Werner Heidermann (Org.). Classicos Da Teoria Da Traducao - Alemao-Portugues

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  • ANTOLOGIA BILNGUE

    VOLUME 1

    ALEMO-PORTUGUS

    2 EDIO, REVISADA E AMPLIADA

    CLSSICOS DA TEORIA

    DA TRADUO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PS-GRADUAO EM ESTUDOS DA TRADUO

  • (...) no devemos esquecer que h

    na lngua muita beleza e muita

    fora que somente graas

    traduo se desenvolveram ou

    foram resgatadas do esquecimento.

    Ns discursamos muito pouco e

    proporcionalmente falamos

    demais; e no se pode negar que,

    desde h muito tempo, tambm a

    maneira de escrever avanou

    nesta direo mais do que o

    devido e que a traduo

    contribuiu no pouco para

    restabelecer um estilo mais

    severo. Quando chegar um dia

    em que tenhamos uma vida

    pblica que, por uma parte, tenha

    que desenvolver uma

    sociabilidade mais rica de

    contedo e mais atenta lngua e,

    por outra, proporcione espaos

    mais livres para o talento do

    orador, ento, talvez

    necessitaremos menos da

    traduo para o aperfeioamento

    da lngua. Que esse dia chegue

    apenas quando tenhamos

    percorrido dignamente o inteiro

    ciclo de esforos do tradutor!

    Friedrich Schleiermacher

    Pode-se avaliar o senso histrico

    de uma poca pelo modo como

    nela so realizadas as tradues e

    pelo modo como se incorporam o

    passado e os livros.

    Friedrich Nietzsche

    Existem duas mximas na

    traduo: uma exige que o autor

    de uma nao desconhecida seja

    trazido at ns, de tal maneira

    que possamos consider-lo nosso;

    a outra, ao contrrio, exige de ns,

    que vamos ao encontro do

    estrangeiro e nos sujeitemos s

    suas condies, sua maneira de

    falar, suas particularidades.

    Graas a tradues exemplares, as

    vantagens de ambas so

    suficientemente conhecidas por

    qualquer homem culto. Nosso

    amigo, que tambm aqui

    procurou o meio termo, esmerou-

    se em combinar as duas; porm,

    como homem de sensibilidade e

    bom gosto, preferiu, em casos de

    dvida, a primeira mxima.

    Johann Wolfgang von Goethe

    Pois tradues so, mais do que

    obras duradouras, trabalhos que,

    a partir de um parmetro estvel,

    pem prova o estado de uma

    lngua em uma determinada

    poca, o definem e devem influir

    sobre ele, tendo sempre de ser

    novamente refeitas. Alm disso,

    aquela parte da nao que no

    pode ler os antigos por sua

    prpria conta, ir conhec-los

    melhor por meio de vrias

    tradues do que pelo recurso a

    uma nica. So, pois, outras

    tantas imagens do mesmo

    esprito, cada qual reproduzindo

    aquilo que foi capaz de conceber e

    representar: mas o verdadeiro

    esprito repousa somente no texto

    original.

    Wilhelm von Humboldt

  • ANTOLOGIA BILNGUE

    VOLUME 1ALEMO-PORTUGUS

    2a EDIO, REVISADA E AMPLIADA

    CLSSICOS DA TEORIACLSSICOS DA TEORIACLSSICOS DA TEORIACLSSICOS DA TEORIACLSSICOS DA TEORIADA TRADUODA TRADUODA TRADUODA TRADUODA TRADUO

  • Universidade Federal de Santa CatarinaCentro de Comunicao e Expresso

    Departamento de Lngua e Literatura EstrangeirasPs-Graduao em Estudos da Traduo

    Ncleo de Pesquisas em Literatura e Traduo

    Walter Benjamin: Die Aufgabe des bersetzers - Vorwort zu Charles Baudelaire.Tableaux parisiens. In: Gesammelte Schriften. Unter Mitwirkung von Theodor W. Adorno undGershom Scholem, hrsg. von Rolf Tiedemann und Hermann Schweppenhuser, Vol. IV, pp. 9-21.

    Suhrkamp-Verlag Frankfurt am Main Eugenio Coseriu: Falsche und richtige Fragestellungen in der bersetzungstheorie.

    In: Grhs, L. et al. (Hrsg.): Theory and Practice of Translation. Bern: Peter Lang, S. 17-32.Peter Lang AG Bern

    Wolfgang Klein: Was kann sich die bersetzungswissenschaft von der Linguistikerwarten? In: LiLi. Zeitschrift fr Literaturwissenschaft und Linguistik 84. S. 104-123. J. B. Metzlersche Verlagsbuchhandlung und Carl Ernst Poeschel Verlag GmbH in

    Stuttgart

    Os direitos autorais das tradues neste volume pertencem aos tradutores.

    Endereo para correspondncia:Universidade Federal de Santa Catarina

    CCE/DLLE - Ncleo de Pesquisas em Literatura e TraduoCaixa Postal 476 CEP 88040-900

    Florianpolis - SCFone: 0XX48-3721.9288 Fax: 0XX48-3721.9988

    e-mail: [email protected]

    2010

  • ANTOLOGIA BILNGUEClssicos da Teoria da Traduo

    2a EDIO, REVISADA E AMPLIADA

    VOLUME IALEMO-PORTUGUS

    Werner Heidermann (org.)

    Florianpolis2010

  • Projeto grfico e editorao:Ane Girondi

    Catalogao na fonte pela Biblioteca daUniversidade Federal de Santa Catarina

    C614 Clssicos da teoria da traduo / WernerHeidermann,org. 2. ed. Florianpolis: : : : : UFSC/Ncleo de Pesquisas em Literatura e Traduo,2010.v. 1 (344 p.) - (Antologia bilngue)

    Inclui bibliografiaContedo: v. 1. Alemo-Portugus

    1. Traduo e interpretao. I.Heidermann,Werner. II. Ttulo. III. Srie.

    CDU 801=03

  • NDICE

    Prefcio ____________________________________________ 11Prefcio da segunda edio ___________________________ 16

    NOVALISVermischte Bemerkungen ____________________________ 22Observaes mescladas ______________________________ 23Traduo de Mrcio Seligmann-Silva

    JOHANN WOLFGANG VON GOETHEDrei Stcke vom bersetzen __________________________ 28Trs Trechos sobre Traduo ___________________________ 29Traduo de Rosvitha Friesen Blume

    FRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERUeber die verschiedenen Methoden des Uebersezens ____ 38Sobre os Diferentes Mtodos de Traduo _______________ 39Traduo de Celso R. Braida

    WILHELM VON HUMBOLDTEinleitung zu Agamemnon __________________________ 104Introduo a Agammnon ___________________________ 105Traduo de Susana Kampff Lages

  • AUGUST WILHELM VON SCHLEGELber die Bhagavad-Gita _____________________________ 120Sobre a Bhagavad-Gita ______________________________ 121Traduo de Maria Aparecida Barbosa

    JOHANN CHRISTIAN FRIEDRICH HLDERLINAnmerkungen zum Oedipus_________________________ 130Observaes sobre o dipo __________________________ 131

    Anmerkungen zur Antigon _________________________ 148Observaes sobre a Antgona _______________________ 149

    Briefe an Bhlendorff _______________________________ 162Cartas_____________________________________________ 163Traduo de Marcia S Cavalcante Schuback

    ARTHUR SCHOPENHAUERber Sprache und Worte_____________________________ 178Sobre Lngua e Palavras _____________________________ 179Traduo de Ina Emmel

    FRIEDRICH NIETZSCHEZum Problem des bersetzens _______________________ 194Sobre o Problema da Traduo ________________________ 195Traduo de Richard Zenker

  • WALTER BENJAMINDie Aufgabe des bersetzers ________________________ 202A Tarefa do Tradutor ________________________________ 203Traduo de Susana Kampff Lages

    HANS-GEORG GADAMERAus: Wahrheit und Methode _________________________ 234De: Verdade e mtodo _______________________________ 235Traduo de Fabrcio Coelho

    EUGENIO COSERIUFalsche und richtige Fragestellungen in derbersetzungstheorie ________________________________ 252O falso e o verdadeiro na Teoria da Traduo ___________ 253Traduo de Ina Emmel

    WOLFGANG KLEINWas kann sich die bersetzungswissenschaft von derLinguistik erwarten? ________________________________ 292O que a Tradutologia pode esperar da Lingustica? ______ 293Traduo de Ina Emmel

    Tradutoras e Tradutores - Notas Biogrficas_____________ 341

  • 11CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    PREFCIOPREFCIOPREFCIOPREFCIOPREFCIO

    As teorias no atrapalham! com essa provocao que AuroraFornoni Bernardini descreveu sua postura diante da teoria datraduo. Indo mais longe diramos: mesmo que atrapalhasse, a teoriamereceria que se tomasse conhecimento dela. A teoria da traduo,pois, pelo menos a dos clssicos, nunca uma reflexo alienadada prtica, mas sempre um tipo de abstrao do processo tradutrio.A teoria da traduo, pelo menos a dos clssicos, tambm no ateorizao de algo que no exige uma teoria, mas sempre reflexosobre a lngua em si.

    A variedade dos aspectos da teoria da traduo quase infinita; e,com frequncia, esbarramos no paradoxo da intraduzibilidadeintrnseca de todos os textos, que tambm constitui o ponto de partidaa esse prefcio. a esse paradoxo que Janheinz Jahn, em 1956, dedicouum dilogo fictcio entre um fillogo, um poeta e uma leitora.Resumindo a discusso, um comentarista conclui:

    Uma traduo que preserva todas as qualidades do original e na qual,ademais, no se percebe que se trata de uma traduo - impossvel.Ela somente seria possvel, se as lnguas no tivessem diferenas, notivessem uma alma. Nesse caso, porm, provavelmente no haveriaobras de arte a serem traduzidas. A possibilidade da traduo, assim,impossibilita a sua perfeio. E aqui, na impossibilidade de traduesperfeitas residem as possibilidades para o tradutor.

    A presente antologia trata exatamente disso. Ela naturalmente sabrange alguns recortes da teoria da traduo em lngua alem.

    A seleo dos textos exige uma justificativa. Os critrios maisimportantes foram o peso terico dos textos em relao tradutologiae a tematizao no s da lngua alem, mas da lngua como tal. Assim,existem textos de Jacob Grimm, Rudolf Borchardt, Karl Vossler, MartinBuber e outros. Na perspectiva alem, todos eles so relevantes, mas,justamente em razo dessa perspectiva restrita e por causa de inmerosexemplos que perdem seu sentido explicativo na traduo, abrimosmo desses textos nesta edio bilngue.

    No foi possvel manter o objetivo inicial de considerar exclusi-vamente obras completas. Somente a conferncia de Schleiermacher e

  • 12 PREFCIO

    o prefcio de Benjamin so apresentados de forma completa; eles sedestacam em termos quantitativos. Os outros textos so segmentos,cuidadosamente escolhidos, de obras extensas que, em sua integri-dade, extrapolariam o enfoque desta antologia.

    Os trs fragmentos de Goethe so uma introduo excelente palestra de Schleiermacher. Os paralelos so fcilmente identificveis.Goethe escreve sobre duas mximas da traduo que encontramos deforma bem semelhante no texto de Schleiermacher. Enquanto Goethe(1749-1832) elabora suas reflexes en passant, Schleiermacher, o te-logo, o fundador da pedagogia e o precursor da hermenuticamoderna, desenvolve e contextualiza essas mximas.

