Post on 19-Nov-2018
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Mário de Andrade
Peru de NatalDer Weihnachtstruthahn
Tempo da CamisolinhaKindheit im Kleidchen
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Dois contos em edição bilíngue português-alemão
Mário de Andrade
Zwei Erzählungen in einer zweisprachigen Ausgabe Portugiesisch-Deutsch
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Prefácio O presente volume bilíngue traz dois contos de
Mário de Andrade, “Tempo da Camisolinha” e “Peru
de Natal”, em versão alemã realizada pelos alunos
de mestrado em português do Centro de Estudos da
Tradução da Universidade de Viena, na Áustria. Este
pequeno prefácio apresenta o projeto de tradução em
si e as circunstâncias em torno dele, além de informa-
ções relevantes à leitura da tradução.
Este projeto teve lugar no âmbito da disciplina
“Tradução Literária”, destinada a estudantes da ênfase
em tradução literária do mestrado em tradução da
Universidade de Viena. A disciplina, coordenada
pela autora deste texto, contou com os seguintes
participantes: Armin Innerhofer (tradução); Eva-
maria Freinberger, Florian Dunkel, Magdalena
Schätz, Melanie Patrizia Strasser, Sanijel Jovanovic,
Martin Zuccato (tradução e revisão); e Vinicius
Macuch Silva (assessoria). O projeto contou ainda
com a participação de uma ex-aluna do programa,
Andrea Lauckner, que fez a revisão final dos textos.
À exceção de Vinicius Macuch Silva, que é brasileiro
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também em alemão os contos soam mais como tex-
tos orais do que escritos, incorporando expressões
coloquiais, desvios sintáticos e contrações típicas da
oralidade. As contrações incluem expressões do tipo
“ums”, “ins”, “aufs”, “ans”, “andres”, “unsre”, “was” (para
“etwas”) e “ess” (para “ich esse”). Também os jogos de
palavras foram recriados (“beängstigende Angst” e “in
der hoffnungslosen Hoffnung”), assim como os inúme-
ros desvios sintáticos: “Und genau das war es, was mich
hier gerettet hat, mein Ruf”, “und ich, der ich meinen
Vater immer nur mittelmäßig gern hatte (…)”, “Und ich,
ich war völlig entsetzt”, “Ich hingegen, ich konnte mich
so glücklich schätzen”, “Austeilen tu ich!”, “Die Kleidchen,
die würde sie noch mehr als ein Jahr lang aufbewahren”,
“Ich war es, der nicht ins Meer wollte, und wenn man mich
hineingeprügelt hätte!”, “und Vati, er würde sich nicht
darüber aufregen (…)”, “Meine Augen, es ist etwas Verstoh-
lenes in ihrem Blick”. Expressões orais, neologismos e
vocábulos não dicionarizados também foram salpi-
cados aqui e ali, tais como “Einladerei”, “na und?”, “ach”,
“ha!”, “hä?”, “nieniemals”, “Um Himmels willen!”, “na klar”.
Por outro lado, as traduções também contêm
um sem-número de expressões hoje arcaizantes e
e participou do projeto como leitor e assessor, todos os
estudantes têm o português como segunda ou terceira
língua. Vale lembrar ainda que, para a grande maioria
deles, essa foi a primeira aventura no universo da tra-
dução literária.
Tendo em conta o perfil do público-alvo, optou-
se por uma edição filológica, com notas explica-
tivas para aprofundar determinadas referências
linguísticas e culturais presentes nos textos, e por
uma estratégia de tradução predominantemente
estrangeirizante, que leva o leitor ao contexto e às
referências do escritor. Essa estratégia casa-se bem
com o uso de notas de rodapé, e permite, ainda, a
inserção de palavras em língua portuguesa na tradu-
ção. O leitor será constantemente lembrado de que os
textos não foram escritos em língua alemã, que seu
contexto não é de língua alemã e que o arcabouço
cultural pressuposto nos contos não corresponde ao
referencial de língua alemã.
Além de realçar elementos específicos da cultura
brasileira, a linguagem da tradução procura recriar
o elemento mais marcante do estilo de Mário de
Andrade, a saber: a heterogeneidade. De um lado,
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aO Peru de Natal
Mário de Andrade
rebuscadas que, sobretudo na língua alemã falada,
chamam certa atenção. Entre essas expressões estão
o uso do pretérito (“rannte”, “ahnte”, “sah”, “rief”), a
escolha dos vocábulos “Mutti” e “Vati” para “mamãe”
e “papai”, “Tantchen” para “titia”, “Eisschrank” para
“geladeira”, entre outros. O intuito primeiro foi que
o efeito final misturasse a sensação de um texto
moderno e despojado, de uma linguagem coloquial
que não remete a nenhum lugar em particular, de um
lado, com a sensação de um texto já um pouco antigo
e antiquado, do outro.
Em nome de todo o grupo, ficam aqui os agrade-
cimentos à Embaixada do Brasil em Viena, de quem
a ideia do projeto partiu e cujo apoio foi fundamen-
tal para a realização do projeto gráfico e da presente
impressão. Ficam também os agradecimentos à Uni-versidade de Viena pelo espaço, estrutura e recursos
colocados à nossa disposição.
Desejamos a todos uma boa leitura!
Alice Leal
Viena, 04 de setembro de 2012.
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O nosso primeiro Natal de família, depois da
morte de meu pai acontecida cinco meses antes, foi
de consequências decisivas para a felicidade familiar.
Nós sempre fôramos familiarmente felizes, nesse
sentido muito abstrato da felicidade: gente honesta,
sem crimes, lar sem brigas internas nem graves difi-
culdades econômicas. Mas, devido principalmente
à natureza cinzenta de meu pai, ser desprovido de
qualquer lirismo, duma exemplaridade incapaz,
acolchoado no medíocre, sempre nos faltara aquele
aproveitamento da vida, aquele gosto pelas felicida-
des materiais, um vinho bom, uma estação de águas,
aquisição de geladeira, coisas assim. Meu pai fora de
um bom errado, quase dramático, o puro-sangue dos
desmancha-prazeres.
Morreu meu pai, sentimos muito, etc. Quando
chegamos nas proximidades do Natal, eu já estava
que não podia mais pra afastar aquela memória
obstruente do morto, que parecia ter sistematizado
pra sempre a obrigação de uma lembrança dolorosa
em cada almoço, em cada gesto mínimo da família.
Uma vez que eu sugerira à mamãe a ideia dela ir ver
uma fita no cinema, o que resultou foram lágrimas.
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apresentou e o meu ser exigia para se realizar com
integridade. E me deixaram fazer tudo, porque eu era
doido, coitado. Resultou disso uma existência sem
complexos, de que não posso me queixar um nada.
Era costume sempre, na família, a ceia de Natal.
Ceia reles, já se imagina: ceia tipo meu pai, castanhas,
figos, passas, depois da Missa do Galo. Empanturra-
dos de amêndoas e nozes (quanto discutimos os três
manos por causa dos quebra-nozes...), empanturrados
de castanhas e monotonias, a gente se abraçava e ia pra
cama. Foi lembrando isso que arrebentei com uma das
minhas “loucuras”:
— Bom, no Natal, quero comer peru.
Houve um desses espantos que ninguém não ima-
gina. Logo minha tia solteirona e santa, que morava
conosco, advertiu que não podíamos convidar nin-
guém por causa do luto.
— Mas quem falou de convidar ninguém! essa
mania... Quando é que a gente já comeu peru em
nossa vida! Peru aqui em casa é prato de festa, vem
toda essa parentada do diabo...
— Meu filho, não fale assim...
— Pois falo, pronto!
Onde se viu ir ao cinema, de luto pesado! A dor já estava
sendo cultivada pelas aparências, e eu, que sempre
gostara apenas regularmente de meu pai, mais por ins-
tinto de filho que por espontaneidade de amor, me via
a ponto de aborrecer o bom do morto.
Foi decerto por isto que me nasceu, esta sim,
espontaneamente, a ideia de fazer uma das minhas
chamadas “loucuras”. Essa fora aliás, e desde muito
cedo, a minha esplêndida conquista contra o ambiente
familiar. Desde cedinho, desde os tempos de ginásio,
em que arranjava regularmente uma reprovação
todos os anos; desde o beijo às escondidas, numa
prima, aos dez anos, descoberto por Tia Velha, uma
detestável de tia; e principalmente desde as lições
que dei ou recebi, não sei, duma criada de parentes:
eu consegui no reformatório do lar e na vasta paren-
tagem, a fama conciliatória de“louco”. “É doido, coi-
tado!” falavam. Meus pais falavam com certa tristeza
condescendente, o resto da parentagem buscando
exemplo para os filhos e provavelmente com aquele
prazer dos que se convencem de alguma superiori-
dade. Não tinham doidos entre os filhos. Pois foi o
que me salvou, essa fama. Fiz tudo o que a vida me
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Não, não se convidava ninguém, era um peru pra
nós, cinco pessoas. E havia de ser com duas farofas,
a gorda com os miúdos, e a seca, douradinha, com
bastante manteiga. Queria o papo recheado só com
a farofa gorda, em que havíamos de ajuntar ameixa
preta, nozes e um cálice de xerez, como aprendera
na casa da Rose, muito minha companheira. Está
claro que omiti onde aprendera a receita, mas todos
desconfiaram. E ficaram logo naquele ar de incenso
assoprado, se não seria tentação do Dianho aproveitar
receita tão gostosa. E cerveja bem gelada, eu garantia
quase gritando. É certo que com meus “gostos”, já
bastante afinados fora do lar, pensei primeiro num
vinho bom, completamente francês. Mas a ter-
nura por mamãe venceu o doido, mamãe adorava
cerveja.
Quando acabei meus projetos, notei bem, todos
estavam felicíssimos, num desejo danado de fazer
aquela loucura em que eu estourara. Bem que sabiam,
era loucura sim, mas todos se faziam imaginar que eu
sozinho é que estava desejando muito aquilo e havia
jeito fácil de empurrarem pra cima de mim a... culpa
de seus desejos enormes. Sorriam se entreolhando,
E descarreguei minha gelada indiferença pela
nossa parentagem infinita, diz-que vinda de bandei-
rantes, que bem me importa! Era mesmo o momento
pra desenvolver minha teoria de doido, coitado, não
perdi a ocasião. Me deu de sopetão uma ternura
imensa por mamãe e titia, minhas duas mães, três
com minha irmã, as três mães que sempre me divi-
nizaram a vida. Era sempre aquilo: vinha aniversário
de alguém e só então faziam peru naquela casa. Peru
era prato de festa: uma imundície de parentes já pre-
parados pela tradição, invadiam a casa por causa do
peru, das empadinhas e dos doces. Minhas três mães,
três dias antes já não sabiam da vida senão trabalhar,
trabalhar no preparo de doces e frios finíssimos
de bem feitos, a parentagem devorava tudo e inda
levava embrulhinhos pros que não tinham podido
vir. As minhas três mães mal podiam de exaustas. Do
peru, só no enterro dos ossos, no dia seguinte, é que
mamãe com titia inda provavam um naco de perna,
vago, escuro, perdido no arroz alvo. E isso mesmo era
mamãe quem servia, catava tudo pro velho e pros
filhos. Na verdade ninguém sabia de fato o que era
peru em nossa casa, peru resto de festa.
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Aquele peru comido a sós, redescobria em cada um
o que a quotidianidade abafara por completo, amor,
paixão de mãe, paixão de filhos. Deus me perdoe mas
estou pensando em Jesus... Naquela casa de burgueses
bem modestos, estava se realizando um milagre digno
do Natal de um Deus. O peito do peru ficou inteira-
mente reduzido a fatias amplas.
— Eu que sirvo!
“É louco, mesmo” pois por que havia de servir,
se sempre mamãe servira naquela casa! Entre risos,
os grandes pratos cheios foram passados pra mim e
principiei uma distribuição heroica, enquanto man-
dava meu mano servir a cerveja. Tomei conta logo
dum pedaço admirável da “casca”, cheio de gordura
e pus no prato. E depois vastas fatias brancas. A voz
severizada de mamãe cortou o espaço angustiado
com que todos aspiravam pela sua parte no peru:
— Se lembre de seus manos, Juca!
