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Aula 2 Orbitais Moleculares
Livros: A) Jean, Y.; Volatron, F.; (traduzido e editado por Burdett, J.) "An Introduction to Molecular Orbitals" Oxford University Press: New York, 1993. B) Ahn, N. T.; "Frontier Orbitals: A practical Manual" John Wiley & Sons: Chichester, 2007. C) Leforestier, C.; "Introduction à la Chimie Quantique" Dunod: Paris, 2005. D) Anslyn, E. V.; Dougherty, D. A.; "Modern Physical Organic Chemistry" University Science Books: Herndon, 2006.
Química Orgânica Avançada (QP-021), Unicamp Igor D. Jurberg
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O Hamiltoniano H
Um átomo de hidrogenóide = 1 núcleo + 1 elétron
Um sistema (molécula) complexo = N núcleos e n elétrons:
termo de repulsão Coulombiana nucleo-nucleo
termo cinético dos nucleos
termo cinético dos elétrons
termo de atração Coulombiana elétron-nucleo
termo de repulsão Coulombiana elétron-elétron
Muito dificil de resolver: simplificações devem ser introduzidas
termo cinético do nucleo
termo cinético do elétron
termo de atração Coulombiana elétron-nucleo
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As simplificações
Born-Oppenheimer: Os elétrons se movem muito mais rápido do que os núcleos. Assim podemos desacoplar os movimentos dos elétrons aos dos núcleos: Hg = TN + He (onde TN = operador energia cinética para os núcleos, He operador Hamiltoniano para os elétrons, considerando os núcleos fixos), temos então: , onde é a função de onda dos núcleos e é a função de onda dos elétrons. Assim podemos reduzir o problema anterior à:
Elétrons independentes: Consiste em descrever o problema de n-elétrons em n-problemas monoeletrônicos. Isto é, decompor o Hamiltoniano global He do sistema na soma de n Hamiltonianos Hi monoeletrônicos e a função de onda total como o produto de funções de ondas monoeletrônicas. Como consequência, a energia total do sistema E será igual a soma das energias Ei dos sistemas monoeletrônicos:
(i = 1,2,…n)
Isso não quer dizer que os elétrons se ignoram!
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Noções de orbitais moleculares: a teoria LCAO
(“Linear Combination of Atomic Orbitals”)
- Primeira consideração importante: negligencia-se os elétrons mais próximos do núcleo. Somente os elétrons de valência são considerados (são eles que formarão ligações). - Em seguida, a idéia de deslocalização eletrônica entre os diversos núcleos atômicos da molécula é expressa como uma combinação linear dos orbitais atômicos dos elétrons de valência => temos assim a noção de nuvem eletrônica se deslocando em um campo de núcleos “congelados”
(k = 1,2,…,n): orbitais atômicos (OA) : orbital molecular
- De um ponto de vista matemático, dizemos que os OA definem a base de um espaço vetorial no qual os OM são descritos. A dimensão desse espaço vetorial determina o número de OM, tal que n OA dão origem à n OM.
A) J. E. Lennard Jones, Trans. Faraday Soc. 1929, 25, 668. B) R. S. Mulliken, J. Chem. Phys. 1935, 3, 375.
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Forma e energia dos orbitais moleculares
- Os orbitais moleculares são caracterizados por sua forma e energia. A forma depende da contribuição relativa dos OA => podemos associar a forma do OM à idéia de probabilidade de presença do elétron localizada aproximadamente sobre cada átomo da molécula. A energia dependerá do número de planos nodais no OM. Para a mesma molécula, podemos encontrar OM de formas diferentes, mas de mesma energia. Estes são chamados OM degenerados.
Um par de orbitais degenerados do benzeno (HOMO)
Exemplo:
E
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Princípio de cálculo e preenchimento dos OM
● Principio de construção (Aufbau): no estado fundamental do sistema (estado de mais baixa energia), os OM de energias mais baixas são preenchidos primeiro. ● Principio de Exclusão de Pauli: em cada OM, somente será possível ter um elétron de determinado spin. ● Regra de Hund: se as soluções do sistema fornecem OM degenerados, deve-se ocupar o máximo de orbitais, com o máximo de spins paralelos (cada repartição eletrônica é chamada de configuração eletrônica).
1) Determinação de quais os OA que podem participar na elaboração do sistema eletrônico e o número de elétrons que cada átomo fornecerá
2) Cálculo das diferentes energias do sistema e escritura das formas dos OM
3) Preenchimento dos OM:
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Estudo de caso: molécula homonuclear diatômica A2
Por razões de simplificação, supomos: - Cada átomo emprega apenas 1 OA de valência, - A forma matemática desses OA é escolhida real
Yi = ci1F1 + ci2F2 (i = 1,2)
Equação de Schrödinger: i. e.