    Os comentrios de Goethe so pinceladas rpidas comparadascom o quadro de Schleiermacher, rico em reflexes lingusticas,comentrios culturais e anlises histricas. Sua palestra, proferida naAcademia Real de Berlim em 1813, reflete o conhecimento lingusticodo incio do sculo XIX. Schleiermacher (1768-1834) parte da traduoe sempre volta a ela; no decorrer do discurso, no entanto, ele toca nosmais variados aspectos da reflexo lingustica: ele esboa o carterenergtico da lngua, bem como o dualismo entre lngua e identidadee a dicotomia entre a individualidade e a universalidade das lnguas;alm disso, se atm, ainda, vinculao do pensamento lngua. Nopor ltimo, na reflexo sobre o prprio e o outro, transparece a abor-dagem moderna da teoria de Schleiermacher. Quem aceitar o desafiodessa leitura, s vezes muito exigente com suas inmeras digresses,ser compensado pelo estilo espirituoso de Schleiermacher, por suainteligncia refinada e sua vontade de provocar.

    Se a presente traduo do texto de Schleiermacher para o portu-gus, com suas frases longas e seus pargrafos quase infinitos, temuma aparncia alem, muito alem mesmo, chamo a ateno para ofato de que a tradutora empenhou-se exatamente em tentar seguir amxima preferida de Schleiermacher: a traduo tem de ser de talmaneira que o leitor se familiarize com o outro e no, apenas,confirme o prprio. Ou, como Janheinz Jahn diz 150 anos mais tarde,atravs da voz de um fillogo em conversa com um poeta:

    O tradutor deve tornar obras de arte compreensveis para um pblicode uma outra lngua. Fazendo isso, ele tem de preservar tudo o quepode ser preservado do original: o contedo, o ritmo, o esquema darima, o ar entre as palavras tudo.

  • 13CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    Assim como Schleiermacher, o tradutor de Plato, Wilhelm vonHumboldt (1767-1835), talvez o erudito mais universal da filosofia dalinguagem do sculo XIX, transcende os limites estreitos de umpragmatismo tradutolgico: teoria da traduo teoria da linguagem.Ningum melhor para fazer justia a isso que o prprio Humboldt,cujo estilo tem a fama de ser pouco ntido, nebuloso, at obscuro, oque dificultou a recepo dos seus textos durante sua vida e, naverdade, at hoje. Humboldt no escrevia para um grande pblico,mas, de maneira bem aristocrata, em primeiro lugar para si mesmo epara o prprio benefcio intelectual. Mesmo assim, a leitura permitedestilar as ideias centrais dos seus textos e torn-las compreensveis.No contexto em questo, por exemplo, o ponto de partida de umaclareza cristalina: nenhuma palavra de uma lngua perfeitamenteigual a uma de outra. Encontramos tambm a mxima humboldtianada traduo em sua introduo a Agamemnon: Na medida em quefaz sentir o estranho ao invs da estranheza, a traduo alcana suasmais altas finalidades, e, na continuao da frase, Humboldt alerta:entretanto, no momento em que aparece a estranheza em si, talvez atmesmo obscurecendo o estranho, o tradutor revela no estar alturade seu original.

    Como Schleiermacher e Humboldt, August Wilhelm von Schle-gel (1767-1845) entende a traduo como uma mediao de culturasno sentido mais abrangente possvel. Para Schlegel, o tradutor um mensageiro de uma nao a outra, um mediador de respeitoe admirao mtua, sendo que, sem ele, haveria indiferena oumesmo averso. Schleiermacher tambm pressupe essaadmirao, esse respeito quando fala de uma tendncia definidaa apropriar-se do estranho.

    Schlegel um mestre da sentena tradutolgica. O seu texto umarplica a seus crticos e, a, o erudito destila todo o seu veneno. Umade suas frases deveria constar nos contratos de trabalho dos crticos dehoje: Considero uma exigncia bem justa, nas tradues, que a crticadeve vir acompanhada de uma sugesto construtiva. Essa sugestono observada hoje em dia, como no o era na poca de Schlegel; omais comum era seguir a famosa sentena de Lessing, segundo a qual,ningum precisa saber cozinhar para achar uma sopa salgada.

    As colocaes de Hlderlin saem um pouco do quadro destaantologia, por se tratar de comentrios, de anotaes. Boa parte das

  • 14 PREFCIO

    notas s se esclarece numa leitura contextualizada de dipo e deAntgone. Hlderlin (1770-1843) no mostra preocupao com a teoriada traduo propriamente dita, mas permanece na anlise potica edramatolgica, dentro da qual descreve a diferena fundamental entreo ritmo em dipo, por um lado, em Antgone, por outro.

    fcil ver como Schopenhauer (1788-1860) d continuidade aSchleiermacher e Humboldt. No se encontra para cada palavra deuma lngua um equivalente exato em cada uma das demais lnguas,escreve Schopenhauer e neste fato que ele v o motivo da deficin-cia inevitvel de todas as tradues. Vale destacar que o ponto departida de Schopenhauer no o problema da traduo, mas sim aaquisio de lnguas estrangeiras. Percebe-se, em Schopenhauer, ecosdo pensamento de muitos outros autores; no entanto, tudo isso lidode uma maneira diferente e renovada. Schopenhauer faz afirmaesde uma forma assertiva, no faz rodeios em torno de um assunto.Poesias no podem ser traduzidas, ponto final. Quem no entendelatim pertence ao povo, ponto final. Atravs do seu estilo apodcticoe figurativo, vemos, sob um ngulo novo, o que ns j conhecemos;ademais, o seu atrevimento ajuda bastante: Schopenhauer nico.

    J na primeira frase do trecho aqui citado, Nietzsche (1844-1900)esclarece que a traduo no uma bagatela filolgica: Pode-se avaliaro senso histrico de uma poca pelo modo como nela so realizadasas tradues. Nietzsche discute, entre outros assuntos, a prticatradutolgica dos romanos. Onde ns, hoje em dia, lamentamos a faltado nome do tradutor, os romanos simplesmente omitiriam o nome doautor, com a finalidade de subscrever o texto com o prprio nome:traduo como continuao da conquista atravs de outros meios.

    O ltimo texto aqui apresentado e traduzido A tarefa dotradutor de Walter Benjamin (1892-1940). Trata-se do prefcio queBenjamin escreveu para sua traduo dos Tableaux parisiens, deBaudelaire. No entanto, o ensaio em nenhuma frase umaantecipao explicativa dessa traduo ou mesmo uma defesa damesma. O texto uma reflexo geral que imerge na filosofialingustica. Encontramos termos centrais da tradutologia, comofidelidade e liberdade, em cuja discusso, porm, no consiste aparticularidade do texto benjaminiano. Essa particularidade, noentanto, se mostra na profundidade da reflexo lingustica e filosficaque tem o seu pice nas idias da lngua pura e da rememorao

  • 15CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    de Deus. Essas e outras reflexes de Benjamin como, por exemplo,sua definio de forma, deixam-se decifrar, com mais facilidade,se lemos o texto de trs para frente. Aqui, Benjamin cita colocaesde Rudolf Pannwitz, que podem ser consideradas possivelmente oque de melhor se publicou na Alemanha sobre teoria da traduo.Esse longo trecho, citado por Benjamin, por assim dizer, o fio-terradas suposies filosficas de Benjamin, que aumenta a legibilidadedo texto como um todo.

    Esses so, portanto, os textos, que apresentamos em alemo e emportugus.

    E onde fica a contribuio de Lutero teoria da traduo, ondefica a sua Carta do traduzir, de 1530?

    incontestvel que se trata de um documento de raro valor culturale histrico. O carter poltico e religioso-poltico da mesma, no entanto,pesa muito mais que as reflexes tradutolgicas. Em primeiro lugar,trata-se da disputa entre Lutero e seus adversrios do clero. E, aomesmo tempo, a frase-chave do texto representa a mxima da teorialuterana da traduo. Em razo de sua importncia, queremos cit-laaqui, mesmo renunciando ao contexto, ou seja, polmica contra ospapistas. A frase diz:

    No se deve consultar, pois, as letras na lngua latina para saber comose deveria falar em alemo, como o fazem esses burros, mas deve-seperguntar me em casa, s crianas na rua, ao homem comum nomercado, e deve-se olhar para a boca deles, como eles falam, e traduzirconforme essa maneira; assim, eles entendem e percebem que se falaalemo com eles.

    Alm dessa mxima, encontra-se na carta do reformador um consolomuito prtico para qualquer tradutor: E aconteceu-nos muitas vezes,de procurarmos duas, trs, quatro semanas por uma nica palavra,mesmo assim no a encontramos.

    Antes de agradecer aos tradutores dos textos aqui reunidos, umaltima citao de Lutero que esboa a competncia do tradutor:Traduzir em hiptese alguma uma arte de qualquer um, comoacham os santos tolos; precisa-se de um corao certo, devoto, fiel,aplicado, receoso, cristo, erudito, de muita experincia e prtica.

    Por terem colocado o corao disposio nessa antologia,agradeo a Marcia S Cavalcante Schuback, Maria Aparecida Bar-

  • 16 PREFCIO

    bosa, Margarete von Mhlen Poll, Ina Emmel, Rosvitha Friesen Blume,Susana Kampff Lages e Richard Zenker. Muito obrigado aos colegasdo Ncleo de Traduo (NUT) pela cooperao to construtiva e, emespecial, pela inestimvel colaborao de Walter C. Costa e Markus J.Weininger. Agradeo ao Departamento de Lngua e LiteraturaEstrangeiras pelo financiamento do projeto e pela ajuda institucionalem geral. Agradeo tambm ao Professor Strig, pela permisso deusar os textos introdutrios de sua antologia Das Problem desbersetzens.

    O primeiro volume da antologia bilngue Clssicos da teoria datraduo impulsiona uma srie, cuja segunda parte abranger textosem francs e suas tradues para o portugus. Mais tarde, seguirovolumes bilngues com textos originais em ingls, espanhol, italiano,latim e outros idiomas.

    Para este volume, bem como para os que seguiro, vale, levementemodificado, o que August Wilhelm von Schlegel escreveu sobre a suatraduo: Seramos muito gratos pela comunicao de expressesmelhores. O que nos importa no defender nossas tradues, masaproxim-las da perfeio.

    Werner Heidermannem outubro de 2001

    PREFCIO SEGUNDA EDIOPREFCIO SEGUNDA EDIOPREFCIO SEGUNDA EDIOPREFCIO SEGUNDA EDIOPREFCIO SEGUNDA EDIO

    Comprovamos que as teorias no atrapalham! Os Clssicos da teoriada traduo so lidos, as edies so esgotadas. Isso vale para os quatrovolumes at hoje publicados (alemo-portugus, francs-portugus,italiano-portugus, Renascimento), quatro volumes que continuaminfluenciando a discusso tradutolgica no Brasil. com muitasatisfao que apresentamos, quase dez anos aps o incio do projeto,a segunda edio do primeiro volume dos Clssicos. Em resposta,portanto, demanda acadmica dentro dos Estudos da Traduo,aproveitamos a oportunidade para rever algumas decises editoriais.

    Em primeiro lugar, a reedio constitui ensejo para corrigir falhasda edio anterior. No diferente no caso dos Clssicos. Agradecemos

  • 17CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    aos leitores que deixaram suas correes registradas, a fim de quepudessem ser levadas em considerao neste momento de refazer acoletnea dos textos.

    Em segundo lugar, a reedio proporciona a favorvel circuns-tncia para ampliarmos a coletnea, acrescentando textos novos que,dez anos atrs, ainda no tinham tradues para o portugus. ocaso de quatro tradues inditas que apresentamos aqui; as reflexesde Novalis, de Hans-Georg Gadamer, de Eugenio Coseriu e de Wolf-gang Klein.

    Por motivos cronolgicos, o trabalho de Novalis (Friedrich vonHardenberg, 1772-1801) se encontra no incio da antologia. O texto curto e abrange as trs categorias da traduo segundo o entendimentodo autor: a mtica, a gramatical, a modificadora. No surpreende quea traduo gramatical seja tratada em apenas duas linhas. As traduesmticas nos fornecem no a obra de arte efetiva, mas o ideal da mesmalemos na traduo de Mrcio Seligmann-Silva que tambmacrescentou comentrios em forma de notas essenciais.