Quando que ela havia de imaginar, a pobre! que
aquele era o prato dela, da Mãe, da minha amiga mal-
tratada, que sabia da Rose, que sabia meus crimes, a
que eu só lembrava de comunicar o que fazia sofrer!
O prato ficou sublime.
tímidos como pombas desgarradas, até que minha
irmã resolveu o consentimento geral:
— É louco mesmo!...
Comprou-se o peru, fez-se o peru, etc. E depois de
uma Missa do Galo bem mal rezada, se deu o nosso
mais maravilhoso Natal. Fora engraçado: assim que
me lembrara de que finalmente ia fazer mamãe comer
peru, não fizera outra coisa aqueles dias que pensar
nela, sentir ternura por ela, amar minha velhinha
adorada. E meus manos também, estavam no mesmo
ritmo violento de amor, todos dominados pela felici-
dade nova que o peru vinha imprimindo na família.
De modo que, ainda disfarçando as coisas, deixei muito
sossegado que mamãe cortasse todo o peito do peru.
Um momento aliás, ela parou, feito fatias um dos lados
do peito da ave, não resistindo àquelas leis de economia
que sempre a tinham entorpecido numa quase pobreza
sem razão.
— Não senhora, corte inteiro! Só eu como tudo isso!
Era mentira. O amor familiar estava por tal
forma incandescente em mim, que até era capaz de
comer pouco, só pra que os outros quatro comes-
sem demais. E o diapasão dos outros era o mesmo.
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E o peru, estava tão gostoso, mamãe por fim sabendo
que peru era manjar mesmo digno do Jesusinho
nascido.
Principiou uma luta baixa entre o peru e o vulto
de papai. Imaginei que gabar o peru era fortalecê-lo
na luta, e, está claro, eu tomara decididamente o par-
tido do peru. Mas os defuntos têm meios visguentos,
muito hipócritas de vencer: nem bem gabei o peru
que a imagem de papai cresceu vitoriosa, insuporta-
velmente obstruidora.
— Só falta seu pai...
Eu nem comia, nem podia mais gostar daquele
peru perfeito, tanto que me interessava aquela luta
entre os dois mortos. Cheguei a odiar papai. E nem
sei que inspiração genial, de repente me tornou hipó-
crita e político. Naquele instante que hoje me parece
decisivo da nossa família, tomei aparentemente o
partido de meu pai. Fingi, triste:
— É mesmo... Mas papai, que queria tanto bem a
gente, que morreu de tanto trabalhar pra nós, papai lá
no céu há de estar contente... (hesitei, mas resolvi não
mencionar mais o peru) contente de ver nós todos
reunidos em família.
— Mamãe, este é o da senhora! Não! não passe não!
Foi quando ela não pode mais com tanta como-
ção e principiou chorando. Minha tia também, logo
percebendo que o novo prato sublime seria o dela,
entrou no refrão das lágrimas. E minha irmã, que
jamais viu lágrima sem abrir a torneirinha também,
se esparramou no choro. Então principiei dizendo
muitos desaforos pra não chorar também, tinha
dezenove anos... Diabo de família besta que via peru
e chorava! coisas assim. Todos se esforçavam por sor-
rir, mas agora é que a alegria se tornara impossível. É
que o pranto evocara por associação a imagem inde-
sejável de meu pai morto. Meu pai, com sua figura
cinzenta, vinha pra sempre estragar nosso Natal,
fiquei danado.
Bom, principiou-se a comer em silêncio, lutuosos,
e o peru estava perfeito. A carne mansa, de um tecido
muito tênue boiava fagueira entre os sabores das faro-
fas e do presunto, de vez em quando ferida, inquie-
tada e redesejada, pela intervenção mais violenta da
ameixa preta e o estorvo petulante dos pedacinhos
de noz. Mas papai sentado ali, gigantesco, incom-
pleto, uma censura, uma chaga, uma incapacidade.
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Mamãe comeu tanto peru que um momento ima-
ginei, aquilo podia lhe fazer mal. Mas logo pensei: ah,
que faça! mesmo que ela morra, mas pelo menos que
uma vez na vida coma peru de verdade!
A tamanha falta de egoísmo me transportara o
nosso infinito amor... Depois vieram umas uvas leves
e uns doces, que lá na minha terra levam o nome de
“bem-casados”. Mas nem mesmo este nome perigoso
se associou à lembrança de meu pai, que o peru já
convertera em dignidade, em coisa certa, em culto
puro de contemplação.
Levantamos. Eram quase duas horas, todos ale-
gres, bambeados por duas garrafas de cerveja. Todos
iam deitar, dormir ou mexer na cama, pouco importa,
porque é bom uma insônia feliz. O diabo é que a Rose,
católica antes de ser Rose, prometera me esperar com
uma champanha. Pra poder sair, menti, falei que ia a
uma festa de amigo, beijei mamãe e pisquei pra ela,
modo de contar onde é que ia e fazê-la sofrer seu
bocado. As outras duas mulheres beijei sem piscar. E
agora, Rose!...
a
E todos principiaram muito calmos, falando de
papai. A imagem dele foi diminuindo, diminuindo
e virou uma estrelinha brilhante do céu. Agora todos
comiam o peru com sensualidade, porque papai fora
muito bom, sempre se sacrificara tanto por nós, fora
um santo que “vocês, meus filhos, nunca poderão
pagar o que devem a seu pai”, um santo. Papai virara
santo, uma contemplação agradável, uma inestorvável
estrelinha do céu. Não prejudicava mais ninguém, puro
objeto de contemplação suave. O único morto ali era o
peru, dominador, completamente vitorioso.
Minha mãe, minha tia, nós, todos alagados de feli-
cidade. Ia escrever “felicidade gustativa”, mas não era
só isso não. Era uma felicidade maiúscula, um amor
de todos, um esquecimento de outros parentescos
distraidores do grande amor familiar. E foi, sei que
foi aquele primeiro peru comido no recesso da famí-
lia, o início de um amor novo, reacomodado, mais
completo, mais rico e inventivo, mais complacente
e cuidadoso de si. Nasceu de então uma felicidade
familiar pra nós que, não sou exclusivista, alguns a
terão assim grande, porém mais intensa que a nossa
me é impossível conceber.
22 23& Tempo da Camisolinha
Mário de Andrade
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A feiura dos cabelos cortados me fez mal. Não
sei que noção prematura de sordidez dos nossos atos,
ou exatamente, da vida, me veio nessa experiência da
minha primeira infância. O que não pude esquecer,
e é minha recordação mais antiga, foi, dentre as brin-
cadeiras que faziam comigo para me desemburrar
da tristeza em que ficara por me terem cortado os
cabelos, alguém, não sei mais quem, uma voz mascu-
lina falando: “Você ficou um homem, assim!” Ora eu
tinha três anos, fui tomado de pavor. Veio um medo
lancinante de já ter ficado homem naquele tamanhi-
nho, um medo medonho, e recomecei a chorar.
Meus cabelos eram muitos bonitos, dum negro
quente, acastanhado nos reflexos. Caíam pelos meus
ombros com cachos gordos, com ritmos pesados de
molas de espiral. Me lembro de uma fotografia minha
desse tempo, que depois destruí por uma espécie de
polidez envergonhada... Era já agora bem homem
e aqueles cabelos adorados na infância, me parece-
ram de repente como um engano grave, destruí com
rapidez o retrato. Os traços não eram felizes, mas na
moldura da cabeleira havia sempre um olhar manso,
um rosto sem marcas, franco, promessa de alma sem
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dentro dela. E me achando. Comparava-a com meus
atos e tudo eram confirmações. Tenho certeza que
essa fotografia me fez imenso mal, porque me deu
muita preguiça de reagir. Me proclamava demasiada-
mente em mim e afogou meus possíveis anseios de
perfeição. Voltemos ao caso que é melhor.
Toda a gente apreciava os meus cabelos cacheados,
tão lentos! e eu me envaidecia deles, mais que isso, os
adorava por causa dos elogios. Foi por uma tarde, me
lembro bem, que meu pai suavemente murmurou
uma daquelas suas decisões irrevogáveis: “É preciso
cortar os cabelos desse menino.” Olhei de um lado,
de outro, procurando um apoio, um jeito de fugir
daquela ordem, muito aflito. Preferi o instinto e fixei
os olhos já lacrimosos em mamãe. Ela quis me olhar
compassiva, mas me lembro como se fosse hoje, não
aguentou meus últimos olhos de inocência perfeita,
baixou os dela, oscilando entre a piedade por mim e a
razão possível que estivesse no mando do chefe. Hoje,
imagino um egoísmo grande da parte dela, não rea-
gindo. As camisolinhas, ela as conservaria ainda por
mais de ano, até que se acabassem feitas trapos. Mas
ninguém percebeu a delicadeza da minha vaidade
maldade. De um ano depois do corte dos cabelos ou
pouco mais, guardo outro retrato tirado junto com
Totó, meu mano. Ele, quatro anos mais velho que eu,
vem garboso e completamente infantil numa bonita
roupa marinheira; eu, bem menor, inda conservo
uma camisolinha de veludo, muito besta, que minha
mãe por economia teimava utilizar até o fim.
Guardo esta fotografia porque se ela não me per-
doa do que tenho sido, aos menos me explica. Dou
a impressão de uma monstruosidade insubordinada.
Meu irmão, com seus oito anos é uma criança inte-
gral, olhar vazio de experiência, rosto rechonchudo
e lisinho, sem caráter fixo, sem malícia, a própria
imagem da infância. Eu, tão menor, tenho esse quê
repulsivo do anão, pareço velho. E o que é mais triste,
com uns sulcos vividos descendo das abas voluptuo-
sas do nariz e da boca larga, entreaberta num risinho
pérfido. Meus olhos não olham, espreitam. Fornecem
às claras, com uma facilidade teatral, todos os indí-
cios de uma segunda intenção.
Não sei por que não destruí em tempo também
essa fotografia, agora é tarde. Muitas vezes passei
minutos compridos me contemplando, me buscando
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questão de não rezar; e minha mãe, depois de várias
tentativas, olhou o lindo quadro de Nossa Senhora
do Carmo, com mais de século na família dela, gente
empobrecida mas diz que nobre, o olhou com olhos
de imploração. Mas eu estava com raiva da minha
madrinha do Carmo.
E o meu passado se acabou pela primeira vez. Só
ficavam como demonstrações desagradáveis dele, as
camisolinhas. Foi dentro delas, camisolas de fazen-
dinha barata (a gloriosa, de veludo, era só para as
grande ocasiões), foi dentro ainda das camisolinhas
que parti com os meus pra Santos, aproveitar as férias
do Totó sempre fraquinho, um junho.
Havia aliás outra razão mais tristonha pra essa
vilegiatura aparentemente festiva de férias. Me viera
uma irmãzinha aumentar a família e parece que o
parto fora desastroso, não sei direito... Sei que mamãe
ficara quase dois meses de cama, paralítica, e só prin-
cipiara mesmo a andar premida pelas obrigações da
casa e dos filhos. Mas andava mal, se encostando nos
móveis, se arrastando, com dores insuportáveis na
voz, sentindo puxões nos músculos das pernas e um
desânimo vasto. Menos tratava da casa que se iludia,
infantil. Deixassem que eu sentisse por mim, me
incutissem aos poucos a necessidade de cortar os
cabelos, nada: uma decisão à antiga, brutal, impie-
dosa, castigo sem culpa, primeiro convite às revoltas
intimas: “é preciso cortar os cabelos desse menino”.
Tudo o mais são memórias confusas ritmadas por
gritos horríveis, cabeça sacudida com violência, mãos
enérgicas me agarrando, palavras aflitas me man-
dando com raiva entre piedades infecundas, dificul-
dades irritadas do cabeleireiro que se esforçava em
ter paciência e me dava terror. E o pranto, afinal. E no
último e prolongado fim, o chorinho doloridíssimo,
convulsivo, cheio de visagens próximas atrozes, um
desespero desprendido de tudo, uma fixação emper-
rada em não querer aceitar o consumado.
Me davam presentes. Era razão pra mais choro.
Caçoavam de mim: choro. Beijos de mãe: choro.
Recusava os espelhos em que me diziam bonito.
