MÍDIAS NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: … · a tecnologia como um esforço dos seres...

13
www.ssoar.info Mídias na educação e formação de professores: por uma convergência dialógica Rosa, Ana Claudia Ferreira; Silva, Maiara Sobral Veröffentlichungsversion / Published Version Zeitschriftenartikel / journal article Empfohlene Zitierung / Suggested Citation: Rosa, Ana Claudia Ferreira ; Silva, Maiara Sobral: Mídias na educação e formação de professores: por uma convergência dialógica. In: Revista Desafios 2 (2016), 1, pp. 67-78. URN: https://doi.org/10.20873/ uft.2359-3652.2015v2n1p67 Nutzungsbedingungen: Dieser Text wird unter einer CC BY-NC Lizenz (Namensnennung- Nicht-kommerziell) zur Verfügung gestellt. Nähere Auskünfte zu den CC-Lizenzen finden Sie hier: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.de Terms of use: This document is made available under a CC BY-NC Licence (Attribution-NonCommercial). For more Information see: https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0

Transcript of MÍDIAS NA EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: … · a tecnologia como um esforço dos seres...

  • www.ssoar.info

    Mdias na educao e formao de professores: poruma convergncia dialgicaRosa, Ana Claudia Ferreira; Silva, Maiara Sobral

    Verffentlichungsversion / Published VersionZeitschriftenartikel / journal article

    Empfohlene Zitierung / Suggested Citation:Rosa, Ana Claudia Ferreira ; Silva, Maiara Sobral: Mdias na educao e formao de professores: poruma convergncia dialgica. In: Revista Desafios 2 (2016), 1, pp. 67-78. URN: https://doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    Nutzungsbedingungen:Dieser Text wird unter einer CC BY-NC Lizenz (Namensnennung-Nicht-kommerziell) zur Verfgung gestellt. Nhere Ausknfte zuden CC-Lizenzen finden Sie hier:https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.de

    Terms of use:This document is made available under a CC BY-NC Licence(Attribution-NonCommercial). For more Information see:https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0

    http://www.ssoar.infohttps://doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67https://doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67https://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0/deed.dehttps://creativecommons.org/licenses/by-nc/4.0

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [67]

    MDIAS NA EDUCAO E FORMAO DE PROFESSORES: POR UMA

    CONVERGNCIA DIALGICA1

    MEDIA IN EDUCATION AND TEACHER TRAININ : FOR A CONVERGENCE DIALOGIC

    Ana Claudia Ferreira Rosa

    Maiara Sobral Silva

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Tocantins - IFTO

    Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

    RESUMO

    O artigo apresenta uma anlise das mdias na educao a partir de um olhar que busca a

    convergncia dialgica na relao dos professores com os recursos miditicos. Com este

    estudo, objetiva-se problematizar os saberes necessrios formao de professores com vistas

    utilizao intencional, consciente e mediadora das mdias na educao escolar, considerando

    a tecnologia como um esforo dos seres humanos em sua autoproduo para alm dos meios

    biolgicos de que so providos, mas neste esforo a tecnologia assume nuances que se

    associam aos fins de seu uso. Portanto, sua utilizao no neutra, antes, cumpre os

    propsitos de quem as utiliza, ou ainda de que planeja seu uso. O estudo se pautou pela

    pesquisa bibliogrfica entre outras referncias, nos estudos de Pierre Levy (1999; 2011), nas

    reflexes sobre a tecnofilia e a tecnofobia de Pedro Demo (2009), no dilogo como processo

    de historizao e base da formao de professores a partir de Paulo Freire (1991; 1996), nas

    imerses sobre a mudanas ocorridas com a acelerao tecnolgica e a necessidade da crtica

    como contraponto da tcnica, proposta por Nicolau Sevcenko (2001), no ensino como

    trabalho interativo a partir de Tardif (2010) entre outras referncias. Os resultados apresentam

    possibilidades de convergncias dialgicas na utilizao dos recursos tecnolgicos pelos

    professores.

    Palavras-chave: Tecnologia. Dilogo. Recursos miditicos.