    Inclumos a traduo de um trecho de Verdade e mtodo, obraprima de Hans-Georg Gadamer (1900-2002). O ponto de partida dareflexo hermenutica de Gadamer a conversa, o dilogo: O processolingustico especialmente ilustrativo quando uma conversa em duaslnguas estrangeiras torna-se possvel atravs de traduo e trans-posio. Qual a especificidade da traduo? O caso da traduotorna manifesta a linguagem como meio do entendimento, na medidaem que este meio s poder ser criado artisticamente atravs de umamediao explcita. Procede o comentrio de Hans Joachim Strigem sua antologia Das Problem des bersetzens de 1963, segundo oqual esse texto somente claro no contexto maior de Verdade e mtodode 1960. Mesmo isolado, no entanto, o trecho, em sua traduo deFabrcio Coelho, consegue dar uma ideia da relao entre lngua epensamento e, mais concretamente, das implicaes filosficas noproblema da traduo.

    Por muito tempo, o problema da traduo foi visto quase exclusi-vamente sob a tica da lingustica. Isso mudou, e hoje a perspectivalingustica no mais a dominante. No conjunto dos Clssicos dateoria da traduo, porm, no conjunto das vises filosficas eculturais, histricas e literrias que reunimos nesta segunda edio,vale a pena levar em considerao manifestaes de linguistas de

  • 18 PREFCIO

    renome. Escolhemos dois trabalhos, o primeiro de Eugenio Coseriu(1921-2002) que reflete sobre O falso e o verdadeiro na teoria datraduo, o segundo de Wolfgang Klein (*1946) que pergunta O quea Tradutologia pode esperar da Lingustica? Os dois textos foramtraduzidos por Ina Emmel. Consideramos ambos os textos marginaisno contexto da coletnea, digamos menos clssicos do que osverdadeiros clssicos, mas igualmente de elevado valor. O ensaiodelimita com clareza a teoria lingustica quando discute a traduo,disciplina que finalmente conquistou autonomia acadmica.

    O texto do linguista multilngue Eugenio Coseriu comea assim:O ttulo deste trabalho poderia soar como uma provocao, mas ointuito no , seguramente, este. No somente o ttulo, o tom daargumentao s vezes tambm provocativo. Todavia, o texto forneceuma brilhante explicao lingustica dentro do rigor terminolgico e,alm disso, concluses cristalinas, poca bem modernas como, porexemplo, que no existe a melhor traduo para um determinadotexto. S existe a melhor traduo deste texto para receptoresespecficos, com um determinado propsito e dentro de umadeterminada situao histrica.

    Onde Coseriu conciliante, Wolfgang Klein intervm com afiadaironia. Sua primeira frase: Ao carter excntrico das cincias contribuium discreto mas bem documentado desprezo recproco entre osrepresentantes de diferentes orientaes tericas dentro de umadeterminada disciplina. O texto focaliza a relao entre a lingusticae os estudos da traduo. Pouco adiante, Klein ape, j na primeiraparte do seu trabalho, o seguinte resultado:

    Os problemas da tradutologia so os problemas da lingustica. Masisto no quer dizer que aqueles que pesquisam a traduo s precisamver o que os linguistas tm a dizer a respeito. A mim me pareceexatamente o contrrio: o traduzir, esta faceta especfica da capacidadelingustica humana, coloca-nos diante dos olhos uma srie de problemascomo sob uma lupa, e o esclarecimento dos mesmos se constitui numdesafio para qualquer pesquisa lingustica sria.

    Apresentamos, nesta reedio, a palestra de Friedrich Schleier-macher de 1813 em nova traduo. O tradutor desse texto tentou seguira mxima preferida de Schleiermacher, segundo a qual a traduodeve fazer com que o leitor se familiarize com o outro e no somente

  • 19CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    confirme o prprio. O Schleiermacher que apresentamos da autoriade Celso R. Braida, conhecedor da obra de Schleiermacher. A palestrade Schleiermacher Sobre os diferentes mtodos de traduo umdos textos mais estudados por nossos alunos. Essa informao podeser interessante e curiosa, se considerarmos que em 1813, ocasio dapalestra na Academia Real de Berlim, Friedrich Schleiermacher faloupara um pblico de sete pessoas.

    Finalmente, gostaria de chamar a ateno traduo de outro textoclssico: Ulrich von Wilamowitz-Moellendorff, tradutor alemo detragdias gregas e terico da traduo. Em 1924, Wilamowitz-Moellendorff publica um texto intitulado Die Kunst derbersetzung/A arte da traduo. Decidimos no inclui-lo nareedio porque uma das revistas da Ps-Graduao em Estudos daTraduo da UFSC, Scientia Traductionis no seu no. 7 de 2010, trazuma reflexo bem elaborada e abrangente do prprio Wilamowitz-Moellendorff: Was ist bersetzen?/O que traduzir? traduode Filipe Mendes Neckel.

    Para esta segunda edio pertinente, como o foi para a primeira,o pensamento de August Wilhelm von Schlegel referente sua prpriaatividade de traduo: Seramos muito gratos pela comunicao deexpresses melhores. O que nos importa no defender nossastradues, mas aproxim-las da perfeio.

    Aproxim-las da perfeio justamente isso o que fizeram MarciaS Cavalcante Schuback, Maria Aparecida Barbosa, Ina Emmel,Rosvitha Friesen Blume e Susana Kampff Lages, Celso R. Braida,Fabrcio Coelho, Mrcio Seligmann-Silva e Richard Zenker. Algunsdesses autores elaboraram as tradues novas, contribuies que oraapresentamos, outros corrigiram as tradues que j tinham sidopublicadas na primeira edio. Agradeo a todas e a todos.

    Agradeo igualmente aos atuais coordenadores da Ps-Graduaoem Estudos da Traduo, professora Andria Guerini e professorWalter C. Costa, grandes incentivadores do projeto em questo (CNPq309020/2006-9). Agradeo mais uma vez ao Departamento de Lnguae Literatura Estrangeiras, hoje na pessoa da professora Silvana deGaspari, pelo financiamento de uma parte do projeto e pelo apoioinstitucional em geral.

    Werner Heidermannem novembro de 2010

  • 20 PREFCIO

  • 21CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    VERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGEN

    OBSEROBSEROBSEROBSEROBSERVVVVVAES MESCLADASAES MESCLADASAES MESCLADASAES MESCLADASAES MESCLADAS

    NOVALIS

  • 22 NOVALIS

    NOVNOVNOVNOVNOVALISALISALISALISALIS

    NOVALIS, Werke, Tagebcher und Briefe, hrsg. von H.-J. Mhl e R. Samuel.Band II. Mnchen: Karl Hanser Verlag, 1978, S. 252-254.

    VERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGENVERMISCHTE BEMERKUNGEN

    Eine bersetzung ist entweder grammatisch, oder verndernd,oder mythisch. Mythische bersetzungen sind bersetzungen imhchsten Styl. Sie stellen den reinen, vollendeten Karakter des indi-viduellen Kunstwerks dar. Sie geben uns nicht das wirkliche Kunst-werk, sondern das Ideal desselben. Noch existirt wie ich glaube, keinganzes Muster derselben. Im Geist mancher Kritiken und Beschreibungvon Kunstwerken trifft man aber helle Spuren davon. Es gehrt einKopf dazu, in dem sich poetischer Geist und philosophischer Geist inihrer ganzen Flle durchdrungen haben. Die griechische Mythologieist zum Theil eine solche bersetzung einer Nazionalreligion. Auchdie moderne Madonna ist solcher Mythus.

    Grammatische bersetzungen sind die bersetzungen im gewhn-lichen Sinn. Sie erfordern sehr viel Gelehrsamkeit, aber nur discursiveFhigkeiten.

    Zu den verndernden bersetzungen gehrt, wenn sie cht seynsollen, der hchst poetische Geist. Sie fallen leicht ins Travestiren, wieBrgers Homer in Jamben, Popens Homer, die Franzsischen ber-setzungen insgesamt. Der wahre bersetzer dieser Art mu in derThat der Knstler selbst seyn, und die Idee des Ganzen beliebig sooder so geben knnen. Er mu der Dichter des Dichters seyn und ihnalso nach seiner und des Dichters eigner Idee zugleich reden lassenknnen. In einem hnlichen Verhltnisse steht der Genius derMenschheit mit jedem einzelnen Menschen.

    Nicht blo Bcher, alles kann auf diese drey Arten bersetztwerden.

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    NOVNOVNOVNOVNOVALISALISALISALISALIS

    NOVALIS, Werke, Tagebcher und Briefe, org. por H.-J. Mhl e R. Samuel. Vol.II. Mnchen: Karl Hanser Verlag, 1978, pp. 252-254.

    OBSEROBSEROBSEROBSEROBSERVVVVVAES MESCLADASAES MESCLADASAES MESCLADASAES MESCLADASAES MESCLADAS

    Uma traduo gramatical ou modificadora ou mtica. Traduesmticas so tradues no mais elevado estilo.1 Elas expem o carterpuro e completo da obra de arte individual. Elas nos fornecem no aobra de arte efetiva, mas o ideal da mesma. Ainda no existe, como eucreio, nenhum modelo total das mesmas. Mas no esprito de algumascrticas e descries de obras de arte encontram-se vestgios claros.2Requer-se para tanto, uma cabea na qual o esprito potico e o espritofilosfico tenham se interpenetrado no todo de sua plenitude. Amitologia grega em parte uma tal traduo de uma religio nacional.Tambm a moderna Madonna3 um tal mito.

    Tradues gramaticais so tradues no sentido habitual. Elasexigem muita erudio mas apenas destrezas discursivas.

    As tradues modificadoras, se elas devem ser autnticas,dependem do mais elevado esprito potico. Elas tocam levemente napardia como o Homero de Brger em iambos4 o Homero dePope5 as tradues francesas de um modo geral.6 Com efeito, overdadeiro tradutor deste tipo deve ser o prprio artista e poderpassar a idia do todo como lhe apraz, assim ou assim Ele deve ser opoeta do poeta e assim permiti-lo falar ao mesmo tempo segundo asua idia e a prpria do poeta. O gnio da humanidade encontra-seem uma relao semelhante com cada pessoa em particular.