Os cadáveres de meus cabelos guardados naquela
caixa de sapatos: choro. Choro e recusa. Um não
conformismo navalhante que de um momento pra
outro me virava homem-feito, cheio de desilusões,
de revolta, fácil para todas as ruindades. De noite fiz
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lembrança do sofrimento muito grande e próximo, e
ela sentia um prazer perdoável de representar naque-
las férias o papel largado da convalescente. A papai
então o passeio deixara bem menos pai, um ótimo
camarada com muita fome e condescendência. Eu é
que não tomava banho de mar nem que me batessem!
No primeiro dia, na roupinha de baeta calçuda, como
era a moda de então, fora com todos até a primeira
onda, mas não sei que pavor me tomou, dera tais gri-
tos, que nem mesmo o exemplo sempre invejado de
meu mano mais velho me fizera mais entrar naque-
las águas vivas. Me parecia morte certa, vingativa, um
castigo inexplicável do mar, que o céu de névoa de
inverno deixava cinzento e mau, enfarruscado, cheio
de ameaças impiedosas. E até hoje detesto banho de
mar... Odiei o mar, e tanto, que nem as caminhadas
na praia me agradavam, apesar da companhia agora
deliciosa e faladeira de papai. Os outros que fossem
passar, eu ficava no terreno maltratado da casa, algu-
mas árvores frias e um capim amarelo, nas minhas
conversas com as formigas e o meu sonho grande.
Ainda apreciava mais ir até à borda barrenta do canal,
onde os operários me protegiam de qualquer perigo.
consolada por cumprir a obrigação de tratar da casa.
Diante da iminência de algum desastre maior, papai
fizera um esforço espantoso para o seu ser que só
imaginava a existência no trabalho sem receio, todo
assombrado com os progressos financeiros que fazia
e a subida de classe. Resolvera aceitar o conselho do
médico, se dera férias também, e levara mamãe aos
receitados banhos de mar.
Isso foi, convém lembrar, ali pelos últimos anos do
século passado, e a praia do José Menino era quase
um deserto longe. Mesmo assim, a casa que papai
alugara não ficava na praia exatamente, mas numa
das ruas que a ela davam e onde uns operários traba-
lhavam diariamente no alimento de um dos canais
que carreavam o enxurro da cidade para o mar do
golfo. Aí vivemos perto de dois meses, casão imenso
e vazio, lar improvisado cheio de deficiência, a que
o desmazelo doentio de mamãe ainda melancolizava
mais, deixando pousar em tudo um ar de mau trato
e passagem.
É certo que os banhos logo lhe tinham feito
bem, lhe voltaram as cores, as forças, e os puxões
dos nervos desapareciam com rapidez. Mas ficara a
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Eu espiava pra minha madrinha do Carmo na parede,
e descia a camisolinha, mal convencido, com raiva
da santa linda, tão apreciada noutros tempos, sor-
rindo sempre e com aquelas mãos gordas e quentes.
E desgostoso ia brincar no barro do canal, botando
a culpa de tudo no quadro secular. Odiei minha
madrinha santa.
Pois um dia, não sei o que me deu de repente,
o desígnio explodiu, nem pensei: largo correndo
os meus brinquedos com o barro, barafusto porta
a dentro, vou primeiro espiar onde mamãe estava.
Não estava. Fora passear na praia matinal com papai
e Totó. Só a cozinheira no fogão perdida, conver-
sando com a ama da Mariazinha nova. Então podia!
Entrei na sala da frente, solene, com uma coragem
desenvolta, heroica, de quem perde tudo mas se
quer liberto. Olhei francamente, com ódio, a minha
madrinha santa, eu bem sabia, era santa, com os
doces olhos se rindo para mim. Levantei quanto pude
a camisola e empinando a barriguinha, mostrei tudo
pra ela. “Tó! que eu dizia, olhe! olhe bem! tó! olhe bas-
tante mesmo!” E empinava a barriguinha de quase
me quebrar pra trás.
Papai é que não gostava muito disso não, porque
tendo sido operário um dia e subido de classe por
esforço pessoal e Deus sabe lá que sacrifícios, con-
siderava operário má companhia pra filho de nego-
ciante mais ou menos. Porém mamãe intervinha
com o “deixa ele!” de agora, fatigado, de convales-
cente pela primeira vez na vida com vontades; e lá
estava eu dia inteiro, sujando a barra da camisolinha
na terra amontoada do canal, com os operários.
Vivia sujo. Muitas vezes agora até me faltavam,
por baixo da camisola, as calcinhas de encobrir as
coisas feias, e eu sentia um esporte de inverno em
levantar a camisola na frente pra o friozinho entrar.
Mamãe se incomodava muito com isso, mas não
havia calcinhas que chegassem, todas no varal enxu-
gando ao sol fraco. E foi por causa disso que entrei a
detestar minha madrinha, Nossa Senhora do Carmo.
Não vê que minha mãe levara pra Santos aquele qua-
dro antigo de que falei e de que ela não se separava
nunca, quando me via erguendo a camisola no gesto
indiscreto, me ameaçava com a minha encantadora
madrinha: — “Meu filho, não mostra isso, que feio!
repare: sua madrinha está te olhando na parede!”
34 35
Ele olhou rápido os companheiros porque não
sabia explicar o que era boa sorte. Mas todos estavam
esperando e ele arrancou meio bravo:
— Isto é... não vê que a gente fica cheio de tudo...
dinheiro, saúde...
Pigarreou fatigado. E depois de me olhar com um
olho indiferentemente carinhoso, acrescentou mais
firme:
— Seque bem elas no sol que dá boa sorte.
Isso nem agradeci, fui numa chispada luminosa
pra casa esconder minhas estrelas-do-mar. Pus as três
ao sol, perto do muro lá no fundo do quintal onde
ninguém chegava, e entre feliz e inquieto fui brinca-
brincar no canal. Mas quem disse brincar! me dava
aquela vontade amante de ver minhas estrelas e vol-
tava numa chispada luminosa contemplar as minhas
tesoureiras de boa sorte. A felicidade era tamanha e
o desejo de contar minha glória, que até meu pai se
inquietou com o meu fastio no almoço. Mas eu não
queria contar. Era um segredo contra tudo e todos, a
arma certa da minha vingança, eu havia de machu-
car bastante Totó, e quando mamãe se incomodasse
com o meu sujo, não sei não... mas pelo menos ela
Mas não sucedeu nada, eu bem imaginava que
não sucedia nada... Minha madrinha do quadro
continuava olhando pra mim, se rindo, a boba, não
zangando comigo nada. E eu saí muito firme, quase
sem remorso, delirando num orgulho tão corajoso
no peito, que me arrisquei a chegar sozinho até a
esquina da praia larga. Estavam uns pescadores ali
mesmo na esquina, conversando, e me meti no meio
deles, sempre era uma proteção. E todos eles eram
casados, tinham filhos, não se amolavam proletaria-
mente com os filhos, mas proletariamente davam
muita importância pra o filhinho de “seu dotô” meu
pai, que nem era doutor, graças a Deus.
Ora se deu que um dos pescadores pegara três
lindas estrelas-do-mar e brincava com elas na mão,
expondo-as ao solzinho. E eu fiquei num delírio de
entusiasmo por causa das estrelas-do-mar. O pesca-
dor percebeu logo meus olhos de desejo, e sem paci-
ência pra ser bom devagar, com brutalidade, foi logo
me dando todas.
— Tome pra você, que ele disse, estrela-do-mar dá
boa sorte.
— O que é boa sorte, hein?
36 37
Eram três, uma menorzinha e duas grandonas.
Uma das grandonas tinha as pernas um bocado tor-
tas para o meu gosto, mas assim mesmo era muito
mais bonita que a pequetitinha, que trazia um defeito
imenso numa das pernas, faltava a ponta. Essa decerto
não dava boa sorte não, as outras é que davam: e agora
eu havia de ser sempre feliz, não havia de crescer,
minha madrinha gostosa se rindo sempre, mamãe
completamente sarada me dando brinquedos, com
papai não se amolando por causa dos gastos. Não! a
estrela pequenina dava boa sorte também, nunca que
eu largasse de uma delas!
Foi então que aconteceu o caso desgraçado de que
jamais me esquecerei no seu menor detalhe. Cansei
de olhar minhas estrelas e fui brincar no canal. Era
já na hora do meio-dia, hora do almoço, da janta, do
não-sei-o-que dos operários, e eles estavam descan-
sando jogados na sombra das árvores. Apenas um
porém, um portuga magruço e bárbaro, de enorme
bigodões, que não me entrava nem jamais dera
importância pra mim, estava assentado num monte
de terra, afastado dos outros, ar de melancolia. Eu
brincava por ali tudo, mas a solidão do homem me
havia de dar um trupicão de até dizer “ai”, bem feito!
As minhas estrelas-do-mar estavam lá escondidas
junto do muro me dando boa sorte. Comer? pra
que comer? elas me davam tudo, me alimentavam,
me davam licença pra brincar no barro, e se Nossa
Senhora, minha madrinha, quisesse se vingar da-
quilo que eu fizera pra ela, as estrelas me salvavam,
davam nela, machucavam muito ela, isto é... muito eu
não queria não, só um bocadinho, que machucassem
um pouco, sem estragar a cara tão linda da pintura,
só pra minha madrinha saber que agora eu tinha a
boa sorte, estava protegido e nem precisava mais dela,
tó! ai que saudades das minhas estrelas-do-mar!...
Mas não podia desistir do almoço pra ir espiá-las,
Totó era capaz de me seguir e querer uma pra ele,
isso nunca!
— Esse menino não come nada, Maria Luísa!
— Não sei o que é isso hoje, Carlos! Meu filho,
coma ao menos a goiabada. . .
Que goiabada nem mané goiabada! eu estava era
pensando nas minhas estrelas, doido por enxergá-las.
E nem bem o almoço se acabou, até disfarcei bem, e
fui correndo ver as estrelas-do-mar.
38 39
pessoa da minha menor estrelinha pequetitinha?...
Bem que podia dar a menor, era tão feia mesmo,
faltava uma das pontas, mas sempre era uma estreli-
nha-do-mar. Depois: o operário não era bem vestido
como papai, não carecia de uma boa sorte muito
grande não. Meus passos tontos já me conduziam
para o fundo do quintal fatalizadamente. Eu sen-
tia um sol de rachar completamente forte. Agora é
que as estrelinhas ficavam bem secas e davam uma
boa sorte danada, acabava duma vez a paralisia da
mulher do operário, os filhinhos teriam pão e Nossa
Senhora do Carmo, minha madrinha, nem se amo-
lava de enxergar o pintinho deles. Lá estavam as três
estrelinhas, brilhando no ar do sol, cheias de uma
boa sorte imensa. E eu tinha que me desligar de
uma delas, da menorzinha estragada, tão linda! jus-
tamente a que eu gostava mais, todas valiam igual,
porque a mulher do operário não tomava banhos
de mar? mas sempre, ah meu Deus que sofrimento!
eu bem não queria pensar mas pensava sem querer,
deslumbrado, mas a boa mesmo era a grandona
perfeita, que havia de dar mais boa sorte pra aquele
malvado de operário que viera, cachorro! dizer que
preocupava, quase me doía, e eu rabeava umas olha-
delas para a banda dele, desejoso de consolar. Fui
chegando com ar de quem não quer e perguntei o
que ele tinha. O operário primeiro deu de ombros,
português, bruto, bárbaro, longe de consentir na
carícia da minha pergunta infantil. Mas estava com
uns olhos tão tristes, o bigode caía tanto, desolado,
que insisti no meu carinho e perguntei mais outra
vez o que ele tinha. “Má sorte” ele resmungou, mais
a si mesmo que a mim.
Eu porém é que ficara aterrado. Minha Nossa
Senhora! aquele homem tinha má sorte! aquele
homem enorme com tantos filhinhos pequenos e
uma mulher paralítica na cama!... E no entanto eu
era feliz, feliz! e com três estrelinhas-do-mar pra me
darem sorte... É certo: eu pusera imediatamente as
três estrelas no diminutivo, porque se houvesse de
ceder alguma ao operário, já de antemão eu desva-
lorizava as três, todas as três, na esperança desespe-
rada de dar apenas a menor. Não havia diferença
mais, eram apenas três “estrelinhas”-do-mar. Fiquei
desesperado. Mas a lei se riscara iniludível no meu
espírito: e se eu desse boa sorte ao operário na
40 41
— Pegue depressa! faz favor! depressa! dá boa sorte
mesmo!