    ABSTRACT

    The article presents an analysis of media in education from a gaze that seeks convergence in

    dialogic relationship between teachers and the media resources. This study objective is to

    question the knowledge necessary to teacher training with a view to intentional use, conscious

    and mediator of media in education, considering technology as an effort of human beings in

    their self-production in addition to the biological resources that are provided, but this effort

    the technology assumes nuances that are associated with the purpose of its use. Therefore, its

    use is not neutral, rather, meets the purposes of those who use them, or that it plans to use.

    The study was guided by the literature among other references, the studies of Pierre Levy

    (1999, 2011), contributing to generating technophilia and technophobia of Pedro Demo

    (2009), dialogue as historicizing process and basis for teacher training from Paulo Freire

    (1991; 1996), the immersion of the changes with the technological acceleration and the need

    1 Artigo apresentado na disciplina Cultura Digital, Formao Humana e Saberes da/na Docncia, ministrada pela professora Dra. Adriana Moreira da Rocha Maciel e pelo professor Dr. Celso Ilgo Henz, no Programa de Ps

    Graduao em Educao (PPGE), Mestrado em Educao da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) no

    2 semestre de 2013.

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [68]

    for critical counterpoint technique, proposed by Nicholas Sevcenko (2001), teaching as

    interactive work from Tardif (2010) among other references. The results show convergences

    dialogic possibilities in the use of technological resources by teachers.

    Key words: Technology. Dialogue. Media resources.

    Recebido em 04/12/2015. Aceito em 16/12/2015. Publicado em 18/01/2016.

    INTRODUO

    Historicamente, a conquista do espao geogrfico e de populaes diversas se deu

    como resultado do domnio que os seres humanos imprimiram em suas relaes com o meio

    natural. Ao impulso inicial de sobrevivncia que se tornou motor para o desenvolvimento

    tecnolgico se somou a vontade de conquistar mais terras, mais povos, ampliando os

    domnios e as riquezas de povos e naes. Neste contexto, a tecnologia ressalta como meio

    para atingir aos fins propostos. Ela potencializa os limitados recursos fsicos dos seres

    humanos e promove a mobilidade no espao em tempos cada vez menores, amplia a viso e

    realiza operaes e clculos precisos impossveis de serem realizados diretamente pelos

    maiores gnios j conhecidos pela histria. Contudo, a tecnologia uma produo humana.

    Um recurso a servio de um fim. E qual deveria ser esse fim seno aquele que exaltasse o ser

    humano e o elevasse em sua condio de sujeito de sua histria, ressaltando o seu

    protagonismo? Mas, a utilizao da tecnologia pode atender a vieses diversos, sob a ao

    dos sujeitos pensantes e de seus desgnios. Sua utilizao, portanto no est dado em si, mas

    no uso que cada projeto pessoal e/ou social tem como proposta.

    No bojo da utilizao da tecnologia como meio, neste estudo se problematiza a

    insero dos recursos miditicos na educao escolar considerando os saberes necessrios

    formao de professores com vistas utilizao intencional, consciente e mediadora desses

    recursos, com nfase para a compreenso de que diferentes percepes de mundo definem

    diferentes formas de utilizao dos meios tecnolgicos.

    Compreende-se que a utilizao dos recursos miditicos, oriundos do

    desenvolvimento tecnolgico no seria diferente no mbito da educao escolar. Os projetos

    de seres humanos mediatizados pela educao escolar condicionam a utilizao desses

    recursos. Contudo, a intencionalidade do fazer pedaggico nem sempre se faz claro, os

    currculos escolares no raro se apresentam como territrio em disputa tal qual intitulou seu

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [69]

    livro Miguel Arroyo - referimo-nos obra currculo, territrio em disputa, publicada pela

    editora Vozes em 2011 interesses divergentes mobilizam diferentes currculos e subjazem

    aos saberes eleitos os poderes dominantes em voga. Por isso a atividade docente requer a

    conscincia, posicionamento crtico, utilizao racional e mediadora dos saberes e dos meios,

    como os recursos miditicos.