    No apenas livros, tudo pode ser traduzido nestes trs modos.7

    Traduo e notas: Mrcio Seligmann-Silva

    O grupo de fragmentos Blthenstaub (Plen) foi publicado em 1798 no primeiro nmeroda revista Athenum, principal rgo de expresso do grupo de pensadores romnticos

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    de Iena ao qual pertenciam Novalis (pseudnimo de Friedrich von Hardenberg, 1772-1801) e os irmos Schlegel. Esta coletnea retomava os fragmentos compostos ao longo dasegunda metade de 1797, as Vermischte Bemerkungen (Observaes mescladas). Estefragmento nas suas duas verses difere apenas na ortografia e na pontuao. Mantive apontuao de Novalis, conforme ela se encontra nas Observaes mescladas na edioutilizada. F. Schlegel, num texto de 1798, fez uma outra tipologia das tradues nomuito diferente desta de Novalis (e decerto inspirado nela): As tradues so mticas,fsicas (tcnicas))))) ou histricas (Friedrich Schlegel, Kritische Friedrich-Schlegel-Ausgabe,org. por Ernst Behler. Mnchen/Paderborn/Wien: Verlag Ferdinand Schningh, 1963, vol.XVIII, p. 126). A afirmao Toda traduo potica (Id., p.202), tambm dos fragmentosde Schlegel e muito prxima s idias de seu amigo Novalis, liga-se noo romntica decrtica potica, nos termos que Walter Benjamin a descreveu na sua tese (cf. Walter Benjamin,O Conceito de Crtica de Arte no Romantismo Alemo, So Paulo: Iluminuras/ EDUSP,1993). Assim como Novalis e Schlegel haviam descrito as tradues mticas como sendo asmais elevadas pois elas fornecem a obra ideal, o mesmo se passa na crtica: A crticamtica a que pe, divinatria, que determina o valor, ou as idias a partir das quais secritica e os autores que devem ser criticados (Schlegel XVIII, p. 126). O pr a que estapassagem se refere alude ao ato do crtico que deve pr a obra diante do seu prprioideal, a que Novalis se refere no fragmento aqui apresentado. Ou seja, para os romnticos do mesmo modo como ao poeta cabia a tarefa de recriar a linguagem cotidiana que eravista como insuficiente nesta crtica divinatria, as obras so vistas como realizaesincompletas abertas de um ideal e que devem ser aproximadas deste no ato da crtica(galgando assim um novo patamar na cadeia do sistema arte como um medium-de-reflexo, como Benjamin o descreveu a partir de Schlegel e Novalis). Crtica e traduoseriam assim, atos de elevao (ber-setzung). Apenas o incompleto pode sercompreendido, pode levar-nos mais alm, afirmou Novalis. (Werke, Tagebcher und Briefe,org. por H.-J. Mhl e R. Samuel, Mnchen: Karl Hanser Verlag, 1978, vol. II 348) E Schlegel:Toda crtica divinatria, completar um projeto idntico completar um fragmento(Schlegel XVIII, p.49). Da porque para ele: O verdadeiro crtico um autor elevado segunda potncia (Schlegel XVIII, p.106). O mesmo pode ser dito do tradutor para osromnticos, como lemos neste fragmento de Novalis. Esta traduo produtiva encerra oparadoxo de ultrapassar a obra original: Traduzir, escreveu Novalis, numa carta aAugust Wilhelm Schlegel de novembro de 1797, tratando da sua traduo da obra deShakespeare, tanto poetar (dichten) como produzir obras prprias e mais difcil, maisraro. Afinal de contas, toda poesia traduo. Eu estou convencido que o Shakespearealemo presentemente melhor que o ingls (Novalis, op. cit., vol. I 648). Ou seja, para osromnticos, a traduo pode ser superior ao prprio original. A hierarquia entre modeloe cpia, tpica da teoria esttica clssica bem como da traduo pr-romntica, , dessemodo, implodida.

    Notas

    1 Este emprego do termo estilo aqui no deixa de remeter ao texto de Goethe de 1789Einfache Nachahmung der Natur, Manier, Stil (Imitao simples da natureza, maneira,estilo), no qual ele estabelece uma hierarquia crescente entre os modos da imitao artsticase relacionar com seu modelo. Note-se que Novalis mantm o mesmo esquema tripartite deGoethe. No podemos esquecer que no seu Weststlicher Divan, de 1819, Goethe tambmdefenderia um modelo tridico de traduo. (Cf. M. Seligmann-Silva, O local da diferena,S.Paulo: Editora 34, pp. 170s.) A idia do mito como mais elevado modelo de traduocorresponde grande valorizao do mito por parte do grupo de primeiro romnticos deIena. Friedrich Schlegel definiu o que seria para ele uma verdadeira imitao no seu Sobreo valor do estudo dos gregos e dos romanos (Vom Wert des Studiums der Griechen und

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    der Rmer): Autntica imitao no cpia artificial da figura externa, ou o poder queo grande e forte exerce sobre nimos dbeis: mas sim a apropriao do esprito, doverdadeiro, belo e bom no amor, na inteligncia e fora ativa, a apropriao da liberdade(Schlegel, Kritische Friedrich-Schlegel-Ausgabe, org. por Ernst Behler. Mnchen/Paderborn/ Wien: Verlag Ferdinand Schningh, 1979, vol. I, 638). A fonte mais autnticadessa cultura era, afirmou ainda Schlegel, o mito a poesia era a primeira e [...] a nicamestre do povo. O modo de pensar mtico, que a poesia no sentido prprio seja um dom euma revelao dos deuses, o poeta um sacerdote e porta-voz divino, isso permaneceu umacrena popular grega para todas as pocas (Sobre o estudo da poesia grega [ber dasStudium der Griechischen Poesie, 1795/96], id., 351).

    2 Muito provavelmente Novalis alude aqui s ento ainda famosas descries de obras dearte clssicas da Antiguidade realizadas por Johann Joachim Winckelmann (1717-1768)do final dos anos 1750, poca de sua mudana para Roma.

    3 Possvel aluso ao famoso quadro de Rafael, conhecido como A Madona Sistina,representando a Madona com Jesus, ladeada por Santo Sisto e Santa Brbara, que j seencontrava no Museu de Dresden ento. Este quadro foi fruto de muitas interpretaese elogios por parte dos romnticos de Iena.

    4 Gottfried August Brger (1747-1794) publicou em 1771 trechos da Ilada com traduoque empregava iambos com cinco ps.

    5 Alexander Pope (1688-1744) traduziu as epopias homricas, que foram publicadasentre 1715-20 (a Ilada) e 1725-26 (a Odissia).

    6 Costumamos chamar a este tipo de traduo como sendo do tipo belle infidle. O queimporta para as belles infidles a beleza e a clareza do texto, a sua recepo, e no orespeito pelo texto de partida. Seguindo a doutrina retrica que nos alerta para evitara todo custo os dois vcios mortais do discurso o taedium e a incompreenso , o maisbelo , nessa doutrina, o mais claro. Da o uso de adies, supresses e explicaesem meio ao texto. O texto de chegada deve soar como se o autor tivesse escrito nessalngua. A diferena entre as lnguas um empecilho menor que deve ser como que postode lado. Apesar de ser tratado hoje como um modelo conservador (porque desrespeitaa diferena), ele contm, para Novalis, algo da pardia e de sua capacidade crtica decorroer a idia do prprio e do original. Vislumbra-se aqui a idia muito avanadada literatura como uma rede de tradues modificadoras que reencontraremos emBorges, Bakhtin e Kristeva, entre outros.

    7 Deste modo vemos o prprio platonismo, como sua concepo do mundo como cpiadas Idias eternas e imutveis, sendo transformado criticamente por meio do pensamentotradutrio. Tudo pode ser bersetzt, ou seja, traduzido e elevado (ber-setzen) destestrs modos: um mais literal (que envolve a capacidade tcnica e erudio); um que exigeser o poeta do poeta e o terceiro, de estilo mais elevado, que apresenta o prprio idealda obra. Temos aqui uma teoria geral da leitura com seus trs modelos fundamentais.Ou ainda, podemos vislumbrar neste fragmento uma proposta de uma teoria dainterpretao de todo fenmeno cultural. Estes poderiam ser encarados segundo estestrs tipos de modulao. A traduo seria assim um modo de se pensar a diferenahistrica e cultural.

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    DREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZEN

    TRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUO

    JOHANN WOLFGANG VON GOETHE

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    JOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHE

    DREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZENDREI STCKE VOM BERSETZEN

    Goethe, der selbst passionierter bersetzer war, hat sich an vielen Stellen seinesWerkes zum Thema geuert. Die hier ausgewhlten drei Stcke stammenaus: I. Dichtung und Wahrheit (Art. Ged. Ausg. Bd. 10, S. 540); II. Zubrderlichem Andenken Wielands (Art. Ged. Ausg. Bd. 12, S. 705); III. Notenund Abhandlungen zu bessern Verstndnis des west-stlichen Divans (Art.Ged. Ausg. Bd. 3, S. 554).

    I.

    Ich ehre den Rhythmus wie den Reim, wodurch Poesie erst zurPoesie wird, aber das eigentlich tief und grndlich Wirksame, daswahrhaft Ausbildende und Frdernde ist dasjenige was vom Dichterbrigbleibt, wenn er in Prose bersetzt wird. Dann bleibt der reinevollkommene Gehalt, den uns ein blendendes uere oft, wenn erfehlt, vorzuspiegeln wei, und wenn er gegenwrtig ist, verdeckt. Ichhalte daher, zum Anfang jugendlicher Bildung, prosaische ber-setzungen fr vorteilhafter als die poetischen: denn es lt sichbemerken, da Knaben, denen ja doch alles zum Scherze dienen mu,sich am Schall der Worte, am Fall der Silben ergtzen, und durch eineArt von parodistischem Mutwillen den tiefen Gehalt des edelstenWerks zerstren. Deshalb gebe ich zu bedenken, ob nicht zunchsteine prosaische bersetzung des Homer zu unternehmen wre; aberfreilich mte sie der Stufe wrdig sein, auf der sich die deutscheLiteratur gegenwrtig befindet. Ich berlasse dies und das Vorgesagteunsern wrdigen Pdagogen zur Betrachtung, denen ausgebreiteteErfahrung hierber am besten zu Gebote steht. Nur will ich noch,zugunsten meines Vorschlags, an Luthers Bibelbersetzung erinnern:denn da dieser treffliche Mann ein in dem verschiedensten Stile ver-fates Werk und dessen dichterischen, geschichtlichen, gebietenden,lehrenden Ton uns in der Muttersprache, wie aus einem Gusseberlieferte, hat die Religion mehr gefrdert, als wenn er die

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    JOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHEJOHANN WOLFGANG VON GOETHE

    TRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUOTRS TRECHOS SOBRE TRADUO

    Goethe, que tambm foi um tradutor apaixonado, manifestou-se repetidasvezes sobre o assunto ao longo de sua obra. Os trs fragmentos aqui selecionadosso originrios de: I. Dichtung und Wahrheit (Art. Ged. Ausg. vol. 10, p. 540);II. Zu brderlichem Andenken Wielands (Art. Ged. Ausg. vol. 12, p. 705); III.Noten und Abhandlungen zu bessern Verstndnis des west-stlichen Divans(Art. Ged. Ausg. vol. 3, p. 554).

    I.

    Aprecio o ritmo, bem como a rima, por meio dos quais a poesia setorna poesia, mas verdadeiramente profundo e eficaz, realmenteformador e promovedor o que resta do poeta quando este traduzido em prosa. Permanece ento o contedo puro e perfeitoque uma forma deslumbrante freqentemente sabe simular ocontedo quando ele inexiste e, quando est presente, encobre. Porisso considero para o incio da formao juvenil, mais proveitosas astradues em prosa do que as poticas: pois os jovens, para quemtudo motivo de brincadeira, deleitam-se visivelmente com o somdas palavras, com o movimento das slabas e, por meio de umaespcie de travessura parodstica, destroem a substncia profundada mais nobre obra. Por isso, gostaria de ponderar se no seriaadequada como iniciao uma traduo em prosa de Homero; bem verdade que ela deveria ser digna do nvel em que se encontraa literatura alem atualmente. Ofereo isso e o que disseanteriormente contemplao de nossos dignos pedagogos, quedispem de vasta experincia a respeito. Quero to somente lembrarainda, em defesa de minha proposta, a traduo da Bblia por Lutero.Pois o fato de este excelente homem haver traduzido uma obra escritaem estilo to diversificado e t-la transmitido com seu tom potico,histrico, imperioso e pedaggico para a lngua materna com tamanhaperfeio, promoveu mais a religio do que se ele houvesse

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    Eigentmlichkeiten des Originals im einzelnen htte nachbildenwollen. Vergebens hat man nachher sich mit dem Buche Hiob, denPsalmen und andern Gesngen bemht, sie uns in ihrer poetischenForm geniebar zu machen. Fr die Menge, auf die gewirkt werdensoll, bleibt eine schlichte bertragung immer die beste. Jene kritischenbersetzungen, die mit dem Original wetteifern, dienen eigentlichnur zur Unterhaltung der Gelehrten untereinander.

    II.

