmo nos textos em que a intenção nao é fazer

divulgação cient!fica. Ji foi constatado que quase todos os li

vros infantis'de Lobato se desenvolvem contra a ci~ncia, impul­

sionados por. ela ou apesar dela. ~ inegivel sua condição nu­

clear.

Contudo seria pretensioso e ing~nuo crer que esse ins

trumental pudesse dar conta de todo o fascínio que os textos do

'S!tio t~m provocado em diversas gerações de crianças. A homolo

gia visão científica/liberalismo bligirquico expõe apenas a ex~

pressão literiria de uma derrota cujas conseqUências ecoaram e

ainda ecoam na cultura política brasileira. Ela não pode' res­

ponder a indagações referentes i perenidade do encantamento ge­

rado pelas aventuras do Sítio. Talvez se trate de um objeto i~

ting!vel nos limites impostos pela refer~ncia teórica adotada;

talvez um extensivo reexame da teoria possa conduzir aum enten , .

d~mento deste fascínio a que se fez menção;talvez.aprópria con~,

tituição deste objeto seja imprópria .

. ~ exatamente neste ponto que a dissertação se encer-

ra. Pois tratar daquilo que não foi feito e das razoes de tal

abandono é, antes de tudo, uma enorme'pretensão.

82

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

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6) Cavalheiro, Edgard. Montei~o Lobat~ Vida e Ob~a. São Pau­

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7) Idem, p~ 194.

8) Lajolo, Marisa. Op. cit., p. 28.

9) Lobato, Jos~ Bento Monteiro .. A prop6sito da exposição Mal­fatti. O' Ehtado de são Paulo. são Paulo, 20 dez. 1917.

10) Idem .

. 11) Lobato, Jos~ Bento Monteiro. As novas possibilidades 'das zonas cilidas. Revihta do B~ahil. São Paulo, 8(29)~3-8,

maio 1918.

12) Cavalheiro, Edgard. Op. cit., p. 217.

13) Duarte, Paulo. Julio Mehquita. são Paulo, Hucitec, 1977,

p. 121.

. 14) BG2, p. 194.

15) Lajo10, Marisa. Op.

16) Ca:va1heiro, Edgard.

17) Idem, p. 223.

18) BG2, p. 302.

19) BG2, p. 3.13.

20) R.N. , p. 18.

21) R. N. , p. 19.

22) R.J:l., p. 57.

23) R. N. , p. 104.

24) R. N • , p. 104.

25) R.N. , p. 116.

26) R.N. , p. 128.

27) R. N • , p. 183.

28) R.N. , P •. 214.

29) Ibidem.

30) Ibidem.

31) R. N. , p. 220.

32) R. N. , p'. 239.

ci t., p.

Op. ci t. ,

~2.

p. 222.

,­, 83

84

33) R. N. , p. 118.

34) Ibidem.

35) R.N. , p. 230.

36) S. , p. 50.

37) Ibidem.

38) S. , p. 51..

39) S. , p. 52.

40) S. , p. 53.

41) Ibidem.

42) S. , p. 53/54.

43) S. , p. 54 ..

, 44) S. , p. 62.

45) R. F • , p. 19.

46) Ibidem.

47) R. F • , p. 21.

48) R. F • , p. 51.

49) 'Ibidem.

50) R. F • , p. 61.

51) R. F . , p'. 63.

85

52) R. F • , p. 65.

53) R. F. , p. 79.

54) Ibidem.

55) R. F • , p. 82

56) R. F • , p. 92.

57) Ibidem.

58) P. V • , p. 50.

59) P. V • , p. 54.

60) P. V. , p. 61.

61) P. V • , p. 77.

62) P. V'. , p'. 94.

63) P. V • , p. 127.

64) P. V. , p. 160.

65) P. V. , p. 166/167.

66) V. C. , p. 2l.

67) V. C. , p. 130/13l.

68) V. C. , p. 132.

69) V. C. , p. 135.

70) C. T. , p. 15.

86

71) C. T . , p. 18.

72) C. T • , p. ~S.

73) C. T . , p. 47.

74) C. T . ; p. 50.

75) Ibidem.

76) C. T • , p. SI.

,77} C.T., p. 47/48.

78) C. T .. ' p. 72.

t9) C.T. , P .~ 128.

80) C. T . , p. 91.

81) C. T . , p. 93.

82)'G.T., p. 153.

83) C. T . , p. 162.

84) C. T . , p. 164.

85) C. T • , p. 143/144.

86) C. T . , p. 174.

87) THl, p. 8.

88) THl, p. 19.

89) TH3, p. 43.

87

90) THl, p. 38.

91) TH1, p. 55.

92) TH1, p" 56 ..

93) TH2, p. 19.

94) TH2, p. 21.

95) TH2, p. 49.

96) TH1, p. 76.

97).TH1, p. 105.

98) TH2, p. 46.

99) TH3, p. 27/28.

1~0) TH3, p. 53.

101) . BG2, p. 342/344.

102) BG2, p. 196.

103) BG2, p. 197.

104) BG2, p. 233.

105) BG2, p .. 263.

106) BG2, p. 328.

107) BG2, p. 349.

108) Duarte, Paulo. Op. ci t . , . p. 17 .

88

109) Casa1ecchi, Jos~ Eni~. O Pa~tido Republicano Pauli~ta. São Paulo, Brasi1iense, 1987, p. 75.

110) Idem,p. 96.

111) O Estado de são Paulo. 5jan. 1899. Apud - Casa1ecchi, Jo - Ênio. Op. ci t. , 92. se p .