Logo, multiplicando a expressão acima por , e levando em conta que ci1, ci2 e E são constantes, e H é um operador linear, temos (1). Fazendo o mesmo com , temos (2):
(1)
(2)
A1 A2
F F
+ molécula diatômica A A
Y,Y
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Moléculas homonucleares diatômicas A2
(1)
(2)
Integrais Coulombianas
Integrais de ressonância
Integrais de recobrimento
Assim, equações (1) e (2) se re-escrevem:
Em forma matricial: Equações seculares
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Esta equação matricial admite uma solução não-trivial, se e somente se:
Como os dois átomos são iguais, H11 = H22, assim pelo cálculo do determinante obtemos as expressões para E1, E2:
e
Substituindo o valor de E1 nas equações seculares, obtemos c11 = c12 (coeficientes de Y). Fazendo o mesmo para E2, temos c21 = - c22 (coeficientes de Y).
De acordo com a condição de normalização dos OM, temos:
Moléculas homonucleares diatômicas A2
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Definição dos termos Sij , Hii e Hij
A Integral de Recobrimento Sij = <y1|y2 > não é uma constante e depende da forma dos OA involvidos
Ponto de vista matemático: é o produto escalar das funções que traduz verdadeiramente a relação de ortogonalidade entre os dois OA. Ponto de vista geométrico: o recobrimento entre dois OA corresponde à zona do espaço no qual os dois estão interagindo.
Sij
<1s | 1s>
100 200 300
1
d (pm)100 200 300
-1
<2py | 2py> 100 200 300
1
<2pz | 2pz>
d (pm)
<2px | 2py> = 0<2py | 2pz> = 0<2px | 2pz> = 0
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Definição dos termos Sij , Hii e Hij Hii
A integral Coulombiana é um parâmetro próprio de cada átomo i considerado. De maneira aproximada, ela corresponde ao potencial de ionização do átomo hidrogenóide considerado. Obs: i é sempre negativo e depende da eletronegatividade do átomo i considerado: maior a eletronegatividade, mais i é negativo. i é o mesmo para todo atomo i, independente do ambiente onde o átomo i se encontra (e.g. geometria linear, trigonal, tetraédrica, etc..) Os valores i não são jamais expressos numericamente, nós iremos sempre desenvolver o raciocínio à partir de comparações.
Hii e Hjj < 0
HiiHjj
ij
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Justificativa da aproximação de Hii: O hamiltoniano eletrônico H pode ser decomposto como H = H1 + H2 (para uma molécula diatômica AB qualquer, segundo a simplificação de elétrons independentes). Com relação ao elétron 1, temos:
Onde v(1) é a repulsão média sentida pelo elétron 1 em relação ao outro elétron, 2. O termo v1B é muito menor do que h1A. Podemos ver assim, de maneira aproximada, que o valor de H11 ≈ h1A , i.e. muito próximo da energia do OA do átomo A.
h1A v1B h1
Definição dos termos Sij , Hii e Hij Hii
1 2
A B
H1 = h1 + v(1)
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h1A v1B h1
Definição dos termos Sij , Hii e Hij Hii
Repare que os operadore Hi tem a mesma forma para qualquer elétron considerado. A escritura Hi = hi+ v(i) quer dizer que o elétron i sente o campo do átomo de origem e o campo criado pelo outro núcleo e outro elétron, i.e. o elétron em seu campo inicial foi perturbado por um “campo médio” criado à partir da interação com outras particulas do sistema. Hi recebe o nome de “hamiltoniano efetivo” ou “hamiltoniano de campo médio”
1 2
A B
H1 = h1 + v(1)
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Definição dos termos Sij , Hii e Hij Hij
A integral de ressonância Hij representa a força da ligação entre os átomos i e j. Este termo Hij é também representado por ij , e possui dimensão de energia (assim como os termos i). Dessa forma, temos sem aproximações: Hij = Hji = ij. Esses valores dizem respeito à interação somente entre dois átomos i e j e independem da molécula como um todo onde os átomos i e j se encontram. Hij se relaciona com a integral de recobrimento Sij e as integrais Coulombianas Hii e Hjj pela expressão de Wolfsberg-Helmholtz, que é uma formula empírica:
Como 0.2 < Sij < 0.5, temos sempre que Hij < Hii, Hjj
Hij
ij
Y1 OM ligante Y2 OM anti-ligante
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A forma dos OM de uma molécula do tipo A2
e
e temos assim que :
Estabilização de Y1 com relação ao dois átomos isolados:
Y1
Y2
, F2 F1,
Como , e
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A forma dos OM de uma molécula do tipo A2
Sabendo que (Wolfsberg-Helmholtz)
Logo,
A A
Recobrimento Forte
A A
Recobrimento Fraco
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Exemplos de moléculas diatômicas homonucleares A2
Uma vez que a desestabilização de Y2 é mais importante que a estabilização de Y1, o preenchimento eletrônico do sistema determinará a sua estabilidade.