Aí, que ele entendeu, pois não aguentava mais!
Me olhou, foi pegando na estrela, sorriu por trás dos
bigodões portugas, um sorriso desacostumado, não
falou nada felizmente que senão eu desatava a ber-
rar. A mão calosa quis se ajeitar em concha pra me
acarinhar, certo! ele nem media a extensão do meu
sacrifício! e a mão calosa apenas roçou por meus
cabelos cortados.
Eu corri. Eu corri pra chorar à larga, chorar na
cama, abafando os soluços no travesseiro sozinho.
Mas por dentro era impossível saber o que havia
em mim, era uma luz, uma Nossa Senhora, um
gosto maltratado, cheio de desilusões claríssimas,
em que eu sofria arrependido, vendo inutilizar-se
no infinito dos sofrimentos humanos a minha
estrela-do-mar.
&
estava com má sorte. Agora eu tinha que dar pra ele a
minha grande, a minha sublime estrelona-do-mar!...
Eu chorava. As lágrimas corriam francas listrando
a cara sujinha. O sofrimento era tanto que os meus
soluços nem me deixavam pensar bem. Fazia um
calor horrível, era preciso tirar as estrelas do sol,
senão elas secavam demais, se acabava a boa sorte
delas, o sol me batia no coco, eu estava tonto, operá-
rio, má sorte, a estrela, a paralítica, a minha sublime
estrelona-do-mar! Isso eu agarrei na estrela com
raiva, meu desejo era quebrar a perna dela também
pra que ficasse igualzinha à menor, mas as mãos
adorantes desmentiam meus desígnios, meus pés é
que resolveram correr daquele jeito, rapidíssimos,
pra acabar de uma vez com o martírio. Fui correndo,
fui morrendo, fui chorando, carregando com fúria e
carícia a minha maiorzona estrelinha-do-mar. Che-
guei pro operário, ele estava se erguendo, toquei nele
com aspereza, puxei duro a roupa dele:
— Tome! eu soluçava gritando, tome a minha...
tome a estrela-do-mar! dá... dá, sim, boa sorte!...
O operário olhou surpreso sem compreender.
Eu soluçava, era um suplício medonho.
42 43
Principais Obras:
Poesia (1922) Pauliceia Desvairada
(1926) Losango Cáqui
(1927) Clã do Jabuti
(1930) Remate de Males
Prosa (1927) Amar, Verbo Intransitivo
(1928) Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter
(1934) Belazarte
(1947) Contos Novos
Ensaios e Críticas
(1925) A Escrava que não é Isaura
(1928) Ensaio sobre a Música Brasileira
(1942) O Movimento Modernista
Mário de Andrade(1893-1945)
Mário de Andrade nasceu em São Paulo, em 1893, e é con-
siderado um dos principais fundadores do Movimento
Modernista no Brasil, que culminou com a Semana de
Arte Moderna de 1922.
Além de poeta, contista e romancista, Andrade também é
conhecido por seu trabalho como crítico literário, musi-
cólogo, fotógrafo e historiador.
Andrade morreu em 1945 também em São Paulo, cidade
cuja Biblioteca Municipal leva seu nome.
42
44 45
Zwei Erzählungen in einer zweisprachigen Ausgabe Portugiesisch-Deutsch
Mário de Andrade
Dois contos em edição bilíngue português-alemão
46 47
und Korrektur); und Vinicius Macuch Silva (Bera-
tung). Darüber hinaus war Andrea Lauckner, eine
ehemalige Studierende, für die Letztkorrektur der
Übersetzungen verantwortlich. Für die Studierenden
ist Portugiesisch jeweils die erste oder zweite Fremd-
sprache, ausgenommen für den Brasilianer Vinicius
Macuch Silva, der als Lektor und Berater tätig war.
An dieser Stelle soll angemerkt werden, dass dies für
den Großteil der Studierenden das erste Abenteuer
in der Welt des Literaturübersetzens darstellte.
Angesichts des LeserInnenprofils entschieden
wir uns sowohl für eine philologische Ausgabe – d.h.
mit Erklärungen versehen, die dem besseren Ver-
ständnis bestimmter linguistischer und kultureller
Verweise dienen sollen – als auch für eine verfrem-
dende Übersetzungsstrategie, damit sich das Lese-
publikum mit dem Fremden auseinandersetzt. Zu
dieser Strategie passt die Verwendung von Fußnoten
und sie ermöglicht das Belassen von portugiesischen
Originalausdrücken in der Übersetzung. Während
des Lesens wird der/die Leser/in der Übersetzung
immer wieder daran erinnert, dass die Texte ur-
sprünglich nicht auf Deutsch verfasst wurden, dass
Vorwort(Übersetzt von Judith Grollnigg-Hajszan)
Der vorliegende zweisprachige Band enthält
zwei Erzählungen von Mário de Andrade: „Tempo
da Camisolinha“ („Kindheit im Kleidchen“) und
„Peru de Natal“ („Der Weihnachtstruthahn“), über-
setzt ins Deutsche von Studierenden des Master-
studiums Portugiesisch am Zentrum für Translati-
onswissenschaft der Universität Wien, Österreich.
Das Vorwort stellt das Übersetzungsprojekt und die
begleitenden Umstände vor und enthält wichtige In-
formationen für das Lesen der Übersetzung.
Das Projekt fand im Rahmen der Lehrveranstal-
tung „Literarisches Übersetzen“ statt, die sich primär
an Studierende des Masterstudiums Literaturüber-
setzen richtet. Die folgenden Studierenden nahmen
an der Lehrveranstaltung, deren Leiterin für diesen
Text verantwortlich zeichnet, teil: Armin Innerho-
fer (Übersetzung); Evamaria Freinberger, Florian
Dunkel, Magdalena Schätz, Melanie Patrizia Stras -
ser, Sanijel Jovanovic, Martin Zuccato (Übersetzung
48 49
ein Jahr lang aufbewahren“, „Ich war es, der nicht ins
Meer wollte, und wenn man mich hinein geprügelt
hätte!“, „und Vati, er würde sich nicht darüber auf-
regen (…)“, „Meine Augen, es ist etwas Verstohlenes
in ihrem Blick“. Ausdrücke aus der gesprochenen
Sprache, Neologismen und Wörter, die in keinem
Wörterbuch vorkommen, wurden eingesetzt, so wie
etwa: „Einladerei“, „na und?“, „ach“, „ha!“, „hä?“, „nie-
niemals“, „Um Himmels willen!“, „na klar“.
Andererseits enthalten die Übersetzungen eben-
falls eine große Anzahl von heute veralteten Begrif-
fen und blumigen Ausdrücken, die, insbesondere im
gesprochenen Deutsch, für eine gewisse Aufmerk-
samkeit sorgen. Dazu gehört die Verwendung des
Präteritums in der gesprochenen Sprache („rannte“,
„ahnte“, „sah“, „rief“), die Wahl von Wörtern wie
„Mutti“ und „Vati“ für „mamãe“ und „papai“, „Tant-
chen“ für „titia“, „Eisschrank“ für „geladeira“, um nur
einige zu nennen. Die primäre Intention war, dass der
Text schlussendlich einen gemischten Eindruck her-
vorrufen solle – eine Mischung aus einem einerseits
modernen, prägnanten Text mit umgangssprachli-
chen Ausdrücken, der auf keinen bestimmten Ort
ihr Kontext nicht zur deutschen Sprache passt und
dass das kulturelle Referenzsystem der Erzählungen
nicht dem der deutschen Sprache entspricht.
Neben den Hinweisen auf spezifische Elemente
der brasilianischen Kultur beabsichtigt die Überset-
zung, das Hauptmerkmal des Stils von Mário de An-
drade wiederzugeben: die Heterogenität. Einerseits
klingen die Erzählungen auch auf Deutsch mehr
wie gesprochene als geschriebene Texte, da sie um-
gangssprachliche Ausdrücke ebenso beinhalten wie
syntaktische Abweichungen und für die gesprochene
Sprache typische Kontraktionen. Letztere sind zum
Beispiel Ausdrücke wie: „ums“, „ins“, „aufs“, „ans“,
„andres“, „unsre“, „was“ (anstatt „etwas“) und „ess“
(anstatt „ich esse“). Wortspiele wurden auch auf
Deutsch kreiert („beängstigende Angst“ und „in der
hoffnungslosen Hoffnung“), ebenso wie unzählige
syntaktische Irregularitäten: „Und genau das war es,
was mich hier gerettet hat, mein Ruf“, „und ich, der
ich meinen Vater immer nur mittelmäßig gern hatte
(…)“, „Und ich, ich war völlig entsetzt“, „Ich hingegen,
ich konnte mich so glücklich schätzen“, „Austeilen
tu ich!“, „Die Kleidchen, die würde sie noch mehr als
50 51
i
Der
Weihnachtstruthahn
Mário de Andrade
rückschließen lässt, und andererseits aus einem Text,
der schon ein wenig alt und antiquiert wirkt.
An dieser Stelle möchte ich, im Namen der ge-
samten Gruppe, der brasilianischen Botschaft in Wien, die den Anstoß zu diesem Projekt gab und de-
ren Unterstützung bezüglich Grafik und Druck ent-
scheidend war, auf das Herzlichste danken. Überdies
möchten wir der Universität Wien, die Raum, Struk-
turen und Ressourcen zur Verfügung stellte, unseren
besten Dank aussprechen.
Viel Vergnügen beim Lesen!
Alice Leal
Wien, am 4. September 2012.
52 53
Unser erstes Familienweihnachtsfest nach dem
Tod meines Vaters, der fünf Monate zuvor verstorben
war, hatte entscheidende Folgen für das Familien-
glück. Wir waren als Familie immer glücklich gewe-
sen, in einem sehr abstrakten Verständnis von Glück:
ehrliche Leute, gesetzestreu, ein Heim ohne familiäre
Streitereien oder gröbere finanzielle Schwierigkei-
ten. Allerdings hatte uns – hauptsächlich aufgrund
der grauen Erscheinung meines Vaters, der weit ent-
fernt von jeglicher Begeisterungsfähigkeit und gut
gebettet in seiner beispiellosen Mittelmäßigkeit war
– immer der Genuss am Leben gefehlt, die Freude an
materiellen Dingen, einem guten Wein, einem Auf-
enthalt im Kurbad, einem Eisschrank, solchen Sa-
chen. Mein Vater war auf eine falsche, beinah drama-
tische Weise gut, durch und durch ein Spielverderber.
Mein Vater starb, wir waren sehr traurig, usw.
Als Weihnachten näher rückte, konnte ich nicht
mehr, wollte sie nur noch wegschieben, diese verstö-
rende Erinnerung an den Toten, der jeder noch so
kleinen Geste in der ganzen Familie für immer die
Verpflichtung zum schmerzlichen Andenken einge-
trichtert zu haben schien. Einmal machte ich Mutti
54 55
der Horde der Verwandtschaft den netten Ruf eines
Verrückten. „Er ist verrückt, der Arme!“, sagten sie.
Meine Eltern sprachen immer mit einer gewissen
herablassenden Traurigkeit, die restliche Verwandt-
schaft nahm mich als schlechtes Beispiel für ihre
Kinder, und dies wahrscheinlich mit dem Vergnügen
jener, die sich überlegen wähnen. Bei ihnen gab es
keine verrückten Kinder. Und genau das war es, was
mich hier gerettet hat, mein Ruf. Ich konnte all das
machen, was das Leben für mich bereithielt und was
mein Wesen brauchte, um sich vollständig entfalten
zu können. Und sie haben mich machen lassen, was
ich wollte, da ich ja verrückt war, ich Armer. Das Er-
gebnis war ein unbeschwertes Leben, ich kann mich
nicht im Geringsten beschweren.
Es war eine richtige Tradition, das Weihnachtsessen
in unserer Familie. Eher ein dürftiges Essen, wie man
sich vorstellen kann: ein Abendessen typisch mein
Vater, Paranüsse, Feigen und Rosinen nach der Christ-
mette. Vollgestopft mit Mandeln und Walnüssen (wie
oft hatten wir drei Kinder uns um den Nussknacker
gestritten …), vollgestopft mit Paranüssen und regel-
rechter Eintönigkeit, umarmten wir uns noch und
den Vorschlag, sich doch einen Film im Kino anzuse-
hen; was dabei rauskam, waren Tränen. Wo hat man
denn sowas schon gesehen, ins Kino gehen, in tiefer
Trauer! Wir täuschten den Schmerz nun sogar schon
nach außen hin vor, und ich, der ich meinen Vater
immer nur mittelmäßig gern hatte, eher aus natürli-
chem Instinkt als aus spontaner Zuneigung heraus,
war an dem Punkt angelangt, den guten Toten ärgern
zu wollen.