    Es gibt zwei bersetzungsmaximen: die eine verlangt, da derAutor einer fremden Nation zu uns herber gebracht werde,dergestalt, da wir ihn als den Unsrigen ansehen knnen; die anderehingegen macht an uns die Forderung, da wir uns zu dem Fremdenhinber begeben und uns in seine Zustnde, seine Sprachweise, seineEigenheiten finden sollen. Die Vorzge von beiden sind durchmusterhafte Beispiele allen gebildeten Menschen genugsam bekannt.Unser Freund, der auch hier den Mittelweg suchte, war beide zuverbinden bemht, doch zog er als Mann von Gefhl und Geschmackin zweifelhaften Fllen die erste Maxime vor.

    III.

    Es gibt dreierlei Arten bersetzungen. Die erste macht uns inunserm eigenen Sinne mit dem Auslande bekannt; eine schlicht-prosaische ist hiezu die beste. Denn indem die Prosa alle Eigen-tmlichkeiten einer jeden Dichtkunst vllig aufhebt und selbst denpoetischen Enthusiasmus auf eine allgemeine Wasserebeneniederzieht, so leistet sie fr den Anfang den grten Dienst, weil sieuns mit dem fremden Vortrefflichen mitten in unserer nationalenHuslichkeit, in unserem gemeinen Leben berrascht und, ohne dawir wissen, wie uns geschieht, eine hhere Stimmung verleihend,wahrhaft erbaut. Eine solche Wirkung wird Luthers Bibelbersetzungjederzeit hervorbringen.

    Htte man die Nibelungen gleich in tchtige Prosa gesetzt undsie zu einem Volksbuche gestempelt, so wre viel gewonnen worden,und der seltsame, ernste, dstere, grauerliche Rittersinn htte uns mitseiner vollkommenen Kraft angesprochen. Ob dieses jetzt noch rtlich

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    procurado imitar em detalhes as singularidades do original. Emvo se procurou, mais tarde, tornar saborosos em sua forma potica olivro de J, os Salmos e outros cnticos. Para a multido, sobre a qualdeve exercer influncia, uma traduo singela sempre a melhor. Astradues crticas que rivalizam com o original s servem, na verdade,para o entretenimento dos estudiosos.

    II.

    Existem duas mximas na traduo: uma exige que o autor deuma nao desconhecida seja trazido at ns, de tal maneira quepossamos consider-lo nosso; a outra, ao contrrio, requer de ns, quenos voltemos ao estrangeiro e nos sujeitemos s suas condies, suamaneira de falar, suas particularidades. Graas a tradues exemplares,as vantagens de ambas so suficientemente conhecidas por qualquerpessoa culta. Nosso amigo, que tambm aqui procurou o meio termo,esmerou-se em combinar as duas; porm, como homem desensibilidade e bom gosto, preferiu, em casos de dvida, a primeiramxima.

    III.

    H trs espcies de traduo. A primeira nos apresenta oestrangeiro nossa maneira; uma traduo singela em prosa amelhor para este caso. Pois, ao suprimir inteiramente ascaractersticas de qualquer arte potica e at mesmo reduzindo oentusiasmo potico a um nvel consensual, a prosa se prestaperfeitamente para a iniciao, porquanto ela nos surpreende com aexcelncia desconhecida em meio familiaridade da nossa ptria,de nossa vida comum, sem que saibamos o que nos sucede,conferindo-nos uma disposio superior, edificando-nosverdadeiramente. A traduo da Bblia por Lutero sempre produzirtal efeito.

    Se os Nibelungos tivessem sido transpostos diretamente em prosaqualificada e carimbados como livro popular, muito se teria ganho, eo esprito cavalheiresco, to estranho, srio, sombrio e amedrontador,nos teria atrado com sua fora total. Se isso ainda oportuno erealizvel agora, melhor podero avaliar aqueles que se dedicaramcom mais afinco a esses assuntos da antigidade.

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    und tunlich sei, werden diejenigen am besten beurteilen, die sichdiesen altertmlichen Geschften entschiedener gewidmet haben.

    Eine zweite Epoche folgt hierauf, wo man sich in die Zustnde desAuslandes zwar zu versetzen, aber eigentlich nur fremden Sinn sichanzueignen und mit eignem Sinne wieder darzustellen bemht ist.Solche Zeit mchte ich im reinsten Wortverstand die parodistischenennen. Meistenteils sind es geistreiche Menschen, die sich zu einemsolchen Geschft berufen fhlen. Die Franzosen bedienen sich dieserArt bei bersetzung aller poetischen Werke; Beispiele zu hundertenlassen sich in Delilles bertragung finden. Der Franzose, wie er sichfremde Worte mundrecht macht, verfhrt auch so mit den Gefhlen,Gedanken, ja den Gegenstnden, er fordert durchaus fr jede fremdeFrucht ein Surrogat, das auf seinem eignen Grund und Boden ge-wachsen ist.

    Wielands bersetzungen gehren zu dieser Art und Weise; aucher hatte einen eigentmlichen Verstands- und Geschmacksinn, mitdem er sich dem Altertum, dem Auslande nur insofern annherte, alser seine Konvenienz dabei fand. Dieser vorzgliche Mann darf alsReprsentant seiner Zeit angesehen werden; er hat auerordentlichgewirkt, indem gerade das, was ihn anmutete, wie er sichs zueigneteund es wieder mitteilte, auch seinen Zeitgenossen angenehm undgeniebar begegnete.

    Weil man aber weder im Vollkommenen noch Unvollkommenenlange verharren kann, sondern eine Umwandlung nach der andernimmerhin erfolgen mu, so erlebten wir den dritten Zeitraum, welcherder hchste und letzte zu nennen ist, derjenige nmlich, wo man diebersetzung dem Original identisch machen mchte, so da eins nichtanstatt des andern, sondern an der Stelle des andern gelten soll.

    Diese Art erlitt anfangs den grten Widerstand; denn der ber-setzer, der sich fest an sein Original anschliet, gibt mehr oder wenigerdie Originalitt seiner Nation auf, und so entsteht ein Drittes, wozuder Geschmack der Menge sich erst heranbilden mu.

    Der nie genug zu schtzende Vo konnte das Publikum zuerstnicht befriedigen, bis man sich nach und nach in die neue Art hineinhrte, hinein bequemte. Wer nun aber jetzt bersieht, was geschehenist, welche Versatilitt unter die Deutschen gekommen, welcherhetorischen, rhythmischen, metrischen Vorteile dem geistreich-talentvollen Jngling zur Hand sind, wie nun Aorist und Tasso,

  • 33CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    Uma segunda poca se segue a esta, na qual se procura a trans-posio para as condies do estrangeiro mas, na verdade, apenaspara se apropriar do sentido desconhecido e constitu-lo com sentidoprprio. Gostaria de denominar este perodo de parodstico no maispuro sentido da palavra. Na maioria das vezes, so pessoas espirituosasque se sentem atradas por tal ofcio. Os franceses se utilizam dessemodo na traduo de todas as obras poticas; centenas de exemplospodem ser encontrados na traduo realizada por Delille. Da mesmamaneira como se apropria de palavras desconhecidas, o francstambm procede com os sentimentos, os pensamentos, e at mesmocom os objetos; reclama para cada fruto desconhecido um substitutoque tenha crescido em base e cho prprios.

    As tradues de Wieland fazem parte dessa categoria; ele possuaigualmente um gosto e um entendimento singulares, com os quais seaproximava da antigidade, do estrangeiro, apenas o tanto quantolhe convinha. Esse homem notvel pode ser considerado representantede sua poca; atuou de maneira extraordinria, tornando justamenteaquilo que o encantava, da maneira como se apropriava do mesmo eo transmitia, igualmente agradvel e saboroso para seus contem-porneos.

    Entretanto, como no se pode permanecer por muito tempo nemna perfeio nem na imperfeio, devendo sempre uma transformaosuceder a outra, experimentamos o terceiro perodo, que o maiselevado e ltimo, onde se procura tornar a traduo idntica aooriginal, no de modo que um deva vigorar ao invs do outro, mas nolugar do outro.

    Esse modo sofreu, inicialmente, a maior resistncia. Pois o tradutorque se une firmemente ao seu original, abandona, de uma forma ou deoutra, a originalidade de sua nao e, assim, surge um terceiro para oqual o gosto da multido ainda deve se formar.

    O inestimvel Vo no conseguiu agradar o pblico inicialmente,at que, pouco a pouco, as pessoas se adaptaram, se acomodaram aonovo modo. Quem, entretanto, no se d conta, agora, do que ocorreu,da versatilidade que adquiriram os alemes, das vantagens retricas,rtmicas, mtricas que esto disposio do jovem espirituoso eprovido de talento, quem no se apercebe como Ariosto e Tasso,Shakespeare e Caldern nos so apresentados dupla e triplamentecomo estrangeiros transformados em alemes, esse pode esperar,

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    Shakespeare und Caldern als eingedeutschte Fremde uns doppeltund dreifach vorgefhrt werden, der darf hoffen, da die Literatur-geschichte unbewunden aussprechen werde, wer diesen Weg untermancherlei Hindernissen zuerst einschlug.

  • 35CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    ento, que a histria da literatura expresse, inequivocamente, quemtrilhou pela primeira vez esse caminho mediante os mais diversosobstculos.

    Traduo: Rosvitha Friesen Blume

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  • 37CLSSICOS DA TEORIA DA TRADUO - ALEMO/PORTUGUS - 2a EDIO

    UEBER DIE VERSCHIEDENENUEBER DIE VERSCHIEDENENUEBER DIE VERSCHIEDENENUEBER DIE VERSCHIEDENENUEBER DIE VERSCHIEDENENMETHODEN DES UEBERSEZENSMETHODEN DES UEBERSEZENSMETHODEN DES UEBERSEZENSMETHODEN DES UEBERSEZENSMETHODEN DES UEBERSEZENS

    SOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSDE TRADUODE TRADUODE TRADUODE TRADUODE TRADUO

    FRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHER

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    FRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHER

    UEBER DIE VERSCHIEDENEN METHODEN DESUEBER DIE VERSCHIEDENEN METHODEN DESUEBER DIE VERSCHIEDENEN METHODEN DESUEBER DIE VERSCHIEDENEN METHODEN DESUEBER DIE VERSCHIEDENEN METHODEN DESUEBERSEZENSUEBERSEZENSUEBERSEZENSUEBERSEZENSUEBERSEZENS

    Die Abhandlung Ueber die verschiedenen Methoden des Uebersezens verlasSchleiermacher am 24. Juni 1813 in der Kniglichen Akademie derWissenschaften, Berlin. Sie ist wiedergegeben nach: Friedrich Schleiermacherssmmtliche Werke, Dritte Abtheilung: Zur Philosophie, Zweiter Band, Berlin(Reimer) 1838, S. 207-245.

    Die Thatsache, da eine Rede aus einer Sprache in die anderebertragen wird, kommt uns unter den mannigfaltigsten Gestaltenberall entgegen. Wenn auf der einen Seite dadurch Menschen inBerhrung kommen knnen, welche ursprnglich vielleicht um denDurchmesser der Erde von einander entfernt sind; wenn in eineSprache aufgenommen werden knnen die Erzeugnisse einer andernschon seit vielen Jahrhunderten erstorbenen; so drfen wir auf derandern Seite nicht einmal ber das Gebiet Einer Sprache hinausgehen,um dieselbe Erscheinung anzutreffen. Denn nicht nur da dieMundarten verschiedener Stmme eines Volkes und die verschie-denen Entwicklungen derselben Sprache oder Mundart in verschie-denen Jahrhunderten schon in einem engeren Sinne verschiedeneSprachen sind, und nicht selten einer vollstndigen Dolmetschungunter einander bedrfen; selbst Zeitgenossen, nicht durch die Mundartgetrennte, nur aus verschiedenen Volksklassen, welche durch denUmgang wenig verbunden in ihrer Bildung weit auseinander gehen,knnen sich fters nur durch eine hnliche Vermittlung verstehen. Jasind wir nicht hufig genthiget, uns die Rede eines andern, der ganzunseres gleichen ist aber von anderer Sinnes- und Gemthsart, erst zubersezen? wenn wir nmlich fhlen da dieselben Worte in unsermMunde einen ganz anderen Sinn oder wenigstens hier einen strkerendort einen schwcheren Gehalt haben wrden als in dem seinigen,und da, wenn wir dasselbe was er meint ausdrkken wollten, wirnach unserer Art uns ganz anderer Wrter und Wendungen bedienen

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    FRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHERFRIEDRICH DANIEL ERNST SCHLEIERMACHER

    SOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSSOBRE OS DIFERENTES MTODOSDE TRADUODE TRADUODE TRADUODE TRADUODE TRADUO

    Schleiermacher leu o ensaio Sobre os diferentes mtodos de traduo em 24 dejunho de 1813, na Academia Real de Cincias em Berlim. O texto reproduzido de:Friedrich Schleiermachers smmtliche Werke, Dritte Abtheilung: Zur Philosophie,Zweiter Band., Berlin (Reimer) 1838, S. 207-245. Verso corrigida; publicao originalda traduo na Revista Princpios, Natal, v. 14, n. 21, jan./jun. 2007, pp. 233-265.