    A compreenso que se tem de educao e de seu poder na construo de pessoas e de

    sociedades constituem linhas definidoras desse fazer. Neste aspecto os recursos miditicos,

    tais como a insero dos computadores, de programas de softwares, da internet tero papis

    definidos de acordo com os planejadores das polticas educacionais, mas, sua concretizao se

    faz na execuo, no campo da ao de professores e alunos.

    Neste sentido, importa a formao dos professores e com esta formao a superao

    dos aspectos considerados perniciosos para a utilizao dos recursos miditicos: a ausncia do

    equilbrio, do justo termo na utilizao dos recursos tecnolgicos, que podem assumir a forma

    de paixo pelo meio ou fobia destes. Para tanto, a formao dos professores contextualizada

    com as questes da atualidade, com responsabilidade pelo fazer pedaggico crtico e

    transformador do status quo que mantem a sociedade em classes de oprimidos e opressores,

    ainda que se denomine democrtica, essa formao para ser necessria precisa ser reveladora

    e visar a conscientizao.

    Problematizando as questes supramencionadas, o artigo apresenta os seguintes

    assuntos: Inicialmente apresenta a tecnologia como suporte da supremacia do ser humano,

    trazendo baila a potencializao dos recursos biolgicos pelo desenvolvimento das tcnicas;

    na sequncia so apresentadas reflexes sobre as mdias, a educao e os saberes da docncia,

    neste nter so evidenciados aspectos relevantes do estudo que visam a convergncia

    dialgica da formao dos professores para a utilizao consciente dos recursos tecnolgicos;

    na sequencia, e como corolrio do estudo, se encontra a discusso sobre a necessidade da

    superao da tecnofilia e da tecnofobia para se chegar a um equilbrio na utilizao dos

    recursos miditicos. Nas consideraes finais so perfiladas algumas concluses que no

    intentam encerrar a questo, antes, visam constiturem-se novos pontos de partidas.

    1 A TECNOLOGIA COMO SUPORTE DA SUPREMACIA DO SER HUMANO

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [70]

    A concepo de dominao do espao fsico e natural como condio primeira de

    sobrevivncia da espcie humana constituiu motor para o desenvolvimento das ferramentas

    que ampliaram o poder dos seres humanos, potencializando suas limitadas capacidades

    biolgicas.

    Desde o perodo paleoltico o esforo para produzir a existncia humana tem

    mobilizado conhecimentos, alterado paisagens e delimitado culturas. Imprimiram-se

    categorias a estas culturas: as separaes dos povos que se denominaram civilizados de outros

    considerados brbaros. Colaborou para esta demarcao o desenvolvimento tecnolgico e

    industrial entre outros aspectos. Definiram-se ndices de desenvolvimento das naes, umas se

    denominaram desenvolvidas e outrora chamaram as outras subdesenvolvidas a partir da viso

    de evoluo que se fez emergente na anlise dos povos e que tinha por fundamento o

    darwinismo social.

    Pierre Lvy ao tratar da economia na introduo de sua obra A inteligncia coletiva:

    por uma antropologia do ciberespao, ressalta a relao entre a gesto do conhecimento e a

    prosperidade das naes. Neste sentido profere que:

    A prosperidade das naes, das regies, das empresas e dos indivduos

    depende de sua capacidade de navegar no espao do saber. A fora conferida de agora em diante pela gesto tima dos conhecimentos, sejam

    eles tcnicos, cientficos, da ordem da comunicao ou derivem da relao

    tica com o outro (LVY, 2011, p. 19).

    Decorrido o tempo, a dialtica do processo histrico fez emergir, em prol de uma viso

    menos etnocntrica a conscincia do processo de excluso advindo com esses termos,

    portanto, tornou-se politicamente incorreto, para a literatura com fulcro nos princpios

    democrticos, a utilizao dos termos opostos supracitados, outros termos mais adequados a

    esta literatura ocuparam as posies antagnicas como pases desenvolvidos e pases em

    desenvolvimento.

    Nicolau Sevcenko (2001) analisando o desenvolvimento tecnolgico da humanidade,

    utiliza-se da metfora da montanha-russa para descrever o fascnio e a entrega dos sujeitos

    imersos no tempo e espao dessa produo tecnolgica acelerada. O autor organiza suas

    reflexes em trs fases: na primeira fase, sinaliza com a ascenso na montanha russa (sc.