Bestimmt kam mir deshalb – diesmal sehr wohl
spontan – eine meiner sogenannten „Verrückthei-
ten“ in den Sinn. Diese waren übrigens, und das
schon von klein auf, zu einer glorreichen Errun-
genschaft in meinem Familienumfeld geworden.
Schon von klein auf, schon seit der Schulzeit, wo
ich es schaffte, jedes Jahr bei irgendeiner Prüfung
durchzufallen, seitdem mich Tante Velha, eine verab-
scheuenswerte Tante, dabei erwischt hatte, wie ich im
Alter von zehn Jahren eine Cousine heimlich küsste,
und vor allem seit damals, als ich einem Dienstmäd-
chen von Verwandten etwas beibrachte, oder sie mir,
ich weiß es nicht genau – ich erlangte nicht nur in
meinem internatartigen Zuhause, sondern auch in
56 57
richtige Zeitpunkt, um meinem Ruf als armer Ver-
rückter gerecht zu werden, das ließ ich mir nicht
entgehen. Mit einem Schlag verspürte ich eine
unglaubliche Zärtlichkeit für Mutti und Tantchen,
meine beiden Mütter, drei mit meiner Schwester,
die drei Mütter, die mir seit jeher das Leben ver-
süßt hatten. Es war immer dasselbe: Irgendwer hatte
Geburtstag, und nur dann wurde in diesem Haus
Truthahn aufgetischt. Truthahn war eine Festtags-
speise: Der ganze dreckige Haufen von Verwandten
war schon aus Gewohnheit jederzeit dazu bereit,
das Haus für Truthahn, Empadinhas2 und Süßes
zu stürmen. Meine drei Mütter wussten schon drei
Tage vorher nichts andres zu tun als zu arbeiten, zu
arbeiten an den Vorbereitungen für die allerfeinsten,
liebevoll zubereiteten Süßspeisen und kalten Plat-
ten, die Sippe kam und verschlang alles und packte
noch etwas für die ein, die nicht hatten kommen
können. Meine drei Mütter konnten kaum noch vor
Erschöpfung. Erst bei der Beerdigung der Knochen
2 Empadinhas sind kleine Pastetchen oder Teigtaschen mit un-terschiedlicher herzhafter Füllung, die klassisch für die brasilia-nische Küche sind.
jeder ging ins Bett. All diese Erinnerungen trieben
mich zu einer meiner „Verrücktheiten“.
„Also ich will zu Weihnachten Truthahn essen.“
Es war einer dieser unvorstellbaren, schockieren-
den Momente. Sofort hat meine heilige Tante, die
alte Jungfer, die bei uns lebte, uns drauf aufmerksam
gemacht, dass wir noch in Trauer wären und nieman-
den einladen könnten.
„Aber wer hat denn was von Einladen gesagt? Im-
mer diese Einladerei! Wann haben wir denn jemals
in unserem Leben Truthahn gegessen? Truthahn ist
in diesem Haus ein Festessen, da kommt immer die
ganze verdammte Verwandtschaft...“
„Mein Sohn, sprich nicht so …“
„So rede ich nun mal, na und?“
Und ich ließ meiner kühlen Gleichgültigkeit ge-
genüber unsrer unendlichen Verwandtschaft freien
Lauf, die ja angeblich von den Bandeirantes1 abstam-
mte, was aber doch mir egal war! Es war genau der
1 Bandeirantes waren Expeditionstrupps, die ab dem 17. Jahrhundert das brasilianische Hinterland auf der Suche nach Reichtümern und Boden-schätzen erkundeten, sowie nach Indigenen zur Versklavung suchten. Ihnen haftete lange Zeit ein Helden- und Abenteurermythos an, was in der modernen Geschichtswissenschaft differenzierter gesehen wird.
58 59
dieses Rezept kosteten. Und richtig kühles Bier, versi-
cherte ich fast schreiend. Dank meines Geschmacks,
den ich außerhalb meines Zuhauses geschärft hatte,
dachte ich zuerst natürlich an einen guten Wein,
einen französischen. Aber die Zuneigung zu Mutti
siegte über den Verrückten, sie liebte Bier.
Nachdem ich meine Pläne vorgetragen hatte, wa-
ren alle überglücklich, ich merkte es genau, und sie
wollten unbedingt genau diese Verrücktheit machen,
die gerade aus mir herausgeplatzt war. Sie wussten,
wie verrückt das alles war, aber sie redeten sich alle
ein, dass ich derjenige war, der das alles so sehr wollte,
und so war es ein Leichtes, sie auf mich abzuwälzen,
die … Schuld an ihrem brennenden Verlangen. Sie
warfen sich Blicke zu, lächelten, schüchtern wie
Tauben, die von ihrem Weg abgekommen waren, bis
meine Schwester für alle das Wort ergriff:
„Er ist wirklich verrückt!...“
Der Truthahn wurde gekauft, der Truthahn wurde
zubereitet, usw. Und nach der Christmette, bei der wir
alle nicht wirklich aufmerksam waren, feierten wir
unser schönstes Weihnachtsfest. Es war lustig: Sobald
ich daran dachte, dass ich Mutti dazu bringen würde,
am darauffolgenden Tag kosteten Mutti und Tant-
chen ein Stückchen von der Keule, ein Stück, an dem
nichts dran war, dunkel, kaum zwischen den Reis-
körnern auszumachen. Und auch da war es Mutti,
die austeilte und die alles für den alten Herrn und
die Kinder zusammenklaubte. In Wahrheit wusste
niemand in unsrem Haus, was Truthahn war, nur
Truthahnrest vom Fest.
Nein, niemand sollte eingeladen werden, nur für
uns fünf sollte es Truthahn geben. Und es sollte einer
mit zweierlei Arten von Farofa3 sein, einer fetten mit
Innereien und einer trockenen, goldgelben, mit viel
Butter. Ich wollte den Truthahn nur mit der fetten Fa-
rofafüllung haben, der wir Dörrpflaumen beifügen
müssten, Nüsse und ein Gläschen Sherry, so wie ich
es bei Rose gelernt hatte, meiner Freundin. Natürlich
verschwieg ich, von wem ich das Rezept hatte, aber
sie rochen die Lunte. Und sie verfielen in eine Stim-
mung, als ob plötzlich die Kerzen ausgegangen wä-
ren, als wäre es eine teuflische Versuchung, wenn sie
3 Farofa ist eine typische brasilianische Beilage aus geröstetem Maniokmehl, die zu verschiedensten Speisen gereicht wird.
60 61
Moment denke ich an Jesus … In diesem bürgerli-
chen und dennoch bescheidenen Hause begab sich
ein Wunder, das des Geburtsfestes eines Gottes wür-
dig war. Die Truthahnbrust wurde zur Gänze in groß-
zügige Scheiben geschnitten.
„Austeilen tu ich!“
„Der ist wirklich verrückt“, denn wozu schon
sollte ich nun austeilen, wo doch in diesem Haus im-
mer Mutti ausgeteilt hatte. Es gab einige Lacher, die
großen, vollen Teller wurden mir zugereicht und ich
begann heldenhaft auszuteilen, während ich meinen
Bruder bat, das Bier einzuschenken. Ich nahm mich
sofort eines wunderbaren Stücks der Kruste an, mit
herrlich viel Fett, und legte es auf den Teller. Und
dann mächtige helle Scheiben. Da schnitt die strenge
Stimme von Mutti durch die angespannte Stimmung
im Raum, in der alle nur auf ihren Anteil am Trut-
hahn warteten:
„Denk an deine Geschwister, Juca!“
Wann würde sie draufkommen, die Arme!, dass
dieser Teller für sie war, für sie, die Mutter, für meine
schlecht behandelte Freundin, die über Rose Be-
scheid wusste, die meine Vergehen kannte und der
Truthahn zu essen, tat ich während dieser Tage nichts
anderes, als an sie zu denken, Zuneigung zu ihr zu ver-
spüren, mein liebes Mütterchen lieb zu haben. Und
auch meine Geschwister, sie spürten dieses überwäl-
tigende Gefühl von Liebe, dieses neue Glücksgefühl,
das der Truthahn in meine Familie gebracht hatte. Ich
ließ mir von alldem immer noch nichts anmerken
und ganz gelassen überließ ich es Mutti, das ganze
Bruststück zu schneiden. Dann jedoch, die Hälfte des
Bruststücks war schon in Scheiben geschnitten, hielt
sie inne, so als könnte sie sich den Gesetzen der Spar-
samkeit nicht widersetzen, die sie immer gelähmt hat-
ten, in dieser grundlos auferlegten Armut.
„Nein, Mutter, schneidet den ganzen Truthahn!
Diesen Teil ess ich ja allein!“
Das war gelogen. Die Liebe zu meiner Familie
breitete sich derart stark in mir aus, dass ich sogar
weniger gegessen hätte, nur damit die anderen vier
mehr bekommen würden Und auch die anderen
empfanden so. Diesen Truthahn nur unter uns zu es-
sen ließ jeden von uns in sich das wiederentdecken,
was der Alltag erstickte, Liebe, Mutterliebe, kindliche
Zuneigung. Gott möge mir vergeben, aber in diesem
62 63
vorzüglich. Der Geschmack des zarten Fleisches mit
seinem feinen Gewebe trieb so sanft zwischen Farofa
und Schinken, nur hin und wieder wurde er von
den sich erbarmungslos in den Vordergrund schie-
benden Dörrpflaumen und den unverschämt auf-
dringlichen Walnüssen durchbrochen und durchei-
nandergebracht, sodass man sich sofort wieder nach
ihm sehnte. Aber Vater, wie er dort saß: übermächtig,
unvollständig, eine Zensur, eine Wunde, eine Ohn-
macht. Und der Truthahn, er schmeckte so hervor-
ragend, jetzt hatte auch Mutti begriffen, dass dieser
Leckerbissen des Fests der Geburt des Jesuskindleins
würdig war.
Es begann ein verhaltener Kampf zwischen dem
Truthahn und der Erscheinung des Vaters. Ich stellte
mir vor, dass es dem Truthahn einen Vorteil bringen
würde, wenn ich ihm schmeicheln würde – und es
ist ja klar, dass ich auf der Seite des Truthahns stand.
Doch die Toten kennen schlüpfrige und scheinhei-
lige Wege, um an den Sieg zu kommen: Kaum rühmte
ich den Truthahn, wuchs das Bild des Vaters siegreich
an – unerträglich, wie er alles vereinnahmte!
„Jetzt fehlt nur noch euer Vater.“
ich immerzu nur Sachen erzählte, die ihr Kummer
bereiteten. Der Teller wurde eine Augenweide.
„Mutter, dieser Teller ist doch für Euch! Nein,
nicht, nicht weitergeben!“
Das war der Moment, in dem sie es vor lauter Rüh-
rung nicht mehr aushielt und anfing zu weinen. Auch
meine Tante, die gleich erkannt hatte, dass der nächste
derartige Teller für sie sein würde, stimmte in den Trä-
nenrefrain ein. Und meine Schwester, die ja noch nie
Tränen sehen konnte, ohne gleich selbst den Tränen-
hahn aufzudrehen, gab sich auch dem Weinen hin.
Also fing ich an, viele Ungezogenheiten zu sagen, um
nicht selbst auch zu weinen, ich war neunzehn ... Was
für eine verdammte Familie, die einen Truthahn vor
sich hat und zu weinen beginnt! und solche Sachen.
Alle strengten sich an zu lächeln, aber jetzt war jede
Fröhlichkeit völlig unmöglich geworden. Denn all das
Geweine beschwor die unerwünschte Erinnerung an
meinen verblichenen Vater herauf. Mein Vater, in sei-
ner grauen Gestalt, kam, um unser Weihnachtsfest für
immer zu verderben. Ich war wutentbrannt.
