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29/06/2020 Quando uma emissora se apega ao intestino de um escritor, o fascismo brasileiro vence Telepolis https://www.heise.de/tp/features/Bolsonaros-Welle-4797853.html?seite=2 1/6 Uma oferta de Conecte-se TELEPOLIS > MÍDIA CULTURAL > QUANDO UMA EMISSORA SE APEGA AO INTESTINO DE UM ESCRITOR, O FASCISMO BRASILEIRO VENCE Onda de Bolsonaro Quando uma emissora se apega ao intestino de um escritor, o fascismo brasileiro vence João Paulo Cuenca 1. Na terça-feira da semana anterior, em 16 de junho, li que o governo brasileiro havia liberado 30 milhões de reais (bons 4,88 milhões de euros) para estações de rádio e televisão de pastores evangélicos que apóiam o presidente Jair Bolsonaro. E antes de tomar um café, postei no Twitter, entre aspas: "O brasileiro só estará livre quando o último Bolsonaro for enforcado no intestino do último pastor da igreja universal". Para fins de sátira, parafraseiei uma frase bem conhecida do século XVIII atribuída a Voltaire e Diderot, dois representantes do Iluminismo. Mas foi realmente escrito pelo abade francês Jean Meslier (1664-1729). A sentença, que originalmente se referia a reis e sacerdotes, foi retomada várias vezes. Tornou-se a palavra alada que anarquistas, liberais, anarcocapitalistas, ambientalistas - pessoas de esquerda e direita - adotaram. Alguns exemplos brasileiros. Em 2015 , o intelectual de esquerda Vladmir Safatle publicou esta variante na Folha de São Paulo: "(a corrupção) só terminará quando o último político corrupto do PT for enforcado no intestino da última política corrupta do PSDP". Uma rápida pesquisa no Google mostra que o principal ideólogo do bolonarismo, o pensador extremista de direita Olavo de Carvalho, usou a construção pelo menos duas vezes: "O capitalismo só será superado (...) quando o último marxista no intestino do último 'homo oeconomicus' foi enforcado. " E: "O mundo só será feliz quando o último ministro da Educação for enforcado no intestino do último Funkeiro (DJ da rádio carioca popular nas Favelas)". Existe uma versão estranha nos fóruns da Internet do sistema operacional Ubuntu: "Os computadores só estarão disponíveis no dia em que o último usuário do Windows for desligado no intestino do último usuário do Mac". O tweet também vem de 2018: "O Brasil será um país desenvolvido no dia em que o último YouTuber for enforcado no intestino do último treinador empreendedor". Meu favorito não é uma dessas variantes, mas uma versão lida nas ruas de Paris em maio de 1968: "Depois de enforcarmos o último burocrata nas entranhas do último sociólogo, ainda teremos problemas?" Aqueles que me acusaram caluniosamente de "exigir a execução do Presidente" parecem ter dificuldade em entender duas coisas: primeiro, o que é uma metáfora; segundo, a declaração metafórica da sentença de Meslier: A Igreja e a nobreza (ou outras "Famílias" como elas) devem ficar longe do poder republicano em nome do povo. 2. O caos que rapidamente se espalhou por minhas redes sociais - incluindo ameaças de violência física e processos legais - é o resultado de mecanismos sociais que foram aperfeiçoados e consolidados sob o Bolsonarismo. Um resultado foi a campanha de difamação imediata e muito bem-sucedida, que levou a minha expulsão na Deutsche Welle Brasil, onde publiquei colunas até então . CONTEÚDO 1. Onda de Bolsonaro 2. Quando uma emissora se apega ao intestino de um escritor, o fascismo brasileiro vence Leia em uma página »
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29/06/2020 Quando uma emissora se apega ao intestino de um escritor, o fascismo brasileiro vence Telepolis
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Onda de BolsonaroQuando uma emissora se apega ao intestino de um escritor, o fascismo brasileiro vence
João Paulo Cuenca
1. Na terça-feira da semana anterior, em 16 de junho, li que o governo brasileiro havia liberado 30 milhões de reais (bons 4,88milhões de euros) para estações de rádio e televisão de pastores evangélicos que apóiam o presidente Jair Bolsonaro. E antes detomar um café, postei no Twitter, entre aspas: "O brasileiro só estará livre quando o último Bolsonaro for enforcado no intestino doúltimo pastor da igreja universal".