    XVI sc XIX). A subida faz referncias Europa Ocidental, com o domnio sobre as foras

    naturais que garantiram domnios sobre territrios e pessoas.

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [71]

    A Segunda fase: caracterizada pela queda vertiginosa. Por volta do ano de 1870,

    marcada pelas novas tecnologias, nos transportes (exemplo: carros e transatlntico),

    comunicao, recursos energticos, lazer (como a montanha russa). Mas a Primeira Guerra

    Mundial com os recursos tecnolgicos provocaram mortes em escalas nunca dantes

    presenciadas. Sendo ainda seguida pela Segunda Guerra Mundial. O desenvolvimento

    tecnolgico seguiu paralelo sensao de apocalipse iminente.

    Na terceira fase, a fase do loop, da acelerao extrema - na sociedade equivale

    Revoluo microeletrnica.

    A sndrome do loop caracterizada na metfora como a entrega ao destino pela

    desistncia da luta. Incapacidade de resistir. Caracteriza precisamente a passagem do sculo

    XX ao sculo XXI. A velocidade das transformaes tecnolgicas paralisa, a crtica subsumi

    tcnica.

    O estudo de Sevcenko (2001) colabora com o esforo para a elucidao do fascnio e

    do medo que provocou o acelerado desenvolvimento tecnolgico e a ausncia da crtica em

    alguns momentos da histria. Ausncia que se constata, mas que se busca refutar, em prol de

    uma sociedade consciente de suas potencialidades e limitaes e pela conscincia que no se

    pode controlar a utilizao dos recursos tecnolgicos para servir a um nico fim, seu uso

    definido pelos desgnios de quem quer que os utilize.

    Se, se pode afirmar que o desenvolvimento tecnolgico potencializa os recursos

    limitados dos seres humanos, no se pode dizer que elas servem a todos,

    indiscriminadamente, neste sentido, corrobora Arroyo,

    As cincias no subordinaram suas descobertas e avanos emancipao

    humana nem sequer s necessidades humanas, felicidade, erradicao da misria, garantia dos direitos, ao que a grande maioria pensa ser seu direito

    como seres humanos. A lgica do saber tecnolgico e cientifico no se

    inspira na lgica da universalizao nem sequer do prprio saber, nem na universalizao de seus benefcios, que estaria na base da educao universal

    como direito [...] (ARROYO, 2004, p.109).

    O acesso aos recursos a um nmero cada vez maior de usurios das tecnologias

    consiste em um dos aspectos da idiossincrasia do sculo XXI, contudo, a crtica ao uso

    inadequado e ao sem nmero de sujeitos que sequer conseguem manter um padro mnimo de

    subsistncia no podem ser olvidados. O educador Paulo Freire ressaltou sua postura crtica

    diante dos recursos de seu tempo: Mas essa minha forma de ser: eu analiso os comerciais e

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [72]

    descubro neles, imediatamente o corte de classes, por exemplo, o corte de sexo, o corte de

    raa; s vezes os trs juntos, entendes? ( in FREIRE & GUIMARES, 2011, p.32)

    A viso que temos do mundo circundante prpria de cada um com sua bagagem

    cultural, com as experincias que como veculos de informaes chegam at cada sujeito e so

    percebidas individualmente e absorvidas ou no, compreendidas, apreendidas ou refutadas,

    neste aspecto a educao meio primordial para as impresses que marcam e fixam moradia

    em cada ser pensante. Se a tecnologia meio para promover os sujeitos, pela educao que

    ela pode ser melhor utilizada.

    2 MDIAS, EDUCAO E SABERES DA DOCNCIA

    Com Lvy (1999, p. 61) definimos mdia como [...] o suporte ou veculo da

    mensagem. O impresso, o rdio, a televiso, o cinema ou a internet, por exemplo, so mdias.