Nun gut, wir begannen schweigend zu essen,
in unserer Trauer, und der Truthahn war einfach
64 65
können, was ihr eurem Vater schuldet“, ein Heiliger.
Vati war zum Heiligen geworden, ein Bild süßer Be-
trachtung, ein unverrückbares Sternlein am Himmel.
Nun konnte er niemandem mehr etwas zuleide tun,
er war nicht mehr als ein bloßes Objekt stiller Kon-
templation. Der einzige Tote hier war nunmehr der
Truthahn, übermächtig und vollkommen siegreich.
Oh, wir schäumten über vor Glück, meine Mutter,
meine Tante, wir alle. Ein „lukullisches Glück“ hätte
ich beinahe geschrieben, aber nein: es war mehr als
das! Ein ganz besonderer Glückzustand, eine Liebe,
die uns alle mit einschloss – und die Verwandtschaft,
die uns immer davon abgelenkt hatte, war mit einem
Schlag vergessen. Und dieser erste Truthahn, und da
bin ich mir sicher, den wir im trauten Kreis aßen,
war der Anfang einer ganz neuen Liebe, einer wieder
aufkeimenden Liebe, vollkommener, kostbarer und
inspirierender, zuvorkommender und mehr auf sich
bedacht. Von da an – und das sage ich nicht, weil ich
mich für etwas Außergewöhnliches halte – von da an
lebten wir in vollkommenstem Familienglück zu-
sammen; ja, ich konnte mir beim besten Willen kein
größeres Glück als das unsrige ausmalen.
Ich brachte keinen Bissen mehr hinunter, so sehr
zog mich der Kampf zwischen den beiden Toten in
seinen Bann. Ich kam so weit, Vater zu hassen. Und
plötzlich – ich weiß auch nicht, welch genialer Ein-
gebung ich das zu verdanken hatte – wurde ich zum
Scheinheiligen, zum Politiker. In diesem Moment,
der mir heute als entscheidend für unsere Familie
erscheint, ergriff ich vermeintlich Partei für meinen
Vater. Und scheinbar traurig, sagte ich:
„Ja, das ist wahr. Aber Vati, der uns doch so lieb
gehabt hat, der gestorben ist, weil er so hart für uns
arbeiten hat müssen, Vati dort oben im Himmel
muss doch glücklich sein … (Hier zögerte ich, be-
schloss aber, den Truthahn nicht mehr zu erwähnen)
– glücklich darüber, uns alle hier als Familie vereint
zu sehen.“
Und wir alle begannen ganz ruhig, uns über Vater
zu unterhalten. Und sein Bild wurde immer kleiner
und kleiner, bis es nur noch ein leuchtendes Stern-
chen am Himmel war. Nun aßen wir alle ganz bedäch-
tig vom Truthahn, schließlich war Vati so ein Guter
gewesen, stets hatte er sich für uns aufgeopfert, er war
ein Heiliger, „Kinder, ihr werdet nie zurückzahlen
66 67
aber was macht schon eine glückliche Schlaflosigkeit.
Doch ach, verdammt! Rose hatte mir ja versprochen,
mich mit einer Flasche Sekt zu erwarten, ausgerech-
net sie, die schon katholisch war, bevor sie überhaupt
auf der Welt war! Ich erfand eine Ausrede, um das
Haus verlassen zu können und gab vor, zu einem
Fest bei Freunden zu gehen. Ich verabschiedete mich
von Mutti mit einem Kuss und einem verschmitz-
ten Blinzeln, um ihr zu bedeuten, wohin ich gehen
würde, und um ihr ein wenig Kummer zu bereiten.
Die anderen beiden küsste ich, ohne zu zwinkern.
Und nun, fort und auf zu Rose!...
i
Mutti aß so viel Truthahn, dass ich regelrecht
fürchtete, es könnte ihr schaden. Doch dann dachte
ich mir: Ach, was macht das schon! Selbst wenn sie
sterben sollte, hätte sie zumindest einmal im Leben
einen wahrhaftigen Truthahn gegessen!
Durch das gänzliche Fehlen jeglichen Egoismus
war mir aufgegangen, wie sehr ich meine Familie ei-
gentlich liebte … Zum Nachtisch wurden Weintrau-
ben und jene Süßspeisen gereicht, die dort, wo ich
herkomme „bem-casados4“ genannt werden. Doch
nicht einmal diese verfängliche Bezeichnung ließ
Erinnerungen an meinen Vater aufkommen, denn
der Truthahn hatte das Andenken an das verstor-
bene Familienoberhaupt gewandelt und gleichsam
in Würde verklärt.
Wir erhoben uns. Es war fast zwei Uhr nachts, alle
schon fröhlich und etwas wackelig vom Bier. Wir alle
gingen zu Bett, die einen schliefen, die anderen nicht,
4 „Bem-casados“ (dt.: „glücklich verheiratet“) ist eine brasiliani-sche Süßspeise. Sie besteht aus zwei runden Keksen, die mit einer Karamellmasse („doce de leite“) aneinandergeklebt, sprich „ver-mählt“ werden. Traditionell werden die Bem-casados liebevoll verpackt an Hochzeitsgäste verschenkt. Sie symbolisieren Glück und ein süßes Eheleben.
68
dKindheit
im Kleidchen
Mário de Andrade
70 71
Beim Anblick der abgeschnittenen Haare wurde
mir übel. Ich weiß nicht, welche Vorahnung über
die Gemeinheit unseres Handelns, oder genauer,
unseres Lebens, mich bei dieser Erfahrung mei-
ner frühesten Kindheit beschlich. Was ich nicht
vergessen kann, und dies ist die früheste meiner
Erinnerungen, war jemand, ich weiß nicht mehr ge-
nau wer, eine männliche Stimme, die inmitten von
Scherzen, welche mich von der Traurigkeit über
die abgeschnittenen Haare ablenken sollten, zu mir
sagte: „Jetzt bist du ein Mann!“ Damals war ich erst
drei Jahre alt und vor Schreck erstarrt. Diese Angst,
bereits bei dieser zwergenhaften Größe ein richtiger
Mann zu sein, schnürte mir förmlich die Luft ab. Ich
verspürte eine beängstigende Angst und brach wie-
der in Tränen aus.
Ich hatte schöne Haare, rabenschwarze, die bräun -
lich schimmerten. Auf meine Schultern fielen die fül-
ligen Locken, in schweren, gleichmäßigen Spiralen.
Ich erinnere mich an ein Foto von damals, das ich
später aufgrund von so etwas wie Verlegenheit ver-
nichtete. Da war ich schon ein richtiger Mann und
die in der Kindheit so geliebten Haare schienen mir
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sichtbaren Falten um die Nase herum und um den
beim perfiden Lächeln halb offenen Mund. Meine
Augen, es ist etwas Verstohlenes in ihrem Blick. Ganz
offenkundig, mit theatralischer Leichtigkeit, liefern
sie sämtliche Hinweise auf hinterhältige Absichten.
Ich weiß nicht, warum ich nicht auch dieses Foto
rechtzeitig zerstört habe, nun ist es zu spät. Ich habe
mich oft unzählige Minuten lang angesehen und
mich darin gesucht. Und ich habe mich gefunden.
Ich habe das Foto mit meinen Handlungen vergli-
chen und diese waren allesamt Bestätigungen. Ich
bin mir sicher, dass mir dieses Foto großes Leid zu-
gefügt hat, weil es bei mir zu einer trägen Reaktion
führte. Es offenbarte mir zu vieles über mich und
unterdrückte die möglicherweise in mir vorhandene
Sehnsucht nach Vollkommenheit. Aber kommen wir
nun besser auf die eigentliche Geschichte zurück.
Jeder schätzte meine ach so weichen, lockigen
Haare und ich war deshalb wirklich eitel, mehr noch,
ich liebte sie für die Komplimente, die sie mir bescher-
ten. Eines Abends, ich erinner mich gut daran, sprach
mein Vater zart flüsternd eine seiner unumstößli-
chen Entscheidungen aus: „Dem Jungen müssen die
plötzlich wie ein furchtbarer Fehler und so zerstörte
ich das Bild umgehend. Die Gesichtszüge waren
keine glücklichen, doch von der Haarpracht einge-
rahmt war ein sanfter Blick, ein makelloses, aufrich-
tiges Gesicht voller Gutmütigkeit und Herzlichkeit.
Ich habe ein anderes Bild aufbewahrt, das etwa ein
Jahr nach dem Haareschneiden von meinem Bruder
Totó und mir gemacht wurde. Er, vier Jahre älter als
ich, erscheint anmutig und völlig kindlich in einem
schönen Matrosenanzug, und ich, um einiges jünger,
trage noch ein Kleidchen aus Samt, ein wirklich däm-
liches, das meine Mutter mich aufgrund ihrer Spar-
samkeit so lange es nur ging zu tragen drängte.
Ich bewahre dieses Foto auf; denn auch wenn es
nicht entschuldigt, was aus mir geworden ist, dient es
zumindest als Erklärung. Ich wirke wie ein aufsässi-
ges Ungeheuer. Mein Bruder mit seinen acht Jahren
ist ein anständiges, liebenswürdiges Kind, in dessen
Blick sich seine Unerfahrenheit widerspiegelt, mit
rundem, flachem Gesicht, ohne jegliche Boshaftig-
keit, kurz: das perfekte Abbild der Kindheit. Ich, um
einiges jünger, mit meinem abstoßenden zwergen-
haften Etwas wirke alt. Noch deprimierender sind die
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Der Rest sind wirre Erinnerungen, durchzogen
von schrecklichem Geschrei, dem verzweifelt hin-
und hergeworfenen Kopf, mich energisch packen-
den Händen und verzweifelten Worten zwischen
Wut und vergeblichem Erbarmen, dem gereizten Be-
mühen des Friseurs, der sich anstrengte, geduldig zu
bleiben und mich in Panik versetzte. Und schließlich
das Weinen. Und letzten Endes das nicht enden wol-
lende, schmerzerfüllte, leise Jammern, krampfend,
umgeben von grässlichen Gesichtern, eine von allem
losgelöste Verzweiflung, eine störrische Verbohrtheit,
mit der ich mich weigerte anzunehmen, was passiert
war.
Sie machten mir Geschenke. Ein Grund für noch
mehr Tränen. Sie verspotteten mich: Tränen. Küsse
von Mutti: Tränen. Ich wies die Spiegel zurück, mit
denen sie mir sagen wollten, dass ich hübsch sei. Die
Kadaver meiner Haare, die in dieser Schuhschachtel
aufbewahrt wurden: Tränen. Tränen und Ablehnung.
Eine messerscharfe Ablehnung, die mich von einer
Sekunde auf die andere zum ganzen Mann machte,
voller Ernüchterung und Auflehnung, empfänglich
für alle Gemeinheiten. Abends weigerte ich mich
Haare abgeschnitten werden.“Ich schaute zur einen
Seite, zur anderen, auf der Suche nach Beistand, ei-
ner Möglichkeit, diesem Befehl zu entfliehen, ganz
verzweifelt. Ich folgte meinem In–stinkt und fixierte
Mutti mit schon tränennassen Augen. Sie wollte
mich mitleidig ansehen, aber ich weiß noch, als ob’s
heute gewesen wäre, dass sie meinen letzten Blick
vollkommener Unschuld nicht ertrug und den ihren
senkte, hin- und hergerissen zwischen ihrem Erbar-
men mit mir und dem möglicherweise gerechtfertig-
ten Befehl des Oberhaupts. Heute finde ich das schon
sehr egoistisch von ihr, dass sie nicht reagiert hat. Die
Kleidchen, die würde sie noch mehr als ein Jahr lang
aufbewahren, bis sie nur noch Lumpen wären. Aber
niemand verstand meine zarte, kindliche Eitelkeit.