    O fato, que um discurso em uma lngua seja traduzido em umaoutra, apresenta-se a ns sob as mais variadas formas por toda aparte. Por um lado, desse modo podem entrar em contato homensgeograficamente muito afastados, e podem ser transpostas em umalngua obras de uma outra extinta j h muitos sculos; por outro,no precisamos sair do domnio de uma lngua para encontrar omesmo fenmeno. Pois, no apenas os dialetos dos diferentes ramosde um povo e os diferentes desenvolvimentos de uma mesmalngua ou dialeto, em diferentes sculos, so j em um sentidoestrito diferentes linguagens, e que no raro necessitam de umacompleta interpretao entre si; at mesmo contemporneos noseparados pelo dialeto, mas de diferentes classes sociais, queestejam pouco unidos pelas relaes, distanciam-se em suaformao, seguidamente apenas podem se compreender por umasemelhante mediao. Sim, no somos ns frequentementeobrigados a previamente traduzir a fala de um outro que denossa mesma classe, mas de sensibilidade e nimo diferentes? Asaber, quando ns sentimos que as mesmas palavras em nossa bocateriam um sentido inteiramente diferente ou, ao menos, umcontedo aqui mais forte, ali mais fraco, que na dele e que, sequisssemos expressar do nosso jeito o mesmo que ele disse, nosserviramos de palavras e locues completamente diferentes. Namedida em que determinamos mais precisamente este sentimento,trazendo-o ao pensamento, parece que traduzimos. As nossas

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    wrden: so scheint, indem wir uns dies Gefhl nher bestimmen, undes uns zum Gedanken wird, da wir bersezen. Ja unsere eigenenReden mssen wir bisweilen nach einiger Zeit bersezen, wenn wirsie uns recht wieder aneignen wollen. Und nicht nur dazu wird dieseFertigkeit gebt, um was eine Sprache im Gebiet der Wissenschaftenund der redenden Knste hervorgebracht hat, in fremden Boden zuverpflanzen und dadurch den Wirkungskreis dieser Erzeugnisse desGeistes zu vergrern; sondern sie wird auch gebt im Gewerbsverkehrzwischen einzelnen verschiedener Vlker, und im diplomatischenVerkehr unabhngiger Regierungen mit einander, deren jede nur inihrer eigenen Sprache zur andern zu reden pflegt, wenn sie, ohne sicheiner todten Sprache zu bedienen, streng auf Gleichheit halten wollen.

    Allein natrlich, nicht alles was in diesem weiten Umkreise liegt,wollen wir in unsere jezige Betrachtung hineinziehen. Jene Noth-wendigkeit auch innerhalb der eignen Sprache und Mundart zu ber-sezen, mehr oder minder ein augenblikkliches Bedrfni desGemthes, ist eben auch in ihrer Wirkung zu sehr auf den Augenblikkbeschrnkt, um anderer Leitung als der des Gefhls zu bedrfen; undwenn Regeln darber sollten gegeben werden, knnten es nur jenesein, durch deren Befolgung der Mensch sich eine rein sittlicheStimmung erhlt, damit der Sinn auch fr das minder verwandtegeffnet bleibe. Sondern wir nun dieses ab, und bleiben stehenzunchst bei dem Uebertragen aus einer fremden Sprache in dieunsrige; so werden wir auch hier zwei verschiedene Gebiete freilichnicht ganz bestimmt, wie denn das selten gelingt, sondern nur mitverwaschenen Grenzen, aber doch wenn man auf die Endpunkte siehtdeutlich genug unterscheiden knnen. Der Dolmetscher nmlichverwaltet sein Amt in dem Gebiete des Geschftslebens, der eigentlichebersezer vornmlich in dem Gebiete der Wissenschaft und Kunst.Wenn man diese Wortbestimmung willkhrlich findet, da mangewhnlich unter dem Dolmetschen mehr das mndliche, unter demUebersezen das schriftliche versteht, so verzeihe man sie der Bequem-lichkeit fr das gegenwrtige Bedrfni um so mehr, als doch beideBestimmungen nicht gar weit entfernt sind. Dem Gebiete der Kunstund der Wissenschaft eignet die Schrift, durch welche allein ihre Werkebeharrlich werden; und wissenschaftliche oder knstlerische Erzeug-nisse von Mund zu Mund zu dolmetschen, wre eben so unnz, als esunmglich zu sein scheint. Den Geschften dagegen ist die Schrift nur

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    prprias palavras, s vezes, temos que traduzir aps algum tempo,se quisermos assimil-las apropriadamente outra vez. E esta prticano usada apenas para transplantar em solo estrangeiro o queuma lngua produziu no domnio da cincia e das artes discursivas,e assim aumentando o crculo de atuao destes produtos doesprito, mas tambm esta prtica usada no comrcio entrediferentes povos e nas relaes diplomticas de governosindependentes entre si, quando estes apenas podem falar com ooutro em sua prpria lngua, se eles, sem servirem-se de uma lnguamorta, querem manter-se rigorosamente em uma igualdade.

    Todavia, naturalmente, no queremos incluir nessa nossaconsiderao tudo o que h nesse vasto domnio. Aquelanecessidade de traduzir tambm no interior da prpria lngua edialeto, mais ou menos uma exigncia momentnea da mente, esttambm em seu efeito limitada ao instante, para exigir uma outraorientao que aquela do sentimento; e se houvesse a necessidadede dar regras para isso, elas poderiam ser apenas aquelas quemantm o homem em uma disposio moral pura para os sentidospermanecerem abertos tambm para o que se menos afim.Deixemos isto de lado e fiquemos a partir daqui com a traduode uma lngua estranha para a nossa. Tambm aqui ns chegamosa dois domnios: com certeza no inteiramente determinados, como raro acontecer, mas apenas com limites imprecisos, porm, comclaridade suficiente se enxergam os pontos extremos. O intrpreteefetivamente exerce o seu ofcio no domnio da vida comercial, otradutor genuno preferencialmente no domnio da cincia e daarte. Se esta definio das palavras parece arbitrria, uma vez quehabitualmente se entende por interpretao mais a oral e portraduo a escrita, que ela seja aceita pela comodidade para ospresentes propsitos e mais ainda porque as duas determinaesno esto assim to distantes. A escrita prpria dos domnios daarte e da cincia, atravs da qual suas obras tornam-se duradouras;e a interpretao de boca boca das produes cientficas ouartsticas seria to intil quanto parece ser impossvel. Para ocomrcio, ao contrrio, a escrita apenas um meio mecnico; astransaes orais so aqui o primrio, e toda interpretao escritapropriamente apenas pode ser vista como registro de uma oral.

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    mechanisches Mittel; das mndliche Verhandeln ist darin dasursprngliche, und jede schriftliche Dolmetschung ist eigentlich nurals Aufzeichnung einer mndlichen anzusehen.

    Sehr nahe dem Geist und der Art nach schlieen sich diesemGebiete zwei andere an, die jedoch bei der groen Mannigfaltigkeitder dahin gehrigen Gegenstnde schon einen Uebergang bilden zumGebiet der Kunst das eine, das andere zu dem der Wissenschaft.Nmlich jede Verhandlung, bei welcher das Dolmetschen vorkommt,ist auf der einen Seite eine Thatsache, deren Hergang in zwei ver-schiedenen Sprachen aufgefat wird. Aber auch die Uebersezungvon Schriften rein erzhlender oder beschreibender Art, welche alsonur den schon beschriebenen Hergang einer Thatsache in eine andereSprache bertrgt, kann noch sehr viel von dem Geschft des Dol-metschers an sich haben. Je weniger in der Urschrift der Verfasserselbst heraustrat, je mehr er lediglich als auffassendes Organ desGegenstandes handelte und der Ordnung des Raumes und der Zeitnachging, um desto mehr kommt es bei der Uebertragung auf einbloes Dolmetschen an. So schliet sich der Uebersezer von Zei-tungsartikeln und gewhnlichen Reisebeschreibungen zunchst anden Dolmetscher an, und es kann lcherlich werden wenn seine Arbeitgrere Ansprche macht und er dafr angesehen sein will alsKnstler verfahren zu haben. Je mehr hingegen des Verfasserseigenthmliche Art zu sehen und zu verbinden in der Darstellungvorgewaltet hat, je mehr er irgend einer frei gewhlten oder durchden Eindrukk bestimmten Ordnung gefolgt ist, desto mehr spielt schonseine Arbeit in das hhere Gebiet der Kunst hinber, und auch derUebersezer mu dann schon andere Krfte und Geschikklichkeitenzu seiner Arbeit bringen und in einem anderen Sinne mit seinemSchriftsteller und dessen Sprache bekannt sein als der Dolmetscher.Auf der andern Seite ist in der Regel jede Verhandlung, bei welchergedolmetscht wird, eine Festsezung eines besonderen Falles nachbestimmten Rechtsverhltnissen; die Uebertragung geschieht nur frdie Theilnehmer, denen diese Verhltnisse hinreichend bekannt sind,und die Ausdrkke derselben in beiden Sprachen sind entwedergesezlich oder durch Gebrauch und gegenseitige Erklrungenbestimmt. Aber ein anderes ist es mit Verhandlungen, wiewol sie sehroft der Form nach jenen ganz hnlich sind, durch welche neue Rechts-verhltnisse bestimmt werden. Je weniger diese selbst wieder als ein

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    Em esprito e natureza, esto muito prximos desses domniosoutros dois, os quais, pela grande variedade de objetos a elespertencentes, j configuram uma transposio, um para o domnioda arte e o outro para o da cincia. Pois, cada transao que acontecepela interpretao , por um lado, um fato cujo desenrolar-seapreende-se em duas lnguas. Mas, mesmo a traduo de escritospuramente narrativos ou descritivos, que apenas traduz odesenrolar-se de um fato para uma outra lngua, pode ainda conterem si muito da atividade do intrprete. Quanto menos o autor sesobressai no escrito original, quanto mais ele coloque-se apenascomo rgo receptor do objeto e siga a ordem do tempo e doespao, tanto mais a transposio se aproximar da merainterpretao. O tradutor de artigos jornalsticos e descries deviagem comuns, assim, est muito prximo do intrprete, e podetornar-se risvel se o seu trabalho tiver maiores pretenses e se eledesejar ser visto como artista. Ao contrrio, quanto mais hajaprevalecido na exposio o modo de ver e combinar prprio doautor, quanto mais ele siga uma ordem livremente escolhida oudeterminada pela impresso, tanto mais opera j o seu trabalho nodomnio superior da arte, e tambm o tradutor deve ento aplicaroutras foras e habilidades para realizar o seu trabalho e estarfamiliarizado com seu escritor e sua lngua num sentido diversodaquele do intrprete. Por outro lado, em regra, toda negociaoem que se interpreta a estipulao de um caso particularconforme relaes jurdicas determinadas; a traduo feita apenaspara os participantes, os quais conhecem bem estas relaes, e cujaexpresso das mesmas est determinada em ambas as lnguas, oupor leis, ou pelo uso e esclarecimentos recprocos. Porm, diferente com negociaes em que, embora muitas vezes sejamsemelhantes a estas na forma, novas relaes jurdicas sodeterminadas. Quanto menos estas possam ser, por sua vez,consideradas como particulares de um universal suficientementeconhecido, tanto mais conhecimento cientfico e circunspecorequer a sua redao, e tanto mais necessita o tradutor para o seutrabalho de conhecimento cientfico do assunto e da lngua. Dessemodo, por esta dupla escala eleva-se o tradutor cada vez maissobre o intrprete, at o seu domnio mais prprio, a saber, o dasprodues da arte e da cincia, nos quais, por um lado, a capa-