    Segundo essa tica, pode-se observar que j existe a insero de algumas mdias no

    mbito educacional, o que faltam so atividades que integrem as disciplinas e saberes dos

    sujeitos desta relao. Nesse sentido, agregar educao a utilizao das mdias torna o

    ambiente escolar mais atrativo, interativo e dinmico. Sendo que:

    O ensino uma atividade humana, um trabalho interativo, ou seja, um trabalho baseado em interaes entre pessoas. Concretamente, ensinar

    desencadear um programa de interaes com um grupo de alunos, a fim de

    atingir determinados objetivos educativos relativos aprendizagem de conhecimentos e socializao. Consequentemente, a pedagogia, enquanto

    teoria do ensino e da aprendizagem, nunca pode colocar de lado as condies

    e as limitaes inerentes interao humana, notadamente as condies e as limitaes normativas, afetivas, simblicas, e tambm, claro, aquelas

    ligadas s relaes de poder. Em suma, se o ensino mesmo uma atividade

    instrumental, trata-se de uma atividade que se manifesta concretamente no

    mbito de interaes humanas e traz consigo, inevitavelmente a marca das relaes humanas que a constituem (TARDIF, 2010, p. 118).

    No que diz respeito ao uso das tecnologias na Educao preciso pensar a forma

    com que esta ocorre, pois se elas forem subutilizadas no tero o efeito desejado, desta forma

    repensar a forma com que se valida as aprendizagens torna-se necessrio, pois segundo Lvy

    (1999, p. 175):

    A evoluo do sistema de formao no pode ser dissociada da evoluo do

    sistema de reconhecimento dos saberes que a acompanha e a conduz. Como exemplo, sabido que so os exames que, validando, estruturam os

    programas de ensino. Usar todas as novas tecnologias na educao e na

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [73]

    formao sem mudar em nada os mecanismos de validao das

    aprendizagens seria o equivalente a inchar os msculos da instituio escolar

    bloqueando, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de seus sentidos e de seu crebro (LVY, 1999, p. 175).

    Desta forma, hoje, surge uma nova docncia, que exige mais do professor, uma vez

    que o modelo tradicional baseado na transmisso do contedo est sendo superado por uma

    nova forma de interao. Nos dias atuais, os alunos participam mais, questionam mais e se

    contentam menos, o que leva o docente a buscar uma nova postura, mais de mediador e

    interlocutor do que de detentor do conhecimento.

    Com o uso das tecnologias, por consequncia das mdias, o ambiente escolar ganha

    outro significado, e passar a fazer uma nova leitura do mundo, uma vez que nem sempre o que

    est escrito e divulgado a verdade absoluta, nesse sentido, preparar os alunos para uma

    leitura das tecnologias e mdias faz-se necessrio para a formao de pessoas mais crticas.

    Pois preciso destacar que:

    A mdia no s diz o que existe e, consequentemente, o que no existe, por no ser veiculado, mas d uma conotao valorativa, de que algo bom e

    verdadeiro, realidade existente. As coisas veiculadas pela mdia so boas e

    verdadeiras, a no ser que seja dito expressamente o contrrio. O que est na mdia no s, ento, o existente, mas contm igualmente, algo de positivo

    (GUARESCHI & BIZ. In HENZ & ROSSATO, 2007, p. 101).

    Em meio cultura digital nasce uma nova gerao de aprendizes, os quais podem,

    com apenas, marcar encontros, namorar via computador e ler livros digitais. Estes j so

    comportamentos habituais, mas a reside um dos grandes dilemas do ensino nessa nova onda,

    a escola, em muitas vezes, no acompanhou o ritmo da evoluo. Para lidar com esse avano,

    preciso que todos os envolvidos nesse processo estejam abertos e dispostos ao dilogo e ao

    novo, pois no h mais a deteno do conhecimento, o livro j no supre mais todas as

    dvidas, hoje com um clique o aluno est conectado ao mundo, informa-se, sem, contudo,

    formar-se, necessariamente. Como o professor se encontra nesse panorama? Para Tardif

    (2010, p. 240), [...] se os professores so efetivamente, sujeitos do conhecimento, devem

    fazer ento, o esforo de agir como tais, ou seja, o esforo de se tornarem atores capazes de

    nomear, de objetivar e de partilhar sua prpria prtica e sua vivncia profissional. Sendo

    assim, a aproximao das mdias e das tecnologias com a Educao traz um novo modelo para

    o momento da aprendizagem, que supera o fluxo de comunicao emissor mensagem

    receptor e torna o processo mais dinmico e interativo. Ainda, com Charlot concordamos

    que: A relao com o saber relao de um sujeito com o mundo, com ele mesmo e com os

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [74]

    outros. relao com o mundo como conjunto de significados, mas, tambm, como espao de

    atividades, e se inscreve no tempo. (CHARLOT, 2000, p.78)

    Mdias, educao e saberes da docncia so aspectos que convergem para uma

    relao dialgica e producente.