Wenn sie mir doch Zeit gelassen hätten, mich mit
dem Gedanken anzufreunden, mich nach und nach
davon überzeugt hätten, dass es notwendig sei, mir
die Haare zu schneiden – nichts da: eine altmodische,
brutale, erbarmungslose Entscheidung, eine Bestra-
fung ohne Vergehen, die erste Aufforderung zur in-
neren Auflehnung: „Dem Jungen müssen die Haare
abgeschnitten werden.“
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Grund für diesen dem Anschein nach erfreulichen
Sommerferienaufenthalt. Ich hatte ein Schwes-
terchen bekommen und die Geburt dürfte katas-
trophal gewesen sein, ich weiß es nicht genau …
Ich weiß, dass Mutti fast zwei Monate lang im Bett
geblieben war, wie gelähmt, und es nur deshalb
wieder verließ, weil ihre Pflichten im Haushalt und
den Kindern gegenüber sie dazu zwangen. Aber es
ging ihr nicht gut, sie stützte sich an den Möbeln
ab, schleppte sich dahin, mit einem unerträglichen
Schmerz in der Stimme und einem Ziehen in den
Beinen, unendlich niedergeschlagen. Sie küm-
merte sich weniger um den Haushalt, als sie sich
vormachte, doch darin, dass sie ihren häuslichen
Pflichten nachkam, fand sie Trost. Angesichts einer
möglicherweise bevorstehenden, noch größeren Ka-
tastrophe gab sich Vati einen Ruck – ausgerechnet er,
der nur für die Arbeit lebte und vom sozialen und
finanziellen Aufstieg überwältigt war: Er befolgte den
Rat des Arztes, nahm sich Urlaub und brachte Mutti
wie verordnet zum Baden ans Meer.
Man darf nicht vergessen, dass dies in den letzten
Jahren des vorigen Jahrhunderts passiert war, und
standhaft, zu beten; und meine Mutter sah nach
mehreren Versuchen das schöne Bild der Nossa
Senhora do Carmo5 an, das damals schon mehr als
hundert Jahre im Besitz ihrer Familie gewesen war,
verarmten Leuten, die sich für nobel hielten, sie sah
es mit flehenden Augen an. Aber ich war wütend auf
meine Schutzpatronin.
Und meine Vergangenheit fand zum ersten Mal
ein Ende. Das Einzige, was als unangenehmer Beweis
davon übrigblieb, waren die Kleidchen. Es war in die-
sen Kleidern aus billigem, grobem Stoff (das glorrei-
che aus Samt war nur für besondere Anlässe), es war
also immer noch in diesen Kleidchen, dass ich mit
meiner Familie nach Santos aufbrach, es war Juni,
um Totós Ferien zu genießen, der immer schwach
und kränkelnd war.
Es gab übrigens noch einen anderen, traurigeren
5 Unsere liebe Frau vom Berge Karmel, Bezeichnung für die Mutter Maria im karmelitischen Orden. Das Attribut Unsere Liebe Frau ist Bestandteil des Namens von Kongregationen, Gemeinschaften, Bruderschaften, kirchlichen Feiertagen, Pa–tronaten, Institutionen, Organisationen und Einrichtungen und Orden und Ehrenzeichen. Der Titel Unsere Liebe Frau wird sehr häufig als Kirchenpatrozinium verwendet. Dabei wird an den Titel meist der Ort oder das Land angefügt.
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viel weniger einen Vater, mehr einen tollen Kame-
raden mit großem Hunger und viel Nachgiebigkeit.
Ich war’s, der nicht ins Meer wollte, und wenn man
mich hineingeprügelt hätte! In meinem Badeanzug,
einer Art längeren Unterhose, wie man sie damals
trug, ging ich am ersten Tag mit den anderen bis zur
ersten Welle vor, aber ich weiß nicht, welche Angst
mich damals packte, ich stieß derartige Schreie aus,
dass es nicht einmal meinem älteren Bruder gelang,
mich in dieses bewegte Wasser zu bringen, mein
Bruder, zu dem ich immer voller Neid aufsah. Ich
sah darin den sicheren Tod, eine Rache, eine uner-
klärliche Strafe des Meeres, das der Nebelhimmel
des Winters grau und böse erscheinen ließ, es wirkte
düster und voll erbarmungsloser Drohungen. Noch
heute hasse ich es, im Meer zu baden … Ich hasste das
Meer so sehr, dass mir nicht einmal die Spaziergänge
am Strand Freude machten, trotz der wunderbaren
Gesellschaft meines nun so gesprächigen Vatis. Soll-
ten doch die anderen spazieren gehen, ich blieb auf
dem verwahrlosten Grundstück um unser Haus, ei-
nige kahle Bäume und gelbes Gras, sprach dabei mit
den Ameisen und träumte meinen großen Traum.
damals lag der Strand von José Menino6 mitten im
Nirgendwo. Trotzdem befand sich das Haus, das Vati
mietete, nicht direkt am Strand, sondern in einer der
Straßen, die dorthin führten und in denen Arbeiter
täglich im Kanal beschäftigt waren, der die Abwässer
der Stadt in das Meer des Golfs leiteten. Hier lebten
wir fast zwei Monate lang, in einem riesigen leeren
Haus, einem improvisierten Heim voller Mängel, das
durch die krankhafte Nachlässigkeit von Mutti noch
trostloser wirkte, auf allem lastete eine gewisse Unge-
mütlichkeit und Vergänglichkeit.
Natürlich tat ihr das Baden im Meer gut, ihr Ge-
sicht bekam wieder Farbe, ihre Kräfte kehrten zurück
und auch das Ziehen in den Nerven verschwand
schnell. Aber es blieb die Erinnerung an das große
Leid, das noch nicht lange zurücklag, und so machte
sich in ihr die verständliche Freude darüber breit,
während dieser Ferien rein die Rolle der Genesenden
zu spielen. Diese Ferien machten aus meinem Vati
6 José Menino ist ein breiter Sandstrand, der Mitten in Santos, São Paulo, liegt. Die Hauptstadt São Paulo ist ca. 80 Km davon entfernt und kann heute in etwa 1 Stunde mit dem Auto oder Bus erreicht werden.
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zu hassen begann. Klar, denn meine Mutter hatte das
uralte Bild, von dem ich schon gesprochen habe und
von dem sie sich niemals trennte, mit nach Santos
genommen, und jetzt, als sie mich das Kleidchen in
dieser indiskreten Bewegung anheben sah, drohte
sie mir mit meiner bezaubernden Schutzpatronin:
„Mein Sohn, pfui, zeig das doch nicht so her! Denk
dran: Deine Schutzpatronin sieht dich, da von der
Wand aus!“ Ich schielte zu meiner Schutzpatronin
hinüber und ließ das Kleidchen wieder hinunter, nur
wenig überzeugt, mit einem Zorn auf die schöne, frü-
her mal hochverehrte Heilige, die immerzu lächelte
und diese dicken, warmen Hände hatte. So ging ich
missmutig im Schlamm des Kanals spielen, und gab
die Schuld an allem dem jahrhundertealten Bild. Ich
hasste meine heilige Schutzpatronin.
Doch eines Tages, ich weiß nicht, was plötzlich
mit mir los war, explodierte in mir das Verlangen,
und ich dachte nicht mal nach: Ich lasse meine
Spielsachen im Schlamm liegen und renne los,
stürme bei der Tür rein, schaue als erstes, wo Mutti
ist. Sie war nicht da. Sie machte gerade einen Mor-
genspaziergang, mit Vati und Totó. Nur die Köchin
Ich ging lieber zum schlammigen Kanal, wo mich
die Arbeiter vor allen möglichen Gefahren beschütz-
ten. Meinem Vati passte das überhaupt nicht, denn
als ehemaliger Arbeiter, dem es gelungen war, aus
eigener Kraft und durch weiß Gott welche Opfer auf-
zusteigen, sah er die Arbeiter als schlechten Umgang
für den Sohn eines mehr oder weniger erfolgreichen
Geschäftsmannes. Meine Mutti schritt jedoch mit
ihrem zu dieser Zeit typischen, müden „Lass ihn
doch!“ ein, eine Genesende, die zum ersten Mal in
ihrem Leben ihren Willen kundtat. So verbrachte ich
den ganzen Tag damit, den Saum meines Kleidchens
schmutzig zu machen, im Erdhaufen am Kanal bei
den Arbeitern.
Schmutzig war ich andauernd. Jetzt fehlte mir
unter meinem Kleidchen sogar oft die Unterhose,
um das da unten zu bedecken, und ich empfand’s als
Wintersport, wenn ich das Kleidchen vorne hochhob,
um’s schön kühl zu haben. Mutti war das sehr unan-
genehm, aber es gab einfach nicht genug Unterhosen,
alle hingen in der schwachen Sonne zum Trocknen
an der Leine. Und es war auch deswegen, dass ich
meine Schutzpatronin, die Nossa Senhora do Carmo,
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gewisser Schutz. Und alle waren verheiratet, hatten
Kinder, mit denen sie sich gemeinhin nicht viel
abgaben, aber sie gaben viel aufs Söhnchen „vom
Herrn Doktor“, meinem Vater, der nicht mal Doktor
war, Gott sei Dank.
So begab es sich, dass einer der Fischer drei
schöne Seesterne gefangen hatte und mit ihnen in
der Hand spielte, wobei er sie in die fahle Sonne
hielt. Ich fiel in einen Freudentaumel wegen die-
ser Seesterne. Der Fischer erkannte sofort meine
wunschvollen Augen, und ohne Geduld für ein biss-
chen angebrachte Langsamkeit, geradezu brutal,
drückte er sie mir alle in die Hand.
„Behalt du sie“, sagte er, „Seesterne bringen
Glück.“
„Glück, was isn das, hä?“
Rasch warf er einen Blick in die Runde seiner
Gesellen, denn er wusste nicht, wie er Glück erklä-
ren sollte. Doch alle sahen ihn wartend an, und so
brachte er etwas unwirsch hervor:
„Das ist … siehst du, also wenn man alles hat …
Geld, Gesundheit …“
Er räusperte sich. Und als er mich nun zugleich
war da, gedankenverloren am Herd und unterhielt
sich mit der Amme der kleinen Maria. Also konnte
ich! Ich ging ins vorne gelegene Zimmer, gefasst und
mit dem heldenhaften Mut desjenigen, der alles ver-
liert, aber befreit sein will. Ich schaute sie offen an,
hasserfüllt, sie, meine heilige Schutzpatronin, ich
wusste es genau, dass sie heilig war, mit weichen
Augen, die mich anlachten. Ich hob mein Kleid-
chen so hoch ich konnte, streckte mein Bäuchlein
hinaus und zeigte ihr alles. „Ha“, sagte ich, „schau
her, schau schön her, ha, schau genau her!“ Und ich
streckte den Bauch so weit raus, dass ich beinah
hintüber fiel.
Aber nichts passierte, ich hatte es schon erwartet,
dass nichts passieren würde ... Meine Schutzpatro-
nin auf dem Bild schaute mich weiter an, lachte, die
Blöde, und war mir überhaupt nicht böse. So ging
ich gestärkt hinaus, fast ohne Reue, und war völlig
von Sinnen von derart mutigem Stolz in der Brust,
dass ich es wagte, allein bis zur Ecke am großen
Strand zu gehen. Genau dort an der Ecke befan-
den sich einige Fischer, sie unterhielten sich, und
ich mischte mich unter sie, das war immerhin ein
84 85
weil ich schmutzig war, hm, ich weiß nicht … doch,
ja, zumindest stolpern würde sie mal. „Aua!!“ sollte
sie schreien, geschieht ihr recht! Meine Seesterne
lagen versteckt an der Mauer und brachten mir
Glück. Essen? Wozu essen? Sie gaben mir alles, sie
gaben mir zu essen, sie gaben mir die Erlaubnis, im
Schlamm zu spielen, und wenn meine Schutzpa-
tronin, die Nossa Senhora, sich nun wegen meines
unziemlichen Verhaltens rächen wollte? Meine
Seesterne würden mich retten, sie würden es ihr
schon zeigen, gehörig wehtun sollten sie ihr … das
heißt – nicht allzu sehr, das nicht, nur ein bisschen,
damit ihr schönes Gesichtchen auf dem Bild nicht
verunstaltet würde. Sie sollte bloß wissen, dass ich
von nun an vom Glück beschützt war und sie nicht
mehr brauchte, ha! ach, welch Sehnsucht nach
meinen Seesternen!... Doch ich konnte keinesfalls
das Mittagessen auslassen, um nach ihnen zu se-
hen: Totó könnte mir folgen und einen von ihnen
abhaben wollen, nein, das dürfte nie geschehen!