. 112) Casa1ecchi, Jo~~ Enio. Op. ci t. , p. 100.

113) Dua~te, Paulo. Op. ci t. , p. 29.

114) Ibidem, p. 30. ,

115) Casa1ecchi~Jos~ .Enio. Op. ci t. , p. 105.

l16) Mota, Carlos Guilherme, org. B~a~il em pe~~pectiva. São Paulo, Dife1, 1982,. p. 198.

117) Ibidem.

118) Ibidem, p. 201.

119) Fausto, Boris, org .Hi~·tõJi..ia Ge~al da Civ-i.:.lizaç.ã.o B~a~i­

lei~a.São Paulo, Dife1, T. 111, 29 Vol., 1978, p. 29.

120) Duarte, Paulo. Op. ci t. , p. 46.

121) Casa1ecchi, Jos~ Enio. Op. ci t. , p. 136.

122) Duarte, Paulo. Op. ci t. , p. 77.

123) Ibidem, p. 100.

124) Ibidem, p. 145.

125) Ibidem, p. 161.

.89

126) Ibidem, p. 166.

127) Ibidem •.

128) O objeto específico deste trabalho não permite um estudo

detalhado da trajet6ria política dos membros mais desta cados do "G~upo do E~tado."

129) Miceli, Sérgió. (1920-1945) •

130) Casalecchi, José

131) Fausto, Boris.

lntelectuai~ e cla~~e di~igenteno B~a~il

São Paulo, Difel, 1979.

1!nio. Op. ci t. , p. 177.

Op. cit., p. 415.

132) Dados de Casalecchi~ José 1!nio. Op. ci t. , p. 174.

133) Fausto, Boris. Op. ci t. , p. 418 ..

134)- Miceli, Sérgio. Op. ci t. , p. 19.

135) Ibidem, p. 20 n.

1~6) Ibidem.

137) Duarte, PaU'lo. Op. ci t . , p. 24.

138) Ibidem, p . 79.

. 1~9) . Ibidem.

140) Miceli, Sérgio. Op. ci t. , p. 3.

1.41) Ibidem.

142) Cavalheiro, Edgard. Op. cit., p. 173.

143) Mice1i, S~rgio. Op. cit., p. 4.

144) Revista do Brasil, 12(42), p. 97, jun. 1919.

145) D~arte, Paulo. Op. cit., p. 156.

146) Mice1i, Sérgio. Op. cit., p. 21.

147) Ibidem.

--- ~

9Q

148) Go1dmann 3 Lucien. Le Vieu edeh~~ Paris, Ga11imard, 1983, p. 18.'

149) Ibidem, p. 21.

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1922 Fábu.f.a.6, Monteiro Lobato & Cia. O Ma4qui~ de. Ra.bic.;, Monteiro Lobato & Cia.

1924 -A Caça.da da. Onça., Monteirq Lobato & Cia. - O Ga.Jt-<.mpe-<.Jto do R-<'o da~ "Ga.Jtça.~, Cia. Editora Nacional.

1927 - Ave.nzuJta.6 do PJt1.nc.-<.pe., ·Cia. Edi tora Nacional - A Ca.lta. de. COJtuja., Cia. Editora"Nacional.

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Ave.nzuJta~ de. Ha.n~ Sta.de.n, Cia. Editora Nacional.

1930 - Pe.te.Jt Pa.n, Cia. "Editora Nacional. - A Pe.na. do Papa.ga-<.o, Cia. Editora Nacional.

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1931 - Reina~õe~ de Na~izinho, Cia. Editora Nacional.

1932 - Nova~ Reina~õe~ de Na~i~inhd, Cia. Editora Nacional.

Viagem ao céu, Cia. Editora Nacional.

1933 - Hi~tõ~ia do Mundo pa~a C~ian~a~, Cia. Editora· Nacional.

A~ Ca~ada~ de Ped~inho, Cia. Editora Nacional.

1934 Em1tia no PaI~ da·G~amãtica, Cia. Editora Nacional.

1935 Hi~tõ~ia da~Inven~õe~, Cia. Editora Nacional. A~itmãtica da EmItia, Cia. Editora Nacional.

- Geog~a6ia de V. Benta, Cia. Editora Nacional.

1936 . - Memõ~ia~ da EmIt~a, Cia. Editora Nacional.

-.Dom Qu~xote da~ C~ian~a~, Cia. Editora Nacional.

1931 - Se~õe~ de V. Benta, Cia. Editora Nacional. - Hi~tõ~ia~ de Tia Na~tãcia, Cia. Editora .Nacional.

O Po~o do Vi~condei Cia. Editora Nacional. \

98

: 9g

1939 - O Pi~apau A~a~elo, eia. Editora Nacional~ - OMinotau~o, eia. Editora Nacional.

1941 - O E~panto da~ Gente~, eia. Editora Nacional.

- A Re6o~ma aa Natu~eza, eia. Editora Nacional.

1942 - A Chave do TamanhQ, eia. Editora Nacional.

1944 - O~ Voze T~abalho~ de He~cule~, Brasiliense.

?'" .

Dissertação apreseritada aos Srs.:

Nome dos

~I~~~Q ~ .. k~QOC I componentes

I· da banca

I .,

examinadora ~

Visto e permitida a impressão

Rio de Janeiro, Cf / 04 /{ q {t

Coordenador Ensino

~-r-+~-----G~e-r-a-l--d--e--p-e-S-q~U-i-s?a~--