    3 SUPERAO DA TECNOFILIA E DA TECNOFOBIA: EM BUSCA DO

    EQUILBRIO

    Tecnofilia e tecnofobia constituem plos opostos na relao com os recursos

    miditicos, enquanto o tecnfilo compreende a tecnologia como a panaceia para os problemas

    da humanidade, o tecnfobo, ao contrrio, atribui a esta muitos dos problemas da

    humanidade. A utilizao dos termos que tecnofilia e tecnofobia so utilizados a partir do

    estudo de Pedro Demo. Com o autor definimos que:

    Pode-se usar o termo tecnofilia para quem aprecia em excesso, e o termo

    tecnofobia para quem aprecia de menos. A questo mais rdua ser definir o que seria excesso, bem como o que seria uma posio equilibrada. No

    pretendo resolver essa pendenga, mas apenas discutir posicionamentos mais

    e menos oportunos perante as novas tecnologias, em especial no campo da

    educao (DEMO, 2009, p. 5).

    A proposta que se insere neste ponto da discusso faz referencia superao dos

    aspectos considerados perniciosos na relao com as tecnologias. Mas superao em nome de

    qu? Para que a superao no seja mera negligncia aos aspectos da tecnofilia e da

    tecnofobia faz-se recurso necessrio e complementar apontar as possibilidades que a

    tecnologia traz para vrias reas, neste caso especifico para a Educao. Para discutir essa

    relao necessrio compreender os significados dos termos tecnfilo e tecnfobo:

    Os tecnfilos acreditam que os recursos da tcnica e da tecnologia so os

    principais incitadores do avano da Humanidade. Os seus adeptos pouco problematizam o capitalismo financeiro, apoiando-o e s suas demandas

    ideolgicas sem dificuldade. A tecnofilia adoptada por indivduos com

    conhecimentos tcnicos, tantas vezes concentrados na especializao do saber tecnolgico, que chegam a desenvolver uma tremenda alienao da

    cultura em relao mquina. Julgam que a soluo para todos os problemas

    implica pens-los tecnologicamente, demonstram uma f cega nos feitos e

    nas promessas da tecnologia, sem grande olhar crtico sobre os seus impactos.

    Por seu lado, os tecnfobos avaliam os diversos aspectos contraproducentes

    da tcnica e da tecnologia e enfatizam sobretudo a passividade do Homem perante as mesmas. Alguns dos seus defensores demonstram realmente uma

    averso incontrolvel evoluo tecnolgica, que chega ao ponto de

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [75]

    considerarem o desenvolvimento tecnolgico como fonte de diversos

    problemas sociais na actualidade. Esta postura, por vezes, to radical, acaba

    por perder-se na irracionalidade, pois dificilmente teramos como travar as inovaes tecnolgicas que nos acompanham desde os primrdios da

    Humanidade (FURTADO, 2009).

    Como destaca Demo a questo sobre o uso das tecnologias no campo da Educao j

    passou do bom ou mau, agora se discute a metodologia, o saber e como fazer, visto que

    um recurso tecnolgico digital utilizado de maneira analgica no se faz necessrio. Nesse

    panorama surge um dos diferenciais: a postura do docente. Se este sujeito for aberto ao novo e

    ao dilogo promover uma nova forma de saber, uma vez que:

    Em toda disputa por conhecimentos esto em jogo disputas por projeto de

    sociedade. Deve-se questionar os conhecimentos tidos como necessrios, inevitveis, sagrados, confrontando-os com outras opes por outros mundos

    mais justos e igualitrios, mais humanos, menos segregadores dos coletivos

    que chegam s escolas pblicas, sobretudo. Tambm preciso repor nos currculos o embate poltico no campo do conhecimento assumido no como

    um campo fechado, mas aberto disputa de saberes, de modos de pensar

    diferentes (ARROYO, 2011. p.p. 38-39).