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    besonderes unter einem hinreichend bekannten allgemeinen knnenbetrachtet werden, desto mehr wissenschaftliche Kenntni undUmsicht erfordert schon die Abfassung, und desto mehr wis-senschaftliche Sach- und Sprachkenntni wird auch der Uebersezerzu seinem Geschft bedrfen. Auf dieser zwiefachen Stufenleiter alsoerhebt sich der Uebersezer immer mehr ber den Dolmetscher, bis zuseinem eigenthmlichsten Gebiet, nmlich jenen geistigen Erzeug-nissen der Kunst und Wissenschaft, in denen das freie eigenthmlichecombinatorische Vermgen des Verfassers an der einen, der Geistder Sprache mit dem in ihr niedergelegten System der Anschauungenund Abschattung der Gemthsstimmungen auf der anderen Seitealles sind, der Gegenstand auf keine Weise mehr herrscht, sondernvon dem Gedanken und Gemth beherrscht wird, ja oft erst durchdie Rede geworden und nur mit ihr zugleich da ist.

    Worin aber grndet sich nun dieser bedeutende Unterschied, denjeder schon auf den Grenzgegenden inne wird, der aber an denuersten Enden am strksten in die Augen leuchtet? Im Geschfts-leben hat man es grtentheils mit vor Augen liegenden, wenigstensmit mglichst genau bestimmten Gegenstnden zu thun; alleVerhandlungen haben gewissermaen einen arithmetischen odergeometrischen Charakter, Zahl und Maa kommen berall zu Hlfe;und selbst bei denen Begriffen, welche, nach dem Ausdrukk der Alten,das Mehr und Minder in sich aufnehmen und durch eine Stufenfolgevon Wrtern bezeichnet werden, die im gemeinen Leben inunbestimmtem Gehalt auf- und abwogen, entsteht bald durch Gesezund Gewohnheit ein fester Gebrauch der einzelnen Wrter. Wennalso der redende nicht absichtlich um zu hintergehen verstekkteUnbestimmtheiten erknstelt, oder aus Unbedachtsamkeit fehlt: so ister jedem der Sache und der Sprache kundigen schlechthin ver-stndlich, und es finden fr jeden Fall nur unbedeutende Verschie-denheiten statt im Gebrauch der Sprache. Eben so, welcher Ausdrukkin der einen Sprache jedem in der andern entspreche, darber kannselten ein Zweifel statt finden, der nicht unmittelbar gehoben werdenknnte. Deshalb ist das Uebertragen auf diesem Gebiet fast nur einmechanisches Geschft, welches bei miger Kenntni beider Sprachenjeder verrichten kann, und wobei, wenn nur das offenbar falschevermieden wird, wenig Unterschied des besseren und schlechterenstatt findet. Bei den Erzeugnissen der Kunst und Wissenschaft aber,

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    cidade combinatria livre prpria do autor e, por outro, o espritoda lngua com o seu sistema de intuies e matizaes dasdisposies mentais, so tudo; o objeto no domina de modo algum,mas dominado pelo pensamento e pela mente, mais ainda, comfrequncia apenas surge pelo discurso e apenas existe com ele.

    Em que, porm, funda-se esta importante diferena, que sepercebe j no interior das fronteiras, e que se mostra claramentenos pontos mais afastados? Na vida comercial trata-se na maiorparte de objetos visveis ou ao menos bem determinados; todas asnegociaes tm um certo carter aritmtico ou geomtrico, portoda parte nmero e medida podem ajudar; e mesmo naquelesconceitos que, segundo os antigos, admitem o mais e o menos e sodesignados por meio de uma hierarquia de palavras, que na vidaordinria diminuem e crescem em contedo indeterminado,assumem por meio de lei e costume um uso fixo para cada palavra.Assim, se o falante no dissimula indeterminaes ocultas com ainteno de enganar, ou erra por inadvertncia, torna-secompreensvel para todos que sejam versados no assunto e nalngua, e apenas ocorrem diferenas insignificantes no uso dalngua. Mesmo assim, pode ocorrer algumas vezes uma dvida,acerca de qual expresso de uma lngua corresponde a da outralngua, que no pode ser resolvida imediatamente. Por isso, atraduo nesse domnio quase um processo mecnico quequalquer um pode realizar com um conhecimento mediano deambas as lnguas, e, quando se evita abertamente o falso, ocorrempoucas diferenas entre o pior e o melhor. Porm, nas produesda arte e da cincia, quando se deve transplant-las de uma lnguapara outra, h que se considerar duas coisas que alteramcompletamente a situao. A saber, se nas duas lnguas cada palavrade uma correspondesse exatamente a uma palavra da outra,expressando os mesmos conceitos com as mesmas extenses; sesuas flexes representassem as mesmas relaes, e seus modos dearticulao coincidissem, de tal modo que as lnguas fossemdiferentes apenas para o ouvido; ento, tambm no domnio daarte e da cincia, toda traduo, na medida em que por ela deve-secomunicar o conhecimento do contedo de um discurso ou escrito,seria tambm puramente mecnica como na vida comercial; e sepoderia dizer de toda traduo, com exceo dos efeitos do acento

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    wenn sie aus einer Sprache in die andere verpflanzt werden sollen,kommt zweierlei in Betracht, wodurch das Verhltni ganz gendertwird. Wenn nmlich zwei Sprachen jedem Worte der einen ein Wortder andern genau entsprche, denselben Begriff in demselben Umfangausdrkkend; wenn ihre Beugungen dieselben Verhltnisse darstellten,und ihre Verbindungsweisen in einander aufgingen, so da dieSprachen in der That nur fr das Ohr verschieden wren: so wrdedann auch auf dem Gebiete der Kunst und Wissenschaft allesUebersezen, sofern dadurch nur die Kenntni des Inhalts einer Redeoder Schrift mitgetheilt werden soll, eben so rein mechanisch sein,wie auf dem des Geschftslebens; und man wrde, mit Ausnahmeder Wirkungen welche Ton und Tonfall hervorbringen, von jederUebersezung sagen knnen, da der auslndische Leser dadurch zudem Verfasser und seinem Werk in dasselbe Verhltnis gesezt werde,wie der einheimische. Nun aber verhlt es sich mit allen Sprachen,die nicht so nahe verwandt sind da sie fast nur als verschiedeneMundarten knnen angesehen werden, gerade umgekehrt, und jeweiter sie der Abstammung und der Zeit nach von einander entferntsind, um desto mehr so, da keinem einzigen Wort in einer Spracheeins in einer andern genau entspricht, keine Beugungsweise der einengenau dieselbe Mannigfaltigkeit von Verhltnifllen zusammenfat,wie irgend eine in einer andern. Indem diese Irrationalitt, da ichmich so ausdrkke, durch alle Elemente zweier Sprachen hindurch-geht, mu sie freilich auch jenes Gebiet des brgerlichen Verkehrstreffen. Allein es ist offenbar, da sie hier weit weniger drkkt, und sogut als keinen Einflu hat. Alle Wrter, welche Gegenstnde undThtigkeiten ausdrkken, auf die es ankommen kann, sind gleichsamgeaicht, und wenn ja leere bervorsichtige Spizfindigkeit sich nochgegen eine mgliche ungleiche Geltung der Worte verwahren wollte,so gleicht die Sache selbst alles unmittelbar aus. Ganz anders aufjenem der Kunst und Wissenschaft zugehrigen Gebiet, und berallwo mehr der Gedanke herrscht, der mit der Rede Eins ist, nicht dieSache, als deren willkhrliches vielleicht aber fest bestimmtes Zeichendas Wort nur dasteht. Denn wie unendlich schwer und verwikkeltwird hier das Geschft! welche genaue Kenntni und welcheBeherrschung beider Sprachen sezt es voraus! und wie oft, bei dergemeinschaftlichen Ueberzeugung da ein gleichgeltender Ausdrukkgar nicht zu finden sei, gehen die sachkundigsten und sprach-

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    e do ritmo, que o leitor estrangeiro estaria na mesma situao frenteao autor e sua obra que o nativo. Porm, com todas as lnguas queno so to prximas, que pudessem ser consideradas comosimples dialetos, a situao precisamente a oposta, e quanto mais

    distantes esto uma da outra quanto origem e ao tempo, tanto maisnenhuma palavra em uma lngua corresponde exatamente a uma daoutra, e nenhuma flexo de uma apanha exatamente a mesma variedadede relaes como uma da outra. Uma vez que esta irracionalidade,como eu a denomino, penetra em todos os elementos das duas lnguas,ela deve afetar tambm o domnio das relaes sociais. Mas, claroque a sua presso pequena e, assim, como que no tem nenhum

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    gelehrtesten bedeutend auseinander, wenn sie angeben wollen,welches denn nun der am nchsten kommende sei. Dies gilt eben sosehr von den lebendigen malerischen Ausdrkken dichterischerWerke, als von den abgezogensten, das innerste und allgemeinste derDinge bezeichnenden der hchsten Wissenschaft.

    Das zweite aber, wodurch das eigentliche Uebersezen ein ganzanderes Geschft wird als das bloe Dolmetschen, ist dieses. Ueberall,wo die Rede nicht ganz durch vor Augen liegende Gegenstnde oderuere Thatsachen gebunden ist, welche sie nur aussprechen soll, woalso der redende mehr oder minder selbstthtig denkt, also sichaussprechen will, steht der redende in einem zwiefachen Verhltnizur Sprache, und seine Rede wird schon nur richtig verstanden, inwiefern dieses Verhltnis richtig aufgefat wird. Jeder Mensch ist aufder einen Seite in der Gewalt der Sprache, die er redet; er und seinganzes Denken ist ein Erzeugni derselben. Er kann nichts mit vlligerBestimmtheit denken, was auerhalb der Grenzen derselben lge; dieGestalt seiner Begriffe, die Art und die Grenzen ihrer Verknpfbarkeitist ihm vorgezeichnet durch die Sprache, in der er geboren und erzogenist, Verstand und Fantasie sind durch sie gebunden. Auf der andernSeite aber bildet jeder freidenkende geistig selbstthtige Mensch auchseinerseits die Sprache. Denn wie anders als durch diese Einwirkungenwre sie geworden und gewachsen von ihrem ersten rohen Zustandezu der vollkommneren Ausbildung in Wissenschaft und Kunst? Indiesem Sinne also ist es die lebendige Kraft des einzelnen, welche indem bildsamen Stoff der Sprache neue Formen hervorbringt, ur-sprnglich nur fr den augenblikklichen Zwekk ein vorbergehendesBewutsein mitzutheilen, von denen aber bald mehr bald minder inder Sprache zurkkbleibt und von andern aufgenommen weiterbildend um sich greift. Ja man kann sagen, nur in dem Maa einer soauf die Sprache wirkt, verdient er weiter als in seinem jedesmaligenunmittelbaren Bereich vernommen zu werden. Jede Rede verhalltnothwenig bald, welche durch tausend Organe immer wieder ebenso kann hervorgebracht werden; nur die kann und darf lnger bleiben,welche einen neuen Moment im Leben der Sprache selbst bildet. Dahernun will jede freie und hhere Rede auf zwiefache Weise gefat sein,theils aus dem Geist der Sprache, aus deren Elementen siezusammengesezt ist, als eine durch diesen Geist gebundene undbedingte, aus ihm in dem redenden lebendig erzeugte Darstellung;

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    influxo. Todas as palavras que expressam objetos e atividades, sobreos quais importa, so igualmente calibradas e, se uma sutileza vazia edemasiado cautelosa quisesse ainda se precaver contra uma possveldesigualdade do valor das palavras, a coisa mesma igualaria tudoimediatamente. Bem diferente a situao no domnio da arte e dacincia, e onde quer que predomine o pensamento, que se identificacom o discurso, e no a coisa, para a qual a palavra apenas um signoarbitrrio, embora talvez firmemente estabelecido. Ento, quoinfinitamente difcil e complicado torna-se a o trabalho, queconhecimento especfico e que domnio pressupe de ambas aslnguas! E quantas vezes os mais entendidos no assunto e conhecedoresda lngua se opem, convencidos de que impossvel encontrar umaexpresso equivalente, quando eles querem dizer apenas qual amais aproximada. Isto vale tanto para as expresses vivas e pitorescasdas obras poticas quanto para as mais abstratas que designam o maisintrnseco e universal das coisas da cincia mais elevada.