„Der Junge isst ja gar nichts, Maria Luísa!“
„Ich weiß nicht, was heute mit ihm los ist! Kind,
so iss zumindest die Goiabada!“
teilnahmslos als auch wohlwollend betrachtete,
fügte er hinzu:
„Leg sie in die Sonne, damit sie gut trocknen,
dann bringen sie dir Glück!“
Ich bedankte mich nicht einmal, wie ein Ku-
gelblitz flitzte ich nach Hause, um dort meine
Seesterne zu verstecken. Da, im allerhintersten
Eckchen unseres Hofs, wo nieniemals jemand
nachsehen würde, legte ich die drei an die Wand
in die Sonne, und ging, glücklich und unruhig,
zum Kanal spielen. Doch wer konnte da ans Spie-
len denken – wie einen Verliebten zog es mich hin
zu meinen Seesternen und immer wieder huschte
ich blitzgeschwind zurück und bewunderte sie,
meine Schatzkästchen des Glücks. Ich war so voll
glückstaumeliger Seligkeit und dem Bedürfnis,
von meinem rühmlichen Schatz zu erzählen, dass
meine Appetitlosigkeit beim Mittagstisch sogar
Vati beunruhigte. Doch mein Geheimnis verraten?
Niemals! Immerhin war es der Schlüssel zu mei-
ner Vergeltung, einer Vergeltung gegen alles und
jeden. Totó würde schon sehen, wie ihm geschah,
und wenn Mutter mich noch einmal schimpfte,
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Seestern würde mir Glück bringen, niemals würde
ich auch nur einen von ihnen hergeben!
Doch dann passierte etwas Schreckliches, an das
ich mich für immer bis ins kleinste Detail erinnern
werde. Mir wurde das Betrachten meiner Seesterne
zu langweilig und ich ging zum Kanal hinunter, um
zu spielen. Es war um die Mittagszeit, Mittagspause,
vielleicht gar schon Abendessenszeit oder was auch
immer für eine Essenszeit, und die Arbeiter rasteten
sich unter den Bäumen aus. Einer von ihnen aber, so
ein Portugiese mit einem riesigen Schnauzbart, der
mich nie an sich rangelassen und mir nie Beachtung
geschenkt hatte, saß auf einem Erdhaufen, weit weg
von den anderen, er sah so traurig aus. Ich begann zu
spielen, aber es bedrängte mich, dass der Mann so al-
lein dasaß, es schmerzte mich fast, und ich warf ihm
verstohlene Blicke zu und suchte ihn zu trösten. Ich
ging zu ihm hin als ob nichts wäre und fragte ihn, was
er denn habe. Der Arbeiter zuckte nur mit den Schul-
tern, so portugiesisch und so hart und roh, weit davon
entfernt, die Zärtlichkeit in meiner kindlichen Frage
wahrzunehmen. Doch seine Augen waren so traurig,
und der Bart hing ihm so weit herab, so untröstlich
Goiabada7, wer will schon Goiabada! In Gedan-
ken war ich bei meinen Sternen; ich konnte es nicht
erwarten, zu ihnen zu kommen. Kaum war das Mit-
tagessen beendet – ich hatte mit Mühe still gesessen,
damit die anderen nichts merkten – so lief ich schon
zu meinen Seesternen.
Drei waren es, ein kleinerer und zwei sehr große.
Einer der großen hatte für meinen Geschmack etwas
zu krumme Arme, doch auch so war er noch um ei-
niges hübscher als der kleine, bei dem an einem Arm
die Spitze fehlte – ein ungemeiner Schönheitsfehler.
Der da würde mir sicher kein Glück bringen, umso
mehr dafür die beiden anderen: Und von nun an
würde ich immer froh und glücklich sein, ich würde
nicht groß werden müssen, meine schöne Schutzhei-
lige würde nie mehr aufhören zu lachen, Mutti würde
wieder ganz gesund werden und mir Spielzeug kau-
fen und Vati, er würde sich nicht darüber aufregen,
dass es so viel kostete. Aber nein! – auch der kleine
7 Goiabada ist eine mit Zucker eingedickte Masse aus der Gua-venfrucht, ähnlich Marmelade, in der Konsistenz jedoch weitaus fester. Als beliebte Nachspeise reicht man die Goiabada in Bra-silien mit Weichkäse („queijo minas“), was auch als „Romeu e Julieta“ (Romeo und Julia) bezeichnet wird.
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Seesternchen. Außerdem war der Arbeiter nicht so
gut gekleidet wie mein Vater, er brauchte vielleicht
gar kein so großes Glück. Meine Schritte trugen mich
zurück ins Haus, ich wankte, dem Schicksal ergeben.
Die Sonne brannte auf mich herunter. Nun, wo die
Seesternchen gut getrocknet waren und verdammt
viel Glück bringen würden, würde die Ehefrau des
Arbeiters plötzlich ihr Krankenbett verlassen und
die ganzen Kinder würden Brot zu essen haben und
meine Schutzheilige Nossa Senhora do Carmo würde
nicht böse werden, wenn sie ihr ihr Pimmelchen
zeigten. Da lagen sie glänzend in der Sonne, die drei
Seesternchen, die ganz, ganz viel Glück brachten,
und ich müsste mich von einem trennen, von dem
kaputten kleinen, so schön! – genau von dem, an dem
mir das meiste gefiel, obwohl sie alle gleich schön
waren, warum badet die Frau des Arbeiters nicht ein-
fach auch im Meer? – ach du lieber Gott, was für ein
Leid! – ich wollte nicht recht daran denken, aber ich
tat es, ohne es zu wollen, benebelt, aber der große war
einfach der beste, so perfekt, der auch diesem gemei-
nen Arbeiter das größte Glück bringen musste, der
daherkommt und sagt, dass er Pech hat, der Hund!
schien er, dass ich auf meiner Zärtlichkeit bestand
und ihn noch einmal fragte, was er denn habe. „Ich
hab kein Glück“, murmelte er, mehr zu sich selbst als
zu mir.
Und ich, ich war völlig entsetzt. Um Himmels
willen!, dieser Mann hatte kein Glück, dieser große
Mann mit seinen vielen kleinen Kindern und ei-
ner gelähmten Ehefrau im Bett!… Ich hingegen,
ich konnte mich so glücklich schätzen, ich hatte
drei Seesternchen, die mir Glück brachten. Richtig:
Ich setzte die drei Seesterne vorsichtshalber gleich
mal in die Verkleinerungsform, denn falls ich dem
Arbeiter einen abgeben müsste, hätte ich schon im
Vorhinein alle drei entwertet, alle drei, in der hoff-
nungslosen Hoffnung, nur den kleinsten hergeben
zu müssen. Jetzt war es ohnehin gleichgültig, alle drei
waren nur noch „Seesternchen“. Ich war verzweifelt.
Doch das Gebot grub sich unweigerlich in mich
ein: Und wenn ich dem Arbeiter zu Glück verhelfen
würde in Gestalt meines kleinen Seesternchens? Das
konnte ich doch wirklich leicht hergeben, schließ-
lich war es hässlich, es fehlte ihm der vordere Teil
eines Ärmchens – aber es war doch noch immer ein
9190
Der Arbeiter sah mich überrascht und verständnis-
los an. Ich schluchzte, es war eine fürchterliche Qual.
„Nimm ihn schnell! Bitte! Schnell! Er bringt wirk-
lich Glück!“
Da verstand er schließlich, ich ertrug es nicht mehr!
Er sah mich an, griff nach dem Seestern, lächelte hinter
seinem Portugiesen-Schnauzbart, ein ungewohntes
Lächeln, glücklicherweise sagte er nichts, sonst hätte
ich losgebrüllt. Seine gekrümmte, schwielige Hand
wollte sich nähern, um mich zu streicheln, na klar!
Der ahnte nicht im Geringsten, was das für ein Opfer
für mich war! Und die schwielige Hand streifte nur
leicht mein frisch geschnittenes Haar.
Ich rannte. Ich rannte, um mich ganz meinen
Tränen hinzugeben, um im Bett zu weinen, um
ganz alleine mein Schluchzen in meinem Kissen zu
ersticken. Aber im Inneren war es unmöglich zu
begreifen, was mit mir los war, es war ein Licht, eine
heilige Mutter Gottes, eine misshandelte Freude,
voller sternenklarer Enttäuschungen, an denen ich
reumütig litt, unwiederbringlich verloren in den
unendlichen Leiden der Menschheit, mein Seestern.
d
– und jetzt musste ich ihm meinen großen, meinen
großartigen Seestern geben!...
Ich weinte. Tränen der Aufrichtigkeit liefen mir
über meine schmutzigen Wangen. Ich litt so sehr,
dass mich mein Schluchzen nicht mehr klar den-
ken ließ. Es war schrecklich heiß, ich musste die
Seesterne aus der Sonne schaffen, sonst würden sie
zu sehr austrocken und es wäre vorbei mit der glück-
bringenden Wirkung, die Sonne brannte mir auf den
Kopf, ich war schon ganz wirr, der Arbeiter, das Pech,
der Seestern, die Gelähmte, mein großartiger See-
stern! Voller Wut packte ich den Seestern, ich wollte
ihm ein Ärmchen brechen, damit er genauso aussah
wie der kleine, aber meine Hände, voller Anbetung,
vereitelten dieses Vorhaben, meine Beine, sie be-
schlossen wegzulaufen, so schnell wie möglich, um
diesem Martyrium ein Ende zu setzen. Ich rannte,
ich starb, ich weinte, und trug dabei den blöden gro-
ßen Seestern, voller Wut und Zärtlichkeit zugleich.
Ich erreichte den Arbeiter, er stand gerade auf, ich
berührte ihn unsanft und zog fest an seiner Kleidung.
„Nimm!“, rief ich schluchzend, „Nimm meinen …
nimm den Seestern! Er bringt … bringt, ja, Glück!...“
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Mário de Andrade(1893-1945)
Mário de Andrade wurde 1893 in São Paulo geboren
und zählt zu den Hauptbegründern der brasilianischen
„Movimento Modernista” (modernistischen Bewegung),
die mit der „Semana de Arte Moderna“ (Woche der
modernen Kunst) von 1922 ihren Höhepunkt erreichte.
Andrade ist sowohl als Dichter, Romanautor und Autor
von Kurzgeschichten, als auch als Literaturkritiker,
Musikwissenschaftler, Fotograf und Historiker bekannt.
Er starb 1945, ebenfalls in São Paulo, dessen Stadt–
bibliothek seinen Namen trägt.
Hauptwerke:
Lyrik (1922) Pauliceia Desvairada
(1926) Losango Cáqui
(1927) Clã do Jabuti
(1930) Remate de Males
Prosa (1927) Amar, Verbo Intransitivo
(1928) Macunaíma, o Herói sem Nenhum Caráter
(1934) Belazarte
(1947) Contos Novos
Essays und Kritiken (1925) A Escrava que não é Isaura
(1928) Ensaio sobre a Música Brasileira
(1942) O Movimento Modernista
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Realização/Durchführung
Embaixada do Brasil em Viena/Brasilianische Botschaft in WienEvandro de Sampaio Didonet, Embaixador/Botschafter
Universidade de Viena/Universität Wien Heinz W. Engl, Reitor/Rektor
Coordenação/Koordination Flavio Elias Riche, Chefe do Setor Cultural da Embaixada do Brasil em Viena/Leiter der Kulturabteilung der Brasilianischen Botschaft in Wien
Alice Leal, Chefe do Departamento de Português do Centro de Estudos da Tradução da Universidade de Viena/Koordi-natorin des Portugiesisch-Sprachbereiches des Zentrums für Translationswissenschaft der Universität Wien
Tradução e Revisão/Übersetzung und Bearbeitung Evamaria Freinberger, Florian Dunkel, Magdalena Schätz, Martin Zuccato, Melanie Patrizia Strasser, Sanijel Jovanovic e/u. Armin Innerhofer (somente tradução/nur Übersetzung)
Revisão Final/ Endbearbeitung Andrea Lauckner
Tradução do Prefácio/Übersetzung des Vorworts Judith Grollnigg-Hajszan
Assessoria/Beratung Vinicius Macuch Silva
Arte Gráfica/Grafik-Design Claudia Weiss de Carvalho
2012
© Detentores dos direitos autorais de Mário de Andrade, gentilmente cedidos pelas Empresas Ediouro Publicações
© Rechteinhaber der Urheberrechte von Mário de Andrade mit freundlicher Genehmigung von Empresa Ediouro Publicações.
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