    A educao no uma entidade refratria, cujos aspecto da sociedade em que est

    imersa no atingem ou influenciam, antes fruto das produes humanas, como a tecnologia.

    Ambas so utilizadas para promover os sujeitos, mas ao mesmo tempo, segregam, excluem.

    Por isso est nas mos dos professores definir a quem servir a educao mediada pela

    tecnologia. Cabe ao educador promover a criticidade, conforme defendia Freire:

    O educador democrtico no pode negar-se o dever de, na sua prtica docente, reforar a capacidade crtica do educando, sua curiosidade, sua

    insubmisso. Uma de suas tarefas primordiais trabalhar com os educandos

    a rigorosidade metdica com que devem se aproximar dos objetos

    cognoscveis (FREIRE, 1996, p.26).

    Pedro Demo (2009, p. 11) ressalta que Seria mais pedaggico educar para o uso

    adequado e responsvel da internet, assim como seria tolo proibir o uso da internet nas

    pesquisas e elaboraes dos jovens estudantes. Enquanto Pierre Lvy (1999, p. 26) ressalta

    que Uma tcnica no nem boa, nem m (isso depende dos contextos, dos usos e dos pontos

    de vista), tampouco neutra (j que condicionante ou restritiva, j que de um lado abre e de

    outro fecha o espectro de possibilidades). Resta ressaltar a responsabilidade social dos

    sujeitos diante da tcnica. No o meio e sim o produtor que se utiliza dele.

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [76]

    A crtica, portanto, a contrapartida cultural diante da tcnica, o modo de a

    sociedade dialogar com as inovaes, ponderando sobre seu impacto,

    avaliando seus efeitos, e perscrutando seus desdobramentos. A tcnica nesse sentido, socialmente consequente quando dialoga com a crtica

    (SEVCENKO, 2001, p. 17).

    Em Sevcenko (2001), O estudo prope a crtica como contrapartida da tcnica. Para

    tanto apresenta trs movimentos da crtica: 1- desprendimento e distanciamento do ritmo

    acelerado das mudanas; 2- avaliao das estruturas e dos efeitos das mudanas; 3- sondar o

    futuro em perspectiva histrica para definir como a tcnica pode beneficiar a maioria das

    pessoas. Neste aspecto vislumbramos o caminho para a superao da tecnofobia e da tecnofia.

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Atravs do capital cultural que possumos fazemos as leituras dos contextos a que

    assistimos ou participamos, por isso so diferentes as vises que se tem das mdias como

    instrumento mediador da educao. Segundo Freire ao se referir televiso e as mensagens

    que subjazem ao aparelho, trata-se afinal de contas, de envolver o corpo inteiro do educando

    e do educador como corpo consciente, e no puramente justapor os instrumentos a esses

    corpos ( in FREIRE & GUIMARES, 2011, p.55). Neste sentido, pensar na mdia, na

    educao em meio cultura digital uma necessidade do presente, preciso discutir a

    aproximao dessas reas em favor do conhecimento. A gerao do agora busca um novo

    formato de escola, um novo modelo de professor, para isso, torna-se imprescindvel analisar

    como as tecnologias interferem no cotidiano do aluno do sculo 21.

    No preciso defender bandeira x ou bandeira y, a realidade que qualquer

    instrumento, ferramenta, dispositivo tem dois lados, o que vai diferenciar sua caracterstica

    ser o uso. Sendo assim, a utilizao das tecnologias na sala de aula pode contribuir para a

    criticidade dos estudantes, se elas fizerem parte de uma proposta educativa integrada e

    planejada e no uma ao individual e isolada.

    Por isso, importante pensar na formao de professores na cultura digital, assim

    como na atualizao daqueles que j esto em sala de aula, a palavra de ordem do momento

    estar aberto ao novo. E isso no significa que deve-se concordar com tudo, mas sim que

    preciso estar disponvel para outras possibilidades que vo alm daquelas j conhecidas.