    O segundo ponto em que a traduo genuna difereinteiramente da simples interpretao o seguinte. Em toda parte,onde o discurso no est inteiramente ligado a objetos visveis oufatos externos, os quais devem apenas ser proferidos, ou seja, ondeo falante pensa mais ou menos espontaneamente, onde ele quer seexpressar, o falante se encontra em dupla relao com a lngua, eseu discurso agora apenas pode ser corretamente compreendidona medida em que esta relao seja corretamente apreendida. Porum lado, cada homem est sob o poder da lngua que ele fala; elee seu pensamento so um produto dela. Ele no pode pensar comtotal determinao nada que esteja fora dos limites da sua lngua.A configurao de seus conceitos, o tipo e os limites de suasarticulaes esto previamente traados para ele pela lngua emque ele nasceu e foi educado; o entendimento e a fantasia estoligados por ela. Por outro lado, porm, cada homem de livre pensare espiritualmente espontneo molda tambm a lngua. Pois, como,seno por meio dessas influncias, a lngua teria se formado ecrescido desde seu estado primitivo e rude at a formao completana cincia e na arte? Nesse sentido, portanto, a fora viva doindivduo que produz novas formas na matria malevel da lngua,originalmente apenas com o propsito momentneo de

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    sie will auf der andern Seite gefat sein aus dem Gemth desredenden als seine That, als nur aus seinem Wesen gerade sohervorgegangen und erklrbar. Ja, jegliche Rede dieser Art ist nurverstanden im hheren Sinne des Wortes, wenn diese beidenBeziehungen derselben zusammen und in ihrem wahren Verhltnigegen einander aufgefat sind, so da man wei, welche von beidenim Ganzen oder in einzelnen Theilen vorherrscht. Man versteht dieRede auch als Handlung des redenden nur, wenn man zugleich fhlt,wo und wie die Gewalt der Sprache ihn ergriffen hat, wo an ihrerLeitung die Blize der Gedanken sich hingeschlngelt haben, wo undwie in ihren Formen die umherschweifende Fantasie ist festgehaltenworden. Man versteht die Rede auch als Erzeugni der Sprache undals Aeuerung ihres Geistes nur, wenn, indem man z. B. fhlt, sokonnte nur ein Hellene denken und reden, so konnte nur diese Sprachein einem menschlichen Geist wirken, man zugleich fhlt, so konntenur dieser Mann hellenisch denken und reden, so konnte nur er dieSprache ergreifen und gestalten, so offenbart sich nur sein lebendigerBesiz des Sprachreichthums, nur ein reger Sinn fr Maa undWohllaut, nur sein denkendes und bildendes Vermgen. Wenn nundas Verstehen auf diesem Gebiet selbst in der gleichen Sprache schonschwierig ist, und ein genaues und tiefes Eindringen in den Geist derSprache und in die Eigenthmlichkeit des Schriftstellers in sichschliet; wie vielmehr nicht wird es eine hohe Kunst sein, wenn vonden Erzeugnissen einer fremden und fernen Sprache die Rede ist!Wer denn freilich diese Kunst des Verstehens sich angeeignet hat,durch die eifrigsten Bemhungen um die Sprache, und durch genaueKenntni von dem ganzen geschichtlichen Leben des Volks, und durchdie lebendigste Vergegenwrtigung einzelner Werke und ihrerUrheber, den freilich, aber auch nur d e n, kann es gelsten von denMeisterwerken der Kunst und Wissenschaft das gleiche Verstndniauch seinen Volks- und Zeitgenossen zu erffnen. Aber die Bedenk-lichkeiten mssen sich hufen, wenn er sich die Aufgabe nher rkkt,wenn er seine Zwekke genauer bestimmen will und seine Mittelberschlgt. Soll er sich vorsezen, zwei Menschen, die so ganz voneinander getrennt sind wie sein der Sprache des Schriftstellersunkundiger Sprachgenosse und der Schriftsteller selbst, diese in einso unmittelbares Verhltni zu bringen, wie das eines Schriftstellersund seines ursprnglichen Lesers ist? Oder wenn er auch seinen Lesern

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    compartilhar uma conscincia transitria, das quais, porm, oramais ora menos, algumas permanecem na lngua e, recolhidas poroutros, disseminam seu efeito formador. Pode-se dizer que algummerece ser escutado, para alm de seu domnio singular e imediato,apenas na medida em que influi assim em sua lngua. Tododiscurso que pode ser produzido por mil rgos sempre do mesmomodo logo desaparece necessariamente. Somente pode e deve durarmais aquele que por si mesmo forma um novo momento na vidada lngua. Por isso, todo discurso livre e superior quer sercompreendido de dois modos; por um lado, a partir do espritoda lngua de cujos elementos ele composto, como uma exposioamarrada e condicionada por este esprito, por este produzida evivificada no falante; por outro lado, quer ser compreendido apartir do nimo do falante como sua ao, como algo que apenas apartir de seu modo de ser poderia surgir assim e ser esclarecido.Sim, qualquer discurso desse tipo apenas compreendido, nosentido mais forte da palavra, quando estas duas relaes so ambasapreendidas e em sua verdadeira proporo recproca, de tal modoque se sabe qual delas predomina no todo ou nas partesindividuais. Compreende-se o discurso como ao do falanteapenas quando, ao mesmo tempo, se percebe onde e como o poderda lngua o capturou, onde o efeito desse poder enrodilhou osraios do pensamento, onde e como a errante fantasia ficou presaem suas formas. Tambm, compreende-se o discurso como produtoda lngua e como manifestao de seu esprito apenas quando, namedida em que, por exemplo, se sinta que assim apenas um gregopoderia pensar e falar, que assim apenas esta lngua poderia influirno esprito humano, e se sinta tambm que assim apenas este homempoderia pensar e falar em grego, que assim apenas ele poderiamanejar e configurar a lngua, que se revela assim apenas a suaposse viva da riqueza lingustica, apenas um sentido regente damedida e da eufonia, apenas a sua capacidade de pensar e imaginar.Agora, se a compreenso nesse domnio j difcil mesmo namesma lngua, e implica uma exata e profunda penetrao noesprito da lngua e na singularidade do escritor: como no seriamuito mais uma arte superior quando se trata das produes emuma lngua estranha e distante! Com certeza, ento, quem adquiriu

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    nur dasselbe Verstndni erffnen will und denselben Genu, dessener sich erfreut, dem nmlich die Spuren der Mhe aufgedrkkt sindund das Gefhl des fremden beigemischt bleibt: wie kann er diesesschon, geschweige denn jenes, erreichen mit seinen Mitteln? Wennseine Leser verstehen sollen, so mssen sie den Geist der Spracheauffassen, die dem Schriftsteller einheimisch war, sie mssen desseneigenthmliche Denkweise und Sinnesart anschauen knnen; undum dies beides zu bewirken, kann er ihnen nichts darbieten als ihreeigene Sprache, die mit jener nirgends recht bereinstimmt, und alssich selbst, wie er seinen Schriftsteller bald mehr bald minder hellerkannt hat, und bald mehr bald minder ihn bewundert und billigt.Erscheint nicht das Uebersezen, so betrachtet, als ein thrichtesUnternehmen? Daher hat man in der Verzweiflung dieses Ziel zuerreichen, oder, wenn man lieber will, ehe man dazu kommen konnte,sich dasselbe deutlich zu denken, nicht fr den eigentlichen Kunst-und Sprachsinn, sondern fr das geistige Bedrfni auf der einen, frdie geistige Kunst auf der andern Seite, zwei andere Arten erfunden,Bekanntschaft mit den Werken fremder Sprachen zu stiften, wobeiman von jenen Schwierigkeiten einige gewaltsam hinwegrumt,andere klglich umgeht, aber die hier aufgestellte Idee der Ueber-sezung gnzlich aufgiebt; dies sind die Paraphrase und die Nach-bildung. Die Paraphrase will die Irrationalitt der Sprachen be-zwingen, aber nur auf mechanische Weise. Sie meint, finde ich auchnicht ein Wort in meiner Sprache, welches jenem in der Urspracheentspricht, so will ich doch dessen Werth durch Hinzufgung be-schrnkender und erweiternder Bestimmungen mglichst zuerreichen suchen. So arbeitet sie sich zwischen lstigem zu viel undqulendem zu wenig schwerfllig durch eine Anhufung loserEinzelheiten hindurch. Sie kann auf diese Weise den Inhalt vielleichtmit einer beschrnkten Genauigkeit wiedergeben, aber auf denEindrukk leistet sie gnzlich Verzicht; denn die lebendige Rede istunwiederbringlich getdtet, indem jeder fhlt da sie so nicht knneursprnglich aus dem Gemth eines Menschen gekommen sein. DerParaphrast verfhrt mit den Elementen beider Sprachen, als ob siemathematische Zeichen wren, die sich durch Vermehrung undVerminderung auf gleichen Werth zurkkfhren lieen, und wederder verwandelten Sprache noch der Ursprache Geist kann in diesemVerfahren erscheinen. Wenn noch auerdem die Paraphrase psycho-

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    esta arte da compreenso por meio de esforos solcitos com alngua e por meio do conhecimento rigoroso da vida histricacompleta do povo, e por meio da re-atualizao vivssima de cadaobra e de seu autor, esse, com certeza, e tambm apenas esse, podedesejar abrir ao seu povo e contemporneos a mesma compreensodas obras primas da arte e da cincia.

    Porm, a cautela deve aumentar quando ele quiser iniciar atarefa, quando ele quiser determinar com exatido os seus fins econsiderar os seus meios. Deveria ele se propor a estabelecer, entredois homens to separados um do outro como so os que falam asua prpria lngua e desconhecem a do escritor original, e o escritormesmo, uma relao to imediata como aquela do escritor e seuleitor original? Ou, ainda que ele queira oferecer aos seus leitoresapenas o mesmo entendimento e o mesmo prazer que eleexperimenta, que so a mescla da mostra dos vestgios do esforoe do sentimento do estranho: como ele pode mostrar este e esconderaquele com os meios de que dispe? Para que os seus leitorescompreendam eles devem apreender o esprito da lngua na qualo autor era natural, eles tm que poder intuir a sua maneira singularde pensar e de sentir; e para alcanar estas duas coisas, ele nopode seno oferecer a sua prpria lngua, que nunca coincideadequadamente com aquela, e a si mesmo, enquanto conhece o seuescritor mais ou menos claramente, e admira e aprova mais oumenos. A traduo no aparece, assim considerada, como umempreendimento insensato?

    Por isso, no desespero de alcanar este fim, ou, se for prefervel,antes que isso fosse percebido claramen