H H+
H2+
Exemplo típico de ligação à 3c2e
H
B
H
H
H
B
H
H
1.33A1,19A
H
B
H
H
H
B
H
H
B2H6
He He+
He2+
He He
He2
[He2]*
1s 1s
2s2s
Y1
Y3
Y2
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Exemplos de moléculas diatômicas homonucleares A2
2p
2s
1s
2p
2s
1s
x y
z
z*
x* y
*
2*
2
1*
1
Descrição inadequada: não considera a hibridização dos orbitais 2s e 2p, o que influencia a posição no diagrama de z e 2*
PI 2* = 15.5 eV, PI z = 18.8 eV
Edissociação N2 = 220 kcal.mol-1 Edissociação O2 = 119 kcal.mol-1
2p
2s
2p
2s
x y
z
z*
x*
y*
2*
2
O O O O
2p
2s
2p
2s
x y
z
z*
x* y
*
2*
2
N N
yz
x 2s 2py 2pz2pxA A
Orbitais involvidos na construção de O2, N2, F2, Ne2+
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Exemplos de moléculas diatômicas homonucleares A2
Edissociação F2 = 38 kcal.mol-1 , ligação fraca devido à repulsão à 4 elétrons (x*, y
*) Ne2
+ possui apenas 1 elétron ligante
Li2 Be2 B2 C2 N2 O2 F2
z*
x*,y*
x, y
z
2
2*
E
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Moléculas heteronucleares diatômicas AB
- Supomos que cada um dos OA utiliza apenas um orbital de valência, para A e para B. -Supomos arbitrariamente que A é mais eletronegativo que B, i.e. É mais baixo em energia que .
- Como para o caso homonuclear, H12 = H21 = e S12 = S21 = S, mas dessa vez 1=
H11 H22 = 2 e temos:
Cujas soluções são:
i. e.:
1
2
Y1
Y2
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Moléculas heteronucleares diatômicas AB
A é mais eletronegativo que B => e portanto
Temos:
22
1
2
Y1
Y2
Moléculas heteronucleares diatômicas AB
● Estabilização proporcional à S2
● Estabilização inversamente proporcional à 1 - 2
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Exemplos de moléculas heteronucleares diatômicas AB
● As diferenças de eletronegatividade dos átomos considerados e suas consequências são facilmente observadas no diagrama de OM ● A diferença de energia grande para LiH e BH para os demais explica a natureza de hidreto
H
Li
B
C
O
F
-15.9 eV
-5.4eV
-5.7eV
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Noções complementares sobre o recobrimento de orbitais
Vimos até agora os recobrimentos ns/ns e np/np
E o recobrimento ns/np?
Depende de dois fatores: 1) A distância interatômica 2) O ângulo qformado com o eixo do orbital p
( é o recobrimento máximo, quando q = 0°)
1
<2p | 1s>
r (pm)100 200
q
S2 < 0
S1 > 0
q=
S1 > 0 S2 < 0
q=
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Noções complementares sobre o recobrimento de orbitais
Recobrimentos nulos por simetria
S 0 S 0 S 0 S 0 S 0
Se com relação à um elemento de simetria, um OA é simétrico e um OA é anti-simétrico, o recobrimento é nulo.
S = 0 S = 0 S = 0
2py 2pz
2px 2px 2px
2py 2py
2px 2px
2pz 2pz 2pz2s 2s 2s
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Uso de simetrias e mistura dos OA (hibridização)
A determinação dos elementos de simetria de uma molécula é a primeira etapa para tentar combinar os diferentes OA que podem interagir
Três tipos de operação de simetria (e suas combinações) são extremamente importantes: ● As rotações sobre um eixo ● A reflexão em um plano ● A inversão em relação à um ponto P
A consideração das interações entre OA modifica um pouco o diagrama simplificado que fizemos anteriormente para o N2, mas não para o O2. A razão para isso é que a diferença de energia entre os OA 2s e 2p é menor para N que para o O. Para o O: E(2s) = -32.4 eV e E(2p) = -15.9 eV, i.e. DE = 16.5 eV. Para o N: E(2s) = -25.6 eV e E(2p) = -12.9 eV, i. e. DE = 12.5 eV. Assim, deve-se sempre levar em conta a simetria dos OA que podem interagir, mas somente se eles tiverem energias próximas
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Uso de simetrias e mistura dos OA (hibridização)
O diagrama de OM correto para o N2 :
N N
x
y
z
Deve-se levar em conta a menor diferença de energia entre os OA 2s e 2p, que os permite hibridizar (também Li2, Be2, C2 )
Exemplo 1
2s
S >0
S > 0
S = 0
S = 0
S > 0
2s
2s
2s
2pz 2pz
2pz
2px
2py
2s
2p
2s
2p
2s
x y
z
z*
x* y
*
2*
2
N N
2
2*
x y
z
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Uso de simetrias e mistura dos OA (hibridização)
Exemplo 2
Li: E(2s) = -5.4eV E(2p) = -3.5 eV
H: E(2s) = -13.6eV
A distância energética entre 2s, 2p do Li é bem próxima do 1s do H, logo eles podem interagir
(A construção de 3 OM à partir de 3 OA será abordada mais tarde neste curso)
O diagrama de OM para o LiH:
2s
1s
2pz, 2px, 2py
1s
1
2
3
Li
H
x
y z