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [77]

    REFERNCIAS

    ARROYO, Miguel G. Ofcio de Mestre: imagens e auto-imagens. 7 ed. Petrpolis, RJ: Vozes,

    2004.

    ________________. Currculo, territrio em disputa. Petrpolis, RJ: Vozes, 2011.

    CHARLOT, Bernard. Da relao com o Saber: Elementos para uma teoria. (trad. Bruno

    Magne). Porto Alegre: Artmed, 2000.

    DEMO, Pedro. Tecnofilia & Tecnofobia. B. Tc. Senac: a R. Educ. Prof., Rio de

    Janeiro, v. 35, n.1, jan./abr. 2009.

    FREIRE. Paulo; GUIMARES, Srgio. Educar com a Mdia: Novos dilogos sobre

    educao. So Paulo: Paz e Terra, 2011.

    FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 19 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

    _____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So

    Paulo: Paz e Terra, 1996.

    FURTADO, Paulo, "Combater o Futuro: Um olhar sobre as representaes tecnofbicas de

    cincia e tecnologia na cinematografia moderna ", E-topia: Revista Electrnica de Estudos

    sobre a Utopia, n. 10 (2009). ISSN 1645-958X.

    Disponvel em: Acesso em 04 dez 2013.

    GUARESCHI, Pedrinho A.; BIZ, Osvaldo. Mdia, globalizao e violncia social. In HENZ,

    Celso I; ROSSATO, Ricardo. (Orgs.) Educao Humanizadora na Sociedade globalizada.

    Santa Maria/RS: Biblos, 2007.

    LVY, Pierre. Cibercultura. Traduo de Carlos Irineu da Costa. So Paulo: Ed. 34, 1999.

    __________. A inteligncia coletiva: por uma antropologia do ciberespao. 8 ed. So Paulo: Edies Loiola, 2011.

    QUARESMA, Alexandre. Tecnocincias: meios ou fins? Revista Filosofia. Cincia & Vida.

    Belo Horizonte: Ponto A, Ano VII, N. 86, setembro 2013.

    SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o sculo XXI: no loop da montanha russa.

    (coordenao Laura de Mello e Souza, Lilia Moritz Schwartcz). So Paulo. Companhia das

    Letras 2001.

    TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formao profissional. 11 Ed. Petrpolis, RJ: Vozes,

    2010.

    Ana Claudia Ferreira Rosa

    Possui mestrado em Educao pelo Programa de Ps-Graduao em Educao da

    Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), especializao em Educao Tcnica de Nvel

    Mdio Integrada ao Ensino Mdio Modalidade de Educao de Jovens e Adultos - PROEJA,

    pelo Centro Federal de Educao Tecnolgica do Par, graduao em Pedagogia-Licenciatura

    pela Universidade Federal do Par. Professora do Instituto Federal de Educao, Cincia e

    Tecnologia do Tocantins (IFTO).

    E-mail: [email protected]

    Endereo: Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Tocantins /Paraso.

    Distrito Agroindustrial, BR 153, KM 480, Vila Santana. CEP: 77600000 - Paraso do

    Tocantins, TO - Brasil Caixa Postal: 151

    mailto:[email protected]

  • DESAFIOS: Revista Interdisciplinar da Universidade Federal do Tocantins V. 2 n. 01. p. 67-78, jul/dez. 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2359-3652.2015v2n1p67

    [78]

    Maiara Sobral Silva

    Mestre em Educao pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Especialista em

    Docncia do Ensino Superior pelo Instituto Tocantinense de Ps - Graduao (ITOP).

    Graduada em Comunicao Social com habilitao em Jornalismo pela Universidade Federal

    do Tocantins (UFT). Jornalista no Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do

    Tocantins (IFTO).

    E-mail: [email protected]

    Endereo: Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Tocantins, Instituto Federal

    de Educao, Cincia e Tecnologia do Tocantins. 101 Sul Av. Teotnio Segurado 3- CEP:

    77020-014 - Palmas, TO - Brasil

    mailto:[email protected]