Para fins de sátira, parafraseiei uma frase bem conhecida do século XVIII atribuída a Voltaire e Diderot, dois representantes doIluminismo. Mas foi realmente escrito pelo abade francês Jean Meslier (1664-1729). A sentença, que originalmente se referia a reis esacerdotes, foi retomada várias vezes. Tornou-se a palavra alada que anarquistas, liberais, anarcocapitalistas, ambientalistas -pessoas de esquerda e direita - adotaram.
Alguns exemplos brasileiros. Em 2015 , o intelectual de esquerda Vladmir Safatle publicou esta variante na Folha de São Paulo: "(acorrupção) só terminará quando o último político corrupto do PT for enforcado no intestino da última política corrupta do PSDP".
Uma rápida pesquisa no Google mostra que o principal ideólogo do bolonarismo, o pensador extremista de direita Olavo deCarvalho, usou a construção pelo menos duas vezes: "O capitalismo só será superado (...) quando o último marxista no intestino doúltimo 'homo oeconomicus' foi enforcado. " E: "O mundo só será feliz quando o último ministro da Educação for enforcado nointestino do último Funkeiro (DJ da rádio carioca popular nas Favelas)".
Existe uma versão estranha nos fóruns da Internet do sistema operacional Ubuntu: "Os computadores só estarão disponíveis no diaem que o último usuário do Windows for desligado no intestino do último usuário do Mac". O tweet também vem de 2018: "O Brasilserá um país desenvolvido no dia em que o último YouTuber for enforcado no intestino do último treinador empreendedor".
Meu favorito não é uma dessas variantes, mas uma versão lida nas ruas de Paris em maio de 1968: "Depois de enforcarmos o últimoburocrata nas entranhas do último sociólogo, ainda teremos problemas?"
Aqueles que me acusaram caluniosamente de "exigir a execução do Presidente" parecem ter dificuldade em entender duas coisas:primeiro, o que é uma metáfora; segundo, a declaração metafórica da sentença de Meslier: A Igreja e a nobreza (ou outras "Famílias"como elas) devem ficar longe do poder republicano em nome do povo.
2. O caos que rapidamente se espalhou por minhas redes sociais - incluindo ameaças de violência física e processos legais - é oresultado de mecanismos sociais que foram aperfeiçoados e consolidados sob o Bolsonarismo. Um resultado foi a campanha dedifamação imediata e muito bem-sucedida, que levou a minha expulsão na Deutsche Welle Brasil, onde publiquei colunas até então .
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O gabinete do governo de representantes do ódio e seus robôs (internet) identificam rapidamente seus alvos e imediatamenteatacam. É um mecanismo relativamente eficaz e barato de coerção e censura psicológica. Trata-se de silenciar votos dissidentes - edesta vez o neofascismo brasileiro pode contar com a cumplicidade de uma instituição alemã de serviço público, a Deutsche Welle.
Como os gerentes editoriais de Bonn são adultos educados com funções cognitivas irrestritas que leram e editaram meus textosantifascistas nos últimos meses, acho que sabem o que é uma metáfora. Também me ofereci para escrever um texto ou uma notapara esclarecer a frase. Mas eles se adiantaram e publicaram uma nota desajeitada e mentirosa, acusando-me de um crime que nãocometi: discurso de ódio.
Portanto, há apenas uma dúvida: ou eles cederam à pressão do gabinete de ódio do governo no Brasil ou os tentáculos do governose espalharam para a Alemanha através do ministério estrangeiro mais bem equipado (e com menor escolaridade) da história dopaís.
3. O barulho das hordas fascistas, que agora comemoram a decisão da Deutsche Welle, mostra até que ponto a mensagem que aempresa envia está errada. Mais grave ainda: torna a coerção e a censura uma condição normal para artistas e intelectuais que seopõem ao governo, que não existe para o outro lado, que não tem opções.
Mas pelo contrário. Como já mencionado, inclusive nas colunas da Deutsche Welle Brasil , o governo Bolsonaro e seus apoiadorestransformaram o discurso de ódio no Brasil no "novo normal". Seria irônico se não fosse trágico: o governo eleito, que prometiaatirar em oponentes e cujos membros e apoiadores repetiam slogans e carregavam bandeiras nazistas, me acusou erroneamente docrime que cometem todos os dias.
E agora a Deutsche Welle se sintonizou no coro de sua campanha de difamação.
( Harald Neuber )
1 2º
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